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Você fica irado com as coisas certas?

David A Powlison

Teste 1: Você fica irado com as coisas certas?

A ira dirige-se ao que percebemos ser uma injustiça. Você tem a percepção correta? Essa é a primeira grande divisão. Uma pessoa pode ficar irada com alguma coisa que não deveria provocar ira. As pessoas criam seu conjunto de

27 Muitas filosofias de vida populares são

basicamente estóicas. As terapias cognitivas comportamentais, por exemplo, vêem a emoção “negativa” (ira, desânimo) como produto de crenças erradas sobre os acontecimentos. Procuram ensinar uma série de crenças “racionais” que produzem equilíbrio não importa o que aconteça. Não há dúvida de que crenças falsas produzem ira pecaminosa, mas crenças verdadeiras também devem produzir ocasionalmente ira, angústia e tristeza. Veja os Salmos. As práticas e crenças Hindus – chamando o mundo dos sentidos de ilusório e ensinando técnicas de meditações que acalmam – também são essencialmente estóicas. Com certeza, as crenças erradas costumam gerar reações pecaminosas e desnecessárias diante de provocações ilusórias, mas a fé verdadeira não produz êxtase. Jesus não viveu uma vida calma; Ele teve muito com que se afligir.

expectativas pessoais, suas próprias “leis”, seus critérios de certo e errado, e reagem com ira quando essas “leis” são violadas. Jonas é um exemplo clássico. Duas vezes ele ardeu em ira e duas vezes Deus o desafiou: “É razoável essa tua ira?” (Jn 4). Ele concluiu que a compaixão de Deus pelo povo e a destruição da planta eram injustiças sérias. Muita ira pecaminosa origina-se por causa de interpretações erradas semelhantes às de Jonas. Por exemplo, posso esperar um rosbife no jantar; quando me sento à mesa, porém, é servido macarrão com queijo. Se eu fico irritado e me queixo, seria uma ira neutra? Não, ela seria pecaminosa, pois percebi como ruim algo que é bom e deve ser recebido com gratidão. Muitas vezes, a ira vem de percepções distorcidas pelas crenças, desejos e expectativas que tomam o lugar de Deus em nossos corações.

Certa vez, uma amiga procurou-me depois do culto e disse: “Quero pedir perdão por uma coisa. Estou com raiva de você há oito meses e simplesmente me segurei na tentativa de perdoá-lo. Mas Deus me convenceu e quero resolver as coisas entre nós”. Fiquei agradecido que ela quisesse acertar as coisas e que tivesse tido a coragem e a humildade de levantar o problema. Mas enquanto ela tentava descrever um incidente na entrada da igreja, quando eu havia ignorado sua presença, ela me deixou perdido. Do que ela estava falando? Não podia me lembrar de jamais ter feito alguma coisa contra ela. Finalmente, juntamos os dados. Du- rante o culto da manhã, certa vez senti náusea. Enquanto me dirigia para o banheiro masculino passei por ela no saguão da igreja sem quase vê-la, sem cumprimentar nem conversar, e com uma expressão de infelicidade no rosto. Ela interpretou meu comportamento como se

fosse dirigido contra ela. Oito meses de raiva resultaram da percepção de uma maldade onde não havia maldade. Seu desejo de ser aceita dominou. Ou talvez fosse melhor dizer que seu desejo de ser aceita conflitou com os desejos do Espírito em seu coração. Ser aparentemente ignorada e receber uma cara feia de alguém que julgamos ser um amigo não é engraçado. Quando Deus reina, a dor e a ira nos movem a resolver a situação de maneira piedosa, conferindo nossas percepções. De fato, ela finalmente deu esse passo para o louvor da Sua graça, e nos reconciliamos. Mas quando as crenças e os desejos falsos reinam, as nossas percepções permanecem distorcidas e emperramos na ira e no sofrimento. Até certo ponto, isso aconteceu, retardando a reconciliação por muitos meses. A ira

sempre reflete o padrão moral de uma

pessoa, sua definição de bom e mau, certo e errado. Confira! 28

28 Uma dinâmica semelhante costuma operar na ira

consigo mesmo, que nossa cultura chama de “baixa auto-estima”. Por exemplo, uma mãe de pré-escolares pode estar deprimida, julgando-se um fracasso porque sua casa não está parecida com as casas de uma revista de decoração. Os cristãos costumam ter uma ou duas maneiras de lidar erradamente com essa questão. Primeiro, muitos identificam uma ira ou desapontamento dirigido contra si mesmo, uma “culpa falsa”, e dizem que ela não fez nada errado. Então completam com um quase-evangelho: “Jesus aceita você como você é. Relaxe e aceite você mesma”. Esta fórmula muito repetida pode parecer plausível, mas não é verdadeira. Segundo, outros assumem a sua culpa pelo valor real e lhe oferecem o evangelho real: “Jesus perdoa o seu pecado e pode ajudá-la a mudar”. Mas isto não está certo também, pois o problema não foi definido adequadamente. A misericórdia e ajuda que Jesus dá não é para perdoar a bagunça normal nem capacitar uma arrumação fora do normal na casa. Seria mais adequado dizer que sua ira auto-punitiva expressa uma “culpa

Você pode muito bem estar irado com alguma coisa que deveria odiar, percebendo a injustiça com precisão. A injustiça pode ser praticada contra você: crueldade do seu cônjuge ou dos pais, desrespeito dos filhos, mentira de um empregado, fraude de um vendedor, estupro praticado por um parente. Você pode observar o mal praticado publicamente ou contra outra pessoa: o abuso de crianças, a crueldade verbal, a propaganda de homossexualidade e aborto, a mentira e manipulação de um televangelista, a atrocidade da guerra. A ira é a resposta apropriada para o cristão. Você seria uma pedra ou um estóico se não sentisse ira nenhuma. Aqui, porém, nos deparamos com uma segunda divisão.

Teste 2: Você expressa a ira da