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JESUS VIVAS A maquiagem no processo de construção do personagem Salvador: Programa

No documento S: F AZER ES TE ATR AIS EM BR AS ÍLIA (páginas 155-158)

Com Jesus Vivas

3 JESUS VIVAS A maquiagem no processo de construção do personagem Salvador: Programa

de Pós-Graduação em Artes Cênicas, da Universidade Federal de Salvador (UFBA), 2004. Sob orientação do Prof. Dr. Ewald Hackler.

Escola de Teatro da Bahia, Vivas apareceu em 1978, especialmente como maquilador. Suas caracterizações perfeitas muito contribuíram para a plasticidade de “A Guerra Mais ou Menos Santa”, “A morta”, “A invasão”, “Black-Tie”, e, sem exagero, para quase todos os espetáculos apresentado por grupos locais. Um senhor profissional! (GUEDES DE MORAIS, 1978, p. 4).

Retorno ao tema dar aulas porque ele mereceu um significativo espaço nas análises de Jesus, durante nosso encontro, mesmo porque esse seu presente envolve planos futuros de aposentadoria:

Porque a minha tendência, digo, o meu programa para aposentadoria é de trabalhar com comunidades, entendeu?! Eu acredito nisso (...) Outro dia eu peguei “O Teatro Legislativo”, do Boal - que são as experiências dele - e tem lá “O arco-íris do desejo” e “O teatro como arte marcial” e é incrível, cada vez que releio aquilo, digo: “É isso... Eu vou fazer é isso!!!”. Então pronto, já estou com isso na cabeça, faz parte da minha determinação e do meu objetivo daqui a algum tempo. Essa seriedade com que passou a perceber o ofício de ensinar foi sendo elaborada na medida em que dava asas ao seu lado professor de teatro e percebia implicações dessa atividade na vida das outras pessoas. Porque, na concepção de Jesus, o fazer teatral é um exercício que supera técnicas de atuação:

Quando você trabalha com o teatro você mexe com o seu ser (...) e isso é pesado. Não é pra qualquer um... Porque nesse exercício, você é surpreendido por você mesmo... com suas coisas internas. E trabalhar com isso dentro da sala de aula é sério!

Não adianta me dizer que alguém vai trabalhar só com técnica teatral na sala de aula (...), porque não dá! Você trabalha é com o ser humano como um todo. (...) E esse princípio do ser humano que eu digo, não é algo esotérico de ‘Oba-oba-de-hari-hari’, não, não é nada disso! Nem estou carregando nenhuma bandeira nesse sentido (...), mas sim por afirmar que isso do teatro mexe com o autoconhecimento - mexe mesmo!

Por isso que eu vejo, por exemplo, que a Licenciatura tem uma importância muito grande. Porque, na verdade, esse pessoal que está

seres me preocupa, porque eu acho isso muito importante.

Porque ser ator é um outro papel. Quando se é ator não há um vínculo como no caso do professor... As pessoas pagam pra assistir o que se está falando e aceitam ou não o conteúdo do espetáculo, mas com aluno é diferente. Um aluno que ouve um professor, o vê com uma autoridade, uma referência forte na vida dele (...) é alguém que ele ouve todos os dias... sem dúvidas, isso é muito sério!

Por essa convicção da importância do fazer teatral, pelo seu modo particular de usar diferentes chapéus quando sai de casa e pelo jeito como interpreta e aprecia o poema Espumas Flutuantes, de Castro Alves e a música Paris, Texas foi se configurando aos meus olhos parte do perfil deste que foi o primeiro narrador entrevistado nesta pesquisa.

Desde o primeiro momento em que o procurei, para solicitar uma entrevista, Jesus Vivas se mostrou aberto e receptivo à proposta. Facilitou todo o processo e me permitiu o acesso à sua casa e ao seu mundo de histórias. Marcou a data, o horário e me forneceu todos os seus dados básicos para que eu preparasse adequadamente nosso encontro. Essa postura positiva e gentil de Jesus colaborou para que minha aprendizagem fosse mais prazerosa e produtiva. Sendo essa a primeira experiência em campo, iniciei meu processo infindável de descobertas no que se refere às possibilidades do trabalho de campo de uma pesquisa.

Percebi, naquele dia, muitos dos meus pontos fortes ao conduzir uma entrevista, assim como inúmeros outros pontos que ainda obrigatoriamente eu deveria vir a melhorar para as demais gravações programadas. Tanto no que me remetia ao ato de aprender a ouvir melhor, de saber me expressar de forma mais pontual, como também no que se referia às questões técnicas, porque no dia dessa entrevista a montagem dos equipamentos que usamos (máquinas digitais de áudio e vídeo, tripés, iluminação, microfones e etc), levou 50 minutos para ser concluída - Marcelo Augusto Santana, captador das imagens e do som, teve que solucionar alguns imprevistos técnicos e isso despertou nossa atenção para afinarmos detalhes de agilidade a compra de outros suportes que viessem a servir de ‘plano B’, para as outras experiências programadas.

Durante esse tempo de organização técnica, Jesus foi bastante compreensivo e facilitou toda a situação, fazendo com que assuntos, risos e descontração não faltassem naquele momento, os quais, ao final, acabamos por aproveitar para explorar mais detalhadamente seu acervo de fotografias particulares que revelam parte de sua família, de suas viagens nacionais e internacionais, de sua trajetória profissional e de outros.

Essa experiência-piloto com Jesus foi fundamental para minha aprendizagem, mesmo porque, durante minhas reuniões com a orientadora e nos momentos de leituras, ela foi referencial de reflexão, gerando até um trabalho escrito que apresentei ao final de uma disciplina cursada no

disciplina que a praxis do campo exige e as análises posteriores enriqueceram meu repertório de trabalho e me elucidaram sobre questões que até então não me haviam despertado interesse. O que contribuiu, assim, para que nos outros encontros eu pudesse exercitar o desafio de unir minhas reflexões - até então só teóricas - aos pontos que, em geral, são mostrados nos textos de história oral e que dizem respeito a esse espaço de descobertas de histórias, de relação com o outro e de exercícios de entrevistas merecedores de rigores e de cuidados que podem (e devem) ser executados paralelos ao prazer do momento do diálogo. Assim ensina Lozano:

Como acontece com outras questões mais vitais, aprende-se melhor a história oral experimentando-a, praticando-a sistemática e criticamente; mantendo melhor a disposição de voltar atrás reflexivamente sobre os passos percorridos, com a finalidade de melhorar cada vez mais o nosso desempenho. (LOZANO, 2002).

Foi nessa entrevista que aprendi o quanto as décadas de 1970 e 1980 foram marcantes na vida de Jesus Vivas, no sentido de que nelas foram direcionadas suas escolhas. Tanto devido ao seu trabalho nos bastidores dos espetáculos teatrais dos grupos da FETADIF, nos projetos desenvolvidos pela Fundação Cultural e nas demais propostas da Federação do Teatro Amador, como, também, pelas atividades de maquiar atores e atrizes e ser professor, o que atualmente tanto o satisfaz. Como percebemos em suas palavras:

Porque antes eu estava lá, eu estava diretamente ligado, trabalhava nas produções com maquiagem e estava com o rosto na vitrine. Só que agora não, agora eu estou preparando o vidro da vitrine (risos). Estou preparando os bonequinhos pra vitrine, quer dizer, agora gosto muito mais dessa fase [da sala de aula]. Acho que esse papel é de muito mais responsabilidade, para mim.

Independente de seu trabalho estar ou não voltado à observação pública, o fato é que ele percorreu (e ainda percorre) o processo cênico da cidade de Brasília, desde quando se mudou para ela, criando um vínculo e uma obra de importância significativa para o teatro produzido por aqui. Entretanto, mesmo frente a todo esse tempo de dedicação profissional e a facilidade de encontrarmos seu nome em inúmeros folhetos de espetáculos que ocorrem nessa cidade, é difícil

No documento S: F AZER ES TE ATR AIS EM BR AS ÍLIA (páginas 155-158)