• Nenhum resultado encontrado

de P: São os dentes mais caro do mundo hoje deve estar uns setecentos mil reais um Pancetti (risos).

No documento S: F AZER ES TE ATR AIS EM BR AS ÍLIA (páginas 175-179)

Com José M B de Paiva

B. de P: São os dentes mais caro do mundo hoje deve estar uns setecentos mil reais um Pancetti (risos).

Esse trecho apresenta tanto B., quanto Paschoal Carlos Magno. No que se refere ao B., o diálogo evidencia o grau de intimidade que ambos tiveram, a intensidade da gratidão de B. por ele e o quanto Paschoal passa a ser um referencial para B.. Quanto a Paschoal Magno, o trecho

o procuravam e o de se desfazer de seus bens materiais sempre que o teatro e/ou alguém que na sua percepção era considerado como talento e necessitasse de ajuda.

De tanto ouvir B. de Paiva falar sobre a importância desse homem para o teatro brasileiro e de ouvir Clovis Sena, jornalista político durante muitos anos em Brasília, afirmar sua tristeza ante o desprezo da mídia local, que ignora seus artigos onde sugere como pauta, para este ano, a comemoração do centenário de nascimento de Paschoal Magno, resolvi estudar um pouco a vida dele. Cada vez que eu encontrava textos, comentários ou relatos sobre ele, meu respeito e admiração por sua trajetória de vida aumentavam, assim como minha certeza de que eu era uma entre outras possíveis centenas de pessoas, que desconheciam Magno e sua importância no universo cênico brasileiro. Reiterei essa observação depois de encontrar um texto decisivo para minha aprendizagem. Pela indicação de Wilson Hargreaves – dono da Livraria Casa do Livro - cheguei à pérola que estava sendo vendida nas estantes da sua livraria, uma publicação do MEC/ FUNARTE, de 1977 (QUEIROZ, 1977, 147-167), com um depoimento do próprio Paschoal de Carlos Magno, dado em 1975, a quatro entrevistadores/as, sendo a escritora Rachel de Queiroz, uma delas.

Reproduzirei a seguir alguns trechos da entrevista por três motivos: primeiro, porque no depoimento de B. os sinais de respeito e de amizade a Paschoal de Carlos Magno são uma constante, o que me leva a acreditar que entrelaçar o perfil de ambos, neste espaço, seria enriquecedor para entender o próprio B.; segundo, porque acredito ser esse um lugar adequado para apresentar um breve perfil desse personagem tão importante para o desenvolvimento do movimento teatral no Brasil; afinal, alguém que por ventura venha a ler este trabalho pode desconhecer a relevância desse nome, como eu, há um tempo atrás; e, finalmente, para compartilhar parte desse raro texto indicado por Hargreaves, que não é facilmente encontrado nos dias de hoje. Assim, o próprio Paschoal se apresenta:

Meu nome todo é Paschoal de Carlos Magno. Sou filho do italiano Nicolau Carlos Magno e de Filomena Carlos Magno. Nasci no dia 13 de 1906. Freqüentei até tarde a escola primária de Dona Leonor Pousada, que foi uma grande educadora. Depois, freqüentei o Ginásio São Bento e fui obrigado a parar aí porque meu pai não tinha dez cruzeiros para pagar mensalmente o meu ensino. Depois, estudando como autodidata, aprendi línguas, Deus sabe como. Fui estudar no Instituto Propedêutico, de onde fiz concurso para entrar na Faculdade de Direito. Fui durante cinco anos líder, um líder agitado e inquieto, porque o rapaz que não for agitado e inquieto, é medíocre. Desgraçado daquele que aos 20 anos não é anarquista. Eu os defendo a todos, porque eu sei da importância de ser jovem e da importância de se lutar pelos ideais da juventude. Depois disso, eu ingressei na carreira

Getúlio Vargas nos chamou, a mim, o Rayl Borges, o Sotero e uns outros, dando-nos a possibilidade de entrarmos na diplomacia como auxiliares dos contratados. Depois fomos transformados em diplomatas, (...) em 1932. (...) Viver na Inglaterra influi muito na minha formação (...) Aprendi muito. (...) Em Londres convivi com John Gielgud, Lawrence Oliver, Beatriz Lehman (...) e Peter Brook. A Casa do Estudante foi fundada por mim há 46 anos, com apoio dessa grande mulher que foi Ana Amélia. Quando ela morreu, assumi a direção da Casa. (...) Eu criei o Teatro Ópera, criei o Teatro do Estudante, criei um Teatro Infantil com atores adultos e da melhor qualidade. Mas, hoje, quando em casa, vejo que não tenho mais o meu Guignard, nem um quadro que eu tinha, em que Garcia Lorca aparecia nu, obra de um grande mestre espanhol. Não tenho mais essas coisas raras, porque vendi tudo para dar vazão à minha loucura; então eu me sinto como se tivesse me lesado em vida. Eu já tive seis automóveis. Todos foram vendidos para pagar as loucuras da Casa do Estudante, do Teatro do Estudante, do Teatro Duse, da Aldeia de Arcozelo. (...) Os moços do Brasil inteiro me querem bem, graças a Deus. (...) Tenho grande alegria ao saber que você [Rachel de Queiroz] foi uma das autoras que ajudei. Mais de trinta dramaturgos surgiram no Duse. Eu tenho em minha casa, no Duse, a lembrança disso tudo. Lá você encontra preservada a memória de três figuras que a morte apagou. Cacilda, Sérgio Cardoso e a minha querida Glauce Rocha. Eu vejo aqui, agora, o Aldomar Conrado, o Pernambuco Oliveira, vejo você Rachel, vejo mulheres, homens, autores, atores, jornalistas, todos que nós ajudamos com o melhor do coração e do espírito. Mas eu me sinto já cansado e tenho pena de saber que não surgirá tão cedo um outro que tenha minha capacidade heróica de realização. Depois, no Brasil não há ouvidos para a inteligência. Só há ouvidos para o futebol. Para futebol e assassinatos. Estão nas primeiras páginas dos jornais. (...) Eu confesso que esse desespero todo não é nada. (...) Talvez seja, porque eu vivo. Olha, hoje, por exemplo, recebi três rapazes que vieram me pedir dinheiro para livros. É doloroso. Ninguém tem dinheiro para livros... (...) Não é só falta de dinheiro para livros. Outros me procuram porque não têm lugar para morar. É trágico. (...) Alguém disse, acho que foi o Franklin de Oliveira, que esse país sofre de total falência de memória nacional. Você morre, quando você morre, às

alguém para trabalhar por sua memória, você é absorvido no esquecimento.

(Trechos do depoimento de Paschoal de Carlos Magno - 20/11/1975). Esse depoimento é longo, e nele é possível encontrarmos outras informações sobre o teatro amador, sobre pessoas que transitavam no espaço cênico - como Maria Jacintha, Dulcina de Moraes, Ney Braga, Ziembinski, Jaime Costa, Leopoldo Fróes, Sônia Oiticica -, nos festivais, alguns projetos realizados, números de pessoas envolvidas em tudo isso, além de tantos outros pontos. Os trechos aqui selecionados não se encontram na mesma ordem do texto original, visto que busquei uma forma em que ele pudesse apresentar a si mesmo e, ao mesmo tempo, mostrasse uma linha próxima daquilo que é evidenciado no discurso de B.. Esse exercício me leva a afirmar que estudar Paschoal de Carlos Magno é fundamental para entender melhor o universo de B. de Paiva.

Nesse sentido, retorno o foco ao perfil do homem possuidor de um sorriso caro - graças ao conhecido Paschoal e ao quadro de Pancetti -, que foi ponto de grandes atores como Procópio Ferreira e o galã Raul Roulien - ator que trabalhou no primeiro filme em cores de Hollywood. Além disso, B. trabalhou, ainda, no rádio com Vicente Celestino e com o teatrólogo Hermínio Borba Filho. Se por um lado viveu entre esses artistas e cultivou o gosto por Pixinguinha e Portinari, por outro, procurou manter hábitos simples do cotidiano e, segundo ele mesmo, gostando até hoje de

feijão, arroz, farinha, carne velha e rapadura. Mas não posso comer mais nada. Só posso comer feijão e arroz, sem botar farinha. Mas não posso mais tomar meus guaranás e minha coca-cola. Não posso mais. Porque faz mal, porque tudo faz mal. Eu tive doente de vesícula e o médico recomendou que eu reduzisse peso. Já perdi uns 6 Kg, mas é pra perder mais.

Conversar com B. de Paiva e/ou ouvir a entrevista dada em sua casa, é escutar histórias recheadas de arte e de política. Mesmo quando se trata de perguntas locais e/ou particulares, suas respostas conectam-se rapidamente aos contextos de época e às personalidades de renome nacional (e até mesmo internacional). Esse homem que aprendeu a ler com o pai e que adora Ariano Suassuna e Guimarães Rosa, desenvolveu o amor pelas palavras, as quais o estimularam a atuar e dirigir teatro, escrever e publicar três livros7, vários poemas, peças e artigos, em jornais e

revistas.

7 Cf. BARROSO, Afonso; PAIVA, B.; PAIVA, Carlos. ABC. Rio de Janeiro: Edição GECOM,

sociedade a importância dessa trajetória de vida. Recentemente, em 7 de fevereiro de 2006, o jornal Correio Braziliense dedicou algumas de suas linhas para divulgar uma homenagem que ele recebeu no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), porque, segundo Marcus Mota8,

entrevistado pelo jornal, “…escolher B. de Paiva para abrir A Experiência em Cena é, sobretudo, homenagear sua passagem nas duas instituições que formam atores em Brasília”. Mesmo sendo o foco da matéria A Experiência em Cena, três parágrafos foram dedicados ao homenageado e, ao menos, valem como registro de sua existência e importância na cena cultural da cidade. Transcrevo a seguir alguns trechos da matéria assinada pelo jornalista Sérgio Maggio:

B. de Paiva, 73 anos, homem de teatro, sai hoje de Luziânia (Entorno

No documento S: F AZER ES TE ATR AIS EM BR AS ÍLIA (páginas 175-179)