• Nenhum resultado encontrado

Jornalismo Assistido por Computador

A noção inglesa de CAJ, Computer Assisted Journalism, derivada da noção de CAD, Computer Assisted Design, traduz as inovações e alterações que o computador veio trazer ao Jornalismo nas suas diferentes vertentes, na recolha de notícias, no respectivo tratamento e difusão.

É sabido que o desenho industrial, na Mecânica ou na Engenharia Civil, sofreu uma revolução com a introdução de programas informáticos de desenho como por exemplo o Autocad. A eficiência, o rigor da execução, a facilitação de tarefas, que a informática trouxe ao desenho constitui um marco de tal relevância que pensar hoje o desenho industrial sem os computadores seria como pensar os transportes sem os motores.

5Pedro Almeida, Previsão do Comportamento de Séries Temporais Financeiras com Apoio

de Conhecimento Sobre o Domínio. Tese de Doutoramento Universidade da Beira Interior. 2003.

Data Mininge um novo jornalismo de investigação 159

A introdução da informática no Jornalismo, nas diferentes vertentes, vem alterar também radicalmente a forma de fazer Jornalismo. Desde logo na elaboração das notícias, pelo simples processamento de texto, que veio subs- tituir a tradicional máquina de escrever. Escrever um texto num computador, emendá-lo, reescrevê-lo, é hoje uma tarefa extremamente simplificada. Mas além da simplificação e facilitação na escrita, uma tarefa de mesmo nível, o computador permite muito mais que uma máquina de escrever, como guardar textos antigos, que podem novamente ser recuperados, recortados, citados e copiados para os novos artigos. Por outro lado, ao entregar o texto em forma digital, o jornalista obvia o perigo de gralhas introduzidas por tipógrafos ou compositores.

Um computador não se limita, contudo, a ser uma máquina de escrever confortável ou um repositório de textos, embora seja essa a utilização mais comum e quase única que dele fazem ainda hoje os jornalistas. O jornalista pode servir-se do computador para organizar a informação e sobretudo através da gestão dessa informação mediante programas de base de dados. E penso ser neste ponto que verdadeiramente se pode falar em JAC, num novo Jorna- lismo tornado possível pelo computador. É muito para além da compreensão e da utilização do computador como máquina de escrever, com a utilização de programas de agenda, de folhas de cálculo, de bases de dados e de estatística que surge o JAC.

Nomeadamente na reportagem, no Jornalismo de investigação, o computa- dor constitui uma ferramenta indispensável para recolher informação, organizá- la sob diferentes parâmetros, por fontes, locais, datas, conteúdos, e confrontá- la com outras informações, em jeito de prova, reforçando ou contradizendo outras notícias. Com programas de fácil manuseamento, o jornalista poderá verificar no local e na hora a veracidade das informações de uma fonte, re- correndo ao registo das informações, seja dessa fonte, seja sobre essa matéria. Esta capacidade aumenta ainda com a possibilidade de além de texto, poder também guardar no computador fotografias, sons (informação oral), vídeos, e gerir também estes dados de maneira idêntica à que faz com os textos. Além da possibilidade de trazer consigo os seus ficheiros, o jornalista pode tam- bém guardar no disco duro do seu computador informações, textos, imagens e sons, provenientes de outros órgãos de comunicação e, assim, reforçar o seu trabalho de investigação.

160 António Fidalgo

O computador por si representa já um instrumento extraordinário de fazer Jornalismo, mas um computador ligado à Internet será cada vez mais impres- cindível na profissão. Em rede um computador acede a fontes de informação, diversas e longínquas, que contextualizam as informações obtidas de fontes directas e próximas. Receber notícias directamente das agências noticiosas, buscar informação na Internet, é algo trivial que um computador possibilita, trivialidade que, no entanto, altera radicalmente, a forma de investigar, tratar e redigir as notícias próprias.

Até este ponto, na utilização dos computadores, a noção de CAJ identifica- se com a noção de CAR, Computer Assisted Reporting, reportagem assistida por computador. O computador é visto sobretudo como ferramenta de traba- lho do jornalista na sua actividade de reportagem e não na possibilidade de ponto de difusão de notícias. Contudo, o conceito de Jornalismo assistido por computador comporta também a forma de difusão das notícias, não já em papel, mas em digital on-line. A proliferação de servidores web, e correspon- dente proliferação de jornais e outras publicações informativas on-line, exige que o Jornalismo seja pensado também à luz desta variante.

No meu texto de 2003 sobre “Jornalismo assente sobre base de dados”,6

e que posteriormente desenvolvi num texto sobre a resolução semântica das notícias online,7afirmei em conclusão que “o jornalismo on-line recorrerá ne-

cessariamente à tecnologia das bases de dados como especificidade que o dis- tinguirá substancialmente do jornalismo dos meios tradicionais da imprensa, rádio e televisão. Enquanto não enveredar pela tecnologia das bases de dados, apenas será uma cópia dos meios tradicionais. Será essa especificidade que lhe conferirá maior rigor, maior objectividade e melhor cobertura da realidade humana a noticiar.

A expansão à escala mundial, a possibilidade de aumentar indefinida- mente o seu tamanho e o acréscimo ilimitado de temáticas abrangidas, a ma- nutenção on-line dos arquivos das colecções, a interactividade, são factores que conduzirão o jornalismo on-line a ser impreterivelmente um jornalismo assente sobre base de dados. A tarefa que fica em aberto é a experimenta- ção e a investigação das novas formas de informação jornalística que os no-

6António Fidalgo, “Sintaxe e Semântica das Notícias On-line: Para um Jornalismo Assente

em Base de Dados” em Lemos, André et alt., org., Mídia.Br. Livro da Compós-2003, Porto Alegre, Editora Meridional, pags 180-192.

Data Mininge um novo jornalismo de investigação 161

vos meios e as novas tecnologias vêm tornar possível. O jornalismo de fonte aberta é talvez o caso paradigmático de um jornalismo específico sobre bases de dados.”8

Ora a mineração de dados inscreve-se precisamente na “investigação de novas formas de informação jornalística”.