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CAPÍTULO II. JUVENTUDES E TRABALHO NO CONTEXTO DA

2.1 Jovens no contexto da pandemia da Covid-19

Em 30 de janeiro de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou que o surto da Covid-19 se tornara uma emergência de saúde pública de importância internacional (ESPII), considerado pelo Regulamento Sanitário Internacional (RSI) como o mais alto nível de alerta da Organização. Em 11 de março de 2020, a OMS caracteriza a Covid-19 como uma pandemia (OPAS/OMS, 2020).

Este novo cenário impôs, dentre outras medidas, o isolamento social, trouxe impactos significativos na rotina, no trabalho e na interação social da população. As interações passaram de presenciais para remotas; as mídias sociais tornaram-se ferramentas de comunicação de extrema importância, tanto para a comunicação quanto para o trabalho.

Durante a pandemia da Covid-19, o agravo na crise sanitária torna-se parte de um cenário com consequências socioeconômicas que impactam o presente e futuro dos jovens e toda a população brasileira com consequências na saúde mental, na vida profissional e econômica, com situações de insegurança alimentar, fragilidades no ensino educacional e forte instabilidade política.

Uma das consequências que mais assolaram e ainda assolam o país - o que não é novidade – é o desemprego. Dentre outras características do período tem-se a rápida informatização do mercado de trabalho, o aumento da terceirização/flexibilização da força de trabalho e a alteração dos contratos de curta duração.

Em 2020, a população jovem no Brasil estava na faixa de 47,2 milhões de pessoas, conforme dados do Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE) que realizou uma importante pesquisa sobre a juventude no período.

A CONJUVE lançou a primeira edição da pesquisa Juventudes e Pandemia do Coronavírus em 2020, com o objetivo de analisar os impactos da pandemia na vida dos jovens e entrevistou cerca de 34 mil jovens no Brasil. Foram analisados dados relativos à identificação:

como, gênero, raça/cor, ocupação, composição familiar e aspectos de saúde, dentre outros.

Apontamos alguns de seus resultados. De uma forma geral, as condições física e emocional tiveram grande impacto desde o início do isolamento social.

Fonte: CONJUVE, 2020.

A fala de um jovem na Oficina de perguntação demonstra um grande impacto da pandemia na saúde mental. Como observamos no gráfico acima, mais da metade dos jovens tiveram piora na qualidade do sono, destes 73% alegaram não possuírem atividades de lazer e cultura, quase 60% dos jovens tiveram seus recursos financeiros abalados.

De todas as perguntas, uma coisa ficou muito evidente, que é a parte emocional (...).

O que é diferente de outros momentos de crise de saúde pública, como epidemia de meningite, epidemia de H1N1, essa agora está sendo muito isso, porque acho que tá o Brasil inteiro e todo mundo tendo que realmente se isolar, as notícias estão chegando, e o mundo está todo globalizado... Agora as emoções estão muito mais evidentes. (CONJUVE, 2020).

Dentre os principais receios dos jovens, 75% informaram o medo de perder alguém próximo e 48% temiam pela saúde e de serem infectados pelo vírus, como podemos observar no gráfico 2

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Fonte: CONJUVE, 2020.

Em relação às condições de trabalho, a pesquisa apontou que cerca de metade dos jovens entrevistados/as tiveram seu emprego afetado.

Em parte, a perspectiva dos jovens hoje reflete as condições gerais em que se encontram as famílias, embora possa ser, na maioria das vezes, a reprodução da atual situação econômica e social. (POCHMANN, 2007, p.15)

No contexto econômico, em especial, no mercado de trabalho, o panorama mundial foi de grande depressão, consequências da significativa redução da demanda e oferta de trabalho, resultantes das medidas de distanciamento social. De acordo com dados da PNAD Contínua (IBGE), cerca de 8,9 milhões de brasileiros perderam seus empregos no segundo trimestre de 2020. Observou-se também, uma queda de 7,2% na taxa de ocupação entre os jovens durante o segundo trimestre de 2020, como podemos observar no gráfico 3.

Fonte: PNAD Contínua/IBGE 2020

Ao longo das últimas décadas caminhamos em uma árdua batalha para a inserção dos jovens no mercado de trabalho, sempre que há uma crise econômica, esta categoria social é uma das que mais sofre com o desemprego.

De acordo com a pesquisa da CONJUVE (2020), dos 34 mil jovens entrevistados, cerca de 27% pararam de trabalhar. Conforme dados divulgados pelo IBGE (2021), a taxa de desemprego entre jovens de 14 anos ou mais no primeiro trimestre de 2020 chegou a 81,9%, uma alta significativa em comparação aos últimos anos. Se fizermos a comparação entre o primeiro trimestre de 2012, observamos uma elevação de 2,9%, que mantém um curso de crescimento de mais 1,5% em relação ao primeiro trimestre de 2021, como explicitado na tabela, a seguir.

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Fonte: IBGE, PNAD Contínua 1º Trimestre 2021

A pesquisa evidenciou ainda que as mulheres representam a maior parcela de jovens com idade para trabalhar. Enquanto os homens representam 46,7%, as mulheres compõem 53,3%, mais da metade do percentual com idade para trabalhar, com podemos observar no gráfico

Distribuição percentual das pessoas de 14 anos ou mais de idade, por sexo – Brasil - 1º trimestre de 2015-2021

Fonte: IBGE, PNAD Contínua 1º Trimestre 2021

Em relação aos jovens entre 14 anos ou mais, inseridos/as no mercado de trabalho, observou-se uma queda de 4,9% entre 2019 e o primeiro trimestre de 2021, conforme o gráfico a seguir,

Distribuição percentual das pessoas de 14 anos ou mais de idade, segundo a condição na força de trabalho, na semana de referência - Brasil - 2012-2021

Fonte: IBGE, PNAD Contínua, 1º Trimestre 2021.

Em 2021, a CONJUVE realizou a segunda edição da Pesquisa, com mais de 68 mil jovens buscando uma melhor compreensão dos efeitos da pandemia no mercado de trabalho para os jovens.

Ao comparar a participação de jovens na vida econômica do domicílio no início da pandemia (maio/20) com um ano depois (abril/21), nota-se pouca variação, com uma tendência à redução dos independentes financeiramente e ao aumento dos totalmente dependentes. Elevadas parcelas desses jovens, em todas as faixas de idade, se declaram totalmente dependentes financeiramente, mas chama atenção que são 40%

de jovens entre 18 a 24 anos (em 2020 eram 37%) e 21% entre 25 a 29 anos (em 2020 eram 14%) (CONJUVE, 2021).

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Fonte: CONJUVE, 2021.

Podemos observar que entre 2020 e 2021, houve uma queda de 3% na taxa de jovens que detinham independência financeira, saltando de 37 para 40% o número de jovens dependentes financeiramente, evidenciando a vulnerabilidade dos/as jovens no mercado de trabalho. Em relação à situação de trabalho, observou-se que entre 2020 - início da pandemia- e 2021- um ano após - a taxa de jovens fora mercado de trabalho chegou a marca de 53%, um aumento de 3% em relação ao primeiro ano de pandemia, o que evidencia que os jovens constituem categoria vulnerável quanto à inserção no mercado de trabalho.

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