• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 1. JUVENTUDES E MERCADO DE TRABALHO:

1.3 Programas de formação para o trabalho de jovens

No contexto brasileiro, a temática acerca da inserção do jovem no mercado de trabalho vem sendo discutida amplamente no âmbito das políticas públicas, caracterizada por aspectos históricos de vulnerabilidade social que permeiam grande parcela da população, ressaltando questões como desemprego estrutural, a dificuldade de acesso e a competitividade. Todavia, é a partir de 1940, durante o governo de Getúlio Vargas, que a juventude se torna pauta de intervenção e preocupação na agenda pública.

Devemos nos atentar a dois fatores que tornaram a juventude como pauta de intervenção pública. Em primeiro lugar, a preocupação política e social, que atrela o jovem à marginalidade, violência e criminalidade, sendo estes majoritariamente de segmentos familiares pauperizados;

sem esquecer os impactos do processo histórico escravocrata e excludente que refletem o campo social, político, econômico e cultural ainda hoje. Em segundo lugar, o entendimento da juventude como uma fase de transição para a vida adulta, de modo a impor que a sociedade busque formas de educar/preparar estes indivíduos socialmente.

Na dimensão da inserção profissional com as exigências de formação, a educação profissional passa a fazer parte da agenda das políticas públicas com extrema importância para a formação e inserção dos jovens no mundo do trabalho.

Em uma breve retomada sobre alguns marcos importantes neste campo, temos, em 1940, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que salientava em seu texto, alguns cuidados voltados à juventude, como a definição da faixa etária para contratos de trabalho, a definição da categoria jovem aprendiz, as jornada de trabalho e a remuneração salarial.

Nos anos 1990, a aprovação do ECA, com destaque para o art. 60, onde se coloca a proibição de qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz”. No entanto, nos anos 2000, durante os governos de Fernando Henrique Cardoso

21

(1995-2003) a CLT sofreu alterações, apoiada e aprovada pela Lei nº 10.097 de 19 de Dezembro de 2000, conhecida como Lei da Aprendizagem, com foco principal na inserção do jovem no mercado de trabalho e, reformulada pelo Decreto nº 5598/2005, tratando sobre a formação técnico-profissional, especialmente em seu art. 428.

Contrato de aprendizagem é o contrato de trabalho especial, ajustado por escrito e por prazo determinado, em que o empregador se compromete a assegurar ao maior de quatorze e menor de dezoito anos, inscrito em programa de aprendizagem, formação técnico-profissional metódica, compatível com o seu desenvolvimento físico, moral e psicológico, e o aprendiz, a executar, com zelo e diligência, as tarefas necessárias a essa formação (BRASIL, 2000).

O Programa Jovem Aprendiz foi elaborado por meio de atividades técnicas e práticas sob a supervisão de organizações como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI); o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC); o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (SENAT) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), bem como, contou com a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica integrada ao Governo Federal e ao Ministério da Educação, reunindo instituições profissionalizantes como as Escolas Técnicas de Educação (ETECs), as Organizações Não-Governamentais (ONGs) ou entidades sem fins lucrativos espalhadas pelos estados e municípios do país, tendo como função fornecer ao aprendiz, conhecimentos teórico-práticos de um determinado ofício, cujo exercício exige uma pré-qualificação.

Art. 429. Os estabelecimentos de qualquer natureza são obrigados a empregar e matricular nos cursos dos Serviços Nacionais de Aprendizagem número de aprendizes equivalente a cinco por cento, no mínimo, e quinze por cento, no máximo, dos trabalhadores existentes em cada estabelecimento, cujas funções demandem formação profissional.(BRASIL, 2000).

Em 2003, o governo federal implementou o Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego para jovens (PNPE) por meio da Lei nº 10.748, visando a necessidade de inserção dos jovens no mercado de trabalho, direcionado a jovens entre 15 e 24 anos com ensino médio completo ou, ainda em atividade escolar, pertencentes a famílias em situação de vulnerabilidade social e sem registro formal de trabalho. Seu art. 1º aponta:

Fica instituído o Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego para jovens - PNPE, vinculado a ações dirigidas à promoção da inserção de jovens no mercado de trabalho e sua escolarização ao fortalecimento da participação da sociedade no processo de formulação de políticas e ações de geração de trabalho e renda, objetivando, especialmente, promover: I - a criação de postos de trabalho para jovens ou prepará-los para o mercado de trabalho e ocupações alternativas, geradoras de renda; e II - a qualificação do jovem para o mercado de trabalho e inclusão social.

O Programa foi revogado em 2008 pela Lei nº 11.692, denominado Programa Nacional de Inclusão de Jovens (Projovem), destinado a jovens entre 15 e 29 anos, visando promover a

reintegração dos jovens ao sistema de ensino, qualificação profissional e humano, desenvolvido em quatro modalidades. O primeiro sendo Projovem Adolescente - Serviço Socioeducativo, apoiado pela Política Nacional de Assistência Social (PNAS) e pela Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social (NOB/SUAS)

Art. 1º Projovem Adolescente - Serviço Socioeducativo tem como objetivos gerais : I - complementar a proteção social básica à família, criando mecanismos para garantir a convivência familiar e comunitária; e II - criar condições para a inserção, reinserção e permanência do jovem no sistema educacional.”

A segunda modalidade refere-se ao Projovem Urbano, destinado a jovens entre 18 e 29 anos, alfabetizados e que não tenham concluído o ensino fundamental, visando sua conclusão por meio da modalidade:

Educação de Jovens e Adultos Integrada à qualificação profissional e o desenvolvimento de ações comunitárias com exercício da cidadania, na forma de curso, conforme previsto no art. 81 da Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996.”

A terceira modalidade refere-se ao Projovem Campo - Saberes da Terra tem por finalidade oferecer qualificação profissional e escolarização de jovens agricultores familiares de 18 a 29 anos sem ensino médio concluído.

Projovem Campo - Saberes da Terra visa ampliar o acesso e a qualidade da educação à essa parcela da população historicamente excluídas do processo educacional, respeitando as características, necessidades e pluralidade de gênero, étnico-racial, cultural, geracional, política, econômica, territorial e produtivas dos povos do campo.

O curso, com duração de dois anos, é oferecido em sistema de alternância — intercalando tempo-escola e tempo-comunidade.

A quarta modalidade refere-se ao Projovem Trabalhador destinado a brasileiros com idade entre 18 e 29 anos, pertencente às famílias cuja renda per capta seja de até um salário mínimo, não podendo estar/ter cursado ensino superior. Oferta de cursos profissionalizantes de preparação para a inserção de jovens no mercado de trabalho e/ou outras ocupações geradoras de renda, com possibilidades de uma bolsa-auxílio financeiro por até seis meses.

Podemos observar que desde a década de 1940 até o presente momento, a preocupação no que tange a inserção do jovem no mercado de trabalho, ganha força e espaço na agenda pública. Entretanto, apesar das políticas públicas voltadas à formação de jovens, permanecem as desigualdades sociais com altas taxas de desemprego, ampliadas com a Covid-19.

23

Capítulo II. JUVENTUDES E TRABALHO NO CONTEXTO DA PANDEMIA DA

Documentos relacionados