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CAPÍTULO 1. JUVENTUDES E MERCADO DE TRABALHO:

1.1 Juventudes

Juventude, mocidade, adolescência, puberdade, “flor da idade”, novo, nubilidade, muitos são os termos e conceitos utilizados para caracterizar esse período da vida. Entretanto, existem dois termos muito utilizados em nosso cotidiano: adolescência e juventude. Suas semelhanças e diferenças nem sempre são elucidadas e suas concepções ora se superpõem, ora constituem campos distintos, mas complementares, ora traduzem uma disputa por abordagens distintas.

O conceito “juventude” foi constituído por diferentes áreas do conhecimento, como a Psicologia e a Sociologia, dentre outras. Segundo Coimbra (2005), podemos entender a juventude como uma construção social. Etapa da vida que se caracteriza por muitas mudanças, uma vez que compreende também uma parte da adolescência, com questões específicas, na qual as/os indivíduos refletem sobre a escolha da carreira profissional, o primeiro emprego, vivenciam a formação de sua própria identidade, emitem posicionamentos políticos e é também uma fase marcada pelo sentimento e desejo de maior liberdade e independência.

Os jovens vivem uma crise de identidade e uma crise de pertencimento, devido a uma contradição entre o crescimento individual e o crescimento da sociedade. O jovem é um exilado de sua própria pátria e de suas próprias comunidades e, por isso, perde o senso de continuidade e de história ( GUIMARÃES e SOUSA; 2009, p.30).

A juventude “perpassa ainda por um período demarcado por um estilo de vida que vai além da definição de idade, evocando a transgressão, o anticonformismo” (GRAZIOLI, 1984, p.63). É sinônimo de criação e é nesta fase, de forma latente, que estão presentes novas descobertas e perspectivas para o futuro que se transformam e se renovam.

O jovem se dimensiona individualmente e sob a influência de aspectos psicossociais, num percurso de (in)definições vivencia diferentes momentos e movimentos: busca identitária, tendência a estar em grupo, deslocamentos constante de situações e vínculos, atitudes de descontentamentos e insatisfação sociais, intelectualização dos fatos, mudanças de humor, separação do universo familiar, questionamento dos valores sociais, fatores que se desenvolvem em pleno vigor na adolescência (SOUSA;

2006, p.11)

Quando pensamos sobre as juventudes, devemos considerar as historicidades e como se criou o conceito pois em cada época o conceito sofreu mudanças. Durante o século XIX, na Europa, com a influência da eugenia e do racismo, o caráter repressivo se colocava, com forte disciplinamento principalmente de jovens negros/as marcados socialmente como “desviantes”.

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Essa orientação no campo do disciplinamento impôs práticas repressivas e violentas. As pequenas contravenções dos jovens eram mais preocupantes do que as ações mais graves dos adultos, o que reforçava a ideia da repressão neste período histórico (AQUINO, 2009).

O conceito tem sido disputado e não consensual, principalmente no quesito faixa etária.

Para a Organização Mundial de Saúde (OMS) jovens são as pessoas entre 15 a 24 anos, em condições biológicas para ter filhos. No Brasil, a partir da aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 13/07/1990, Lei 8.069 esta faixa abarca o que se considera adolescente, como podemos verificar em seu art. 2º : Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. (ECA, 1990). Dentro deste escopo legal, crianças e adolescentes são sujeitos de direitos, conforme art. 4º.

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária (ECA, 1990).

Segundo Coimbra (2005), “a noção de adolescência emerge vinculada a lógica desenvolvimentista, sendo uma etapa de desenvolvimento em que todos passariam obrigatória e simultaneamente”, em outras palavras, adolescência é definida por permear diversas questões acerca da descoberta de identidade dos indivíduos, posicionamentos ideológicos e políticos, escolha profissional, dentre outros.

Com essas referências, articulando conceitualmente adolescências e juventudes, podemos apreender juventudes como uma construção social, de acordo com Coimbra (2005)

“o conceito de juventude nos faz pensar no sujeito como um ser constituído e atravessado por fluxos, devires, multiplicidade e diferenças.”

No contexto brasileiro do século XX, apoiado e influenciado também, pelo movimento higienista, é idealizado o conceito dos “bandidos de nascença” onde os jovens de periferia estão relacionados ao "perigo", logo, devem ser vigiados e excluídos. Diante deste cenário, os jovens periféricos que escapam desse genocídio social, representam a parcela excluída da sociedade por primazia, onde sequer conseguem alcançar o mercado de trabalho formal caracterizando-se então, como um perigo social a caracterizando-ser controlado, consolidando o modelo dominante das práticas repressoras voltadas a esta população. Essa

vinculação da juventude com a desordem social é uma concepção que contribui fortemente até os dias atuais para reforçar a relação entre vadiagem – ociosidade - pobreza, bem como entre pobreza e periculosidade – violência - criminalidade”

(Coimbra & Nascimento, 2003, p.25)

Diante deste contexto, é de suma importância destacar que na construção do conceito sobre juventude, prevaleceu uma certa tendência de generalização dos processos que perpassam a vida cotidiana dos jovens, onde todos, independente do contexto sociocultural, passariam pelas mesmas oportunidades e adversidades.

Assim, a definição de juventude pode ser articulada em função de dois conceitos: o de juvenil e o de cotidiano. O juvenil nos remete ao processo psicossocial de construção da identidade; e o do cotidiano, ao contexto de relações e práticas sociais nas quais tal processo se realiza, com ancoragem em fatores ecológicos, culturais e socioeconômicos (GUIMARÃES e SOUSA; 2009, p.55).

Com essas questões se coloca o Estatuto da Juventude - Lei n 12.852 de 05 de agosto de 2013, que dispõe sobre os direitos dos jovens, os princípios e diretrizes das políticas públicas de juventude e o Sistema Nacional de Juventude - SINAJUVE.

O Estatuto da Juventude reitera o ECA, definindo a população jovem como pessoas entre 15 (quinze) e 29 (vinte e nove) anos de idade, sendo estes detentores de direitos cobertos pelo Estado, assim como o reconhecimento de que jovens/adolescentes até os 17 (dezessete) anos são inculpáveis de encarceramento em regime fechado no mesmo cenário de adultos. O Estatuto da Juventude possibilita a visibilidade política a esse segmento ao

reconhecer o papel estratégico da juventude no desenvolvimento do país e aponta os direitos que devem ser garantidos de acordo com a especificidade dessa população''.

São eles: direito à cidadania, à participação social e política e à representação juvenil;

direito à educação; direito à profissionalização, ao trabalho e à renda; direito à diversidade e à igualdade; direito à saúde; direito à cultura; direito à comunicação e à liberdade de expressão; direito ao desporto e ao lazer; direito ao território e à mobilidade; direito à sustentabilidade e ao meio ambiente; direito à segurança pública e o acesso à justiça (BRASIL; p. 7 e 8). geralmente caracterizada pela dependência econômica associada à educação e formação, próxima da constituição de uma vida familiar e profissional própria, cada vez mais vem deixando de ser um espaço de decisão privada para se transformar em agenda de intervenção pública. (POCHMANN; 2007, p.19)

Nos últimos anos, pesquisadoras/es chamam a atenção para outras dimensões fundamentais que perpassam as juventudes, como raça, classe, gênero, etnia, condições de saúde e deficiências; em uma crítica à visão generalizante sobre juventudes. Dimensões que têm sido consideradas em pesquisas nacionais sobre a juventude.

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É comum também observar a combinação de categorias identitárias, não somente de gênero, mas de classe social, territorialidade e, em muitos casos, raça/etnicidade e orientação sexual, o que implicaria perfilhações juvenis diferenciadas em relação a sexualidades. (GUIMARÃES e SOUSA; 2009, p.77)

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2020), em relação à juventude no Brasil: são pessoas negras que correspondem a soma de “pardos” e negros: 51% pardos; 10% negras (os); 38% brancos; 0,5% amarelos e 0,4% indígenas.

No Censo Demográfico do IBGE em 2010, constatou-se que 7,8 milhões de jovens brasileiros, entre 15 e 29 anos, residiam na zona rural, porém passado 12 anos essa situação se alterou, estando a maioria nas áreas urbanas, conforme podemos observar na proporção de jovens por regiões do país: uma maior proporção de jovens nas regiões Norte e Nordeste: 28%

Norte; no Nordeste, com 26%; no Centro -Oeste com 24%; no Sudeste e Sul, com 21% (IBGE, 2020).

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