• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 1. JUVENTUDES E MERCADO DE TRABALHO:

1.2 Juventudes e mercado de trabalho

A inserção no mercado de trabalho é uma transição importante no contexto das juventudes, uma transição para o mundo adulto, etapa de grande significado enquanto ser social. Entretanto, a inserção no mundo do trabalho não é tão simples, não sendo esta eficiente para plena autonomia e emancipação dos indivíduos, em especial, jovens de periferia que buscam no trabalho uma forma de ajudar a complementar a renda familiar para SOBREVIVER neste sistema desigual.

A entrada ou busca do trabalho para uma parcela grande de jovens, está voltada muito fortemente às necessidades de sobrevivência. Assim, “a decisão de entrada está associada diretamente às dificuldades de sobrevivência financeira da família. Geralmente, quanto menor a renda familiar, maior a proporção de jovens que precisam trabalhar. (POCHMANN; 2007, p.

62-63).

Durante este processo, estes indivíduos tendem a assumir novas responsabilidades, dentre estas, a escolha da carreira por meio de um processo de formação profissional. Como na maioria das famílias brasileiras, vinculadas à classe trabalhadora, conseguir um emprego possibilita complementar a renda familiar. Para grande parte dos jovens e destes, majoritariamente os da classe trabalhadora, a inserção no mercado passa por processos de formação.

No Brasil, a participação do jovem no mercado de trabalho tem sido arduamente discutida nos últimos anos. Entretanto, para alguns autores e no discurso empresarial, a qualificação e experiência profissional tem aparecido como principais. Essa situação tem sido considerada um obstáculo para a inserção dos jovens no mercado de trabalho.

Mas, de que mercado estamos falando? Obstáculos estão presentes no contexto do mercado de trabalho e não somente para os jovens.

O debate do mercado de trabalho envolve a compreensão das grandes transformações ocorridas no mundo do trabalho ao longo dos últimos anos, e, em específico na produção fordista, modelo que se efetivou no Brasil, conforme Antunes (2006), durante o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961) com a forte presença das empresas multinacionais, com capital estrangeiro.

A produção do Brasil se voltou para bens de consumo permanentes, visando o mercado de consumo interno com baixo desenvolvimento e produção primária voltadas ao mercado externo, colocando o país em posição de subalternidade e dependência em relação aos países mais desenvolvido economicamente, com baixos salários e superexploração da força de trabalho (ANTUNES, 2006).

No decorrer dos anos 1980 inicia-se no Brasil, a chamada reestruturação produtiva com consequente maior demanda por competitividade no mercado internacional. A década de 1990 será marcada pela flexibilização das leis trabalhistas, informatização e terceirização de mão de obra, trazendo profundas mudanças nos direitos da classe trabalhadora que passa a viver o desemprego estrutural.

As transformações no mundo do trabalho e dentre essas, a incorporação das tecnologias nos processos produtivos impactam significativamente as relações de trabalho, com a precarização do trabalho - gerando um aumento nas desigualdades sociais, maiores índices de pobreza e dificuldades mais ampliadas a uma vaga formal no mercado de trabalho que se conforma marcado pela insegurança e rotatividade da mão de obra.

O mercado de trabalho, marcado pela reestruturação produtiva e por discursos gerenciais, classifica o ideal de trabalhador flexível e competitivo. Este mercado, de uma forma geral, apresenta várias questões como o desemprego estrutural, a precarização e novas formas e exigências de contratação (ANTUNES, 2006).

Diante deste quadro, quais os desafios da juventude na inserção no mercado de trabalho? Qualificação e experiência são exigências que se colocam. Porém, devemos refletir quais ofertas de trabalho estão disponíveis para os jovens? Quais as condições de trabalho e renda?

17

O funcionamento do mercado de trabalho é desfavorável ao jovem. Diante da constante presença de um excedente de mão-de-obra no mercado, o jovem encontra as piores condições de competição em relação aos adultos, tendo de assumir, na maioria das vezes, funções de qualidade inferior na estrutura das empresas (POCHMANN; 2007, p.41).

Para o jovem, as dificuldades são ampliadas pois o mercado de trabalho solicita uma maior/melhor capacitação profissional para estar apto a concorrência por vagas no mercado.

Entretanto, na maioria das vezes, os jovens brasileiros não possuem preparo e experiências suficientes que atendam a essas exigências. Com isso, a inserção no mercado de trabalho é marcada, para grande parcela dos jovens, pela inserção precária, isto quando conseguem essa inserção.

A maior parte dos novos problemas do jovem no mercado de trabalho emerge das profundas transformações ocorridas na economia brasileira desde 1990. Por isso, torna-se importante destacar o papel do novo modelo econômico na inserção passiva e subordinada na globalização e suas implicações no movimento interno de estruturação do mercado de trabalho. (POCHMANN, 2007, p.43)

A pesquisa acerca da inserção da juventude no mercado de trabalho deve estar entrelaçada ao contexto excludente no processo de desenvolvimento socioeconômico ao longo da história, tornando-nos uma das nações com maiores índices de desemprego, desigualdade social, pobreza e outras desigualdades sociais que assolam a sociedade. Dadas as expressões da questão social e o ensino educacional defasado, a maior parcela dos jovens se inserem no mercado de trabalho de forma subalterna e precarizada, com baixos salários.

Com o avanço econômico e a globalização no Brasil, as empresas passam a ter novas exigências, com ênfase na preparação para o mercado de trabalho e neste sentido, habilidades que possam estar no contexto da educação profissional. Muitos destes jovens se lançam na expectativas desta formação pois quanto maior o investimento do/a “candidato/a” em educação e experiência na área almejada, maior serão suas chances de ser contratado/a. Porém, a grande questão é: como ter uma capacitação profissional e experiência ao mesmo tempo? Como conciliar escola x trabalho?

Como já sabemos, a realidade dos jovens não é favorável, com grande parcela que não conseguiram concluir o ensino médio.

O esforço do jovem, especialmente daquele pertencente às famílias de baixa renda, não é pequeno, considerando que somente 17% dos estudantes que ingressam na escola conseguem completar o ensino fundamental (oito anos de estudos) e ainda só 11% terminam o ensino superior. Como se pode notar, este verdadeiro funil que é a escola brasileira produz e reproduz desigualdades (POCHMANN; 2007, p.37).

Pensando no ensino público brasileiro, percebemos que este não prepara os jovens para o mundo do trabalho, com um sistema de aprovação automática, sucateado e defasado onde

muitos concluem o ensino fundamental e médio mal sabendo ler e escrever, o que amplia as dificuldades na inserção no mercado de trabalho.

De acordo com o IBGE, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) em 2019, no Brasil a taxa de jovens entre 15 e 25 anos analfabetos chegou em 6,6%, aproximadamente 11 milhões de jovens, como verificamos no quadro que segue:

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2012-2019.

Os dados demonstram que o jovem tende a ocupar cargos informais e precários com vínculos empregatícios de curta duração, retornando ao desemprego em um curto período, ou seja, o grau de formação tem grande impacto nas chances de inserção em emprego formal.

De acordo com o levantamento feito pelo Instituto de Pesquisas Aplicadas - IPEA (2020), a taxa de ocupação de pessoas entre 15 e 29 anos era de 54% entre 2012 e 2014, sofrendo uma queda significativa a partir de 2015, como veremos no gráfico a seguir.

19

Ainda de acordo com a mesma pesquisa, a taxa de desemprego entre jovens no período de 2015 a 2017 subiu para 25%, como demonstra o gráfico a seguir

Percebemos que a taxa de desemprego entre os jovens é bem expressiva, e em sua maioria, de jovens de comunidades periféricas. Destarte, a inserção do jovem no mercado de trabalho tem sido marcada por incertezas, sem vínculos empregatícios formais com baixa remuneração salarial e de curta duração, impossibilitando sua ascensão no mercado.

Como vimos até aqui, as juventudes possuem uma multiplicidade de situações que se diferenciam pela trajetória de vida, classe social e etnia, portanto, fica claro que a precarização e inserção no mercado de trabalho não são experienciadas por todas as camadas sociais de

jovens da mesma forma mas que esses determinantes estão diretamente ligados às condições sociais destes indivíduos.

A ascensão no mercado de trabalho está também, diretamente associada ao grau de formação profissional onde, indivíduos com baixo investimento em educação tendem a ocupar cargos menos favoráveis e com menor piso salarial, geralmente caracterizado pelo sistema informal, tornando mais distante o acesso ao ensino de qualidade, saúde, bens de consumo, criando um ciclo que se renova de desigualdades sociais.

Documentos relacionados