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CAPÍTULO II. JUVENTUDES E TRABALHO NO CONTEXTO DA

2.2 Jovens e os desafios atuais da inserção no mercado de trabalho

Fonte: CONJUVE, 2021.

Podemos observar que entre 2020 e 2021, houve uma queda de 3% na taxa de jovens que detinham independência financeira, saltando de 37 para 40% o número de jovens dependentes financeiramente, evidenciando a vulnerabilidade dos/as jovens no mercado de trabalho. Em relação à situação de trabalho, observou-se que entre 2020 - início da pandemia- e 2021- um ano após - a taxa de jovens fora mercado de trabalho chegou a marca de 53%, um aumento de 3% em relação ao primeiro ano de pandemia, o que evidencia que os jovens constituem categoria vulnerável quanto à inserção no mercado de trabalho.

2.2 Jovens e os desafios atuais da inserção no mercado de trabalho

A pandemia gerou um cenário de crise em escala global, escancarando de vez a desigualdade social. A crise econômica atingiu as classes mais vulneráveis, na qual as juventudes pertencem.

Segundo dados divulgados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 2020, um a cada seis jovens deixou de trabalhar desde o início da pandemia, enquanto os que mantiveram o emprego sofreram uma redução de 23% na carga horária de trabalho.

Entendemos que a inserção no mercado formal de trabalho não é acessível a todos, há anos lutamos por direitos trabalhistas, melhora das condições de trabalho, melhor remuneração, todavia, os jovens são muito afetados neste campo, ora por falta de experiências, ora por falta de qualificação profissional.

Em nosso atual contexto, as dificuldades enfrentadas pelos jovens têm sido cada vez maiores, trazendo um mar de incertezas quanto ao futuro e ascensão no mercado formal de trabalho.

Durante a pandemia, as capas de matérias discutiam o quanto o cenário era preocupante em relação à juventude já apontando o aumento do desemprego e a falta de ofertas de trabalho.

A pandemia causou um triplo choque na população jovem. Não só destruiu o emprego, mas também fragilizou as políticas formativas para o trabalho com grandes obstáculos no caminho de quem procurou e/ou procura entrar no mercado de trabalho ou mudar de emprego (OIT,2020). Essa situação foi apontada como preocupações em 2020, pela OIT.

Se não tomarmos medidas imediatas e significativas para melhorar a situação, o legado do vírus poderá nos acompanhar durante décadas. Se seu talento e energia são marginalizados devido à falta de oportunidades ou à falta de habilidades, isso prejudicará o futuro de todos nós e tornará muito e mais difícil reconstruir uma economia melhor pós-covid (OIT, 2020).

Kee Kim, Especialista em Políticas Macroeconômicas e de Emprego da OIT e Susana Puerto, Pesquisadora e Especialista em Emprego de Jovens da OIT (OIT, 2020), apontaram, em 2020, cinco razões para os impactos da pandemia se voltarem mais fortemente aos jovens na relação com o emprego formal, destacando:

1- Uma recessão afeta mais as(os) trabalhadoras(es) jovens do que trabalhadoras(es) mais velhas(os) e com vivência profissional [...]. A falta de redes e de experiência torna mais difícil encontrar outro emprego (decente), e a situação pode levá-las(os) a empregos com menos proteção legal e social [...].

2- Três em quatro jovens trabalham na economia informal (particularmente em países de baixa e média renda) [...]. Com pouca ou nenhuma poupança, eles não podem se permitir praticar o auto isolamento.

3- Muitas(os) jovens trabalhadoras(es) têm uma “forma atípica de emprego” [...].

Esses empregos tendem a ser mal remunerados, ter horas irregulares, contar com pouca segurança no trabalho e pouca ou nenhuma proteção social [...].

Frequentemente, não permitem que a pessoa receba benefícios de desemprego e, em muitos países, as instituições do mercado de trabalho que poderiam ajudar, como escritórios de emprego, são ineficazes.

4- Geralmente, as(os) jovens trabalham em setores e indústrias especialmente afetados pela pandemia de COVID-19 [...]. Em particular, as mulheres jovens serão, provavelmente, afetadas porque representam mais da metade das pessoas com menos de 25 anos empregadas nesses setores [...].

5- Comparado com outros grupos etários, o grupo de jovens trabalhadoras(es) é o mais ameaçado pela automação. Um estudo recente da OIT indica que é mais

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provável que os tipos de trabalhos que as(os) jovens executam sejam total ou parcialmente automatizados.

O aumento do desemprego juvenil não prejudica apenas os/as jovens, mas também acarreta um grande custo de longo prazo. Entrar no mercado de trabalho em recessão pode levar a perdas significativas e persistentes de ganhos que podem durar toda a carreira profissional. Conforme a OIT (2020), ignorar os problemas específicos de jovens trabalhadores/as é arriscar desperdiçar talento, educação e treinamento, o que significa que o legado do surto da COVID-19 pode durar décadas.

Dentre outros dados da Pesquisa CONJUVE (2021) destaca-se que cerca de 36% dos jovens entrevistados ingressaram no mercado de trabalho durante a pandemia,

As principais atividades de trabalho exercidas continuam sendo empregos com carteira assinada (principalmente os mais velhos) e aprendizes. Trabalhos autônomos são mais comuns na faixa dos 25 a 29 anos e em áreas urbanas. A ajuda doméstica sem remuneração é mais comum na faixa dos 15 a 17 anos e em áreas rurais (CONJUVE, 2021).

Fonte: CONJUVE, 2021

De acordo com a respectiva pesquisa, o auxílio emergencial1 - aprovado pelo Congresso Nacional em 2020 - foi de suma importância para a complementação da renda,

1 O auxílio emergencial, aprovado pelo Congresso Nacional e sancionado pela Presidência da República foi um benefício para garantir uma renda mínima aos brasileiros em situação mais vulnerável durante a pandemia do Covid-19 já que muitas atividades econômicas foram gravemente afetadas pela crise. (BRASIL, 2020)

sendo que 60% dos jovens entrevistados responderam que receberam o auxílio; 1 em cada 10 teve essa como única fonte de renda

Fonte: CONJUVE, 2021.

Em 2021, com a finalização do auxílio emergencial, aumentou a proporção de jovens que buscou a complementação de renda por necessidade: de 23% em 2020, passou para 38%

em 2021. Foi ainda maior entre jovens pretos/as, o complemento de renda por necessidade (47%). A complementação de renda por oportunidade também aumentou, de 10% em 2020 para 17% em 2021 (CONJUVE, 2021).

Fonte: CONJUVE, 2021.

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Das atividades realizadas para complementação da renda, a principal apontada foi a prestação de serviços para outras pessoas, sendo principalmente realizadas por homens. Já a venda de produtos foi a mais realizada por mulheres, seja de próprios ou de terceiros. Jovens brancos/as realizaram mais as atividades totalmente online e jovens negros/as realizaram mais as atividades presenciais, estando mais expostos à pandemia (CONJUVE, 2021).

Fonte : CONJUVE, 2021.

Os dados indicados nas duas edições da Pesquisa (CONJUVE, 2020/2021) apontam as dificuldades de jovens no acesso ao mercado formal de trabalho. Nos dois anos da pandemia ocorreram mudanças significativas nas lógicas do trabalho com impactos aos trabalhadores, a exemplo da informatização do trabalho e a consolidação do “home office”.

Consideramos que se antes da pandemia a inserção do jovem no mercado já enfrentava grandes obstáculos, com a pandemia tudo se complexificou. Tem-se ainda a história vinculada aos jovens: jovens precisam se inserir no mercado formal porém se deparam com as exigências da solicitação de experiência e qualificação dos empregadores. Muitas vezes só lhes sobram (se sobram) os empregos precarizados, na informalidade, sem renda fixa e com baixas remunerações, como evidenciado nas pesquisas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É evidente que a juventude, ao longo da história, enfrenta diversas dificuldades em relação à inserção no mercado de trabalho. Todavia, podemos observar a contradição do mercado ao exigir certas condições aos jovens para sua inserção neste mercado.

A partir da pesquisa e reflexão da temática, foi possível compreender as juventudes como um dos segmentos mais vulneráveis diante da lógica do mercado capitalista.

A pandemia da Covid-19 teve impactos significativos nas relações sociais e no mercado de trabalho afetando diretamente trabalhadores/as com menor escolaridade e proteção social, sobretudo, a juventude. Segundo Pochmann (2007), estudos realizados em outros países identificaram a juventude como um dos principais segmentos sociais a sofrer as pressões resultantes das atuais transformações econômicas, sociais e culturais. Verifica-se que neste período, a juventude enfrentou grandes impactos tanto na saúde mental, quanto no meio profissional.

De acordo com a pesquisa da CONJUVE, durante os anos de 2020 e 2021, cerca de 60% dos jovens tiveram sintomas de ansiedade, com maior incidência nas mulheres; o uso exagerado das redes sociais chegou a marca de 56% devido ao isolamento; crises de insônia afetaram 40% dos jovens, dados estes desesperadores.

Quanto à inserção e manutenção dos jovens no trabalho, muitos caminharam para a informalidade, como forma de complementação de renda pela perda de seus postos de trabalho.

Sabemos que a relação do jovem no mercado de trabalho é complicada, sobretudo em tempos de recessão. Neste cenário de privação e isolamento, devemos enquanto sociedade e cientistas sociais, mudar a narrativa e percepção de nossas juventudes, desvinculando a ideia de juventude despreocupada e marginalizada, categorizar a juventude desta maneira traz um falso entendimento desta como uma faixa etária irresponsável e enfatiza o estigma sofrido por estes jovens.

Neste cenário, retomando a pesquisa feita pela CONJUVE, metade dos jovens tiveram seus empregos afetados - diminuição da carga horária; término de contrato - , 72% dos jovens pensaram em parar os estudos e mais de 800 mil jovens foram obrigados a desistir do ensino superior, trazendo a necessidade de ganhar dinheiro como principal causa de evasão, evidenciando mais um fator de exclusão na entrada no mercado de trabalho formal. Diante disto, a busca por complementação de renda também aumentou, 55% dos jovens buscaram formas de complementar a renda pessoal e/ou familiar, em sua maioria prestando serviços para

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outras pessoas ou empresas, onde 60% dos jovens informaram a inscrição no auxílio emergencial como forma de sobrevivência.

Contudo, é explícito os impactos da pandemia no mercado de trabalho com o aumento exponencial do desemprego atrelado ao isolamento social, novas formas de contratação, levando as empresas a adotarem estratégias de home office, mascarando ainda mais a precarização e a exploração da mão de obra, consequentemente, exacerbando o índice de empregos informais.

Os dados analisados nos permitem a reflexão de que a juventude pobre e periférica é a que mais sofre no mundo do trabalho, seja pelos desafios de inserção/permanência, falta de experiência/qualificação profissional, precarização das condições de trabalho e/ou baixa remuneração salarial.

Encontramos dificuldades em dados oficiais e pesquisas atualizadas acerca da juventude em um recorte de jovens LGBTQIA+ e jovens com algum tipo de deficiência e sua inserção no mercado de trabalho, impossibilitando uma melhor compreensão acerca das juventudes. O que evidencia uma urgência em identificar e trazer ao debate desta parcela da juventude tão importante e que merece destaque. As buscas por dados desta parcela das juventudes, em sua maioria, levaram a dados sobre violência e preconceito, o que não exclui sua importância no campo do debate. Entretanto, os dados obtidos nos desafiam a ampliar a reflexão sobre a temática das juventudes brasileiras em suas diversidades e conformações.

Por fim, destacamos a importância das políticas públicas de formação, emprego e renda para os jovens que ainda se mostram pouco efetivas e insuficientes. Diante disto, faz se necessário ampliar os debates científicos e sociais, visando a criação de políticas públicas de trabalho - para esta categoria - que atendam, de fato, as demandas das juventudes, buscando identificar as potencialidades e dificuldades para o desenvolvimento profissional e que ressaltem as juventudes como detentoras de direitos e não como instrumento de exploração.

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