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4.1 Procedimento Especial Trifásico

4.1.3 Juízo de Mérito: Julgamento em Plenário

No dia da Sessão de Julgamento, o Juiz-Presidente, considerando presentes todos os requisitos impostos por lei, declara abertos os trabalhos e tem início a terceira fase, quando o réu será, realmente, julgado por seus pares, os jurados. Nesta última fase ocorre, ainda, a produção de provas e as alegações das partes diante do Conselho de Sentença.

É válido o esclarecimento de que é possível que o réu fique preso desde a fase da formação da culpa, passando pela preparação ao plenário até chegar ao dia de seu julgamento de mérito, estendendo-se à fase recursal. Se a prisão preventiva é decretada para a garantia da

ordem pública, ou para conveniência da instrução, há de ser mantida a cautelar até o final, quando houver o trânsito em julgado da decisão condenatória. O não-comparecimento do réu solto à Sessão de Julgamento em plenário também deixa de acarretar o adiamento dos trabalhos, não mais justificando a decretação de sua prisão preventiva.

Para cada Sessão de julgamento, dos 25 jurados sorteados, 07 (sete) jurados são escolhidos, igualmente por sorteio, para compor o Conselho de Sentença, com a participação da acusação e da defesa, pelo sistema de recusas. Para o início dos trabalhos, o quórum de instalação exigido é de 15 (quinze) jurados.

Antes da interposição de recurso em sentido estrito (RESE) contra a inclusão ou exclusão de algum jurado, cabe peticionar diretamente ao Juiz-Presidente, afinal a lista geral pode ser alterada de ofício, pelo magistrado, ou por provocação de qualquer pessoa do povo (Art. 426, §1º, do CPP).

Além disso, com a reforma, o número de sessões de instrução e julgamento pelo Tribunal do Júri passa a obedecer ao disposto pela lei local de organização judiciária, não havendo mais um número pré-estabelecido pelo Código de Processo Penal, válido para todo o Brasil, o que é medida correta.

Assim que for formado o Conselho de Sentença, os jurados receberão cópias da pronúncia (ou de decisões posteriores que julgaram admissíveis a imputação, se for o caso) e do relatório do processo. O mesmo Conselho poderá examinar mais de um processo no mesmo dia, se as partes concordarem, prestando outro compromisso a cada novo feito (Art. 452, do CPP). Nesse caso, não se farão aceitações ou recusas repetidamente.

São consideradas novas causas de impedimento de jurados para servir no Conselho de Sentença: ter funcionado em julgamento anterior do mesmo processo, seja qual for a causa determinante do julgamento posterior; em caso de concurso de pessoas, ter integrado o Conselho de Sentença que julgou corréu; ter manifestado prévia disposição para condenar ou absolver réu.

Em caso de separação de julgamentos, será submetido à apreciação do Tribunal do Júri, em primeiro lugar, o processo envolvendo o autor ou coautor. Trata-se de uma faculdade

do juiz, pois ele é quem decide. Essa decisão será motivada e deve respeitar os princípios processuais penais, em especial o da duração razoável do processo e o da ampla defesa, que, no Júri, plasma-se na plenitude da defesa.

Nos julgamentos ocorridos no Tribunal do Júri, não é raro que a defesa, em lugar de somente apresentar aos jurados as virtudes do réu, promova, de algum modo, o julgamento da vítima, inclusive quando esta faleceu. Em outros termos, no Tribunal Popular, não se aprecia a causa em ótica exclusivamente técnica, pois o juiz natural é pessoa leiga. Julga-se o fato e também o autor do fato Para avaliar a amplitude desse cenário, insere-se, no mais das vezes, a figura do ofendido, para que seja analisado igualmente pelo Conselho de Sentença. Desse modo, terminam avaliadas as condutas do agressor e do agredido, para se chegar ao veredicto de culpa ou de inocência56.

A instrução em plenário inicia-se, portanto, pela inquirição da vítima, sempre que possível, pois obrigatória é a colheita de suas declarações. As partes podem fazer reperguntas diretamente à vítima e às testemunhas. Já os jurados só podem reperguntar por intermédio do Juiz-Presidente. As partes e os jurados podem requerer acareações, reconhecimento de pessoas e coisas e esclarecimento dos peritos.

No tocante à leitura de peças do processo, esta torna-se restrita. Quando a parte ou algum jurado requerer a leitura, deve concernir às provas colhidas em carta precatória e às provas cautelares, antecipadas ou não repetíveis.

O interrogatório do réu, em plenário, será realizado ao final da colheita das provas e este não deve permanecer algemado em plenário. Permitem-se reperguntas diretamente formuladas ao acusado pelo Ministério Público, assistente de acusação, querelante e, se houver, defensor. O jurados podem reperguntar ao réu, mas por intermédio do Juiz- Presidente.

Veda-se qualquer menção ao silêncio do acusado, às algemas, à sentença de pronúncia e ao acórdão que a confirme, sob pena de nulidade, podendo o registro dos

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NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do Júri, 2ª. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011, p. 185.

depoimentos ser feito por meios de recurso de gravação magnética, estenotipia ou técnica similar. Peritos também podem ser arrolados para prestar depoimento em plenário.

Para a utilização em plenário, documentos, escritos em geral, vídeos, gravações, fotografias, laudos, quadros, croqui e outros meios semelhantes precisam ser juntados aos autos, com ciência à parte contrária, com a antecedência mínima de 03 (três) dias úteis da data do julgamento.

Institui-se, formalmente, o direito ao aparte, com prazo máximo de até três minutos, concedido pelo juiz, quando não houver acordo entre as partes, acrescido esse tempo na manifestação da outra parte.

O questionário é a peça elaborada pelo Juiz-Presidente contendo os quesitos correspondentes às questões de fato e de direito expostas pelas partes em plenário, além de dizer respeito ao conteúdo da pronúncia, destinados aos jurados para a realização do julgamento em sala especial.

Não há mais divulgação do quorum de votação. Atingida a maioria (quatro votos), pelo “sim” ou pelo “não”, o Juiz-Presidente encerra a apuração. Resguarda-se com isso, como já explicado neste trabalho, o sigilo das votações.

A sentença proferida pelo Juiz-Presidente não deve conter relatório e fundamentação, mas somente dispositivo. Para a fixação da pena, o juiz levará em consideração as agravantes e atenuantes alegadas pelas partes nos debates. Há controvérsia se não deve haver submissão das agravantes e atenuantes ao Conselho de Sentença.

A prisão cautelar, para efeito de recurso, somente pode ser decretada ou deixar de ser revogada se presentes os requisitos da prisão preventiva. Em caso de absolvição, o acusado deve ser colocado em liberdade de imediato. Havendo desclassificação da infração para outra, considerada de menor potencial ofensivo, poderá o Juiz-Presidente aplicar os benefícios da Lei Nº 9.099/95, e se a desclassificação for em decorrência do julgamento de crime conexo, esses benefícios da Lei dos Juizados Especiais também podem ser aplicados, quando cabíveis.