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Nas lições de FERRI58, o jurado, mais que qualquer outro, é a “incarnação da justiça de classe”.

De acordo com a nova Lei, o Tribunal do Júri passa a ser composto por 01 (um) Juiz-Presidente (juiz togado) e por 25 (vinte e cinco) jurados – antigamente eram 21 (vinte e um) -, que serão sorteados dentre os alistados.

No tocante ao alistamento de jurados, novos critérios foram previstos no Art. 425, §2º, do CPP. Dessa forma, o Juiz-Presidente requisitará às autoridades locais, associações de classe e de bairros, entidades associativas e culturais, instituições de ensino em geral, universidades, sindicatos, repartições públicas e outros núcleos comunitários a indicação de pessoas que reúnam as condições para exercer a função de jurado.

Após a reforma, devem ser alistados de 800 a 1.500 jurados nas comarcas de mais de 1.000.000 de habitantes; de 300 a 700 jurados nas comarcas de mais de 100.000 habitantes e de 80 a 400 nas comarcas de menor população59. A proporcionalidade está relacionada ao número de crimes dolosos contra a vida em grandes centros urbanos. Logo, quanto maior a população, maior o número de julgamentos pelo Tribunal do Júri.

Nesse sentido, após o fechamento da lista dos alistados, organizada será a pauta, e o Juiz- Presidente determinará a intimação do Ministério Público, da Ordem dos Advogados do Brasil e da Defensoria Pública para acompanharem, em dia e hora designados, o sorteio dos jurados que atuarão na reunião periódica.

O sorteio deverá ser realizado com as portas abertas, cabendo ao juiz retirar as cédulas até completar o número de 25 (vinte e cinco) jurados para a reunião periódica ou extraordinária. Ressalte-se que este sorteio deve ocorrer entre o 15º (décimo quinto) e o 10º (décimo) dia útil antecedente à instalação da reunião.

58 La Sociologie Criminelle, 1905, p. 535.

59 SILVA, Ivan Luís Marques da. A reforma processual penal de 2008: Lei 11.719/2008, procedimentos penais: Lei 11.690/2008, provas: Lei 11.689/2008, júri: comentadas artigo por artigo. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008, p.110.

Os jurados sorteados, então, serão convocados pelo correio, ou por qualquer outro meio hábil, a fim de que compareçam no dia e hora designados para a reunião, sob as cominações legais. Dos 25 (vinte e cinco), 07 (sete) comporão o Conselho de Sentença em cada Sessão de Julgamento, em conformidade com o Art. 447, do CPP. Ressalte-se que o jurado que tiver feito parte do Conselho de Sentença nos 12 (doze) meses que precederam a publicação da lista geral, deverá ser excluído da mesma.

Importante modificação a ser lembrada foi a alteração da idade mínima para ser jurado, que caiu de 21 (vinte e um) para 18 (dezoito) anos, em consonância com o que preceitua o Art. 436, do CPP. Conforme este artigo, estão aptos a serem jurados cidadãos maiores de 18 anos de notória idoneidade, isto é, que sejam detentores de valores morais concretos. Estes não podem se esquivar da obrigação do júri alegando divergências políticas, filosóficas, religiosas, pois, se assim fizer, importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos (Art.438, do CPP).

É notório que o legislador, ao descrever a função do jurado, atribuiu a eles qualidades imprescindíveis para que todos, independentemente de cor ou etnia, raça, credo, sexo, profissão, classe social ou econômica, origem ou grau de instrução, possam fazer parte do sistema judiciário, assim como fazer com que os jurados se sintam responsáveis, enquanto representantes da sociedade, pelas decisões ali tomadas60.

Os jurados decidem de acordo com a sua consciência, e não segundo a lei. Aliás, esse é o juramento que fazem (Art. 472, do CPP), em que há a promessa de seguir a consciência e a justiça, mas não as normas escritas e muito menos os julgados do país.

Tecendo pertinente explanação, Kátia Duarte de Castro61 assevera que,

De fato, como instância do exercício democrático, o Júri permite que seja o pronunciado julgado por seus semelhantes. Esta garantia representa muito para o réu, principalmente em razão de três aspectos: as particularidades dos vários grupos que compõem o Estado brasileiro; a massificação dos julgamentos, e à utilização da equidade. Verdadeiramente, nunca é demais relembrarmos as dimensões continentais do Brasil, e as inúmeras diferenças culturais existentes. Os jurados

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Disponível em: < http://www.webartigos.com/artigos/novo-tribunal-do-juri/54548/> Acesso em 17 abr. 2012. 61 CASTRO, Kátia Duarte de. O Júri como instrumento do controle social. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor, 1999, p. 51.

julgarão o acusado em conformidade com os padrões morais da sociedade à qual ele pertence, ou na qual cometeu o crime. Embora a lei seja a mesma para toda a União, sua aplicação, quando operada pelos leigos que constituem o Conselho de Sentença, adequa-se àquela comunidade específica. No que diz respeito à massificação dos julgamentos, ressaltamos que o julgamento pelo Tribunal do Júri tem um caráter individualizador. Os jurados têm uma flexibilidade muito maior do que o Juiz togado. Além disso, eles não julgam profissionalmente, o que faz com que deles

esteja ausente uma “insensibilidade” decorrente da banalização do ato de julgar, que,

ademais, tem de ser realizado pelos Magistrados, rapidamente, em função do grande volume de processos aos quais têm eles de atender todos os dias. Miguel Reale, tratando do risco da massificação da prestação jurisdicional – que ameaça, diante do totalitarismo de ordem coletiva, a pulverização dos direitos individuais, alertou para

o fato de que esta “ não pode ser vista como unidade maciça e massificadora, mas

sim como associação ou comunhão de homens livres, cada qual com a sua

personalidade intangível”. Diante desse alerta, a simples lembrança de que o Júri,

desde a época de sua criação no Brasil – remonta ao século XIX -, imprime aos seus julgamentos este caráter individualizador, é suficiente para destacar sua importância como instrumento democrático do controle social. Finalmente, a garantia do julgamento pelo Tribunal Popular também é representativa para o réu em função do emprego da eqüidade. Com efeito, os jurados responderão a quesitos relativos ao fato criminoso e a todas as circunstâncias que o cercaram, o que significa uma maior aproximação entre a sentença e a Justiça, através do estabelecimento da justa proporção entre os fatores que levaram o réu à conduta típica e a reprovabilidade social daí decorrente.

Segundo Hélio Tornaghi62,

O júri é preferível especialmente nos crimes em que a motivação tem maior importância. Ninguém pode avaliar tão bem quanto o jurado o que os motivos do crime significam em determinado ambiente. (...) Não é a mesma coisa matar por motivo de honra na capital e no interior. O juiz não sabe disso, mas os jurados sabem. E sabem mais: sabem se o réu pode voltar ao convívio social ou não.

Por fim, é válido ressaltar a possibilidade de interpelação e exame dos autos e dos instrumentos do crime pelo jurado. O Art. 480, do CPP, faculta à acusação, à defesa e aos jurados pedir ao orador, a qualquer momento e por intermédio do Juiz-Presidente, além da indicação da folha dos autos por ele lida ou citada, esclarecimento sobre questão de fato por ele alegada. Concluídos os debates, os jurados, se solicitarem ao Juiz-Presidente, terão acesso aos autos e aos instrumentos do crime.

Nesse sentido, é importante a transcrição de excerto do Informativo 620, do STF63:

INFORMATIVO 620, DO STF: [...] depois de formado o conselho de sentença e realizada a exortação própria da liturgia do Tribunal do Júri, os jurados devem receber cópia da pronúncia, nos termos do art. 472 do CPP — alterado pela Lei

62 TORNAGHI, Hélio. op. cit., p. 101.

11.689/2008. Esclareceu-se, inclusive, que se permitiria aos jurados manusear os autos do processo-crime, bem assim pedir ao orador que indicasse as folhas onde se encontrasse a peça por ele lida ou citada. Aludiu-se ao posicionamento segundo o qual, de um lado, os juízes e tribunais devem submeter-se, quando praticam o ato culminante do judicium accusationis (pronúncia), à dupla exigência de sobriedade e de comedimento no uso da linguagem, de modo a evitar ilegítima influência sobre o ânimo e a vontade dos membros integrantes do conselho de sentença. E de outro lado, que age ultra vires, e excede os limites de sua competência legal, o órgão judiciário que, descaracterizando a natureza da sentença de pronúncia, converte-a, de um mero juízo fundado de suspeita, em um inadmissível juízo de certeza.HC 103037/PR, rel. Min. Cármen Lúcia, 22.3.2011.