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No dia 18 de junho de 2012, antes das 9 horas, o denunciado ELAIR JOSÉ UTZIG fez chegar outra grave ameaça

VARA CRIMINAL, DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE E FAMÍLIA

DUBIO PRO REO ABSOLVIÇÃO QUE SE IMPÕE SENTENÇA

7. No curso das diligências investigatórias, consoante roteiro elaborado pela autoridade policial (despacho de fls 176/8), o

7.3. No dia 18 de junho de 2012, antes das 9 horas, o denunciado ELAIR JOSÉ UTZIG fez chegar outra grave ameaça

contra à vítima ALMERI MARQUES, fazendo instalar um artefato assemelhado a uma “bomba”, consistentes em uma “chapa de vidro junto a um telefone celular, os quais estavam amarrados junto ao portão da residência da vítima”, sendo necessário que

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJDAB XVKGH 6LPWZ VWJMK

PROJUDI - Processo: 0003016-61.2012.8.16.0117 - Ref. mov. 1088.1 - Assinado digitalmente por Hugo Michelini Junior:17565 14/06/2020: PROFERIDA SENTENÇA ABSOLUTÓRIA. Arq: Sentença Absolutória

PODER JUDICIÁRIO

38ª SEÇÃO JUDICIÁRIA

COMARCA DE MEDIANEIRA/PR

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a vítima acionasse equipe especializada da Polícia Militar para desmontagem do artefato.

No presente caso, observo que a materialidade se fez presente através do depoimento das testemunhas Almeri Marques (mov. 684.3), Marcos Antonio Beato Junior (mov. 307.7) e boletim de ocorrência nº 2012/539823 (mov. 1.33 – fls. 12/13). Porém, a autoria restou incerta.

A exordial acusatória narra que o acusado Elair, primeiramente através de ligações telefônicas e interposta pessoa não identificada, fez graves ameaças a vítima Almeri, alegando que sabia que o mesmo iria prestar depoimentos no GAECO e que teria o ameaçado dizendo “veja lá o que o senhor vai dizer no GAECO”.

Narrou-se ainda que, o acusado Elair teria feito chegar outra grave ameaça a vítima Almeri, instalando um artefato, assemelhado a uma bomba, “chapa de vidro junto a um telefone celular, os quais estavam amarrados junto ao portão da residência da vítima”.

Apontou-se assim, a autoria do delito de coação no curso do processo, por duas vezes, ao réu Elair.

Dispõe o art. 344, caput do Código Penal:

Art. 344 - Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio ou alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que funciona ou é chamada a intervir em processo judicial, policial ou administrativo, ou em juízo arbitral:

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJDAB XVKGH 6LPWZ VWJMK

PROJUDI - Processo: 0003016-61.2012.8.16.0117 - Ref. mov. 1088.1 - Assinado digitalmente por Hugo Michelini Junior:17565 14/06/2020: PROFERIDA SENTENÇA ABSOLUTÓRIA. Arq: Sentença Absolutória

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Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

Note-se que o bem tutelado por este dispositivo é a regular administração da Justiça, sendo caracterizado, ainda, como delito de intenção, vez que além do dolo se exige que o agente deve se utilizar de violência ou grave ameaça objetivando o favorecimento de interesse próprio ou alheio, relacionado ao inquérito ou processo que esteja em curso.

Infere-se dos depoimentos prestados em juízo por Almeri Marques, que em momento algum o acusado Elair José Utzig foi mencionado como autor da coação processual narrada na exordial acusatória, não havendo provas nos autos de que tenha realizado a coação apontada.

A vítima Almeri Marques apenas contou que foi colocada uma espécie de bomba no portão da sua residência, que recebeu uma ligação o ameaçando, sendo que não sabe quem foi, pois, a ligação era anônima.

A testemunha Marcos Antonio Beato Junior, policial do GAECO, contou que sabe que houve algumas testemunhas que se sentiram coagidas, que sobre o artefato foi em Cascavel, que foi para Cascavel, que não lembra de detalhes, mas que se recorda disso, que ele achou e estava com medo, que só não consegue ligar o nome de Almeri à pessoa porque faz muito tempo, mas que esse fato da ameaça e do acontecimento se recorda, que foi junto com a equipe em Cascavel, que não se recorda o que deu com o artefato, se foi mesmo de ânimo de causar dano à alguém, mas que ele estava se sentindo bem ameaçado.

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJDAB XVKGH 6LPWZ VWJMK

PROJUDI - Processo: 0003016-61.2012.8.16.0117 - Ref. mov. 1088.1 - Assinado digitalmente por Hugo Michelini Junior:17565 14/06/2020: PROFERIDA SENTENÇA ABSOLUTÓRIA. Arq: Sentença Absolutória

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O acusado Elair José Utzig negou a autoria dos fatos, contou que quando as testemunhas foram intimadas novamente pelo delegado Alexandre Roratto para serem ouvidas, estas teriam dito que não queriam mais falar sobre o assunto, que não tinha nem como saber sobre isso porque não tinha nenhum amigo dentro do GAECO para lhe dizer que as pessoas tinham sido intimadas 05 dias antes para ter ameaçado-as, que não sabia que elas tinham sido intimadas, que não as conhecia e não sabia onde moravam, que então alguém ligou para o celular do Almeri Marques e disse para ele ver o que ia dizer no GAECO, que com todo o aparato que o GAECO tem, podem pedir e “abrir” as ligações dele, ver que telefone que ligou e pegar o local, que ninguém fez isso e que o que interessava para o GAECO é o que esse “velho” teria dito lá no GAECO, que acredita que alguém do GAECO tenha ligado para ele porque não tinha como saber o dia em que esse homem e a Juliane teriam sido intimados, que quando ele chegou em casa encontrou uma bomba no portão dele, que a bomba era um celular antigo ligado a dois fios num espelho, que com certeza aquilo era uma brincadeira de criança, que o “velho” pode ter criado essa história para não confirmar a primeira mentira dele, que por isso pensa que essas duas pessoas tem que serem ouvidas em juízo, para confirmarem a história e esclarecê-la, que está se defendendo do que está no inquérito policial, que não está se defendendo do que está no processo, porque no processo não tem nada, que descobriu sobre a investigação porque alguém de dentro do fórum espalhou aos quatro ventos sobre a investigação e que os policiais eram todos corruptos, que não sabe quem é mas que contaram, que nega o fato que o atribuem de ter ligado e ameaçado o Almeri, que nunca o viu, que apenas viu ele quando foi ouvido no processo disciplinar, que foi a primeira vez, que no processo disciplinar o Almeri negou que foi ameaçado pelo mesmo, que não sabe se ele falou outra mentira ou se falou a verdade, que em suma ele nem o reconhece e nem sabe quem é.

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJDAB XVKGH 6LPWZ VWJMK

PROJUDI - Processo: 0003016-61.2012.8.16.0117 - Ref. mov. 1088.1 - Assinado digitalmente por Hugo Michelini Junior:17565 14/06/2020: PROFERIDA SENTENÇA ABSOLUTÓRIA. Arq: Sentença Absolutória

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Vislumbrando as provas apresentadas, resta temerosa realizar uma condenação, diante não haver provas suficientes para formulação de um juízo de certeza processual.

Cumpre mencionar que tanto as testemunhas não souberam informar quem poderia ter praticado as ameaças, bem como não foram juntadas nos autos nenhuma prova robusta de que o acusado teria coagido a vítima por duas vezes ou mesmo as teria praticado por interposta pessoa.

Posto isso, da análise do cotejo probatório, verifica-se que restaram fragilizados os indícios de autoria, persistindo, portanto, a dúvida, que deve aproveitar ao acusado.

Frisa ainda que o direito penal é orientado pelos princípios da presunção de inocência e da verdade real, em razão das severas consequências que uma sentença condenatória, nesse âmbito do direito, pode acarretar ao indivíduo. Por conseguinte, à luz destes princípios, cabe ao órgão acusador produzir prova inequívoca da materialidade e da autoria do crime imputado ao acusado, sendo que, em caso de dúvida, se impõe ao julgador a adoção da alternativa mais benéfica ao acusado.

Portanto, ante a dúvida que assombra o feito, é imperativa a aplicação do princípio in dubio pro reo.

Sobre o tema, válida é lição de Tourinho Filho:

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJDAB XVKGH 6LPWZ VWJMK

PROJUDI - Processo: 0003016-61.2012.8.16.0117 - Ref. mov. 1088.1 - Assinado digitalmente por Hugo Michelini Junior:17565 14/06/2020: PROFERIDA SENTENÇA ABSOLUTÓRIA. Arq: Sentença Absolutória

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“Como bem diz Giuseppe Betiol, numa determinada ótica, o princípio do favor rei é o princípio base de toda a legislação processual penal de um Estado, inspirado na sua vida política e no seu ordenamento jurídico por um critério superior de liberdade.” (TOURINHO Fº, F. da C. Manual de processo penal. 4ª ed. São Paulo: Saraiva. 2002. p. 26).

É farta a jurisprudência neste sentido. A título de exemplo, segue ementa de julgado do Tribunal de Justiça do Paraná: