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Ao avaliar a importância das universidades no cenário de uma sociedade do conhecimento, é possível afirmar que estudos organizacionais neste ambiente particular se justificam pela possibilidade de buscar alternativas que contribuam para a criação de teorias próprias e adequadas a um setor com características tão peculiares. A necessidade de acesso ao ensino superior vem crescendo vertiginosamente e as universidades terão de encontrar soluções criativas para atender essa demanda.

Hardy e Fachin (2000) constatam em seu estudo que, embora a literatura sobre universidades seja vasta, existem poucos estudos que enfoquem a teoria organizacional ou administrativa no ambiente universitário.

Além disso, não foi encontrado na literatura estudo que buscasse a compreensão do relacionamento entre estrutura, poder e estratégia nas organizações universitárias, com a abordagem aqui proposta.

Na literatura mais ampla, existem diversos estudos que abordam parcialmente tais temas, dos quais cabe destacar:

(1) Os estudos de Chandler (1962) que concluem que a estrutura deve seguir a estratégia.

(2) Os estudos de Miles e Snow (1972) que relacionam estrutura e estratégia, vislumbrando a possibilidade da escolha estratégica.

(3) Os estudos de Pfeffer e Salancik (1978) que enfocam as implicações do poder na formação da estratégia, a partir da teoria da dependência de recursos.

(4) Os estudos de Freeman e Reed (1983) que introduzem a abordagem dos stakeholders, que complementa a contribuição de Pfeffer e Salancik (1978) sobre as relações entre poder e estratégia.

(5) Os estudos de Mintzberg (1979, 1983a, 2001) que descrevem as configurações estruturais e as de poder para depois sistematizar estes dois estudos em sete configurações de organizações.

Mintzberg foi um dos autores que mais estudou estes três temas. Ele interessou- se originalmente pelo estudo da estratégia que permeou toda a sua vida de pesquisador. Para entender melhor a estratégia, preocupou-se em estudar, inicialmente, as configurações estruturais e, posteriormente, os sistemas de poder. No entanto, tal autor, até o momento, não conseguiu integrar tais temas mais amplamente.

Também merecem ser citados alguns estudos que enfocaram tais temas no cenário universitário:

(1) Os modelos de universidade, compilados de diversos autores, que são: burocrático, colegiado, político, anarquia organizada e cibernético ou misto.

(2) O estudo de Hardy, Langley, Mintzberg e Rose (1983) que descreve os diversos tipos de estratégias no cenário universitário e apresenta um conjunto de proposições sobre a formação da estratégia neste tipo particular de organização.

(3) O estudo de Hardy e Fachin (2000) que buscou entender como seis importantes universidades brasileiras formulavam suas estratégias, na perspectiva de configuração.

(4) O estudo de Schuch Jr (1995) que defende a idéia de universidade enquanto um sistema político.

É mister também destacar alguns estudos desenvolvidos no Programa de Pós- Graduação em Engenharia de Produção – PPGEP que enfocam a adaptação estratégica. No setor de edificações, foram desenvolvidos cinco estudos de caso e multicaso em empresas de pequeno porte. Mello (1997), Rossetto (1998), Martignago (1998) estudaram o processo de adaptação estratégica, enquanto Oliveira (2000) desenvolveu estudo de caso para compreender o uso de estratégia como estratagema (ploy). Posteriormente, Mello (2002) construiu uma teoria substantiva acerca do processo de adaptação estratégica em ambientes turbulentos

também para pequenas empresas do setor de edificações. Em relação ao ensino superior, Gurski Jr. (2000) e Alperstedt (2000) desenvolveram estudos de caso a fim de compreender a adaptação estratégica do CEFET-PR e da UNISUL-SC, respectivamente.

Inclusos os trabalhos anteriormente citados, foram rastreados 25 estudos sobre adaptação estratégica produzidos no PPGEP (vide apêndice B) para entender suas similaridades e diferenças. Em relação ao setor de atuação das organizações estudadas, constata-se que cinco são da construção civil, quatro de ensino superior, quatro industriais, quatro institutos de estudos e/ou pesquisa (dois no setor agrícola), três instituições bancárias e os demais em setores diversos. Dos 25 estudos, 22 são estudos de caso e três estudos multicaso (um com três e dois com dois casos). Também se pode constatar que todos são estudos qualitativos, com perspectiva histórico-longitudinal. Os principais autores considerados foram Mintzberg (diversas obras), Pettigrew (diversas obras), Child e Smith (1987), Miles e Snow (1978) e Freeman e Reed (1983).

O corpo de conhecimento formado pelo conjunto de estudos acerca da adaptação estratégica permite o aprofundamento na medida em que se percebe complementaridade, integração e variação evolutiva de propostas teóricas e metodológicas que produzem um considerável background para lidar com e em torno do tema.

Ao dar continuidade aos estudos sobre adaptação organizacional, a presente pesquisa contribui para o aprofundamento do tema na medida em que:

• propõe-se a compreender o relacionamento entre estrutura, estratégia e poder no ambiente das universidades, quando os estudos até então abordam tais temas individualmente ou aos pares (estratégia e estrutura; poder e estratégia; estrutura e poder);

• complementa e amplia a perspectiva de estudos realizados em instituições de ensino superior;

• mantém a abordagem qualitativa na perspectiva histórico-longitudinal;

• opta pelo estudo multicaso, pois são três fundações isoladas e uma quarta decorrente da fusão das três primeiras, o que permite o recurso da comparabilidade, bem como a percepção sobre como ocorreu a integração ou não de três culturas diferentes, unidas muito mais por interesses ambientais do que por vocação; e

• segue adotando características da abordagem de Pettigrew (1985, 1987, 1996) para estudar a mudança organizacional, é influenciado pela direct researsh proposta por Mintzberg (1983b) e adota alguns princípios metodológicos da grounded theory de Glazer (1978) e Strauss e Corbin (1990), assim como inclui a perspectiva da abordagem de configuração de Miller e Mintzberg (1983).

Além disso, estrutura, estratégia e poder representam um tripé fundamental para a análise organizacional. Por meio da figura 1, a seguir apresentada, é possível ilustrar esquematicamente o estudo do relacionamento entre os três temas propostos:

Figura 01- Relacionamento dinâmico entre estratégia, poder e estrutura

O conjunto das setas, por se aproximar da figura de um triângulo, indica a igual relevância que tais temas adquirem na análise da interação entre organização e ambiente, já que: (1) o poder é exercido dentro e ao redor da organização; (2) a estratégia reflete o sistema de decisão da organização, influenciada pela sua cultura e pelas relações com o ambiente; e (3) a estrutura (formal e informal) reflete as opções acerca do seu funcionamento interno e na interação com o ambiente. Por sua vez, o círculo dá a idéia de circularidade, já que os três temas estão intrincadamente relacionados na dinâmica do ambiente e influenciam-se mutuamente em proporções que variam em função de situações e de contextos particulares.

O estudo de temas como estrutura, poder e estratégia no ambiente das universidades, com um enfoque qualitativo e histórico-longitudinal, permite entender a evolução das universidades e vislumbrar alternativas aos desafios que se apresentam. Muitas das dificuldades de gestão das universidades brasileiras decorrem da falta de compreensão da influência do Estado, dos arranjos de poder,

Poder

da formação e implementação de estratégias e da dificuldade em dotar a universidade de uma estrutura mais flexível e ágil, onde as decisões não sejam tão morosas e mal articuladas.

Estudar o caso UNOESC parece um bom começo para conceber categorias de análise pelas quais possam ser desenvolvidos outros estudos de caso em outras universidades com características similares, cujos resultados permitam a construção de uma teoria substantiva adequada à realidade do ambiente universitário.