• Nenhum resultado encontrado

Klavierschule für Anfänger – Harald Bojé

No documento Processos criativos no ensino de piano (páginas 50-54)

Verbete biográfico: Harald Bojé foi um pianista alemão, muito conhecido como

improvisador e performer de Neue Musik, tocando Electronium Pi23 e sintetizadores, além do piano. Bojé nasceu em 1934, na cidade de Göttingen, e morreu em 1999, em Wuppertal, na Alemanha. Iniciou seus estudos musicais e pianísticos na Academia de Música de Stuttgart e, a partir de 1971, prosseguiu os estudos na Academia de Música de Wuppertal – cidade independente da região da Renânia (Rheinland), na Alemanha – onde, mais tarde, tornou-se professor de piano. Também lecionou no Departamento de Música da Universidade de Colônia, a Hochschule für Musik Köln. 

Na década de 1960, envolveu-se com a Neue Musik, interpretando diversas obras de Karlheinz Stockhausen (1928-2007), reconhecido compositor alemão de música de vanguarda do século XX. Bojé se apresentou com o grupo de Stockhauzen, tocando peças importantes como Telemusik, Solo e Kurzwellen usando um Electronium Pi modificado. Grande parte de sua discografia é referente às obras desse compositor.

Na década de 1970, participou de vários concertos, inclusive no Moers Festival de 1978, com o trio formado com Günter Christmann e Detlef Schönberg, reconhecidos músicos de free jazz. Em 1980, fez parte de um grupo de improvisação com os músicos Wolfgang Schmidtke, Martin Zuhr, Matthias Burkert e Gerd Rataj. 

       

23 O Electronium Pi era um teclado eletrônico com controles muito usado por compositores alemães na década

Harald Bojé publicou um livro de piano para iniciantes, Klavierschule für Anfänger, objeto deste estudo, e um para estudantes mais avançados, Klavierliteratur für Fortgeschrittene, em que reuniu obras da música clássica do século XX e do jazz.

Klavierschule für Anfänger 

Klavierschule für Anfänger foi publicado pela Universal Edition, em 1982, em Viena, na Áustria. É um livro de iniciação ao piano, indicado para aulas individuais e em grupo, contendo também algumas peças que podem ser executadas por pequenos conjuntos instrumentais.

Na introdução, Harald Bojé declara que seu objetivo principal é desenvolver um trabalho que concilie a musicalização ao piano e o desenvolvimento técnico, possibilitando ao aluno tocar um repertório tanto tradicional como moderno. O autor sugere que, depois do aprendizado da escrita tradicional, o professor apresente peças da literatura específica de piano para serem estudas paralelamente às peças sugeridas no livro. No mesmo texto, Bojé indica que as criações musicais dos alunos devem ser escritas em grafias inventadas por eles mesmos, para que possam estudar suas próprias músicas em casa, seguindo o que criaram. Ele destaca que a liberdade dada ao aluno para inventar não o isenta de buscar o melhor resultado técnico na execução, e o professor deve orientá-lo nesse estudo (BOJÉ, 1982, p. 3).

Nas primeiras páginas de Klavierschule für Anfänger, propõe-se uma exploração sonora, física e mecânica do piano, com alguns comandos claros e fotos de crianças como exemplo. Os alunos são incitados a manipular o teclado e o interior do instrumento e perceber os efeitos sonoros dessa exploração, assim como o funcionamento dos martelos e dos pedais. O autor indica, por exemplo, “toque [brinque no] o instrumento, nas teclas com: os dedos, a palma das mãos, cantos da mão, cotovelo, parte anterior dos braços, a quatro mãos etc. No interior: pinçar, bater, esfregar, cantar dentro, tocar trompete dentro etc.” 24 (BOJÉ, 1982, p. 8, tradução nossa).

Bojé introduz a leitura desde o começo, não com a escrita tradicional, mas com a notação gráfica. Ele complementa as partituras com o foco de cada música: densidade, volume, localização no teclado (regiões grave, média e aguda), pulso, andamento etc. O objetivo dessa escrita mais aberta é estimular a imaginação e a criatividade dos alunos, possibilitando-lhes tocar não apenas o que está escrito na partitura (BOJÉ, 1982, p. 3). Logo após a exploração sonora, Bojé apresenta partituras que indicam as regiões aguda, média e grave e a densidade a partir de símbolos que apontam: um tom, um silêncio ou um cluster, e mesmo outros para que a música seja tocada nas cordas, com objetos como escovas, baquetas, pedaços de plástico etc. Em duas das partituras, há a interessante indicação para se tocar por mais de uma pessoa, mas uma delas deve virar o livro e tocar a partitura invertida. Outras sugerem o caráter da peça: “suas mãos se movem nas teclas como um gato, como um elefante, como uma pulga etc.” 25 (BOJÉ, 1982, p. 10, tradução nossa).

       

24 “Spiele mit dem Instrument auf den Tassen: finger, handfläche, handkante, ellbogen, unterarm, vier Hände

[...]. Im Innern: zupfen, klopfen, reiben, hineinsingen, Trompete hinein-spielen [...]” (BOJÉ, 1982, p. 8).

25 “Deine Hände bewegen sich auf den Tasten: wie eine Katzen, wie ein Elefant, Wie ein Floh [...]” (BOJÉ,

Em algumas peças com notação não convencional, o teclado é apresentado com os nomes das notas escritos nas teclas correspondentes e, logo abaixo, propostas de partituras com a mesma notação, alternando as regiões aguda, média e grave. Propõem-se também a criação de sequências de notas, o exercício de “tirar de ouvido”, canções nas teclas pretas e nas teclas brancas e para tocar começando de diferentes notas (transposição prática). Como explicitado na introdução do livro, a escrita tradicional é apresentada entremeada por outras notações, o que revela uma preocupação em formar o aluno nas diversas possibilidades de escrita. 

O repertório de peças abarca vários períodos da música centro-europeia, com compositores como Purcell, Rameau, Beethoven e Bartók, além de obras do século XX, melodias tradicionais europeias e mesmo uma inserção no ragtime, com uma peça de Scott Joplin.

Klavierschule für Anfänger tem uma proposta de iniciação ao piano bastante ampla, com a integração de várias possibilidades de repertório e a valorização das diversas formas de notação musical. A exploração das inúmeras possibilidades timbrísticas do instrumento e a criação são estimuladas desde o começo. Com abordagem bem diferente da dos métodos adotados na década de 1980, e mesmo atualmente, em Klavierschule für Anfänger, Harald Bojé propõe um caminho mais aberto para a iniciação ao piano.

VII. Educação musical através do teclado – Maria de Lourdes Junqueira Gonçalves e

No documento Processos criativos no ensino de piano (páginas 50-54)