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São conhecidas quatro placas triangulares neste espaço geográfico. Três encontram-se em Vera Cruz de Marmelar, duas delas intactas e reaproveitadas na actual estrutura da igreja Matriz e o fragmento de outra, encontrada nas imediações, depositada no pequeno museu da Junta de Freguesia de Vera Cruz de Marmelar. O quarto fragmento de uma placa deste género encontra-se na casa de um particular em Marmelar.

Na opinião de Balsameda Muncharaz, estas placas serviriam para reforçar, do ponto de vista decorativo, os frisos, propondo essa solução para San Pedro e la Mata. A sua reutilização na reconstrução da abside e num dos absidíolos de Vera Cruz de Marmelar não ajuda à sua compreensão, pois não se encontram na sua posição original. Contudo, considera-se que não será de colocar de parte a utilização deste tipo de elementos arquitectónicos na face externa das paredes do edifício religioso, sobre frestas de janela. Note-se que na profícua decoração que estas peças patenteiam está presente a vieira, que foi utilizada no lintel de uma fresta precisamente em Vera Cruz de Marmelar e que é muito comum nos elementos arquitectónicos associados a janelas em território peninsular, mesmo para períodos um pouco mais tardios, como pudemos constatar em Santa Cristina de Lena (FOTOGRAFIA 60).

Todas as peças encontradas em Vera Cruz de Marmelar possuem o campo principal divido em duas partes: no triângulo da metade superior observa-se uma palmeta estilizada com a representação de uma cruz grega no seu interior, que encima uma vieira de base semicircular no interior da qual se observa um trifólio. O trapézio inferior divide-se noutros dois de iguais dimensões com os mesmos motivos decorativos: a partir de um botão central onde se encontra representado um tetrafólio saem quatro palmetas estilizadas, duas voltadas para o topo e as restantes para a base, separadas por duas folhas triangulares dispostas na horizontal e, também elas, nascentes do botão central. No que respeita à orla, são todas diferentes, observando numa delas uma espécie de coroa de louros estilizada, unida no topo por uma árvore da vida ou de Jessé inserida num círculo. Outra não tem qualquer decoração na orla e o fragmento depositado na sede da Junta de Freguesia, apresentam a orla parcialmente decorada.

No que respeita ao fragmento de Marmelar não se podem tecer muitas considerações porque se encontra muito mutilado. A decoração destas peças apresenta toda a carga simbólica do Cristianismo como religião vencedora e eterna, tornando-as nas mais expressivas neste campo iconográfico.

FRISOS

Os frisos correspondem a peças colocadas a horizontal o longo das quatro paredes, decoradas pelo menos numa das faces menores. Este tipo de elemento arquitectónico foi identificado em Marmelar, Vera Cruz de Marmelar e em São João dos Azinhais

Em Vera Cruz de Marmelar foram reutilizados alguns frisos na actual estrutura da igreja Matriz. Em todas as peças reutilizadas observa-se a utilização do entrançado ou “cordão da vida”. Em média, as mais completas têm comprimentos situados entre 1,16m e 1,30m. Um outro fragmento apresenta um enxacotado.

O fragmento de friso de Marmelar apresenta-se decorado com octofólios insertos em quadrados, semelhante a outra prça do género identificada em São João dos Azinhais, devendo datar do século VII.

A peça de São João dos Azinhais foi estudada por Maria Amélia Fresco de Almeida, que a apresentou como mesa de altar, justificando a sua opção pela inclusão de uma cruz pátea, embora tenha colocado também a hipótese de se tratar de uma placa, que, em seu entender, podia estar colocada na zona da iconostase. A autora defendeu ainda que esta peça se encontrava inacabada porque num dos seus lados menores a decoração não ocupava a totalidade da extensão da peça (ALMEIDA, 1987, vol. I: 297). Observando este elemento arquitectónico com atenção, parece tratar-se antes de um friso com um espigão para embutir na parede. Num dos lados observam-se os octofólios com botão central insertos em 4 quadrados de 0,18m de lado, aos quais se acrescenta um rectângulo (ou “meio quadrado” decorativo) numa extensão de 0,90m, com espaços entre quadrados com cerca de 0,02m. Do lado oposto a decoração ocupa apenas 0,42m, observando-se dois octofólios com botão central insertos em quadrados

com 0,18m de lado. No tardoz da peça observa-se uma área desbastada e ainda o orifício do gonzo da porta, podendo induzir-se que se trata de uma reutilização (FEIO, no prelo b).

O monumento não se encontra inacabado, pois poderá tratar-se de um friso colocado numa das paredes menores de acesso a uma possível capela lateral. O espigão “em bruto” seria embutido na parede, ficando a cruz voltada para o arco de passagem para o seu interior. O facto da decoração de um dos lados não ocupar toda a extensão não significa que esta se encontre inacabada. Muito pelo contrário, basta termos em conta que 0,42m são uma medida muito aceitável para a largura de um fuste de pilar, podemos considerar que esses 0,42m do comprimento do friso seriam colocados em cima de um pilar, servindo de ábaco para o arranque do arco de acesso a uma possível capela. Desta forma, à semelhança do que podemos observar em Vera Cruz de Marmelar, a parte do friso que se encontra decorada em toda a extensão podia encontrar-se voltada para o interior de uma capela lateral, ficando a parte oposta voltada para o interior da igreja. Caso se comprove a ideia que propomos, podemos calcular uma capela com, pelo menos 3,60m de lado, se pensarmos que o arco de acesso ao interior da capela teria o dobro do comprimento das paredes onde assentava. Isto significa, que podemos estar perante a evidência de um edifício semelhante ao de Vera Cruz de Marmelar..