• Nenhum resultado encontrado

Os pilares foram utilizados com funções de estruturamento arquitectónico, apresentando uma secção quadrada ou rectangular. Normalmente têm uma espessura superior a 0,30m, uma largura superior a 0,40m e uma altura que pode atingir os 2m. Podem ser ou não adossadas a paredes. Quando tal acontece, o pilar apresenta-se decorado em três das quatro faces, ou até mesmo em uma, ou duas, como no caso de Alfundão, quando o pilar se encontra adossado à parede na zona da iconostase servindo um dos lados para o encaixe da transenna. Outras vezes os pilares podem ser utilizados para suporte de arcos e separação de naves. Neste caso, os que não são adossados às paredes apresentam-se decorados nas quatro faces. Normalmente, os pilares, como as colunas, apresentam base, fuste e capitel e apresentam-se profusamente decorados, como podemos observar, por exemplo, em Beja e em Sines.

No território em estudo identificaram-se até ao momento três pilares, um em Vera Cruz de Marmelar, outro em Marmelar e o terceiro em Alfundão. O fragmento de Vera Cruz de Marmelar foi estudado por Dom Fernando de Almeida servia de degrau na escada do paço situado junto da cabeceira da igreja. Era em calcário e apresentava a parte superior do capitel incompleta, sendo ainda possível observar uma voluta jónica muito desenvolvida e um elemento vegetal estilizado, assente em arcos cegos. No fuste observam-se trifólios estilizados assentes em pequenos arcos. (ALMEIDA, 1962: 195). Esta peça tem paralelos em peças encontradas na cidade de Beja que foram datadas do século VII (TORRES et alii, 1993: peças 42, 44 e 46). No entanto chama-se a atenção para o facto do cimácio nº45 do catálogo do núcleo visigótico do Museu Rainha Dona Leonor, exposto sobre o pilar nº46, notando-se que as medidas da base encaixam nas do topo do fuste, possuir uma decoração idêntica a uma peça do mesmo género encontrada no decorrer das escavações do mausoléu de Mértola, datado da segunda metade do século VI, a partir da cronologia das inscrições ali encontradas. O de Beja possui as cruzes insertas em quadrados, enquanto as de Mértola estão in circulo, no entanto em ambos os casos as cruzes possuem extremidades planas. Se este pilar de Beja fez conjunto com o cimácio podemos considerar que poderá datar de finais do século VI, ou de inícios do século VII, por comparação com o de Mértola, denotando uma evolução no elemento geométrico onde se inserem as cruzes. Desta forma, mais uma vez por

comparação tipológica, fundamentada tanto quanto possível, creio que devemos situar cronologicamente a peça de Vera Cruz de Marmelar no primeiro terço do século VII.

A peça de Marmelar foi reaproveitada na construção da parede de um quintal no nº 5 do Beco 5 de Outubro, apresentando como motivo decorativo grandes octofólios insertos em quadrados irregulares, com paralelos no concelho de Serpa e em Alvalade do Sado, devendo datar da primeira metade do século VII, tal como o restante conjunto identificado nesta localidade.

A peça de Alfundão corresponde ao único pilar com encaixe para transenna de iconostase encontrado até ao momento na área geográfica em estudo. Encontra-se encosta à parede sul da cabeceira da igreja matriz desta aldeia, no entanto, segundo Abel Viana, esta peça é proveniente do sítio conhecido como Vilar ou Vila Verde, próximo da localidade. A peça apresenta 0,77m de altura (à vista), 0,80m de comprimento e 0,35m de espessura, tendo sido executada em mármore de veios cinzentos, normalmente designado de Trigaches ou de São Brissos, mas que também existe na zona sul da Serra de São Miguel, em Alvito. A face principal apresenta-se dividida em quatro cartelas. Nas duas do topo observam-se duas cruzes páteas com botão central inseridas in duplo círculo enquanto nas inferiores se observam quatro “peltas” com bifólios.

A sua funcionalidade é clara, pois apresenta um orifício do lado esquerdo, quando observada de frente, que indicia um encaixe de uma transenna de iconostase. Tendo em consideração que não apresenta nenhum orifício do lado oposto e que este se encontra completamente liso, sem qualquer tipo de decoração, entendemos que a face direita deveria do pilar encontrar-se adossada à face interna da parede da iconostase, na zona de entrada, onde este pilar suportaria ainda o arco triunfal.

Apesar de não se conhecer aprofundadamente o contexto em que apareceu, e da análise iconográfica ser delicada neste caso, existem diversos paralelos em Alvalade do Sado, Beja, Mértola e Sines que podem ajudar a situar cronologicamente esta peça. No campo da epigrafia funerária cristã, as cruzes páteas começaram a ser representadas nos epitáfios de Mértola a partir dos inícios do século VI, mais exactamente em 510, na inscrição dedicada a Fistelus, convivendo inicialmente com o crismón, substituindo-o em definitivo a partir de 525 (FERNÁNDEZ, 2004: 2002). O mais recente último é o de Afranius, datado de 706. No entanto deve registar-se que existe um interregno entre 587 e 706.

As cruzes páteas de Alfundão apresentam maior afinidade com as representadas no epitáfio de Rufina, datado de 587, sendo aquelas que se apresentam os extremos com as concavidades mais perfeitas. As peltas encontram um paralelo directo num friso identificado no Monte do Roxo, freguesia de Alvalade do Sado, uma peça que chegámos a definir como possível fragmento de transenna de iconostase e que servia como de soleira de porta numa das entradas do “monte”, apresentando a face voltada para cima completamente desgastada (FEIO, 2008: 484 a 489).

Por tudo o que escrevemos, propomos que a peça de Alfundão possa datar do último terço do século VI, ou de início do século VII.