• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 4: LIMITES E POSSIBILIDADES PARA A GESTÃO

4.4 Cotidiano das Unidades de Serviços no Atendimento à População

4.4.2 Lacunas da rede de serviços

Na Tabela 5, apresentam-se o número de unidades e a abrangência dos principais serviços citados pelos sujeitos da pesquisa34.

33Chamamos a atenção do leitor, para o contato realizado pela Usuária 6, ao CRAS, pois voltaremos

a esse assunto para problematizar aspectos relacionados, especialmente, à rede de serviços e ao “familismo”.

34Dentre os serviços mencionados, o NCI e a ILPI são os únicos que realizam atendimento específico

Tabela 5: Mapeamento dos Serviços

Política Social Serviços

Saúde

 27 UBSs, dentre as quais, 17 tem o PSF  3 UADs

 Não há atendimento pelo PAI  Não há atendimento pela URSI

Assistência Social

 4 CRASs; 2 na Subprefeitura de Perus, e 2 na de Pirituba

 2 CREASs; 1 na Subprefeitura de Perus e 1 em Pirituba

 2 NPJs; 1 na Subprefeitura de Perus e 1 em Pirituba

 3 SASFs; 1 na Subprefeitura de Perus, e 2 em Pirituba

 3 NCIs; um na Subprefeitura de Perus e dois em Pirituba (atende determinados distritos, ou seja, não há cobertura de todo o território)

 Não há ILPI na região de Pirituba/Perus. Existem 9 unidades no Município de São Paulo, com capacidade para atender 360 usuários, mas, devido à escassez de vagas, o principal acesso ocorre por determinação judicial

Cultura  3 Bosques de Leitura, instalados em parques da região

Fonte: Elaboração própria

Foram unânimes, entre os técnicos, relatos acerca das dificuldades enfrentadas para o atendimento às pessoas idosas, em razão, especialmente, da pouca oferta de serviços especializados na região de Pirituba/Perus, o que torna necessário o encaminhamento dos usuários para a região central da cidade.

Uma outra característica dos serviços (especialmente das políticas de saúde e de assistência social), que não é exclusiva da região de Pirituba/Perus, mas que foi relatada por todos os técnicos e usuários entrevistados, é a superlotação dos serviços. O número de profissionais diminui, pois os funcionários se aposentam, adoecem, se demitem, ou até mesmo morrem, e a contratação de novo profissional demora para acontecer – e algumas vezes nunca ocorre –, e isso traz prejuízos para o atendimento à população.

No que se refere à pouca oferta de serviços especializados na região, a Técnica 3, da UBS C, relatou a dificuldade de as pessoas idosas realizarem acompanhamento e tratamento no Centro de Referência do Idoso (CRI), que fica no Bairro de Santana. Muitos usuários desistem do tratamento, em virtude da distância, segundo a técnica:

Com relação ao CRI, além da dificuldade de agendamento, tem a questão da locomoção, porque nossa região é contramão para ir até lá. Muitos pacientes desistem. Nós até falamos para o paciente tentar fazer um esforço, porque lá é mesmo muito bom. Mas a maioria vai nas primeiras consultas [...] outros nem vão, e desistem (Técnica 3, da UBS C, entrevista).

A Usuária 4 também apontou a dificuldade de ida a consultas em locais distantes:

Demorei um tempão para conseguir agendar um exame [tratava-se de um Teste Ergométrico] e aí o rapaz falou que tinha sido agendado, mas era lá em Santana. Mas para mim não servia! Porque é que a gente tem que sair do bairro da gente e ir lá para os cafundó do juda? Achei errado e falei que era para agendar, mas que não era para me mandar para um lugar longe, porque eu não quero [...]. Agora, eu saio da minha casa, aqui em Pirituba, para ir lá do outro lado para fazer um Teste Ergométrico? [...] eu iria chegar lá toda esbodegada, aí eu não iria conseguir fazer o exame lá na máquina. É ruim, porque eu ainda estou aguardando um novo agendamento [...]

(Usuária 4, entrevista).

A Técnica 7, do CREAS B, ressalta que não se pensa nas regiões periféricas do município, quando são implantados os programas e serviços, e cita como exemplo o PAI35:

Acredito que teria que ampliar aqueles programas de cuidadores de idosos, porque eles estão mais localizados nas áreas centrais da cidade, tudo bem, nessas regiões há um número maior de idosos, mas também tem que se pensar na periferia. Aqui, estamos nos extremos da cidade, e serviços como esse não chegam aqui. Os mais próximos daqui estão em Santana e na Freguesia do Ó, que a gente sabe que não vão atender nossa região

(Técnica 7, do CREAS B, entrevista).

O Usuário 5 também se posiciona acerca da falta de serviços especializados para o atendimento à população idosa na região de Pirituba/Perus, bem como da precariedade de determinados serviços.

Eu acredito que a nossa região sofre um pouco porque é uma região mais periférica, ou, então, porque nunca tivemos uma política de peso. [...] os políticos aparecem aqui, mais na época de propaganda eleitoral, para ganhar voto [...]. Então, é complicado! (Usuário 5, entrevista).

Ainda no que se refere à dificuldade de serviços especializados na região de Pirituba/Perus, a Técnica 2, da UBS B, relata o seguinte:

A principal dificuldade para o atendimento à população idosa, aqui na unidade, é a falta de serviços especializados, por exemplo, quando ocorre algum caso de violência contra um idoso, preciso encaminhar para uma Delegacia do Idoso, lá em Perdizes, um lugar distante daqui. Nem sempre os idosos conseguem ir até lá, até mesmo pela dificuldade de mobilidade que alguns deles têm, enfim. Devido a essa dificuldade de ida à Delegacia do Idoso, em Perdizes, acabo encaminhando alguns casos para o CREAS, mas nem sempre eles conseguem dar conta, porque é uma região grande, e esse tipo de acompanhamento, na maioria das vezes, ocorre por anos

(Técnica 2, da UBS B, entrevista).

Há muitas dificuldades para o atendimento à população idosa na região de Pirituba/Perus, especialmente devido à escassez de serviços especializados, à superlotação das unidades que estão em funcionamento, e à falta de alternativas para dar continuidade ao atendimento a essa população.

Entretanto, também é necessário salientar que a denominação de “especializado”, para a caracterização de determinado serviço, não representa necessariamente a garantia de um atendimento humanizado e digno à população idosa.

A Técnica 7, do CREAS B, relatou visita realizada pelo advogado do CREAS à Delegacia do Idoso, em Perdizes.

O intuito da visita foi a busca de aproximação e melhor diálogo com aquele serviço, tendo em vista que se trata da Delegacia do Idoso mais próxima (mesmo distante) de Pirituba/Perus36.

No entanto, o profissional ficou indignado com a forma como foi recebido pelos profissionais que estavam de plantão. Em seu relatório, informou que a acolhida foi “extremamente ríspida”; que estava preocupado com a maneira como as pessoas idosas devem ser atendidas naquele local; e que essa forma de atendimento pode representar uma justificativa a mais (além da distância) para os usuários não acessarem aquele serviço. Conforme relata a Técnica 7, do CREAS B:

Tivemos um contato inicial com um assistente social, que falou que há alguns anos foi pensado em se ter uma delegacia onde houvesse um pouco mais, uma visão que eles chamam de ‘visão social’, e aí foi montada uma equipe composta também por um assistente social, mas que, com o passar do tempo, essa ideia foi colocada em segundo plano e não avançou. [...] hoje, na Delegacia do Idoso, eles não têm delegado, nem investigador; trabalham lá nove policiais civis e um assistente social [...]. Os escrivães se

36 No Município de São Paulo, existem oito Delegacias do Idoso, localizadas nos seguintes bairros:

Perdizes (zona oeste); Carandiru (zona norte); República (centro); Jabaquara (zona sul); Santo Amaro (zona sul); Vila Gomes Cardim (zona sudeste); Jardim Nossa Senhora do Carmo (zona leste); e Conjunto Habitacional Padre Manoel da Nóbrega (zona leste).

reportam à Delegacia Comum [no caso, o 23o Distrito Policial de Perdizes

está situado naquelas proximidades]. Informaram que os casos que aquela Delegacia atende estão previstos entre os artigos 96 e 109 do Código Penal envolvendo mais questões de apropriação de bens. E que os outros crimes (envolvendo questões de violência) vão para a Delegacia comum [...]. Olha como as informações são desencontradas, os policiais disseram: ‘o Boletim de Ocorrência pode ser feito em qualquer delegacia’; já o assistente social diz que, como existe uma Delegacia para o Idoso, o BO deve ser feito lá [...] E aí, a gente para e pensa: existe uma delegacia especializada, mas com qual qualidade? Qual investimento para que essa delegacia funcione? A equipe informou que chega na delegacia um número bem alto de denúncias de Perus e de Pirituba, advindas do 181 e do Disque 100. Mas, mesmo tendo essas denúncias, eles não conhecem os serviços da rede, por exemplo, eles não sabiam o que é um CREAS [...]. A gente até conseguiu se aproximar um pouco mais, depois desse contato, mas o retrato, que ficou da delegacia em si, não foi muito bacana (Técnica 7, do CREAS B,

entrevista. Grifos nossos).

A falta de uma Delegacia do Idoso na região de Pirituba/Perus faz com que os profissionais busquem alternativas para o atendimento dos usuários, em serviços existentes no território, conforme foi mencionado pela Técnica 2, da UBS B, que procurou o CREAS.

O CREAS, por sua vez, que atende a um número considerável de casos relacionados à violação de direitos (não apenas às pessoas idosas), faz um contato com a Delegacia do Idoso, no intuito de melhorar a comunicação e o acompanhamento dos casos e, conforme a Técnica 7, do CREAS B, “foi mais uma frustração”.

Em suma, evidencia-se a falta de serviços especializados na região, e a superlotação dos serviços que estão em funcionamento. Mas é necessário salientar que a existência de serviços especializados não representa uma solução mágica para todos os problemas que se apresentam para os profissionais, no cotidiano dos atendimentos à população idosa.

É necessário repensar o olhar que se tem – ou que não se tem – para a população idosa (assim como para a mulher vítima de violência, para a pessoa com deficiência, dentre outros), na elaboração das políticas sociais e estruturação dos serviços de garantia de direitos, pois um atendimento que deve assegurar a proteção social (aqui referimo-nos à percepção do advogado do CREAS com relação ao atendimento da Delegacia do Idoso, mas a realidade empírica deixa claro que essa forma de atendimento não se restringe àquela Delegacia), pode representar uma nova forma de violência.

4.5 Envelhecimento e o Contexto Sociofamiliar na Região de Pirituba/Perus

Documentos relacionados