• Nenhum resultado encontrado

A POLÍTICA DE SAÚDE E A ARTICULAÇÃO ENTRE AS POLÍTICAS SOCIAIS NO ATENDIMENTO À PESSOA IDOSA NA REGIÃO DE PIRITUBAPERUS – ZONA NORTE DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "A POLÍTICA DE SAÚDE E A ARTICULAÇÃO ENTRE AS POLÍTICAS SOCIAIS NO ATENDIMENTO À PESSOA IDOSA NA REGIÃO DE PIRITUBAPERUS – ZONA NORTE DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL"

Copied!
155
0
0

Texto

(1)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

EDLAINE FAUSTINO DA SILVA

A POLÍTICA DE SAÚDE E A ARTICULAÇÃO ENTRE AS POLÍTICAS SOCIAIS NO

ATENDIMENTO À PESSOA IDOSA NA REGIÃO DE PIRITUBA/PERUS ZONA

NORTE DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL

(2)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

EDLAINE FAUSTINO DA SILVA

A POLÍTICA DE SAÚDE E A ARTICULAÇÃO ENTRE AS POLÍTICAS SOCIAIS NO

ATENDIMENTO À PESSOA IDOSA NA REGIÃO DE PIRITUBA/PERUS ZONA

NORTE DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de MESTRE em Serviço Social, sob a orientação do Professor Doutor Ademir Alves da Silva.

(3)

BANCA EXAMINADORA

________________________________________

________________________________________

(4)

À minha querida mãe (in memoriam), ao meu pai.

(5)

AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me dado paciência, foco e forças, para a conclusão deste estudo.

À minha mãe (in memoriam) e ao meu pai, por tudo o que me ensinaram, e por todo

o amor e carinho que gratuitamente me ofereceram. Amo vocês!

A toda a minha família, especialmente às minhas irmãs Elaine, Elisângela e Maria Aparecida, por todas as conversas, conselhos e palavras de estímulo, desde quando

o Mestrado era apenas um projeto um sonho distante.

Aos meus sobrinhos, Gabi, Vinícius, Giovanna, João Henrique e Caio Benício que, com apenas um sorriso, transformam um dia atribulado em um dia feliz.

Aos meus queridos amigos, pelo apoio, conversas e momentos de descontração, que colaboraram muito para a manutenção do foco necessário para a concretização deste trabalho, especialmente, a Mônica, Fernanda Silva e Adalberto.

Aos amigos de trabalho da Prefeitura de São Paulo, em especial, a Gislaine, Sabrina, Priscila, Veridiana e Izabel.

Aos queridos colegas da Unidade Básica de Saúde (UBS) Anhanguera, especialmente ao setor administrativo, pela compreensão, nos momentos em que necessitei mudar meu horário de trabalho para participar das aulas.

Aos sujeitos desta pesquisa, por aceitarem o convite para participar das entrevistas, bem como pela disponibilidade, oferta de ajuda, dicas bibliográficas e belíssimos depoimentos.

Ao meu querido orientador professor Dr. Ademir Alves da Silva, pela paciência e, especialmente, pela oportunidade de partilhar comigo um pouco da sua imensa bagagem de conhecimento.

À professora Dra. Maria Carmelita Yazbek e à professora Dra. Elizabeth Mercadante, por aceitarem o convite para participar de minha Banca de Qualificação, pela acolhida e pelas contribuições que enriqueceram o resultado desta pesquisa.

A todos os professores do Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social da PUC-SP, pela oportunidade de ter acesso às riquíssimas discussões em aulas, atividades programadas e núcleos.

Aos alunos do Programa de Estudos Pós-graduados em Serviço Social da PUC-SP, em especial, a Fernanda de Souza Lopes, pelas conversas, troca de experiências, e

pela disponibilidade de sempre – tenho certeza de que esse foi apenas o início de

uma grande amizade!

(6)
(7)

Título: A política de saúde e a articulação entre as políticas sociais no atendimento à

pessoa idosa na região de Pirituba/Perus – zona norte do Município de São Paulo.

Autor: Edlaine Faustino da Silva

RESUMO

Nesta pesquisa, abordam-se os marcos das políticas sociais brasileiras, especialmente no que tange aos direitos da população idosa. Problematiza-se a constatação de que muito do que está regulamentado nessas leis ainda não vem

sendo exercido na prática, como, por exemplo, o direito ao atendimento domiciliar –

no que se refere à saúde da pessoa idosa com dependência. Aponta-se a tendência das políticas sociais na contemporaneidade, de responsabilização das famílias quanto à proteção social de seus membros, e as implicações do familismo, para o envelhecimento do trabalhador. Tomando como objeto de análise as políticas sociais que se realizam no território em que está localizada a Supervisão Técnica de Saúde de Pirituba/Perus, no Município de São Paulo, apresentam-se as condições de atuação dos profissionais nos serviços relacionados, especialmente, às políticas de saúde e assistência social, para ressaltar que tais condições limitam a efetivação de um trabalho articulado. E que a precariedade dos serviços representa prejuízos à população idosa, principalmente, a que envelhece com comprometimento para o desenvolvimento das atividades básicas e/ou instrumentais da vida diária.

(8)

Title: Health policy and the articulation between social care services for the elderly in the region of Pirituba / Perus - North of São Paulo area. Author: Edlaine Faustino da Silva

ABSTRACT

This research addresses the landmarks of Brazilian social policy, especially regarding the rights of the elderly population. It problematizes the fact that much of what is regulated by these laws has not been exercised in practice, for example, the right to home care services - as regards the health of the dependent elderly. It points out the tendency of social policy in contemporary times, the responsibility of families regarding social protection of its members, and the implications of familism for the aging worker. Taking the social policy as an object of analysis that takes place in the area where the Technical Health Supervision of Pirituba/Perus, São Paulo is located, it presents the conditions of activity for the professional worker related services, especially in the health policy and social assistance, to stress that these conditions limit the effectiveness of an articulated work. And the precariousness of services represents damage to the elderly, mainly to those that age and become dependent in the development of basic and/or instrumental activities of daily living.

(9)

LISTA DE SIGLAS

ABVD Atividade Básica da Vida Diária

AGPP Agente de Gestão de Políticas Públicas

AIVD Atividade Instrumental da Vida Diária

ANG Associação Nacional de Gerontologia

ANS Agência Nacional de Saúde Suplementar

APS Atenção Primária à Saúde

ASF Associação Saúde da Família

AVC Acidente Vascular Cerebral

AVD Atividade da Vida Diária

BPC Benefício de Prestação Continuada

CADÚNICO Cadastro Único

CAP Caixa de Aposentadorias e Pensões

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CBISS Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio em Serviço Social

CEME Central de Medicamentos

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

CEU Centro Educacional Unificado

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

COPS Coordenadoria do Observatório de Políticas Sociais

CRAS Centro de Referência de Assistência Social

CREAS Centro de Referência Especializado de Assistência Social

CRI Centro de Referência do Idoso

CRSN Coordenadoria Regional de Saúde Norte

DATAPREV Empresa de Processamento de Dados da Previdência Social

EC Emenda Constitucional

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

EMAD Equipe Multiprofissional de Atenção Domiciliar

EMAP Equipe Multiprofissional de Apoio

ESF Estratégia Saúde da Família

FED Federal Reserve Board

(10)

IAPAS Instituto Nacional de Administração da Previdência Social

IAPB Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Bancários

IAPC Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Comerciários

IAPI Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários

IAPM Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Marítimos

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

ILPI Instituição de Longa Permanência para Idosos

INAMPS Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social

INPS Instituto Nacional de Previdência Social

INSS Instituto Nacional do Seguro Social

IPVS Índice Paulista de Vulnerabilidade Social

LBA Legião Brasileira de Assistência

LOAS Lei Orgânica da Assistência Social

LOPS Lei Orgânica da Previdência Social

LOS Lei Orgânica da Saúde

MDS Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

MEC Ministério da Educação

MPAS Ministério de Previdência e Assistência Social

MPS Ministério da Previdência Social

MS Ministério da Saúde

NASF Núcleo de Apoio à Saúde da Família

NCI Núcleo de Convivência do Idoso

NOB Norma Operacional Básica

NPJ Núcleo de Proteção Jurídico-Social e Apoio Psicológico

OMS Organização Mundial da Saúde

ONG Organização Não Governamental

OS Organização Social

OSCIP Organização da Sociedade Civil de Interesse Público

PACS Programa de Agentes Comunitários de Saúde

PAI Programa de Acompanhante de Idosos

PAIF Programa de Atenção Integral às Famílias

PAS Plano de Atendimento à Saúde

(11)

PMSP Prefeitura do Município de São Paulo

PNAB Política Nacional de Atenção Básica

PNAS Política Nacional de Assistência Social

PNI Política Nacional do Idoso

PNSI Política Nacional de Saúde do Idoso

PSF Programa Saúde da Família

PTR Programa de Transferência de Renda

QUALIS Projeto Qualidade Integral em Saúde

RAS Rede de Atenção à Saúde

RGPS Regime Geral de Previdência Social

RMV Renda Mensal Vitalícia

RPPS Regime Próprio de Previdência Social dos Servidores Públicos

SAS Supervisão de Assistência Social

SASF Serviço de Assistência Social à Família e Proteção Social Básica no

Domicílio

SBGG Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia

SEADE Sistema Estadual de Análise de Dados

SES Secretaria de Estado da Saúde

SESC Serviço Social do Comércio

SINPAS Sistema Nacional de Assistência e Previdência Social

SMADS Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social

SM Salário-Mínimo

SMS Secretaria Municipal da Saúde

STS Supervisão Técnica de Saúde

SUAS Sistema Único de Assistência Social

SUS Sistema Único de Saúde

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UAD Unidade de Atendimento Domiciliar

UBS Unidade Básica de Saúde

(12)

LISTA DE MAPAS E TABELAS

Mapa 1: A Cidade de São Paulo e a Divisão por Subprefeituras ... 75

Mapa 2: Coordenadorias Regionais da Secretaria Municipal de Saúde ... 76

Mapa 3: Supervisões Técnicas da Coordenadoria Regional de Saúde Norte ... 77

Tabela 1: O SUS na Cidade de São Paulo ... 84

Tabela 2: Perfil dos Usuários Entrevistados ... 97

Tabela 3: Perfil dos Técnicos Entrevistados ... 98

Tabela 4: Perfil das UBSs Visitadas ... 100

(13)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 15

CAPÍTULO 1: QUESTÃO SOCIAL E ENVELHECIMENTO DO

TRABALHADOR NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO NO BRASIL ... 19 1.1 A Questão Social no Brasil ... 19 1.2 O Envelhecimento Populacional no Brasil ... 25

1.2.1 Considerações acerca dos programas voltados para a “terceira

idade” ... 31 1.3 O Envelhecimento do Trabalhador na Sociedade de Classes ... 35

CAPÍTULO 2: POLÍTICAS SOCIAIS NO ATENDIMENTO À POPULAÇÃO IDOSA NO BRASIL ... 41 2.1 Políticas Sociais no Brasil: Período Anterior à Promulgação da Constituição de 1988 ... 41 2.2 A Promulgação da Constituição de 1988: Um Marco para as Políticas Sociais Brasileiras ... 47 2.3 Articulação Intersetorial das Políticas Sociais: Limites e Possibilidades .... 50 2.4 Famílias e Políticas Sociais no Contexto do Neoliberalismo ... 52 2.4.1 Famílias: breve fundamentação teórica ... 53 2.4.2 A centralidade da família nas políticas sociais brasileiras ... 53 2.4.3 Família, um espaço de cuidados? Implicações para a etapa da velhice ... 58 2.5 O Envelhecimento Populacional na Agenda das Políticas Sociais Brasileiras: Breve Contextualização Histórica ... 61

(14)

3.2 O Município de São Paulo e o Contexto Socioterritorial da Região de

Pirituba/Perus ... 72

3.2.1 Região de Pirituba/Perus ... 74

3.2.1.1 Subprefeitura de Perus ... 77

3.2.1.2 Subprefeitura de Pirituba ... 79

3.3 Políticas Sociais no Município de São Paulo ... 81

3.3.1 Política Municipal do Idoso ... 81

3.3.2 Política de Saúde ... 82

3.3.2.1 Programa Saúde da Família ... 84

3.3.2.2 Programa de Acompanhante de Idosos ... 86

3.3.2.3 Unidade de Atendimento Domiciliar ... 87

3.3.2.4 Unidade de Referência à Saúde do Idoso ... 88

3.3.3 Política de Assistência Social ... 88

3.3.3.1 Centro de Referência de Assistência Social ... 89

3.3.3.2 Núcleo de Convivência do Idoso ... 90

3.3.3.3 Serviço de Assistência Social à Família e Proteção Social Básica no Domicílio ... 90

3.3.3.4 Centro de Referência Especializado de Assistência Social ... 91

3.3.3.5 Núcleo de Proteção Jurídico-Social e Apoio Psicológico ... 92

3.3.3.6 Instituição de Longa Permanência para Idosos ... 92

3.3.4 Política de Cultura ... 93

CAPÍTULO 4: LIMITES E POSSIBILIDADES PARA A GESTÃO INTERSETORIAL DAS POLÍTICAS SOCIAIS NA REGIÃO DE PIRITUBA/PERUS ... 95

4.1 Procedimentos Metodológicos ... 95

4.2 Perfil dos Sujeitos da Pesquisa ... 97

4.3 Perfil das Unidades de Serviços Visitadas ... 99

4.4 Cotidiano das Unidades de Serviços no Atendimento à População Idosa ... 100

4.4.1 Principais demandas: percepção dos técnicos e da população idosa ... 100

(15)

4.5 Envelhecimento e o Contexto Sociofamiliar na Região de Pirituba/Perus . 108

4.5.1 Percepção dos sujeitos da pesquisa ... 108

4.5.2 Convívio familiar e comunitário, um direito ou uma obrigação? Implicações para o envelhecimento com dependência ... 113

4.6 Articulação Intersetorial das Políticas Sociais no Atendimento à População Idosa na Região de Pirituba/Perus ... 119

4.6.1 Percepção dos sujeitos da pesquisa quanto à articulação intersetorial das políticas sociais na região ... 119

4.6.2 Algumas propostas ... 127

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 133

REFERÊNCIAS ... 139

(16)

INTRODUÇÃO

O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial. Estima-se que até o ano de 2050, a expectativa de vida do brasileiro ao nascer, alcance o patamar de 81 anos de idade (IBGE, 2010).

No Brasil, o aumento da longevidade é reflexo da redução das taxas de natalidade e mortalidade, que vem ocorrendo desde a década de 1960.

Ao mesmo tempo em que o aumento da expectativa de vida da população representa um avanço e é motivo de comemoração, a longevidade é, também, causa de preocupação, pois apresenta, para as políticas sociais, a necessidade de dar respostas que propiciem um envelhecimento digno e com qualidade para o conjunto da população.

É necessário que seja repensado o modo de organização das políticas sociais, bem como, que sejam elaboradas novas propostas de atendimento à população idosa, a fim de efetivamente assegurar os direitos de cidadania a todas as pessoas idosas.

O envelhecimento populacional no Brasil, assim como nos demais países, vem sendo acompanhado pelo aumento da expectativa de vida da população idosa, bem como por mudanças nos arranjos familiares (CAMARANO, 2007, p. 170).

Cada indivíduo envelhece de forma singular, ou seja, o ser humano vive em diferentes condições culturais, históricas, sociais e econômicas. Assim, não existe um idoso, há na verdade uma heterogeneidade de velhices.

Nessa etapa da vida, aumenta a probabilidade do indivíduo desenvolver doenças que podem comprometer as Atividades da Vida Diária (AVDs), e ocasionar, à pessoa idosa, dependência de acompanhamento e cuidados.

No que se refere à proteção social à pessoa idosa, a Constituição Federal de 1988 representa um marco para as políticas sociais do país, pois institui direitos sociais a todos os cidadãos, independentemente da existência de vínculo trabalhista. No entanto, o “familismo” tem se apresentado como uma tendência da política social contemporânea, focalizando nas famílias a responsabilidade pela proteção social e pelo cuidado a seus membros.

Essa centralização traz prejuízos para o envelhecimento com dependência,

tendo em vista que as relações familiares não são vivenciadas de modo único – visto

(17)

Origina-se dessa problemática o interesse pela realização do presente estudo.

A partir da atuação profissional em uma Unidade Básica de Saúde (UBS), localizada na área de abrangência da Supervisão Técnica de Saúde (STS), de Pirituba/Perus, no Município de São Paulo, e dos atendimentos cotidianos realizados à população idosa, nos quais as lacunas da rede de serviços foram responsáveis inicialmente por um sentimento de frustração, depois transformado em vontade de questionar e obter respostas para o atendimento a essa população.

Os questionamentos que nortearam esta pesquisa foram: Qual é a realidade do atendimento às pessoas idosas no âmbito das políticas sociais, especialmente a

política de saúde – nos serviços de atenção primária à saúde – na região de

Pirituba/Perus? Existe articulação intersetorial entre as políticas sociais no atendimento à pessoa idosa?

Com base nessas indagações foram formuladas as seguintes hipóteses:

 As famílias encontram-se sobrecarregadas pelas responsabilidades quanto

aos cuidados, no caso de famílias com idosos com comprometimento das AVDs;

 Há um crescente segmento de pessoas idosas morando sozinhas, o que as

expõe a maiores riscos, especialmente quando ocorrem o adoecimento e situações de dependência;

 As políticas de proteção à pessoa idosa não se realizam de forma

articulada, como prevê a legislação social brasileira;

 O atendimento domiciliar ocorre de forma mais precária nas áreas em que

não há o atendimento pelo Programa Saúde da Família (PSF).

Portanto, o objeto de análise está relacionado aos serviços de proteção social às pessoas idosas e aos mecanismos de articulação intersetorial das políticas sociais, na região em que está localizada a STS de Pirituba/Perus. Assim, a pesquisa teve os seguintes objetivos gerais:

 Estabelecer o perfil socioeconômico do segmento de pessoas idosas da

região de Pirituba/Perus;

 Identificar, mapear e caracterizar os serviços oferecidos às pessoas idosas

(18)

Os objetivos específicos estão elencados a seguir:

 Mapear os serviços das diversas áreas, especialmente no âmbito da saúde;

 Avaliar a abrangência do PSF, identificando similaridades e diferenças em

relação ao atendimento das UBSs de Ação Programática;

 Identificar os aspectos favoráveis e desfavoráveis do atendimento domiciliar;

 Analisar as relações entre as unidades de serviços para identificar os

mecanismos de articulação intersetorial ou a insuficiência ou ausência deles.

Recorremos a entrevistas com a população idosa, e com técnicos que atuam em diferentes políticas sociais, na referida região. Foram entrevistados profissionais que atuam em UBSs, em Centros de Referência de Assistência Social (CRASs), em Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREASs), e em um serviço relacionado à Cultura.

A construção dos referenciais histórico, teórico-conceitual e legal-normativo, foi realizada por meio do levantamento da bibliografia existente sobre envelhecimento, política social, questão social, intersetorialidade e família. Essas referências contribuíram para a análise e interpretação dos dados coletados no estudo de campo.

Este trabalho está organizado em quatro capítulos.

O primeiro capítulo apresenta as particularidades da questão social no Brasil; o envelhecimento do trabalhador na sociedade de classes; o envelhecimento da população no Brasil; e os programas voltados para a terceira idade.

Tal levantamento teve o intuito de aprofundamento da análise acerca do envelhecimento populacional no Brasil e das implicações da sociedade do capital para o envelhecimento do trabalhador.

O segundo capítulo contextualiza os marcos das políticas sociais brasileiras e a introdução do envelhecimento populacional na agenda das políticas sociais brasileiras.

(19)

No que se refere ao modelo de política social que elege as famílias como um recurso para a proteção e o cuidado a seus membros, e das implicações de tal modelo para o envelhecimento da população, realizamos a análise acerca do

“familismo” com base em Teixeira (2012); Mioto (2010); Campos e Teixeira (2010);

Stamm e Mioto (2003).

No terceiro capítulo, apresentamos a organização das políticas sociais no Município de São Paulo, bem como dos serviços relacionados às políticas de saúde, assistência social e cultura, abordando dados relacionados à região de Pirituba/Perus.

No quarto capítulo, apontamos os procedimentos metodológicos adotados para o estudo de campo, e a análise dos dados coletados nas entrevistas realizadas com os sujeitos da pesquisa.

Os dados foram sistematizados pelas seguintes categorias de análise: perfil dos sujeitos da pesquisa; perfil das unidades de serviços visitadas; cotidiano das unidades de serviços no atendimento à população idosa; envelhecimento e o contexto sociofamiliar na região de Pirituba/Perus; articulação intersetorial das políticas sociais no atendimento à população idosa na região de Pirituba/Perus.

Buscamos confrontar o que está estabelecido na legislação social brasileira, com a realidade dos serviços, e, consequentemente, com as implicações dessa realidade para a população que vivencia a etapa da velhice na região de Pirituba/Perus.

Dessa maneira, frequentemente, são citadas leis relacionadas aos direitos da população idosa, dentre elas, a Constituição Federal de 1988, o Estatuto do Idoso, a Lei Orgânica da Saúde (LOS) e a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS).

A precariedade das políticas sociais no atendimento à população idosa, não é particularidade de uma ou de outra região brasileira, no entanto, este estudo apresenta dados que se referem à região de Pirituba/Perus.

(20)

CAPÍTULO 1: QUESTÃO SOCIAL E ENVELHECIMENTO DO TRABALHADOR NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO NO BRASIL

Neste capítulo, são abordadas a história da questão social no Brasil, as perspectivas relacionadas ao aumento da expectativa de vida da população e as implicações da sociedade de classes para o envelhecimento do trabalhador.

1.1 A Questão Social no Brasil

A expressão questão social foi cunhada em meados da década de 1830

(CASTEL apud IAMAMOTO, 2012, p. 162). Surge como manifestação “do processo

de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade” (IAMAMOTO e CARVALHO, 2003, p. 77).

A questão social pode ser definida como o conjunto das expressões das desigualdades sociais, engendradas pelas sociedades de classes, pela divisão do trabalho e pela propriedade privada. É uma condição da sociedade capitalista,

expressando-se em “disparidades econômicas, políticas e culturais das classes

sociais” (IANNI apud TEIXEIRA, 2008, p. 47).

A questão social expressa, portanto, desigualdades econômicas, políticas e culturais das classes sociais, mediatizadas por disparidades nas relações de gênero, características étnico-raciais e formações regionais, colocando em causa amplos segmentos da sociedade civil no acesso aos bens da civilização. Dispondo de uma dimensão estrutural, ela atinge visceralmente a vida dos sujeitos numa ‘luta aberta e surda pela cidadania’ (IANNI, 1992), no embate pelo respeito aos direitos civis, sociais e políticos e aos direitos humanos [...] (IANNI apud IAMAMOTO, 2012, p. 160).

A questão social é intrínseca ao modo de produção capitalista, mas há peculiaridades nas suas manifestações em países com histórico de colonialismo, como é o caso do Brasil.

Essas particularidades referem-se tanto ao modo como a questão social se

expressa no Brasil – e nos demais países que ocupam lugar periférico na economia

capitalista mundial –, quanto à relação hierárquica, estabelecida com os países

(21)

centrais na acumulação originária de capital no mercado mundial (PRADO JR. apud BEHRING; BOSCHETTI, 2011, p. 72).

Conforme Behring e Boschetti (2011, p. 72), os períodos do império e da república não trouxeram alterações para a relação de subordinação e dependência ao mercado mundial.

[...] Os períodos imperial e da república não alteram significativamente essa tendência de subordinação e dependência ao mercado mundial, embora se modifiquem historicamente as condições dessa relação. Assim, para Prado Jr. (1991), a acumulação originária, o colonialismo e o imperialismo são elementos de um sentido geral da formação brasileira: uma sociedade e uma economia que se organizam para fora e vivem ao sabor das flutuações de interesses e mercados longínquos (IANNI, 1989: 68 e 69) (PRADO JR; IANNI apud BEHRING; BOSCHETTI, 2011, p. 72).

A condição de economia periférica ocupada pelo Brasil no sistema capitalista é determinada por seu ingresso retardatário no capitalismo. Enquanto os países

cêntricos vivenciavam um sistema avançado de industrialização – no período da

denominada “industrialização pesada” –, o Brasil, por sua vez, iniciava seu primeiro ciclo de industrialização (BEHRING; BOSCHETTI, 2011, p. 71).

A formação social das classes constituídas ideopolítica e culturalmente e a formação do sistema político nacional, são características determinadas por essa inserção periférica do Brasil na economia mundial (SANTOS, 2012, p. 138). Outro aspecto que repercute na formação da sociedade brasileira é o “peso do escravismo”, que marca a cultura, os valores, as ideias, a ética, a estética e os ritmos de dança, e, principalmente, as condições de trabalho, carregados, até hoje,

de desqualificação (PRADO JR; IANNI apud BEHRING; BOSCHETTI, 2011, p. 72).

Segundo os referenciais teóricos marxistas, a questão social é marcada pela exploração do trabalho pelo capital e pelas lutas sociais protagonizadas pelos trabalhadores organizados, em meio ao jogo de interesses que visa à produção e reprodução do capitalismo (SANTOS, 2012, p. 133).

(22)

Pimentel (2007, p. 133) faz um estudo sobre as análises dos autores Robert Castel e Pierre Rosanvallon, que acreditam haver na atualidade, em decorrência das

recentes transformações contemporâneas, uma “nova questão social”.

Na perspectiva de análise de Castel:

[...] o núcleo da questão social hoje seria, pois, novamente, a existência de ‘inúteis para o mundo’, de supranumerários e, em torno deles, de uma nebulosa de situações marcadas pela instabilidade e pela incerteza do amanhã que atestam o crescimento de uma vulnerabilidade de massa (CASTEL apud PIMENTEL, 2007, p. 137).

De acordo com Rosanvallon, as transformações contemporâneas fizeram

surgir uma “nova questão social”:

desde o início dos anos oitenta, o crescimento do desemprego e o aparecimento de novas formas de pobreza parecem, de forma contrária, levar-nos tempos atrás. Mas ao mesmo tempo vê-se claramente que não se trata de um simples retorno aos problemas do passado. Os fenômenos atuais de exclusão não remetem às antigas categorias da exploração. Assim surge uma nova questão social (ROSANVALLON apud PIMENTEL, p. 147).

As análises dos referidos autores dizem respeito à realidade de países que

viveram uma política de pleno emprego, na era do Estado de Bem-Estar Social1, fato

que não pode ser automaticamente transplantado para a realidade dos demais países, assim como para a realidade brasileira.

Segundo Iamamoto (2012, p. 161), a questão social não é um fenômeno

recente, o que há, na atualidade, é a “velha questão social”, que está nas bases da

“própria natureza das relações sociais capitalistas, mas que, na contemporaneidade, se reproduz sob novas mediações históricas, e ao mesmo tempo, assume inéditas expressões”.

No âmbito da presente pesquisa, entende-se que não se trata de uma “nova

questão social”, tendo em vista que a questão social emerge a partir da

desigualdade social existente no sistema capitalista, e que sua gênese está relacionada ao processo de formação da classe trabalhadora na sociedade de mercado. As recentes transformações ocorridas no modo de produção capitalista produziram novas expressões da questão social.

(23)

Para Santos (2012, p. 177), o regime de trabalho brasileiro foi historicamente construído sobre as bases da precarização e da flexibilização dos vínculos empregatícios. Segundo a autora (ibid.), são necessárias as mediações das peculiaridades da questão social no Brasil, com a realidade dos demais países; e não é correta a incorporação de parâmetros do fordismo clássico, e da flexibilização

dos vínculos de trabalho – que ocorreram a partir do rompimento com o pleno

emprego (uma realidade vivenciada pelos países cêntricos).

Ainda segundo a autora, vivenciamos o “fordismo à brasileira”, realidade em

que a quantidade – excedente – de mão de obra disponível para o mercado de

trabalho2 favorece a contratação precária dos trabalhadores, e a prevalência da

instabilidade dos vínculos, o que contraria a política de pleno emprego do Estado de

Bem-Estar Social – conforme já assinalado (SANTOS, 2012, p. 174).

Com a reestruturação produtiva ocorrida no Brasil em meados da década de 1990, agrava-se a flexibilização do regime de trabalho, mas em um regime que já era instável e flexível, o que desmistifica “a ‘ideologia’ da suposta ‘rigidez’ do regime de trabalho no Brasil” (PRONI; BALTAR apud SANTOS, 2012, p. 177-178).

Nesse novo momento do desenvolvimento do capital, a inserção dos países ‘periféricos’ na divisão internacional do trabalho carrega as marcas históricas persistentes que presidiram sua formação e seu desenvolvimento, as quais se atualizam redimensionadas no presente. Essas novas condições históricas metamorfoseiam a questão social inerente ao processo de acumulação capitalista, adensando-a de novas determinações e relações sociais historicamente produzidas, e impõem o desafio de elucidar o seu significado social no presente [...] (IAMAMOTO, 2012, p. 107).

De acordo com Iamamoto (2012, p. 112), desde os anos 1980, vem surgindo novas expressões da questão social, dentre as quais o aumento do desemprego e o agravamento da precariedade nos vínculos empregatícios, visto que a

subcontratação de pequenas empresas e o trabalho realizado “em tempo parcial são

encobertos sob o manto da moderna ‘flexibilização’”.

Na atual conjuntura de precarização e subalternização do trabalho à ordem do mercado e de mudanças nas bases da ação social do Estado, as manifestações da ‘questão social’, matéria-prima da intervenção profissional dos assistentes sociais, assumem novas configurações e expressões, entre as quais destacamos a insegurança e vulnerabilidade do trabalho e penalização dos trabalhadores, o desemprego, o achatamento salarial, o

(24)

aumento da exploração do trabalho feminino, a desregulamentação geral dos mercados e outras tantas questões com as quais os assistentes sociais convivem cotidianamente: são questões de saúde pública, de violência, da droga, do trabalho da criança e do adolescente, da moradia na rua ou da casa precária e insalubre, da alimentação insuficiente, da ignorância, da fadiga, do envelhecimento sem recursos, etc. Situações que representam para as pessoas que as vivem, experiências de desqualificação e de exclusão social, e que expressam também o quanto a sociedade pode ‘tolerar’ e banalizar a pobreza sem fazer nada para minimizá-la ou erradicá-la (YAZBEK et al., 2009, p. 138).

O capitalismo, nos países periféricos, desenvolve-se na dependência dos países detentores do poder hegemônico do capitalismo mundial. O processo de

mundialização do capital3 gera uma hierarquia que delega, aos países de economia

periférica, a função a ser desempenhada no mercado internacional.

Esse estado de dependência traz consequências para as relações de dominação e conformação das classes sociais, dando forças para os mecanismos de exploração da classe trabalhadora.

De acordo com Teixeira (2008, p. 134), a exploração do trabalho pode implicar um esgotamento prematuro do trabalhador para o mercado de trabalho, pois

a intensificação à qual o trabalhador superexplorado é forçado a submeter-se para

acelerar a produtividade , pode ocasionar prejuízos à sua saúde, tornando-o

dependente de seus familiares e da sociedade.

Na mundialização do capital, a livre “competição internacional e inter -regional”, suscita a flexibilização dos mercados e dos processos de trabalho

(HARVEY apud IAMAMOTO, 2012, p. 112).

A efetiva mundialização da ‘sociedade global’ é acionada pelos grandes grupos industriais transnacionais articulados ao mundo das finanças. Este tem como suporte as instituições financeiras que passam a operar com o capital que rende juros (bancos, companhias de seguros, fundos de pensão, fundos mútuos e sociedades financeiras de investimento) apoiadas na dívida pública e no mercado acionário das empresas. Esse processo impulsionado pelos organismos multilaterais captura os Estados nacionais e o espaço mundial, atribuindo um caráter cosmopolita à produção e consumo de todos os países; e simultaneamente, radicaliza o desenvolvimento desigual e combinado que estrutura as relações de dependência entre as nações no cenário internacional (IAMAMOTO, 2012, p. 106-107).

(25)

A mundialização do capital traz duas características novas para o sistema

capitalista. A primeira refere-se à “liberalização e desregulamentação” dos capitais,

assim, os grandes fundos de investimentos tornam-se credores de empresas que anteriormente eram clientes preferenciais do sistema bancário. Somam-se, aos

grandes bancos, as companhias de seguro – que não têm como responsabilidade

a criação de crédito – mas têm suas ações direcionadas para o crescimento dos

rendimentos provenientes de “contribuições patronais sobre o salário e poupança

forçada dos assalariados a partir dos quais se sustentam”. A segunda

característica é o aumento da dívida pública, uma fonte de poder dos fundos de

investimentos, que assoberba o “capital fictício”. Tendo em vista que as taxas de

juros dos fundos são maiores do que o crescimento global da economia, esses

rendimentos crescem como uma bola-de-neve (CHESNAIS apud IAMAMOTO,

2012, p. 112-113).

Na lei geral de acumulação capitalista, a população trabalhadora cresce mais e de forma mais rápida do que a necessidade de seu emprego para fins da

valorização do capital (MARX apud IAMAMOTO, 2012, p. 158-159). Essa condição

ocasiona uma “acumulação da miséria relativa à acumulação do capital” –“a raiz da produção/reprodução da questão social na sociedade capitalista” (IAMAMOTO, 2012, p. 159).

A apropriação e a monopolização do trabalho pelo modo de produção capitalista agravam a questão social. De forma que, como é apenas pelo trabalho que o indivíduo pode garantir a sua sobrevivência, esse fica prejudicado, quando não encontra um lugar no mercado de trabalho (IAMAMOTO, 2012, p. 159).

[...] Assim, a obtenção dos meios de vida depende de um conjunto de mediações que são sociais, passando pelo intercâmbio de mercadorias, cujo controle é inteiramente alheio aos indivíduos produtores. O pauperismo como resultado do trabalho – do desenvolvimento das forças produtivas do trabalho social –, é uma especificidade da produção fundada no capital (MARX apud IAMAMOTO, 2012, p. 159).

O trabalhador, quando está fora do mercado de trabalho, além de sofrer com a desigualdade da distribuição do que é socialmente produzido (base do sistema

capitalista desigualdade de distribuição de renda), também fica sem condições de

manter-se no mercado de trabalho, e garantir, assim, a sua subsistência isso é

(26)

resultado da desigualdade de renda, mas também da destituição dos meios de produção, atingindo a totalidade da vida do trabalhador, para além da vida material, trazendo implicações para os aspectos cultural, intelectual e espiritual (IAMAMOTO, 2012, p. 159-160).

Na sociedade capitalista, essa condição desigual acompanha o trabalhador em todas as etapas da vida, inclusive na velhice.

Segundo Beauvoir (apud TEIXEIRA, 2008, p. 30):

se a velhice, como destino biológico, é uma realidade que transcende a história, não é menos verdade que esse destino é vivido de maneira variável segundo as condições materiais de produção e reprodução social, que imprimem um estatuto social à velhice, ou estatutos diferenciados, conforme as classes, status e hierarquias sociais.

Apresentamos brevemente os marcos da questão social no Brasil, na perspectiva de abordar a temática da longevidade para além dos aspectos demográficos e individuais. O intuito é contextualizar os determinantes da sociedade de classes e suas implicações para o envelhecimento do trabalhador.

1.2 O Envelhecimento Populacional no Brasil

No Brasil, o envelhecimento populacional tem sido representado por uma alteração na estrutura etária da população, bem como, por um aumento significativo

de pessoas com idades acima dos 60 anos (CAMARANO et al, 1999, p.1). Segundo

o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2050, a expectativa de vida do brasileiro, ao nascer, poderá alcançar o patamar de 81 anos de idade (IBGE, 2010).

Conforme Brandão e Mercadante (2009, p. 6-7), a longevidade diz respeito ao aumento do número de anos vividos por determinada população, e envelhecimento é um processo natural do ciclo vital, que ocorre em todas as etapas da existência

humana, desde o nascimento4.

Segundo as autoras, se, por um lado, nos países desenvolvidos, a longevidade é explicada pelo investimento em políticas públicas, que visam à

promoção da qualidade de vida – além de avanços tecnológicos ligados à saúde; por

(27)

outro, no Brasil, o aumento da expectativa de vida vem ocorrendo mais

especificamente em decorrência da redução das taxas de natalidade e

mortalidade, ou seja, está mais relacionado ao desenvolvimento de novas tecnologias voltadas à saúde, do que a investimentos em serviços que proporcionem melhoria da qualidade de vida da população (BRANDÃO; MERCADANTE, 2009, p. 8).

Mesmo com as dificuldades (desigualdade socioestrutural e investimentos insuficientes em serviços de saúde, transporte, educação, saneamento básico, habitação, alimentação), o Brasil vivencia o aumento da expectativa de vida da população (BRANDÃO; MERCADANTE, 2009, p. 11).

O processo de envelhecimento ocorre de forma heterogênea, pois o modo como uma pessoa envelhece é dimensionado pela condição de classe; pelo local em que vive (na cidade ou no campo); pela diferença de gênero (homens e mulheres envelhecem de forma diferente); dentre outras.

Segundo Silva (2011, p. 2):

Há diferentes modos de envelhecer e de ser idoso. A despeito de certas características atribuídas ao idoso em geral, não há um idoso universal. As inserções territoriais, etárias, raciais, étnicas, de gênero e de classe social constituem referências identitárias que precedem, transcendem e sobredeterminam a condição biológica do idoso. Então, saúde e doença, higidez e debilidade dependem de um conjunto de fatores que marcam a vida social e o contexto cultural. Há ‘um idoso em geral’ que esconde e, ao mesmo tempo, revela um ‘idoso em particular’ em seu tempo e espaço sociocultural.

Há diferentes perspectivas de análise sobre o envelhecimento populacional, dentre as quais: as que concebem a velhice como um peso para a economia; as que enxergam a pessoa idosa como consumidora, ou como um eleitor a ser conquistado; há quem entenda que as políticas públicas para a pessoa idosa são desnecessárias (visto que vivemos em uma sociedade que tende a cultuar a juventude); por outro lado, existem posicionamentos que criticam a forma de organização das políticas públicas, que direcionam a responsabilidade sobre o processo do envelhecimento para o âmbito privado (definindo-o como responsabilidade individual, da família e da sociedade).

(28)

O aumento da longevidade deve ser reconhecido como uma conquista social, o que se deve em grande parte ao progresso da medicina e a uma cobertura mais ampla dos serviços de saúde. No entanto, este novo cenário é visto com preocupação por acarretar mudanças no perfil das demandas por políticas públicas, colocando desafios para o Estado, a sociedade e a família. Nessa perspectiva, o pensamento comum é de que os gastos sociais com o envelhecimento representam, sobretudo, consumo para o Estado. Já os gastos com os jovens são percebidos como investimento e consumo. Esta é uma visão economicista que não considera o caráter intergeracional dos gastos sociais e em que a preocupação maior das políticas sociais permanece no plano individual e não no bem-estar coletivo.

De acordo com a Política Nacional do Idoso (PNI) e o Estatuto do Idoso, são idosas as pessoas com 60 anos ou mais. Já para a Organização Mundial da Saúde (OMS), são consideradas idosas as pessoas com 60 anos ou mais, caso residam em países em desenvolvimento; e com 65 anos ou mais as que residem em países

desenvolvidos(CAMARANO, 2004, p. 4).

No Brasil, há critérios que diferenciam a população idosa, como, por exemplo, o teste de meios para acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC). De

acordo com a LOAS (além do critério de renda5), tem direito ao BPC a população

idosa com idade superior a 65 anos. Esse critério contraria o que está estabelecido

na PNI e no Estatuto do Idoso, bem como a concepção de velhice da OMS6.

Conforme já assinalado, uma característica do envelhecimento populacional na contemporaneidade, é o aumento da expectativa de vida entre a população idosa.

Essa ampliação da expectativa de vida torna aparentes algumas características do processo de envelhecimento, dentre elas, a “feminização da velhice”. Mesmo nascendo maior número de homens, a proporção de mulheres longevas é superior à de homens, e essa proporção tende a ficar mais evidente nos

grupos de idosos mais velhos. Segundo Moreira (apud SUGAHARA, 2005, p. 53), o

processo de feminização da velhice é ocasionado especialmente pelos diferenciais de mortalidade, que são favoráveis ao sexo feminino desde os anos iniciais de vida.

A “feminização da velhice” coloca para as mulheres alguns desafios. Um deles é o fato de a legislação social brasileira definir a família como principal

5Para fins de concessão do BPC, o critério de renda estabelecido pela Lei 8.742/1993, em seu artigo 20, é que a renda per capita deve ser inferior a ¼ de salário-mínimo.

(29)

responsável pelo cuidado de seus membros7, uma vez que o papel de cuidar é

sustentado social e culturalmente pelo recorte de gênero, essa função acaba sendo desempenhada pelas mulheres.

Conforme aponta Vitale (2010, p. 101): “das mulheres se espera e se delega

a assistência à geração mais nova e às mais velhas”.

Ao longo da história, em quase todo o mundo, o cuidado com a geração mais velha tem sido atribuído aos descendentes, norma social reforçada pelo amparo da lei. Além disso, as normas sociais e familiares estabelecem que o papel de cuidar seja uma especificidade feminina. As jovens devem cuidar dos filhos e, na meia-idade ou na velhice, dos maridos doentes, pais e sogros idosos fragilizados (NERI apud CAMARANO, 2007, p. 171).

Segundo Neri (apud NERI, 2007, p. 48), “as mulheres são mais oneradas

física, psicológica e socialmente porque a elas cabe o dever de cuidar do cônjuge, dos pais, de outros parentes idosos e até de filhos e netos”.

A tarefa de cuidar recai sobre as mulheres, inclusive quando vivenciam a etapa da velhice. E essa sobrecarga para as mulheres interfere na manifestação de doenças crônicas, déficit cognitivo, dor, depressão, fadiga, estresse crônico, consumo de medicamentos, dentre outras manifestações, que tendem a atingir mais as mulheres do que os homens, no processo de envelhecimento (NERI, 2007, p. 48).

As mulheres também se destacam mais do que os homens no aspecto morar

. A diferença tende a ser maior com o aumento da idade (ALVES, 2007, p. 127).

O fato de morar só, não significa solidão, no entanto, essa condição pode

representar vulnerabilidade, caso ocorra doença que ocasione dependência.

Velhice não é sinônimo de doença, mas a pessoa idosa tem uma propensão

maior para o desenvolvimento de determinadas doenças – especialmente as

crônicas. Os índices de internação e mortalidade também são maiores nessa faixa etária (SUGAHARA, 2005, p. 72).

As doenças crônicas podem acarretar prejuízos para a realização das Atividades da Vida Diária (AVDs), que são classificadas e subdivididas em Atividades Básicas da Vida Diária (ABVDs), relacionadas ao desempenho de atividades do autocuidado (como alimentação, banho, controle sobre as necessidades fisiológicas, entre outras); e Atividades Instrumentais da Vida Diária

(30)

(AIVDs), que indicam a capacidade para o desempenho de uma vida independente, dentro da própria comunidade (preparar suas refeições, realizar suas compras, cuidar da casa, utilizar o telefone, administrar as próprias finanças, tomar seus medicamentos, etc.) (cf. DUARTE, 2007, p. 2).

Mudanças no perfil da família vêm ocorrendo desde a década de 1960, motivadas pela revolução sexual feminina; pelas necessidades de adequação das famílias às transformações ocorridas no mercado de trabalho, com o aumento da flexibilização e da precarização na sociedade da mundialização do capital; e pela redução da taxa de fecundidade. Há, na sociedade, a expectativa de uma alteração no perfil da população idosa do sexo feminino, com a perpectiva de que as mulheres tenham um alto nível de escolaridade e um maior engajamento no mercado de

trabalho. Com isso, a tendência é que “aumente o número de idosos dependentes

de cuidados e que a oferta de cuidadores familiares se reduza” (CAMARANO, 2007,

p. 170). A perspectiva nos remete ao questionamento: “Quem oferecerá cuidados

para esse grupo populacional: a família ou as instituições?” (ibid., p.170).

Essa temática será aprofundada no capítulo 2, que abordará as políticas sociais.

No que tange à velhice masculina, de acordo com Mercadante (2003, p. 69):

O tempo do não trabalho, a aposentadoria representa para os homens uma maior perda do que para as mulheres [...] os sujeitos percebem-se deslocados sem ter um lugar como ponto de referência, como tinham enquanto exerciam uma função produtiva.

A palavra aposentadoria (mesmo representando a materialização de um direito) tem, em seu significado, um estigma de desvalorização social, conforme o Minidicionário Larrouse da Língua Portuguesa (2005, p. 48) “dar pousada a; alojar; pôr de lado; abandonar; dispensar do serviço, dentre outras denominações”.

As sensações de perda e de desvalorização social, em decorrência da aposentadoria, têm relação com a ideologia existente na sociedade capitalista.

Em uma sociedade na qual só é possível subsistir por meio do trabalho abstrato, o capital imprime sua “ditadura” sobre a vida humana, “impregnando toda a existência social”. O trabalhador tem o sentimento de perda, por entender que, “estar

fora do trabalho é estar fora da vida”, excluído das condições de reprodução social,

(31)

sociais, condição que implica desvalorização social por não contribuir para a riqueza

social e para a reprodução biológica e social (TEIXEIRA, 2009, p. 66).

Essa desvalorização também é reforçada pelos argumentos de analistas econômicos, que concebem as aposentadorias como um risco para a economia dos países e classificam a Previdência Social como um “risco fiscal”.

Conforme apontado por Felix (2009, p. 7), economistas e estudiosos, analisam com preocupação o aumento da longevidade. Alan Greenspan

(ex-presidente do Federal Reserve Board – FED8), afirma que o futuro da economia dos

Estados Unidos, na década de 2030, estará sob riscos, pois há um “tsunami iminente” – forma como denomina as aposentadorias dos trabalhadores que ingressaram no mercado de trabalho entre os anos de 1940 e 1960.

Esse tipo de posicionamento não é isento de interesses. Em um contexto de

liberalização da economia, a especulação financeira – “tão somente o modo de ser,

a natureza de mercado” (BELLUZZO, 2009, p. 114) – é utilizada como forma de acumulação de mais capital. Mas, com o advento da crise, a desigualdade social e o desemprego são acirrados, pois os direitos sociais dos trabalhadores (inclusive dos aposentados) são colocados em xeque. Direitos sociais são reduzidos, devido às políticas de austeridade, e quem perde são os mais pobres. Conforme Conceição (2009, p. 46), as respostas para a crise são sempre a socialização das perdas, mas quando se está ganhando, a ideologia é a da acumulação de mais capital.

Segundo Sugahara (2005, p. 71-72), no final dos anos 1990, a população idosa passou a conciliar aposentadoria com mercado de trabalho, ou seja, a presença do idoso no trabalho, tem se estendido. A tendência demonstra que a remuneração proveniente das aposentadorias não tem sido suficiente para a sobrevivência do trabalhador, quando idoso.

Para Alves (2007, p. 128), outro aspecto relevante “diz respeito ao número de

idosos que se apresentam como chefes de família”. A autora ressalta que essa

chefia está relacionada ao suporte financeiro (de renda relacionada a

aposentadorias, benefícios, pensões, e de trabalho – de idosos que permanecem no

mercado de trabalho), pois “a importância da opinião do idoso” perante à família,

parece se restringir, com a idade.

(32)

Segundo Brandão e Mercadante (2009, p. 5), as questões relacionadas ao envelhecimento populacional e à longevidade passaram a ser, especialmente “nos últimos 25 anos”, assuntos prioritários para o século XXI.

Colocam-se, para a população, novos significados e perspectivas de vivenciar

a etapa da velhice, como, por exemplo, por meio dos programas de “terceira idade”.

A seguir, são apontadas algumas considerações acerca dos programas

voltados para a “terceira idade”.

1.2.1 Considerações acerca dos programas voltados para a terceira idade

O Brasil, que até pouco tempo era denominado de “país do futuro”,

atualmente, conhece o fenômeno da longevidade (BRANDÃO; MERCADANTE, 2009, p. 5).

O idoso, a partir da década de 1980, tornou-se um “ator político” que vem

ganhando espaço na mídia e chamando a atenção das indústrias do consumo, lazer

e turismo (DEBERT apud CAMARANO et al., 1999, p. 5)

Segundo Debert (1999, p. 14), observa-se, na contemporaneidade, que a “ideia de um processo de perdas”, na etapa da velhice, “tem sido substituída pela consideração de que os estágios mais avançados da vida são momentos propícios

para novas conquistas, guiadas pela busca do prazer e da satisfação pessoal”.

No Brasil, proliferaram, na última década, os programas voltados para os idosos, como as ‘escolas abertas’, as ‘universidades para a terceira idade’ e os ‘grupos de convivência de idosos’. [...]. Contudo, o sucesso surpreendente dessas iniciativas é proporcional à precariedade dos mecanismos de que dispomos para lidar com a velhice avançada. [...]. A dissolução desses problemas nas representações gratificantes da terceira idade é um elemento ativo na reprivatização do envelhecimento, na medida em que a visibilidade conquistada pelas experiências inovadoras e bem-sucedidas fecha o espaço para as situações de abandono e dependência. Estas situações passam, então a ser vistas como consequência da falta de envolvimento em atividades motivadoras ou da adoção de formas de consumo e estilos de vida inadequados (DEBERT, 1999, p. 15).

Debert (1999, p. 15-16), faz uma reflexão acerca da “arena de conflitos éticos”

que se constrói nesse processo de “ressignificação da velhice”. Lócus em que os

gerontólogos e outros experts “veem-se agora – em razão do sucesso dos

(33)

rejuvenescimento na condição de agentes privilegiados na reprivatização da velhice”.

Segundo a autora (ibid., p. 20), na contemporaneidade, “disciplina e

hedonismo se combinam na medida em que as qualidades do corpo são tidas como plásticas e os indivíduos são convencidos a assumir a responsabilidade” pela manutenção de uma aparência jovem. Com isso, a juventude perde “a conexão com um grupo etário específico” e deixa “de ser um estágio na vida para se transformar em valor, um bem a ser conquistado em qualquer idade, através da adoção de estilos de vida e formas de consumo adequadas” (ibid., p. 21).

A visão que se tem do envelhecimento, de acordo com Sugahara (2005, p.

73), é a de que ele é uma afronta aos padrões estéticos de juventude, estando

vinculado à ideia de algo que deva ser evitado. Recorrendo a Beauvoir (1970, p. 44):

[...] A velhice traz para todo o indivíduo uma degradação temida. Contradiz o ideal viril ou feminino adotado pelos jovens e pelos adultos. A atitude espontânea consiste em recusá-la [...]. A velhice dos outros inspira também uma repulsa imediata. Esta reação elementar subsiste mesmo quando reprimida pelos costumes [...].

O estigma sobre esse ciclo natural da vida também está imbricado na própria concepção de envelhecimento, na qual envelhecer significa: “tornar-se velho; tornar-se desusado, inútil; perder a frescura, o viço” (MINIDICIONÁRIO LAROUSSE DA

LÍNGUA PORTUGUESA, 2005, p. 297). A denominação “velho”, quer dizer: “que tem

idade avançada; idoso; que existe ou emprega-se há muito tempo; antigo; desgastado; gasto; ultrapassado” (ibid., p. 814).

A sociedade contemporânea tem a noção de envelhecimento e velhice baseada em estigmas e preconceito, o que favorece as situações de negação da velhice, uma vez que os indivíduos não querem ter a sua imagem associada ao isolamento e à decrepitude. No entanto, o envelhecimento populacional representa uma conquista para a sociedade, é necessário respeitar e valorizar a velhice e não negá-la.

Camarano (et al., 1999, p. 5) afirma que surgiram novos conceitos para

classificação das pessoas idosas que vêm tendo maior longevidade. A distinção

(34)

classificatórios a circunstâncias sociais, culturais, psicológicas e biológicas” do envelhecimento.

A expressão “terceira idade” surgiu na França, na década de 1970, a partir da implantação das Universités du Troisème Age, e foi nesse país que os primeiros

gerontólogos brasileiros foram formados (STUCCHI apud DEBERT, 1999, p. 138).

A “terceira idade” foi rapidamente popularizada no vocabulário brasileiro, e

além de ser uma referência a determinada idade cronológica, é uma forma de tratamento das pessoas idosas, pois a expressão ainda não adquiriu conotação depreciativa (DEBERT, 1999, p. 138).

As primeiras iniciativas empenhadas em promover um envelhecimento bem-sucedido surgiram no Brasil, na década de 1960, como é o caso dos programas criados pelo Serviço Social do Comércio (SESC) (DEBERT, 1999, p. 144).

Mas foi nos anos de 1980 que esses programas aumentaram e foram instituídos conselhos, comitês e comissões, no intuito de assessorar a administração pública no tratamento da população idosa, em níveis municipal, estadual e federal (ibid., p. 144-145).

Os programas são inspirados no Plano de Ação Mundial sobre o Envelhecimento e concebem o idoso ‘como um todo integrado, necessitando de um atendimento médico especializado e que, ao mesmo tempo, busca reencontrar seu lugar na sociedade, recuperando, assim, a sua autoestima (PRATA apud DEBERT, 1999, p. 147).

O discurso sobre a necessidade dos programas para a terceira idade, surge,

segundo Matos (apud DEBERT, 1999, p. 150-151), como se fossem “um marco”

para a vida das pessoas idosas, “uma espécie de divisor de águas que substitui o

período de solidão e abandono, seguinte à viuvez ou separação, por um outro de

novas amizades, festas, encontros e passeios”.

[...] O interesse dos programas para seus participantes está na possibilidade que oferecem de se vivenciar, em grupo, essa experiência de recodificação do envelhecimento. Neles não há espaço para qualquer tipo de emoção que possa ser identificada com a velhice; não há lugar para sentimentos – quer de superioridade, quer de inferioridade – que possam ser identificados como expressão do avanço da idade (DEBERT, 1999, p. 159).

Os programas para a terceira idade, no Brasil, têm público majoritariamente feminino (ibid., p. 139). Alguns estudiosos atribuem a maioria feminina ao processo

(35)

Segundo Debert (1999, p. 157), os idosos que participam dos programas da terceira idade, em universidades para a terceira idade, escolas abertas para a terceira idade, atividades no SESC, dentre outras, salientam como característica especial desses programas, a possibilidade de viver “uma liberdade total”.

A autora afirma que, por um lado, é necessário salientar “que programas

foram e estão sendo criados para resgatar a dignidade do idoso, reduzir os problemas da solidão, quebrar os preconceitos e estereótipos que os indivíduos tendem a internalizar”; mas, por outro, são espaços coletivos de negação da velhice (ibid., p. 161-162).

Para Teixeira (2008, p. 259):

[...] esses programas são contraditórios, assim como as imagens da velhice que difundem, principalmente aquelas associadas à velhice produtiva e ativa, pois, se, por um lado, estimulam a auto-estima e a capacidade das pessoas idosas, por outro, criam uma certa responsabilidade e obrigação de os idosos buscar sua sobrevivência e bem-estar, independentemente dos recursos públicos. Por isso, essas iniciativas se constituem em uma estratégia mais eficiente de enfrentamento dos problemas sociais do envelhecimento, pois não apenas legitimam como também criam espaços para a iniciativa privada, difundem uma cultura individualista na busca de atenuação ou solução desses problemas no mercado, na família, na comunidade, nas organizações não governamentais, descaracterizando-os como direitos, amenizam, assim, os conflitos gerados pelo crescimento das demandas em função do crescimento do número de idosos, e a redução das ações estatais nos espaços de reprodução do trabalhador [...].

Ainda segundo a autora (2008, p. 144-145), “a velhice, denominada ‘terceira

idade’ nos países desenvolvidos e importada para a periferia, é impossível de se estender a todos os idosos e de caracterizar o envelhecimento vivido por grande

parte dos trabalhadores velhos”, tendo em vista que vivemos em uma sociedade

“marcada pela concentração de renda, pelas desigualdades sociais e regionais, pela baixa socialização da reprodução social dos trabalhadores executada pelo Estado”.

(36)

Em suma, na sociedade de classes, qualquer tentativa de “ressignificação” de uma ou de outra etapa da vida, será sempre limitada, pois existe a separação entre classes sociais, entre exploradores e explorados.

Assim, conforme assinala Teixeira (2008, p. 142), o envelhecimento do trabalhador pobre está longe da “tão propagada ‘idade do lazer’ ou ‘terceira idade’”. A maioria dos idosos, devido aos baixos rendimentos das aposentadorias, é obrigada a retornar ao mercado de trabalho, submetendo-se ao trabalho precário e informal.

A “problemática social do envelhecimento do trabalhador” (ibid.) será abordada a seguir.

1.3 O Envelhecimento do Trabalhador na Sociedade de Classes

O envelhecimento, no Brasil – assim como em outros países de economia

periférica –, é marcado por profundas desigualdades sociais, determinadas pela

condição de classe que os indivíduos ocupam na sociedade. Segundo Teixeira (2008, p. 30-31):

[...] considerando-se que o homem envelhece sob determinadas condições de vida, fruto do lugar que ocupa nas relações de produção e reprodução social, não se podem universalizar suas características no processo de construção das bases materiais da existência, porque os homens não vivem e não envelhecem como iguais, antes, são distintos nas relações que estabelecem na produção da sua sociabilidade, principalmente na sociabilidade fundada pelo capital, em que desigualdades, pobrezas, e exclusões sociais lhe são imanentes, reproduzidas e ampliadas no envelhecimento do trabalhador. É assim que esse se torna um problema social em decorrência dessas desigualdades sociais engendradas pela estrutura produtiva e social.

Conforme Beauvoir (1970, p. 13-15), a diferenciação na forma pela qual se vivencia a etapa da velhice, está delimitada pelo lugar ocupado na sociedade de

classes pois “um abismo separa o velho escravo e o velho eupátrida, um antigo

operário que recebe uma pensão miserável e um Onassis”; bem como, por questões individuais, como saúde, família, dentre outras.

(37)

geral deve ser recusada, visto constituir uma tentativa no sentido de mascarar este hiato (BEAUVOIR, 1970, p. 15).

Conforme já assinalado, a questão social está atrelada ao modo de organização do Estado no sistema capitalista e suas expressões manifestam a construção histórica de uma sociedade que tem a desigualdade de classes como mecanismo para sua manutenção e reprodução.

O Estado passa a intervir nas relações entre o empresariado e a classe trabalhadora, ao regulamentar a legislação trabalhista, e ao gerir a organização e prestação dos serviços sociais. Institui uma nova forma de enfrentamento das expressões da questão social, que coloca as condições de vida e trabalho dos trabalhadores na agenda da formulação das políticas sociais. No entanto, essa intervenção é utilizada como “base de sustentação” para a manutenção do “poder de classe sobre o conjunto da sociedade” (IAMAMOTO; CARVALHO, 2003, p. 77).

O envelhecimento do trabalhador é impactado pela exploração proveniente do modo de produção capitalista e pelas condições de existência e de subsistência no mercado de trabalho.

Segundo Teixeira (2008, p. 137), a problemática social do envelhecimento do trabalhador é determinada por duas características; a primeira, quando o trabalhador (idoso) não consegue manter-se no mercado de trabalho, ocasionando dependência

dos recursos “da família e da sociedade”, e impossibilidade de acessar à riqueza

socialmente produzida. A segunda característica é determinada pelo aspecto cultural / ideológico, existente na sociedade de mercado, de que, quando uma pessoa não está trabalhando, ela “perde a rentabilidade para o capital”, ocasionando a

desvalorização social da pessoa idosa, na ocasião da aposentadoria – conforme já

apontado.

No modo de produção capitalista, com a diminuição do trabalho vivo9, há um

aumento da “superpopulação relativa”, na lógica da produção, e, ao mesmo tempo em que cresce a riqueza, aumenta a miséria e a pobreza, com implicações para a população idosa, que, em decorrência da necessidade de sobrevivência, submete-se a trabalhos precários e informais, e quando não é possível sua recolocação no

mercado de trabalho ainda que nessas condições sem “sequer” ser “explorado”,

Imagem

Tabela 1: O SUS na Cidade de São Paulo
Tabela 2: Perfil dos Usuários Entrevistados
Tabela 3: Perfil dos Técnicos Entrevistados
Tabela 4: Perfil das UBSs Visitadas
+2

Referências

Documentos relacionados

No entanto, maiores lucros com publicidade e um crescimento no uso da plataforma em smartphones e tablets não serão suficientes para o mercado se a maior rede social do mundo

Autor: Pedro Bandeira O SANDUÍCHE DA MARICOTA Autor: Avelino Guedes A ONÇA E O SACI Autora: Eva Furnari O BOLO DE NATAL Autora: Elza Fiúza ROSAURA DE BICICLETA Autora:

Quando os Cristais são colocados a menos de 20 cm do nosso corpo, com uma intenção real, eles começam a detectar o que está a mais no físico, no emocional, no mental e no

A principal modalidade a ser estudada será a coleta seletiva de material reciclável, e o desenvolvimento das empresas sociais dentro da cadeia de logística reversa

As principais constatações identificam ações e práticas no âmbito da gestão logística e da cadeia do abastecimento que contribuem para o equilíbrio entre os

Nesse sentido, o livro de Mary Del Priori Sobreviventes e guerreiras: Uma breve história da mulher no Brasil de 1500 a 2000 convida seus leitores a refletir sobre a história

Políticas públicas para a articulação de gênero e raça: meios para garantir a representatividade política e jurídica da mulher negra no Brasil Public policies for gender and

• Fabricantes homologados: Deca, Docol, Fabrimar, Domus e IVM • Redução do consumo de água: Não Avaliado.