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Portugal comprometera-se ―a modernizar, e a adaptar de forma bilingue, os sistemas jurídico e judiciário (...) a RPC, comprometia-se a respeitar, o legado de Macau, na estrutura jurídica da Região Administrativa Especial de Macau”86

.

Foi necessário reajustar todo o sistema jurídico, adaptar e modernizar leis vigentes, e construir um edifício jurídico para Macau, que fosse aplicável de forma não muito complexa na nova Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China.

Foram doze anos de transição, em que se construíram as fundações do novo edifício jurídico, que tornaram possível elaborar, aprovar, publicar e pôr em vigor, as leis da Região Administrativa Especial de Macau.

Passemos a descrever, alguns dos vários Códigos criados ad-hoc, que passam a vigorar na região de Macau: ―O Código Civil de Macau, introduz importantes adaptações à realidade local no campo dos Direitos Reais, do Direito da Família e do Direito das Sucessões; O Código Comercial de Macau, que vai compactar toda a legislação dispersa; O Código de Processo Civil de Macau, simples e acessível aos cidadãos; O Código do Procedimento Administrativo de Macau; O Código de Processo Contencioso Administrativo; O Código Penal de Macau; O Código de Processo Penal de Macau”87

. O Regime de Execução de Penas, centrado em preocupações humanitárias. O Regime Educativo e de Protecção Social de Menores, ‖através do qual se procura, de forma articulada, reagir contra situações de desprotecção e de delinquência de menores imputáveis, dando-lhes tratamento separado e autónomo do relativo a imputáveis”88.

Os diversos Códigos de Registos (Civil, Comercial e Predial) e do Notariado, flexíveis ao desenvolvimento do dinamismo da vida empresarial de Macau. Foi uma tarefa gigantesca, a de produzir leis de forma bilingue. A Lei de Bases da Organização Judiciária de Macau, vai alterar o sistema judiciário de Macau.

Além dos tribunais de 1ª instância, ―Macau passou a dispor de uma 2ª instância - Tribunal Superior de Justiça e de um Tribunal de Contas; os juízes e os magistrados do Ministério Público passaram a dispor de estatuto próprio”89.

86 Cf., António Ganhão - Chefe de Gabinete do último Secretário-Adjunto da Justiça do Governo do

Território de Macau – cit, «Portugal e os sistemas jurídico e judiciário de Macau, in» Janus 2004.

87 Cf., António Ganhão, op. cit. 88

Ib. ibidem. 89 Ib. ibidem.

A Lei de organização judiciária de Macau devia, segundo o entendimento da República Popular da China, ser aprovada no Território.

A Lei Básica da futura RAEM, ―previa três graus de jurisdição e três instâncias e uma entidade pública independente para fiscalização das contas, em lugar de um Tribunal de Contas”90

. Era fundamental, ―elaborar um diploma, a aprovar em Macau, que estruturasse o sistema judiciário em condições tais que viabilizassem a sua manutenção inalterada para além de 1999”91

, e Portugal conseguiu-o, pelo menos até 2049.

Ao nível da formação, ―investiu-se na formação dos operadores judiciários locais, criando-se um Curso de Direito na Universidade de Macau, no intuito de formar juristas que dominassem ambas as línguas oficiais. Criou-se um Centro de Formação de Magistrados. E a Associação de Advogados de Macau, com estatuto de associação pública”92

.

Portugal, assegurou ―o estatuto dos funcionários de justiça, de forma a permitir que em 20.12.1999, os respectivos dirigentes fossem quadros locais e intensificaram-se as acções de formação, sobretudo como requisitos de ingresso e acesso na carreira”93

. Modernizou-se ―o acesso ao Direito e à Justiça, através de organismos de aconselhamento jurídico às populações, com postos de atendimento ao público”94. Anteciparam em cerca de 20 anos, as reformas que Portugal efectuou, ao nível de práticas notariais; ‖Consolidou-se legislativamente a existência de conservatórias de registo civil especializadas, de registo predial e de registo comercial, estimulou-se a concorrência entre cartórios notariais públicos e privados; reformulou-se o estatuto dos respectivos funcionários”95.

No campo da ―Investigação Criminal, foi reforçado o recrutamento e a formação para ingresso e acesso nas carreiras locais da Polícia Judiciária, tendo em conta a criminalidade organizada”96

que grassa em Macau.

No sistema Prisional e de Reinserção Social, alteraram-se várias práticas, como a separação por sexo, idade e grau de pena em função do crime cometido:

“Consolidou-se um estabelecimento prisional com valências para reclusos de ambos os sexos, e diferenciado para preventivos e condenados (..) Com três grupos em função do grau de segurança exigido; um estabelecimento de internamento de menores 90 Idem. 91 Idem. 92 Idem. 93 Idem.

94 Cf., Boaventura de Sousa Santos e Conceição Gomes, op. cit. p.311. 95

Cf., António Ganhão, op. cit. 96 Ib., ibidem.

delinquentes; e um organismo destinado a apoiar os condenados a medidas não privativas da liberdade e as medidas pós-institucionais”97.

Ao nível dos arquivos de identificação, procedeu-se a alterações em conformidade com novas necessidades, decorrente da atribuição de novos estatutos às várias populações, que circulavam por terras de Macau.

―Civil e Criminal: tornou-se necessário reformular o sistema de identificação criminal; e foi essencial solucionar os difíceis problemas que se levantavam à emissão do Bilhete de Identidade de Residente em Macau, passaportes, e salvo-condutos‖98.

Era fulcral, manter os laços entre Portugal e a RAEM, nesse sentido, foi celebrado, entre o Governo de Macau e o Ministério da Justiça português, ―um Protocolo de Cooperação no Âmbito Jurídico-Documental‖99, e o ―Acordo sobre a Transferência de Pessoas Condenadas”100

.

Foi aprovado o ―Acordo de Cooperação Jurídica e Judiciária entre a República Portuguesa e a RAEM”101

e o ―Acordo Quadro de Cooperação entre a República Portuguesa e a RAEM”102

, que vem reafirmar a vigência de anteriores Acordos.

Se existe matéria em que Portugal teve um papel preponderante, foi ao nível das instituições jurídicas de Macau; se no campo económico, Portugal não soube aproveitar as oportunidades que saltavam à vista, duas marcas ficam para o futuro; o Aeroporto Internacional de Macau e a estrutura jurídica da RAEM.

Mais tarde, a nova estrutura jurídica da sociedade de Macau, demonstrará que o investimento realizado em prol da justiça das gentes de Macau, deu resultados.

―O relatório louva também o desempenho dos serviços judiciais e das Forças de Segurança de Macau e refere que a protecção das liberdades e dos direitos fundamentais através de tribunais competentes e independentes é a espinha dorsal da sociedade macaense”103.

Apesar do caminho para a verdadeira democracia, não ser uma prioridade nos destinos de Macau, as instituições funcionam e os crimes na sua generalidade são punidos.

97 Idem.

98 Idem.

99 Assinado a 6 de Fevereiro de 1998, que permitia o acesso de Macau às bases de dados de legislação,

jurisprudência e doutrina em Portugal. Vide António Ganhão, op., cit.

100 Assinado a 7 de Dezembro de 1999, veio permitir aos condenados, o cumprimento da pena, na região de

origem, caso fosse manifestamente proveitoso à sua reinserção social. Vide António Ganhão, op., cit.

101 A Resolução nº 19/2002, da Assembleia da República - publicada na I Série - A, a 16.03.2002 - promove

a cooperação penal, civil - acesso à base de dados do poder judicial – a formação e as novas tecnologias.

102 Vide - Resolução da AR nº 17/2003, publicada na I Série - A do DR de 06.03.2003.

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