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É este pequeno rectângulo, paraíso à beira mar plantado, ―ultra periférico na Europa”203

, e cada vez mais desviado do centro do velho continente, fruto dos alargamentos a leste, que saíu de Macau em 1999, com a dignidade de quem sai de cabeça erguida, ―culminando um processo que não começara da melhor forma em 1974”204

. Foram-se os anéis, e os dedos do Império, mas ficou algo, que mais nenhum outro país tem; uma Comunidade com todos os países que falam a mesma língua; a Lusofonia, que através da ―CPLP‖205

, pode ser a porta de entrada para a reabertura dos mercados emergentes e de acesso aos Tigres Asiáticos; e o ―Pequeníssimo Dragão”206 o passaporte de Portugal, para o relançamento, da sua economia no século XXI.

Enquanto Portugal, tentava entrar no clube da Europa, e começava a construção da auto-estrada de betão, ligando o país de norte a sul, ―a República Popular da China, prosseguia com as suas reformas político-económicas, de abertura ao exterior, perspectivando-se como a grande potência da região”207.

Para Portugal, ―o cumprimento da Declaração Conjunta”208

, era um compromisso de honra, dado que tentava a todo o custo, manter e dar continuidade aos princípios, normas e instituições, que constituíam a herança da sua longa presença no oriente.

Do lado da RPC, seria mais um passo na sua afirmação internacional - depois de Hong Kong - receber Macau com todas as reservas impostas por Portugal, demonstrando boa fé, tornando a questão central de Taiwan/Formosa - numa contenda temporal.

O legado de Deng XiaoPing - Um País, Dois Sistemas - iria prevalecer e marcar de forma redutora o regresso da RPC à China de outrora, proporcionando uma viragem sem retorno à escala global, nas relações entre os vários actores da comunidade internacional.

203

Posição defendida por vários autores, quanto à localização de Portugal na Europa e as suas prioridades na Politica Externa. Com os alargamentos da União Europeia a Leste, o centro da Europa desvia-se naquela direcção, tornando países como a Polónia, a Hungria e a República Checa, o centro da UE.

204 A Descolonização Portuguesa, começa com o 25 de Abril em 1974, o que não permitiu acompanhar e

definir o processo da melhor forma. Desta forma, e com a questão de Timor pendente, Macau, merecia toda a dignidade, respeito e admiração por Portugal, na hora de devolver os territórios envolventes.

205 A CPLP- Comunidade de Países de Língua Portuguesa, constituída por: Angola, Brasil, Cabo Verde,

Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe; é criada a 17 de Julho de 1996, juntando- se mais tarde Timor Leste - 2002. Informação disponível em: http://www.cplp a 13/06/2007 - 04:41.

206 Cf., Boaventura de Sousa Santos e Conceição Gomes, op. cit.

207 Cf., Heitor Romana, «A Estratégia de Portugal para Macau, in» Janus 99/00 - Anuário de Relações

Exteriores, co-Edição Observatório de Relações Exteriores da UAL e Jornal Público.

208

Declaração Conjunta dos Governos da República Portuguesa e da República Popular da China, sobre o futuro da região envolvente no território de Macau, em 13 de Abril de 1987.

Convém recordar, que Macau faz parte do triângulo dourado do ―Delta das Pérolas”209

, e que pode servir de ponto de ligação entre a UE e a RPC, através da CPLP. Portugal conseguiu, a autonomia, e consolidou os princípios fundamentais de sustentação de um modelo próprio de desenvolvimento, que culminou, na Região Administrativa Especial de Macau.

Nesta perspectiva, Macau, conseguiu ganhar o melhor de dois mundos; preservar a realidade e a identidade sócio-cultural da Macau Portuguesa, num quadro democrático, sem ter que passar pelos constrangimentos dos países africanos; manter a economia de mercado; e desfrutar do crescimento asiático; apostar na continuidade da estrutura burocrático-administrativa; garantir a autonomia das instituições e do funcionamento da sociedade civil e criar condições, para o reforço da permanência da população de ascendência portuguesa.

Convém lembrar, que a ―RPC (...) Procura consolidar mecanismos de economia de mercado, modernizar o tecido empresarial; uma maior expansão internacional, que a entrada na OMC terá ajudado; estreitar relações com a U.E.; modernizar infra-estruturas de transportes e comunicações, aperfeiçoar recursos humanos; aumentar fluxos turísticos”,210

e “actualizar as suas forças armadas”211.

Mais relevante será a questão energética; pois a manter o ritmo de crescimento actual, e sem recursos naturais abundantes, a RPC, tenta aproximar-se de tudo o que tenha Petróleo, para satisfazer as suas necessidades de consumo; na medida em que a maioria das projecções, aponta a China como a grande economia do século XXI.

Não é de estranhar, a presença em Angola ou no Brasil, de empresários Chineses, em busca de mais recursos naturais; é aqui que Portugal, através da CPLP e do seu passado histórico no oriente, na sua capacidade nata de relacionamento com os outros povos, que pode marcar a diferença e ser o elo de ligação entre as partes, como o demonstraria na cimeira UE/ÁFRICA de Lisboa, em 2007, e no Tratado de Lisboa – ainda por ratificar.

A desconfiança é mútua, entre ocidentais e orientais; uns tentam fazer o seu

209 Cf., Pedro Pinto, «China: o difícil equilíbrio do gigante, in» Janus 97 - Anuário de Relações Exteriores,

co-Edição Observatório de Relações Exteriores da UAL e Jornal Público. ―O Delta do Rio das Pérolas,

concentra 50 milhões de pessoas numa área de 43 mil quilómetros quadrados; Hong Kong, Guangzhou e Macau; Representa ¼ do IDE - Investimento Directo Estrangeiro feito na RPC; é a maior zona de crescimento económico de toda a Ásia. Representa 1/10 do PIB chinês, com rendimentos/Capita superior a Xangai e Pequim, e é responsável por 1/3 das exportações nacionais‖.

210 Cf., Heitor Romana, op. cit.

211 Devido ao Embargo de Venda de Armas, imposto pela Comunidade Internacional à RPC, o seu arsenal

encontra-se obsoleto. Relembrar que o embargo se deve aos acontecimentos de Tiananmen,; a 4 de Junho de 1990, milhares de estudantes manifestavam-se em Pequim contra o regime comunista, quando militares cercaram a Praça de Tiananmen e massacraram dois mil estudantes com tanques e baionetas.

negócio da China; do outro lado, pensam que ―se trata de mais um tratado desigual”212, uma nova forma de imperialismo, sempre que os ocidentais falam em direitos humanos, ou em questões ambientais.

Voltando à questão da língua e da CPLP, podemos referir que ―os primeiros jogos da Lusofonia, se realizaram em Macau”213, no verão de 2006, apenas dez anos depois da formação da comunidade da Lusofonia.

Talvez as feridas das descolonizações Africanas, ainda não estejam saradas, e que Timor, seja a principal preocupação da nossa politica externa, pela sua afirmação internacional. E se Moçambique aderiu à Commonwealth; e Cabo Verde e São Tomé e Príncipe à Francofonia; não será motivo, para descurar estes pequenos grandes países de expressão portuguesa.

Sigamos o exemplo de ―Taiwan/Formosa, que promove e desenvolve sinergias com os estados que a reconheçam como tal”214, investindo em capital e noutras formas de cooperação em que deixa a sua marca sem qualquer tipo de contestação..

É lamentável que ―Em três anos o Fórum Macau tenha feito mais pela língua portuguesa que a CPLP em 10 anos”215

; é a realidade, e Portugal, tem responsabilidades; mesmo atravessando uma grave crise económica, temos a obrigação de projectar a nossa melhor imagem no exterior, e se conseguimos ―patrocinar a construção de um estádio de futebol na Cisjordânia”216

, também o devemos fazer em Cabo Verde, ou na RDSTP. Como país historicamente proeminente, Portugal, tem a obrigação – moral – e o dever, de fazer o que tiver ao seu alcance, para desenvolver as melhores relações com os povos da CPLP, e servir de referência entre os novos países e a comunidade internacional, surgindo como plataforma entre os interesses de África, Ásia, América e a velha Europa.

Pois como se tem verificado nos últimos tempos, a conjuntura económica e

financeira das sociedades ocidentais, terá de procurar novas formas de relacionamento.

212 Cf., Luís Tomé, «Macau e Hong Kong – o regresso dos "tratados desiguais"? , in» Janus 98 - Anuário de

Relações Exteriores, co-Edição Observatório de Relações Exteriores da UAL e Jornal Público.

213

Primeiros Jogos da Lusofonia, decorreram em Macau, de 7 a 15 de Outubro de 2006; Manuel Silvério, presidente da COJOL-Comissão Organizadora dos Jogos da Lusofonia, descreve o sucesso da iniciativa, que contou com a presença dos Países da CPLP, e Guiné-Equatorial, Índía, Sri Lanka e Macau.

214 A presença de Taiwan na República Democrática de São Tomé e Príncipe é marcante; esta reconhece

Taiwan como Estado, mantendo relações diplomáticas, através da Embaixada da República da China Taiwan, na Avenida Marginal 12 de Julho, Caixa Postal 839, São Tomé.

215 Cf., Narana Coissoró, ―Em três anos, o Fórum já fez mais pelos países lusófonos do que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa em dez‖, Seminário ―Cooperação China-África e a plataforma de

Macau‖,Instituto Internacional de Macau, realizado a 25 de Setembro de 2006. Disponível em:

www.hojemacau.com/news.

216 O novo Estádio Internacional de Al-Kahder, nos arredores de Belém, Cisjordânia, cuja construção foi

financiada por Portugal, através do Instituto Português de Cooperação para o Desenvolvimento (IPAD). A construção custou dois milhões de dólares, tem capacidade para 6.000 espectadores, certificado pela FIFA, dispõe de piso sintético e iluminação. Informação disponível, em: www.lusa.pt a 24/04/2007.