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Inc Inc Inc Inc 1 Inc Inc 127 Legenda: S 1 – corrimãos das escadas de acesso ao tanque; S 2 – pavimento junto das escadas de acesso ao tanque; – grelhas de escoamento de água

No documento Livro VDS2016 repositório (páginas 87-91)

4. Discussão

Os resultados das análises microbiológicas na água do tanque (Tabela 1), indicam que todos os parâmetros microbiológicos analisados nas diferentes amostras de água, estão em conformidade com os valores recomendados e valores limite estabelecidos no Decreto- Regulamentar n.º 5/97, de 31 de Março, que preconiza os valores de referência para os parâmetros microbiológicos para piscinas de uso terapêutico.

Em relação às caraterísticas físico-químicas, os resultados dos parâmetros avaliados na água do tanque, mostram que todos os valores de temperatura obtidos encontram-se no intervalo estabelecido pelo Ministério da Saúde no Aviso n.º 9448/2002, de 31 de Julho (30-36ºC) (Tabela 1). Apesar do cumprimento, os valores de temperatura obtidos são favoráveis ao desenvolvimento e/ou multiplicação de microrganismos, podendo ser uma das principais razões para a existência de colónias de microrganismos a 37ºC nas duas amostras de água analisadas (Pedroso, 2009).

Entre os resultados mais relevantes obtidos para o cloro residual livre, destaca-se o valor de 2,75 mg/L de cloro (Tabela 1), que excede os valores estipulados no Decreto-Regulamentar n.º 5/97 para este parâmetro (0,5 mg/L – 2,0 mg/L). Embora não tenhamos conhecimento da razão para a supercoloração da água do tanque, é importante salientar que, para assegurar a proteção da saúde de utilizadores e profissionais nestas condições, a realização de aulas de hidroterapia e/ou outro tipo de atividades de tratamento terapêutico apenas deve ocorrer quando todos os parâmetros forem corrigidos, sobretudo a concentração de cloro residual na água. Isto porque, as substâncias que estão a variar neste tratamento de choque para eliminar os microrganismos (cloro residual livre e pH) podem, eventualmente, ter um grande impacto na proliferação microbiana. O cloro, por exemplo, tem sido apontado como uma das substâncias necessárias à desinfeção da água das piscinas, com uma ação irritante sobre as mucosas, que pode potenciar a virulência de certas bactérias, estando ainda correlacionado com irratações dos olhos e das vias respiratórias superiores (Pedroso 2009).

Em relação aos resultados para o parâmetro pH, constatou-se que o valor obtido na colheita 1 (6,9), encontra-se fora do intervalo limite (7-8) definido no Decreto-Regulamentar n.º 5/97 (Tabela 1). Os restantes valores situam-se fora do intervalo ótimo recomendado, que corresponde aos valores entre 7,4 e 7,6, no entanto, dentro dos valores limite (Tabela 1). À semelhança dos resultados encontrados por Bilajac (2012), também neste estudo se observou que a maioria dos valores de pH determinados durante as colheitas de água ao tanque (Tabela 1), não estavam ajustados às concentrações de cloro residual na água, como estipulado no Decreto-Regulamentar n.º 5/97 (0,5-1,2, para pH de 6,9 a 7,4; e 1,0-2,0, para 7,5>pH≤8) o que pode potenciar outras situações de risco para os utilizadores e profissionais. O estudo de Bilajac (2012), concluiu que o pH afeta diretamente o êxito do processo de desinfeção da água. Nesse estudo, a maioria das amostras de água que não estavam em conformidade com os requisitos microbiológicos, obtiveram valores de cloro residual no intervalo de valores limite, porém, valores de pH superiores aos valores recomendáveis (Bilajac, 2012). Assim, apesar da água do tanque em estudo cumprir os requisitos de qualidade em termos microbiológicos, é fundamental realizar a monitorização contínua dos teores de cloro residual livre e pH, pois o facto de os valores de pH não se encontrarem ajustados aos teores de cloro residual livre, significa que o risco de contaminação e degradação da qualidade da água é elevado (Rebelo et al, 2014).

Da análise das superfícies, verificou-se que as zonas de pavimentos correspondem às superfícies que apresentam maior grau de contaminação microbiana, onde destacamos, o pavimento junto das escadas de acesso ao tanque e as grelhas de escoamento de água em redor do tanque (Tabela 2). Estes resultados podem ser explicados pelo facto de a fonte principal de contaminação das piscinas cobertas serem os próprios utilizadores e profissionais, particularmente nestas zonas de pé-descalço na nave da piscina, uma vez que transportam no corpo (flora comensal) ou vestuário e calçado, vários microrganismos (Pedroso, 2009 & Viegas, 2010). Acresce o facto de as zonas de pavimentos em redor dos tanques de água se encontrarem frequentemente húmidas, potenciando desta forma, a proliferação bacteriana e fúngica (Costa & Viegas, 2010). Inversamente, as superfícies que correspondem aos corrimãos das escadas de acesso ao tanque foram as que apresentaram menor grau de contaminação. Estas superfícies encontravam-se normalmente secas, sendo superfícies de material antioxidante em que este pode ter um efeito inibitório no desenvolvimento microbiano.

De facto, todos os indivíduos saudáveis dispõem de bactérias e fungos no seu organismo, constituintes da sua microflora normal. O problema surge quando, dependendo da quantidade e da espécie/estirpe presentes, estes se tornam oportunistas, e por isso, causadores de

doença (Cogen et al, 2008). As infeções fúngicas superficiais, como o pé de atleta e as onicomicoses, são até ao momento, os problemas mais reportados no âmbito da exposição ocupacional a fungos em superfícies de piscinas (Costa & Viegas, 2010; Hoseinzadeh et al, 2013), que embora não constituam patologias graves, podem provocar infeções bacterianas secundárias, desfiguramento estético, e dificuldades na utilização de sapatos, a andar, e a praticar exercício (Erbagci et al, 2005). Ainda assim, em 1999, Leoni et al, chegaram a identificar nas soleiras dos tanques de piscinas P. aeruginosa, bactéria potencialmente patogénica associada a otite externa, foliculite, dermatite e infeção do trato urinário e respiratório (Leoni et al, 1999).

Deste modo, sendo os resultados representativos da quantidade de microrganismos presentes nos pavimentos da nave da piscina, urge a necessidade de se estabelecerem medidas que permitam diminuir o grau de contaminação destas superfícies, com vista não só à prevenção da transmissão de diversas doenças, mas também porque as superfícies podem constituir uma fonte de contaminação microbiana para a água dos tanques (Pedroso, 2009 & Viegas, 2010 & Bilajac, 2012). Assim, sugere-se a revisão das práticas utilizadas para a higienização das superfícies, nomeadamente, a sua frequência e produtos utilizados, de modo a torná-la mais eficaz (Viegas, 2010). É importante que os próprios utensílios de limpeza sejam higienizados corretamente após a sua utilização diária, sendo ainda essencial a sua secagem completa antes da utilização seguinte, por forma a impedir o desenvolvimento de microrganismos (Correia et al, 2011). De igual modo, é fundamental promover medidas educacionais dirigidas aos utilizadores e funcionários das piscinas, sobre a importância das boas práticas de higiene na utilização destas infraestruturas, como sejam o duche prévio e o uso de chinelos nos balneários e vestiários (Viegas, 2010 & Rebelo et al, 2014).

5. Considerações finais

Os estudos microbiológicos em piscinas cobertas são ainda escassos. No entanto, os resultados do nosso estudo estão em concordância com os encontrados na literatura, que confirmam que as piscinas cobertas apresentam riscos de natureza microbiológica para os utilizadores e profissionais, sobretudo associados, à contaminação das superfícies. Com o aumento do número de utilizadores de piscinas cobertas o incremento do número de postos de trabalho permanente foi grande. No futuro, é importante desenvolver estudos mais detalhados, sobre o estado de higiene das superfícies, com a avaliação da contaminação de superfícies das naves e de outros locais, como balneários e vestiários e/ou de acessórios, (por exemplo, bancos e esparguetes), através da enumeração e identificação das espécies microbianas, de modo a avaliar o risco de patogenecidade para os profissionais das piscinas, que apresentam maior número de horas de exposição à contaminação microbiana. Por outro lado, seria pertinente realizar colheitas microbiológicas periódicas aos trabalhadores, no âmbito da vigilância sanitária, e estudar outras variáveis que podem influenciar a higiene das superfícies, tais como, os procedimentos adotados e os produtos químicos utilizados na limpeza e desinfeção das superfícies, bem como das condições ambientais caraterísticas das piscinas (temperatura e humidade relativa).

6. Referências

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Bilajac L. (2012). Microbiological and chemical indicators of water quality in indoor hotel swimming pools before and after training of swimming pool operators. Journal of Water and Health, p. 108-115.

Direção-Geral da Saúde. (2009). Circular Normativa n.º 14/DA, de 21 de Agosto de 2009. Programa de vigilância sanitária de piscinas. Lisboa.

Cogen AL, Nizet V, Gallo RL. (2008). Skin microbiota: a source of disease or defence. Br J Dermatol, 158(3): 442-455.

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Viegas C. (2010). Exposição a fungos dos trabalhadores dos ginásios com piscina [dissertação]. Lisboa: Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa.

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