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Resultados e Discussão

No documento Livro VDS2016 repositório (páginas 34-39)

Embora o questionário submetido seja composto por um número de situações observadas de maior dimensão, apenas de seguida se explanam algumas para cada dimensão, uma vez que não seria possível a apresentação de todos os resultados, por limitação de espaço de escrita. As questões, em termos de questionário, foram agrupadas de forma a permitir obter dados nas seguintes dimensões: Exigência Psicológica; Controlo da Tarefa; Relação com a Hierarquia; St r ess/Fadiga Mental.

3.1. Análise e Discussão de Resultados

A população alvo deste estudo situa-se em 613 indivíduos, conforme descrito na tabela seguinte. Para esta população, e com uma margem de erro de 5%, uma percentagem estimada de 50% e um nível de confiança de 95%, a amostra teria de ser de 236. Para uma amostra igual a 130, a margem de erro é de 8%, a percentagem estimada igualmente de 50% e o nível de confiança de 95%. Das 130 respostas obtidas, 123 são elementos do sexo masculino e 7 são do sexo feminino.

Tabela 1 - População em Estudo

Unidade MMA MARME MELIAV Total

BA1 36 5 12 53 BA4 8 7 4 19 BA5 129 27 56 212 BA6 116 17 54 187 BA11 81 30 31 142 Total 370 86 157 613

3.2. Ritmo e Carga de Trabalho

Pode-se distinguir entre carga de trabalho quantitativa e qualitativa, sendo a quantitativa referente à quantidade de trabalho que cada colaborador desenvolve e decorre do facto de ter de realizar diversas tarefas ou não ter tempo suficiente para realizar determinado trabalho, e a qualitativa, além de ser demonstrativa do empenho e dedicação que o colaborador põe na execução desse trabalho, para obtenção do bom resultado final. As figuras seguintes (Figura 01 e 02) apresentam as respostas dadas, de acordo com a escala referida anteriormente, respectivamente referentes ao ritmo e à carga de trabalho.

Figura 01 – Ritmo de Trabalho Figura 02 – Carga de Trabalho

3.3. Horários de Trabalho

O trabalho por turnos é um aspecto a ser considerado para a avaliação do risco de factores psicossociais em virtude da alteração da rotina diária dos colaboradores. O turno da noite está relacionado com maiores efeitos negativos para o colaborador que o diurno, mas também o turno rotativo revela ser ainda mais negativo, uma vez que dificulta a habituação ao sono e horas de alimentação, pelo que, por vezes o colaborador se sente alterado no fórum psicológico. No conjunto dos inquiridos, verifica-se que a maior parte trabalha num sistema de turno fixo (Figura 03).

Figura 03 – Horários de Trabalho

3.4. Tempo de Trabalho em Manutenção de Aeronaves

Constata-se que 56,9% dos indivíduos já executam tarefas de manutenção em aeronaves há mais de 15 anos e só 15,4% indicam menos de 5 anos em acções de manutenção (Figura 04).

Figura 04 – Tempo de Trabalho em Aeronaves 3.5. Questões relacionadas com a Exigência Psicológica

Pela análise dos gráficos indicados nas figuras 05 e 06, verifica-se que os trabalhadores se sentem pressionados na realização das tarefas de manutenção desenvolvidas ao longo da jornada de trabalho. Pode-se verificar que os mecânicos consideram que trabalham em ritmo de trabalho acelerado e com muita carga horária.

Figura 05 – Ritmo de Trabalho na execução das tarefas Figura 06 – Cadência do Trabalho

Na realização dos diversos trabalhos/tarefas, os mecânicos consideram que existem atrasos frequentes em virtude de aguardarem por outros serviços ou pessoas para a realização dos trabalhos (Figura 07), muito embora apareça uma percentagem relevante de quem considere que não. Pela análise do gráfico da Figura 08, constata-se que os mecânicos não sentem incompatibilidade nos trabalhos ou tarefas que lhes são mandadas fazer pelos seus superiores/supervisores.

Figura 07 – Atraso devido a outras pessoas ou serviços Figura 08 – Incompatibilidade dos trabalhos

Verifica-se que é relatado por diversos mecânicos que a realização das suas tarefas diárias é feita sobre uma enorme exigência psicológica, que requer de cada um deles um grau elevado de concentração, para que as mesmas sejam desenvolvidas da melhor forma e os objectivos sejam alcançados.

3.6. Questões relacionadas com o Controlo da Tarefa

Da análise das respostas dos questionários, verifica-se que os mecânicos se sentem seguros das suas decisões na realização das tarefas (Figura 09), considerando que a execução dos diversos trabalhos requer um alto nível de capacidade técnica, indicando que são levados a aprender coisas novas para uma boa execução dessas mesmas tarefas ou trabalhos de manutenção, sendo, para isso, necessário muita formação/informação dada pelos superiores e ou supervisores. Sobre a tomada de decisão sobre como realizar as diversas tarefas (Figura 10), os inquiridos sentem-se confortáveis para decidir sobre elas, cumprindo em conformidade com o estipulado nas cartas de trabalho ou Ordens Técnicas.

Figura 09 – Segurança na realização das tarefas Figura 10 – Capacidade de decisão no Trabalho

3.7. Questões relacionadas com a Hierarquia

Nesta dimensão do estudo, consta-se que os mecânicos se encontram de acordo com o preconizado numa boa equipa de trabalho, em que existem boas relações laborais entre chefes/supervisores e executantes, sendo também que se sentem apoiados na realização das tarefas pelos seus supervisores e que a sua opinião, quando dada ou solicitada, é bem aceite. Pelos gráficos expostos nas figuras 11 e 12, pode-se observar que os mecânicos se sentem informados pelos seus superiores ou supervisores sobre os objectivos a alcançar e que têm o apoio necessário para a realização dos trabalhos.

Figura 11 – Informação sobre os objectivos Figura 12 – Apoio dos superiores para realização das tarefas

3.8. Questões relacionadas com o Stress/Fadiga Mental

Tendo em conta as respostas dadas pelos trabalhadores e constantes dos gráficos das figuras seguintes (Figuras 13 14), considera-se que os mecânicos sentem e encontram episódios de stress neles ou em algum colega no seu local de trabalho. Verifica-se que é comum a existência de trabalho para além do inicialmente previsto.

Figura 13 – Presença de st r ess no local de trabalho Figura 14 – Trabalho extra frequentemente

4. Conclusões

As propostas e sugestões de melhoria organizacional, ao nível destes sectores, pressupõem uma abordagem proactiva, no sentido de se fazer uma reflexão sobre os resultados demonstrados pelo retorno das respostas dos militares, face às várias questões de natureza funcional/organizacional e psicossocial. Ou seja, sugere-se ter-se em linha de conta não só os aspectos que a Organização disponibiliza para os militares, mas também certos produtos que são utilizados e que podem, de alguma forma, ser prejudiciais à saúde dos militares, adequando a utilização de equipamentos de protecção colectiva e/ou individual, podendo, inclusive, questionar-se a sua pertinência em determinadas situações.

Por último, e tão importante quanto as questões supra mencionadas, importa referir as questões de índole psicossocial, nomeadamente a questão sobre o equilíbrio trabalho/família, tendo sido esta uma das questões a que a maioria dos militares visados no estudo deu importância, bem como a repetitividade e monotonia da tarefa, a delegação e autonomia, a capacidade de decisão, as opiniões tidas em conta pela hierarquia e a participação na melhoria das tarefas.

Pese embora a condição e estatuto militar tenham as suas próprias regras e o modus operandis difira, em certa medida, do da sociedade civil, não se pode deixar de considerar que os militares são igualmente pessoas com família e com as mesmas necessidades e preocupações que a sociedade civil com quem interagem. Logo, e por inerência desse facto, estão sujeitos, directa ou indirectamente, a um conjunto de factores de natureza psicossocial que poderá interferir no seu dia-a-dia e no seu desempenho profissional, através de alterações pontuais ao nível do comportamento, da atenção e da disponibilidade. Existem questões do foro pessoal, familiar, social que nada têm a ver com a vida militar, mas que podem fazer com que o militar entre ao serviço já com essas alterações momentâneas ao nível comportamental. Conclui-se deste modo que, quer com base nos vários autores e estudos desenvolvidos, a nível científico e empírico, quer através deste estudo agora desenvolvido, pode ser estabelecido um certo grau de nexo de causalidade entre as LMERT e os factores de risco psicossocial, uma vez que a fraca autonomia e delegação nas tarefas, a monotonia, o stress e a fadiga mental, por parte dos factores de risco psicossocial, podem interferir com o desempenho dos militares, uma vez que são factores de risco suficientes para serem desenvolvidas lesões em função do estado mental/físico do militar. O desgaste físico e mental promovido pela exigência do cumprimento de prazos, o desgaste mental ao nível do stress e também a monotonia e fraca autonomia na delegação de tarefas podem provocar alguma falta de motivação, desatenção e a ocorrência de desvios, quer no trabalho, quer no correcto desempenho físico da tarefa. São vários os exemplos que se pode elencar como forma de dar força à interligação dos factores psicossociais, igualmente como causa ou potencial causa de LMERT. Deste modo será de todo aconselhável para a prevenção de ocorrência de LMERT, contar com a avaliação de riscos psicossociais, bem como físicos, ergonómicos e ambientais, numa lógica de avaliação integrada de riscos. Para que todo este processo resulte, estes estudos devem ser continuados e desenvolvidos para outros sectores e, eventualmente, outras organizações similares, nesta temática, de forma a tornar real e do conhecimento de todos de que somente com a participação generalizada e com o apoio e envolvimento de toda a hierarquia, será possível. Convém assim referir que o nexo de causalidade entre os FP e as LMERT, prende-se, segundo o estudo realizado em duas fases, com o facto de quer o stress, quer a ansiedade de estarem longe da família e a sua consequente dificuldade de equilibrar a vida militar com a familiar, com eventuais noites mal dormidas, músculos mais tensos e posturas mais bruscas durante a execução das tarefas, consubstanciado com alguma fadiga mental, e necessidade de cumprir prazos, o que por si só, são factores que podem potenciar o desenvolvimento de LMERT com maior facilidade.

Adicionalmente existem outros factores de risco que influenciam a carga de trabalho mas que variam de indivíduo para indivíduo, como as posturas de trabalho adoptadas, o uso incorrecto de forças estáticas, a velocidade e a precisão de movimentos, a frequência e a duração das pausas. Por último, existem factores que alteram a resposta individual para uma carga particular: factores individuais, como a idade e o sexo, factores ambientais e variáveis psicossociais, assim como o processo cognitivo quer ao nível das características do próprio indivíduo (endógeno), quer aprendido e apreendido via conhecimento e experiência pelo mesmo (exógeno), determinando deste modo diferentes tipos de resposta face a situações de eustresse (adrenalina) e de distresse (descompensação). Assim, e perante todas estas variáveis, se acrescentarmos stressores organizacionais, sociais, familiares e pessoais consegue-se reduzir alguma subjectividade da análise e aferir com alguma objectividade que este conjunto de variáveis (factores psicossociais) tem um forte potencial de interferir directa ou indirectamente com o indivíduo, seja de forma imediata, seja de forma cumulativa, derivando grosso modo num cenário propício para o surgimento de LMERT, via distracção/desatenção, fadiga mental e/ou física, desgaste, apatia, sonolência, entre outras. A associação entre os factores psicossociais e as lesões músculo-esqueléticas, não estão ainda totalmente estudadas. Mas existem evidências em alguns estudos em que trabalhadores submetidos a grandes níveis de exigência física e psicológica e com algum poder de decisão, como os que se encontram neste estudo (fig10), poderão desenvolver a longo prazo, alterações nos tecidos músculo-esqueléticos, considerando-se também que estes indivíduos

com o poder de decisão podem contribuir para o aumento de st r ess e subsequente risco de desenvolvimento de depressão, que poderia inibir a dor ou desconforto de uma lesão músculo- esquelética.

Dado que este trabalho é suportado por três questionários distintos, mas vertidos sobre a mesma matéria, pode-se aferir uma grande ou quase total concordância entre as respostas e valores obtidos. De realçar que muitos dos questionários feitos de forma presencial poderão ter sido respondidos por militares que não tenham respondido ao inquérito online.

Este estudo deverá ter continuidade, na medida em que podem ser retiradas outras conclusões mais detalhadas, de uma amostra de maior dimensão, considerando variáveis como a zona do País e os tempos de pausa entre tarefas.

5. Agradecimentos

A S. Exª o Sr. General Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, por ter autorizado a realização deste estudo na FAP.

6. Referências

Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (2010). Perturbações músculo-esqueléticas.

Carrolo, A. (2011). Lesões Músculo-esqueléticas Ligadas ao Trabalho (LMELT) nos Cantoneiros de Limpeza/Recolha de Resíduos Urbanos, Mestrado em Segurança e Higiene no Trabalho, Lisboa.

Ferrie J.E., Shipley M.J., Stansfeld S.A., Marmot M.G. (2008). Effects of chronic job insecurity and change in job security on self reported health, minor psychiatric morbidity, physiological measures, and health related behaviours in British civil servants: the Whitehall II study. Journal of Epidemiology and Community Health. Pp 450–454.

Rio, R. P; Pires,L. (2011). Ergonomia, Fundamentos da Prática Ergonómica. Moraes, P. W. T., Bastos, A. V. B., As LER/DORT e os fatores psicossociais.

European Agency of Safety and Health at Work. (5 de Setembro de 2007). Factsheet 74 - Previsão dos peritos sobre os riscos psicossociais emergentes relacionados com a segurança e saúde no trabalho (SST). Consultado a 22set16. Disponível em: https://osha.europa.eu/en/publications/factsheets/74/view.

Pinto, J.; Corticeiro Neves, M. (2015). Lesões Músculo-esqueléticas (LMERT) Relacionadas com o Trabalho de Manutenção de Aeronaves.

Riscos Psicossociais na Manutenção da Esquadra 502 – Caso de Estudo

No documento Livro VDS2016 repositório (páginas 34-39)