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CAPÍTULO 2 – SUINOCULTURA E CONTEXTO AMBIENTAL EM SANTA

2.2. SUINOCULTURA – QUADRO GERAL

2.2.3 Santa Catarina – Sul de Santa Catarina

2.2.3.2 Legislação ambiental e suinocultura

As exigências legais que têm relação com a suinocultura dizem respeito à localização das construções, aos padrões de emissão de efluentes e à disposição de dejetos.

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Coopercentral – agroindústria que aglutina as cooperativas do Oeste do Estado. EMBRAPA/CNPSA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária / Centro Nacional de Pesquisa de Suínos e Aves, localizado em Concórdia, SC.

- Localização

O Código Florestal (Lei 4.771, de 15/09/1965) posteriormente alterado pelas Leis 7.511 de 07/07/1986 e 7.803 de 18/07/1989, estabelece a manutenção de faixas de vegetação marginal junto aos corpos d’água, consideradas áreas de preservação permanente (o que impede, portanto, qualquer uso):

“Art. 2º - Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas:

a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima seja:

1 - de 30 m (trinta metros) para os cursos d’água de menos de 10 m (dez metros) de largura;

2 - de 50 m (cinqüenta metros) para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 m (cinqüenta metros) de largura;

3 - de 100 m (cem metros) para os cursos d’água que tenham de 50 (cinqüenta) a 200 m (duzentos metros) de largura;

4 - de 200 m (duzentos metros) para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600 m (seiscentos metros) de largura;

5 - de 500 m (quinhentos metros) para os cursos d’água que tenham largura superior a 600 m (seiscentos metros).

*Redação determinada pela Lei nº 7.803/89

b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água naturais ou artificiais;

c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados "olhos d’água", qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 m (cinqüenta metros) de largura;

*Redação determinada pela Lei nº 7.803/89.”73

A Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA n. 04 de 18/09/1985 determina que são Reservas Ecológicas as florestas e demais formas de vegetação situadas ao redor de lagoas, lagos ou reservatórios naturais ou artificiais, desde o seu nível mais alto medido horizontalmente, em faixa marginal cuja largura mínima será: de 30 m para os que estejam situados em áreas urbanas; de 100 m para os que estejam em áreas rurais, exceto os corpos d’água com até 20 hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 m; de 100 m para as represas hidrelétricas; nas nascentes, permanentes ou temporárias, incluindo os olhos d’água, deve ser mantida uma faixa mínima de 50 m. (Artigo 3º).

Em nível estadual, são estabelecidas outras limitações legais, que atingem a localização possível das granjas.

O Decreto n. 14.250, de 06/06/1981, que “regulamenta dispositivos da Lei nº 5.793, de 15 de outubro de 1980, referentes à Proteção e a Melhoria da Qualidade Ambiental”, especifica:

“Art. 9º - As construções de unidades industriais, de estruturas ou de depósitos de armazenagem de substâncias capazes de causar riscos aos recursos hídricos, deverão ser dotados de dispositivos dentro das normas de segurança e prevenção de acidentes, e localizadas a uma distância mínima de 200 (duzentos) metros dos corpos d’água.

I I I

I Parágrafo 1º - Verificada a impossibilidade técnica de ser mantida a distância de que trata este artigo ou de serem construídos dispositivos de prevenção de acidentes, a execução do projeto poderá ser autorizada desde que oferecidas outras medidas de segurança.

(...) F F F

F O artigo 9, parágrafos 1º, 2º e 3º com a nova redação dada pelo Decreto nº 3.610/89.”74

Já o Código Sanitário da Secretaria Estadual de Saúde (Lei nº 6.320 de 20/12/83, regulamentada pelo Decreto nº 24.980 de 14/03/1985, alterado pelo Decreto nº 4.085 de 21/02/02) dispõe sobre habitação rural e urbana. No Decreto nº 4.085, especifica:

“Art. 1º - O Art. 55, caput, do Decreto nº 24.980/85, passa a vigorar com a seguinte redação:

‘Art. 55 – O produtor não poderá manter depósito de lixo ou estrume a uma distância menor que 20 metros de qualquer habitação rural.’

Art. 2º - Ficam alterados os incisos I e II, do art. 56 do Decreto 24.980/85, que passam a vigorar com a seguinte redação:

‘Art. 56 - ...

I – distanciamento de 20 metros da área de criação e unidades de armazenamento e/ou tratamento de dejetos, das divisas dos terrenos vizinhos.

II – com relação ao distanciamento das áreas de criação e unidades de armazenamento e/ou tratamento de dejetos até as estradas, será:

a) rodovias federais e estaduais: 15 metros (área não edificante) além do limite de faixa de domínio;

b) rodovias municipais: 10 metros (área não edificante) além do limite da faixa de domínio;

c) para os municípios que não tem definida através de legislação a faixa de domínio das rodovias municipais, a distância será de 15 metros.’”75

O que se observa na realidade, no que se refere à localização das granjas e sistemas de armazenamento e tratamento de dejetos de suínos, é que raramente as construções obedecem à legislação: a situação mais freqüente no Estado é granja-sistema próximo ao rio, em distância inferior à determinada pelas Leis nº 7.511/86 e 7.803/89 que alteram o Código Florestal.

- Efluentes

O Decreto nº 14.250, de 5 de junho de 1981, “regulamenta dispositivos da Lei nº 5.793, de 15 de outubro de 1980, referentes à Proteção e a Melhoria da Qualidade Ambiental”. Esse decreto define, entre outros, a classificação e utilização dos corpos d’água, os padrões de classificação e os padrões de emissão de efluentes líquidos. Quanto aos padrões de emissão de efluentes:

“Art. 19 - Os efluentes somente poderão ser lançados, direta ou indiretamente, nos corpos de água interiores, lagunas, estuários e a beira-mar desde que obedeçam as seguintes condições:

F F F

F O artigo 19 com a nova redação dada pelo Decreto nº 19.380/83. ...

XI - no caso de lançamento em cursos de água, os cálculos de diluição deverão ser feitos para o caso de vazão máxima dos efluentes e vazão mínima dos cursos de água;

...

XIV - DBO 5 dias, 20º (vinte Graus Celsius) no máximo de 60 mg/l (sessenta miligramas por litro). Este limite somente poderá ser ultrapassado no caso de efluente de sistema de tratamento de águas residuárias que reduza a carga poluidora em termos de DBO 5 dias, 20ºC do despejo em no mínimo 80% (oitenta por cento); e

XV - os efluentes líquidos, além de obedecerem aos padrões gerais anteriores, não deverão conferir ao corpo receptor características em desacordo com os critérios e padrões de qualidade de água, adequados aos diversos usos benéficos previstos para o corpo de água.”76

75 Extraído de <http://www.fatma.sc.gov.br/download/legislacao/tema3/dec4085.doc>, em 20/01/2004.

O inciso XIV tem especial importância porque a carga orgânica é um dos principais poluentes advindos da suinocultura. Segundo FEDERAÇÃO... (1999),

A legislação estadual é muito bem elaborada no que se refere à eficiência de tratamento de despejos líquidos. Ela estabelece que, além da redução de 80% da carga poluidora, ou lançamento de 60 mg/L de carga orgânica, expressa em DBO, o despejo não pode conferir ao corpo de água receptor padrões em desacordo com os padrões de qualidade de água, assegurando sempre a autodepuração.

- Resíduos sólidos

O Decreto n. 14.250/81 estabelece, ainda:

“Art. 21 – o solo somente poderá ser utilizado para destino final de resíduos de qualquer natureza, desde que sua disposição seja feita de forma adequada ... ficando vedada a simples descarga ou depósito, seja em propriedade pública ou particular.”

Em razão desse artigo, a incorporação dos dejetos de animais no solo é exigida pela FATMA, não podendo ficar expostos devido aos riscos de proliferação de insetos, emanação de odores e escorrimento superficial (FEDERAÇÃO, 1999).

- Licenciamento ambiental

O Artigo 69 do Decreto nº 14.250/81 diz: “a instalação, a expansão e a operação de equipamentos ou atividades industriais, comerciais e de prestação de serviços, dependem de prévia autorização e inscrição em registro cadastral, desde que inseridas na listagem das atividades consideradas potencialmente causadoras de degradação ambiental.”

No Estado, a FATMA – Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina, é o órgão responsável pela emissão de licenciamentos ambientais para as atividades consideradas potencialmente causadoras de degradação ambiental, entre elas a suinocultura em sistema confinado, conforme determina a Portaria Intersetorial nº 01/2002 que “altera a Portaria Intersetorial nº 01/92 e dá outras providências”. Nesta Portaria de 2002 são alterados os itens que atingem diretamente a suinocultura, e passam a vigorar com a seguinte redação (onde NC é o número de cabeças, e NM, número de matrizes):77

“01.54.00 – Criação de animais confinados de médio porte (terminação)

77 Extraído de <http://www.fatma.sc.gov.br/download/legislacao/tema3/PORTARIA_INT_01_2002.doc>, em

Pot. Poluidor/Degradador: Ar: P Água: G Solo: P Geral: G Porte: 500 <= NC <= 900: pequeno

900 < NC <= 2000: médio NC > 2000: grande

01.54.02 – Granja de suínos de ciclo completo

Pot. Poluidor/Degradador: Ar: P Água: G Solo: P Geral: G Porte: 60 <= NM <= 100: pequeno

100 < NM <= 230: médio NM > 230: grande”

Em 1994, no Programa BNDES, era exigida licença ambiental para liberação do financiamento, o que provocou um grande salto na procura e no número de licenciamentos emitidos pela FATMA. Note-se que em junho daquele ano foi assinado o Decreto nº 4.602, visando atender os beneficiários do Programa, simplificando procedimentos e barateando os custos de licenciamento ambiental.

Segundo FEDERAÇÃO... (1999), nos anos anteriores, a convocação ao licenciamento era feita aos maiores produtores e em atendimento às reclamações em caso de lançamento de dejetos nos cursos d’água.

Em 1997, nova fonte de recursos via PRONAF passou a induzir inúmeros processos à regularização ambiental.

Até fevereiro de 1999, segundo o Banco de Dados da FATMA, já haviam sido protocolados 6.719 processos (desses, 88% já estavam licenciados). Estima-se que até aquela data, os processos atingiam 41% do rebanho catarinense de suínos (FEDERAÇÃO..., 1999).

Apesar do apoio de indústrias integradoras, de Prefeituras e da EPAGRI ser apontado como fator importante no que se refere ao licenciamento ambiental da suinocultura, GUIVANT (1998, p. 106) afirma:

a legislação ambiental acaba não sendo aplicada pela FATMA, que atribui isto à falta de pessoal técnico que realize o controle do que acontece no meio rural nos focos difusos de poluição. (...) Suinocultores reincidentes em eventos de poluição dos rios só acabam sendo multados como último recurso. Ainda que se contasse com pessoal capacitado para tal efeito, devem ser acrescentadas as dificuldades técnicas para realizar tal monitoramento, pois nem sempre é possível identificar as fontes da poluição. Este conjunto de problemas contribui para que os assuntos relativos à estocagem e distribuição dos dejetos animais acabem atrelados ao voluntarismo dos produtores, que não encontram interferências para o que acontece dentro de suas propriedades, pelo menos nesta questão.

FEDERAÇÃO (1999, p. 52) chama a atenção para o fato de que, em relação à suinocultura:

... falou-se apenas no controle da poluição das águas. É necessário ampliar o conceito para o controle da contaminação ou saturação do solo, proliferação de vetores e geração de odores, fatores estes que, embora vistos no conjunto, não receberam um enfoque especial, face à gravidade da poluição das águas”...