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CAPÍTULO 3 – O GEOSSISTEMA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CORUJA-

3.8 OUTRAS FONTES POLUENTES

Além da atividade suinícola, outras atividades, ligadas ou não à pecuária ou à agricultura, atuam na manutenção das “estruturas poluentes” na bacia do rio Coruja-Bonito. Iniciemos pelo rebanho de gado leiteiro.

3.8.1 Gado bovino

Segundo BRASIL e HADLICH (2002), no meio rural da bacia havia 2647 cabeças de gado bovino, sendo 566 de corte, 1745 de leite e 336 misto. Ao contrário da condição apresentada na suinocultura, grande parte dos produtores de leite são integrados à agroindústria de processamento de leite: 54 dos 70 produtores, representando 77%. A integração e/ou a comercialização são realizadas com empresas localizadas em municípios próximos, como Darolt, Laticínios Becker, Della Vita, Doces Áurea e Laticínios Exterckoetter.

Quanto ao gado leiteiro, estimava-se em 1997 que havia, no município, 230 produtores, com um rebanho estimado de 4.600 cabeças. Os sistemas de produção adotados são o semi-extensivo e intensivo (BRAÇO DO NORTE, 1997). Os dejetos, apesar de potencialmente menos poluentes que os dejetos da produção de suínos, representam igualmente um problema ambiental se não tratados, armazenados e destinados adequadamente.

Os dejetos de bovinos, criados predominantemente em sistema semi-extensivo (o gado fica recolhido em instalações durante uma parte do dia, durante a ordenha ou durante a noite), são recolhidos das instalações e ficam amontoados, sendo, em grande parte dos casos, posteriormente utilizados na lavoura como adubo orgânico. De qualquer forma, a amontoa ocorre a céu aberto, e, segundo relatos da comunidade local na reunião realizada em 20 de outubro de 2001 na comunidade do Pinheiral, o esterco amontoado em propriedades com bovinos é, também, fator de poluição dos rios, pois o material escorre, junto com a água da chuva, até os cursos d’água superficiais.

3.8.2 Agrotóxicos

Diferente do tipo de poluição gerada pelas demais fontes poluentes citadas nessa tese, uso de agrotóxicos é fonte poluente química, e não predominantemente orgânica.

A poluição hídrica por agrotóxicos não foi objeto de verificação dessa tese, mas deve ser citada devido à sua importância: esses tóxicos são utilizados em 60% das propriedades no

meio rural (o que soma 112 das 187 propriedades visitadas no levantamento), sendo aplicados nas pastagens ou nas lavouras. Em 72% das propriedades que usam agrotóxicos, são aplicados mais de um produto, e vários deles pertencem às classes toxicológicas I ou II, ou seja, são produtos com elevada toxicidade (BRASIL e HADLICH, 2002).

A poluição hídrica pode ocorrer não somente devido ao escorrimento dos produtos com água da chuva até a rede de drenagem, mas, sobretudo, no momento da preparação da calda. Praticamente em metade das propriedades que usam agrotóxicos, o abastecimento é feito em um tanque perto da residência, onde também são lavados os equipamentos. A água desses tanques normalmente corre diretamente para o rio mais próximo. Rios ou fontes também são utilizadas, diretamente, provocando contato do tóxico com as águas.

3.8.3 Águas usadas e dejetos residenciais

Cerca de 2/3 dos entrevistados afirmaram que as águas usadas nas residências (águas de pias, tanques, chuveiros) correm a céu aberto ou por canalização em direção a rios ou açudes, alcançando, pois, os corpos d’água superficiais (BRASIL e HADLICH, 2002).

Quanto ao destino dos dejetos humanos no meio rural, a maior parte dos entrevistados declarou possuir banheiro com fossa ou com fossa e sumidouro, mas ainda há casos de privadas sem nenhum sistema de tratamento ou banheiros sem fossa, o que consiste em fonte de poluição hídrica por material orgânico no meio rural.

Esse problema é bem maior no meio urbano. O município de Braço do Norte não possui rede de coleta de esgoto sanitário, e, a exemplo de muitos outros municípios na Bacia Hidrográfica do rio Tubarão, casas são construídas com ligação irregular do esgotamento sanitário na rede de coleta pluvial, acabando por atingir o rio. Em alguns casos, a ocupação desordenada ocorreu em áreas declivosas, onde nem há sistema de coleta de água pluvial, e, em alguns locais, o esgotamento sanitário é feito por canalizações diretamente em direção ao rio ou corre a céu aberto.

Segundo SANTA CATARINA, UNISUL (1998, vol. 3), há, aproximadamente, 3.500 ligações domésticas na rede pluvial. Técnicos da Prefeitura afirmam que há exigência, para fins de ‘habite-se’, da construção de fossas e sumidouros. Entretanto, é perceptível, nas áreas de escoamento de esgotos, coloração e odor característico que atestam a existência de ligações clandestinas.

FIGURA 34: Saída de um cano que despeja no rio águas usadas de uma residência próxima, na área urbana do município.

O professor Ismael Bortoluzzi, pesquisador da Unisul, chama a atenção para o fato de que a identificação desse tipo de poluição está muito relacionado ao horário de coleta de água para análise. Segundo comunicação pessoal, os maiores índices de coliformes totais, em áreas urbanizadas, normalmente são obtidos quando a amostra é coletada pela manhã ou no final da tarde, quando as pessoas se levantam ou chegam em casa. Essa periodicidade não foi avaliada nessa tese, no entanto fica registrada como possibilidade de variação de parâmetros normalmente analisados em trabalhos ambientais que tratam de poluição hídrica por material orgânico.

Enfim, as diferentes fontes poluentes confirmam que não somente as grandes concentrações urbanas ou atividades agropecuárias em sistema intensivo são “responsáveis” pela poluição hídrica local, mas que pequenos sítios urbanos, como o centro da comunidade de Pinheiral, ou residências e outras atividades agropecuárias dispersas espacialmente também representam focos poluidores, podendo vir a comprometer os corpos d’água quando esses possuem pequeno porte.

CAPÍTULO 4 – ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DO