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LEGISLAÇÃO BRASILEIRA APLICÁVEL AOS CONTRATOS

No documento Aspectos jurídicos dos contratos eletrônicos (páginas 104-107)

4. O CONTRATO ELETRÔNICO

4.7 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA APLICÁVEL AOS CONTRATOS

O mercado financeiro e de capitais esteve entre os primeiros a fazer uso habitual dos meios eletrônicos de transmissão de dados, a fim de possibilitar a celebração de contratos.

No âmbito legislativo, a Lei de Sociedades Anônimas pode ser considerada pioneira ao introduzir o meio eletrônico no ordenamento jurídico brasileiro, regulamentando a possibilidade de substituição dos livros sociais por registros eletrônicos267 e ao disciplinar as ações escriturais268, para as quais não há a emissão de certificado, mas a manutenção em conta, em nome do titular, em instituição financeira autorizada pela Comissão de Valores Mobiliários. Na prática, tais ações estão documentadas apenas nos registros eletrônicos das instituições financeiras custodiantes.

Após a Lei de Sociedades Anônimas, outras legislações fizeram menção ao meio eletrônico, direta ou indiretamente. Entre elas, podemos destacar a Lei 8934, de 18 de novembro de 1994, que dispôs sobre o registro público de empresas mercantis e atividades afins269, a Lei 8935, da mesma data, que dispôs sobre os serviços notariais e de registro270, e a Lei 9099, de 26 de setembro de 1995, que disciplinou os Juizados Especiais Cíveis e Criminais271.

Dois projetos de lei acerca do tema estavam em tramitação no Congresso Nacional, quais sejam, o de n.º 1589, de 1999, e o de n.º 4906, de 2001. O primeiro projeto foi apensado ao segundo que, por sua vez, encontra-se arquivado.

267Lei 6404, art. 100, parágrafo 2º: “Nas companhias abertas, os livros referidos nos incisos I e II do caput

deste artigo poderão ser substituídos observadas as normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários, por registros mecanizados ou eletrônicos.”

268 Lei 6404, art. 34: “ O estatuto da companhia pode autorizar ou estabelecer que todas as ações da

companhia, ou uma ou mais classes delas, sejam mantidas em contas de depósito,em nome de seus titulares, na instituição que designar, sem emissão de certificados.”

269 Lei 8934, art. 57: “Os atos de empresa, após microfilmados ou preservada a sua imagem por meios

tecnológicos mais avançados, poderão ser devolvidos pelas Juntas Comerciais, conforme dispuser o Regulamento.”

270 Lei 8935, art. 41: “Incumbe aos notários e aos oficiais de registro praticar, independentemente de

autorização, todos os atos previstos em lei necessários à organização e execução dos serviços, podendo, ainda, adotar sistemas de computação, microfilmagem, disco ótico e outros meios de reprodução.”

271Lei 9099, art. 13, parágrafo 3º: “Apenas os atos considerados essenciais serão registrados resumidamente,

em notas manuscritas, datilografadas, taquigrafadas ou estenotipadas. Os demais atos poderão ser gravados em fita magnética ou equivalente, que será inutilizada após o trânsito em julgado da decisão.”

O único normativo existente que de alguma forma tangencia os contratos eletrônicos é a Medida Provisória 2.200-2, sobre a qual falamos outrora ,que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira – ICP Brasil, com o propósito de garantir a autenticidade, a integridade e a validade jurídica de documentos em forma eletrônica. Tal Medida Provisória, todavia, carece de maiores detalhamentos sobre os contratos eletrônicos propriamente ditos, focando-se mais nas questões relacionadas à certificação digital.

Assim, vê-se que o nosso ordenamento jurídico não contém norma específica sobre os contratos eletrônicos, restando aos operadores do direito socorrer-se das normas atinentes à Teoria Geral dos Contratos para solução das controvérsias oriundas desta nova forma de se contratar.

No âmbito legislativo, ante à quase que total ausência de regulamentação sobre o tema, seria importante ao menos que nossos legisladores se preocupassem em introduzir em nosso ordenamento jurídico alguns princípios importantes sobre os negócios jurídicos celebrados por meio dos contratos eletrônicos, delineados pela Lei Modelo sobre o Comércio Eletrônico da Comissão das Nações Unidas sobre o Direito do Comércio Internacional (UNCITRAL – United Nations Comission on International Trade Law), já mencionada neste trabalho.

A “internalização” de tais princípios seria o início de um trabalho com o intuito de regulamentar os contratos eletrônicos, de tal forma a tentar diminuir ou suprimir as inseguranças que a ausência de regulamentação claramente traz para os contratantes, bem como tratando de modo customizado as vicissitudes presentes na contratação eletrônica, como, por exemplo, a questão envolvendo o momento de formação do contrato eletrônico.

Os principais princípios mencionados na Lei Modelo da UNCITRAL são o da equivalência funcional e o da neutralidade tecnológica. O princípio da equivalência funcional pode ser extraído dos artigos 5º272 e 11273 da lei, que contêm a disposição de que

272 Lei Modelo da Comissão das Nações Unidas para o Direito do Comércio Internacional – UNCITRAL:

“Article 5. Legal recognition of data messages – Information shall not be denied legal effect, validity or enforceability solely on the grounds that it is in the form of a data message.”

não serão negados efeitos jurídicos à informação e aos contratos pelo simples fato de estarem contidos em meio eletrônico.

Pelo princípio da equivalência funcional, entende-se que o cumprimento das necessidades básicas estabelecidas em lei para a validade do ato jurídico confere a este ato validade ainda que empregada forma não prevista ou vedada por lei. Trata-se da versão do princípio da liberdade das formas, já consagrado em nosso Código Civil.274

Relativamente ao princípio da neutralidade tecnológica, quando há referência a este em sede doutrinária, há a menção pela não-exclusão de nenhum tipo de técnica, presente ou futura, no tratamento e na solução de problemas relacionados à informática. Por tal princípio, a lei deve ser neutra do ponto de vista tecnológico para ser adequada, pois regras fechadas tendem a criar dissociação entre a realidade jurídico-normativa e a realidade social.

273 Lei Modelo da Comissão das Nações Unidas para o Direito do Comércio Internacional – UNCITRAL:

“Article 11. Formation and Validity of Contracts. (1) In the contexto f contract formation, unless otherwise agreed by the parties, an offer and the acceptance of an offer may be expressed by means of data messages. Where a data message is used in the formation of a contract, that contract shall not be denied validity or enforceability on the sole ground that a data message was used for that purpose.”

274Código Civil, art. 107: “A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão

5.

EXEMPLO DE CONTRATO ELETRÔNICO: O CONTRATO

No documento Aspectos jurídicos dos contratos eletrônicos (páginas 104-107)