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4. O CONTRATO ELETRÔNICO

4.4 FORMAÇÃO DOS CONTRATOS ELETRÔNICOS – OFERTA E

4.4.1 Proposta Eletrônica

A proposta, conforme explanado anteriormente, é uma declaração unilateral de vontade que carrega uma intenção de obrigar, conceituando-se, portanto, como a “firme declaração receptícia de vontade dirigida à pessoa com a qual pretende alguém celebrar um contrato, ou ao público”250.

Para que a proposta seja válida, é preciso que ela seja formulada de tal forma que a aceitação do destinatário baste à conclusão do contrato. Se depender de nova manifestação de vontade do proponente, não existirá proposta.

A proposta pode ser realizada a uma pessoa determinada ou a uma coletividade indeterminada, devendo conter todos os elementos considerados fundamentais à sua validade.

É importante que não se confunda a proposta com o convite a contratar, o qual não é obrigatório251, não gerando vínculo para as partes. O convite a contratar expressa apenas a disposição da parte em receber proposta para a formação de contrato, e não para celebrar o contrato propriamente dito.

O direito brasileiro adota a premissa de que a oferta realizada ao público constitui- se em oferta efetiva, e não apenas em convite a contratar. É o que estabelece o art. 429 do Código Civil, que dispõe ser a oferta ao público equivalente a proposta quando encerra os requisitos essenciais do contrato.

Da mesma forma que as propostas realizadas por meios físicos, as realizadas por meio eletrônico podem destinar-se à pessoa específica (ex.: envio de email) ou à coletividade (ex.: disponibilização de produtos e serviços em páginas na internet), constituindo-se em oferta ao público252.

250 GOMES, Orlando. Ob. cit. p. 73.

251 PONTES DE MIRANDA. Tratado de Direito Privado, Tomo II, Rio de Janeiro: Borsoi, 1972, p. 422. 252 Cabe mencionar que a oferta ao público encontrada nas páginas da internet encontra regramento

Será considerada obrigatória ao proponente a proposta realizada, vinculando-o ao seu cumprimento, conforme dispõe o artigo 427253 do Código Civil, salvo se esta obrigatoriedade contrariar seus termos, a natureza do negócio ou das circunstâncias do caso. Uma vez manifestada a proposta, esta vincula o proponente à formação do contrato, caso assim deseje o aceitante, enquanto correr o prazo da resposta.

A proposta não pode, todavia, obrigar o proponente por tempo indeterminado. Neste sentido, o legislador, no artigo 428 do Código Civil, definiu, a partir de critérios temporais, a perda da obrigatoriedade da proposta formulada. De fato, referido artigo dispõe que o caráter obrigatório da oferta será afastado se: “(a) feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita; (b) feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente; (c) feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado; (d) antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente.”

Em razão da regra supramencionada, a oferta vinculará o proponente durante certo lapso temporal finito, ainda que não definido expressamente. A aceitação realizada após o término da eficácia da proposta não vincula, não formando o contrato.

Na internet, tende a ser difícil que se tenha ciência da data de inserção de uma determinada proposta na rede ou quando o aceitante dela tomou conhecimento, gerando dúvidas quanto à contagem dos prazos para sua respectiva aceitação. Parece-nos que três soluções, neste caso, seriam possíveis. Tratando-se de páginas eletrônicas, nas quais a aceitação seria possível mediante o acionamento de telas lá constantes, a proposta seria considerada vinculante e obrigatória enquanto permanecesse disposta no endereço eletrônico. Tratando-se de páginas eletrônicas que demandam a aceitação da proposta por meio da elaboração de email, a aceitação formaria o contrato se enviada enquanto a proposta permanecesse no endereço eletrônico. Por fim, tratando-se de proposta feita por

email sem menção de prazo para aceitação, seria esta válida durante o período o qual, em

razão da natureza do contrato, poderia ser considerado normal para que se verificasse o recebimento da proposta e a emissão da declaração de aceitação.254

253“A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do

negócio ou das circunstâncias do caso.

Um problema prático que pode surgir no meio eletrônico diz respeito à análise sobre a possibilidade de retirada da proposta antes da formação do vínculo. Isto porque, conforme vimos, a determinação do exato momento em que se perfectibiliza o consenso eletrônico é difícil.

Sobre este aspecto, é possível dizer que nos vínculos em que ocorrem comunicações instantâneas, entendidos como contratos entre presentes, a retratação não nos parece possível. Já nos demais, a retratação do proponente seria possível desde que chegue à esfera de controle do destinatário antes da proposta ou simultaneamente a esta.

Ricardo L. Lorenzetti menciona que em se tratando de uma oferta eletrônica o ofertante tem alguns deveres anexos, quais sejam: dever de informação, dever de confirmação e dever de segurança255.

Pelo dever de informação, o ofertante, por ter maior conhecimento específico do meio tecnológico utilizado, deve fornecer ao aceitante informações sobre (i) referido meio, inclusive esclarecendo o modo de aceitar a oferta; (ii) o produto ou serviço incluídos na oferta; e (iii) os aspectos legais, especialmente com relação às condições gerais de contratação. Sobre este aspecto, o artigo 4º do projeto da Ordem dos Advogados do Brasil256 estabelece que a oferta deve conter informações claras e inequívocas sobre o nome do ofertante, número de inscrição no cadastro geral do Ministério da Fazenda, endereço físico do estabelecimento, meio pelo qual é possível entrar em contato com o ofertante, instruções para o arquivamento do contrato eletrônico e sobre os sistemas de segurança empregados na operação.

Dado que é pressuposto que o ofertante dispõe de um controle maior sobre o meio eletrônico utilizado para a veiculação da oferta quando comparado com o aceitante, deve aquele, pelo dever de confirmação, confirmar o recebimento da mensagem de aceitação do negócio.

255 LORENZETTI, Ricardo Luis. Ob. cit. p. 309.

256 Referido projeto é o de n.º1589, de 1999, que foi apensado ao Projeto de Lei 4906, arquivado em fevereiro

Pelo dever de segurança, o ofertante deve garantir que o ambiente no qual a oferta será realizada é tecnicamente seguro, confiável, certificado, de tal forma que se possa contribuir para redução da insegurança existente no processo de contratação eletrônico. Tal dever de segurança, todavia, não é absoluto na medida em que o ofertante, quando atua na internet, não pode garantir que o ambiente é 100% seguro e confiável uma vez que tais aspectos não estão no seu controle. Por tal razão, defende Ricardo L. Lorenzetti257, que este dever deve ser interpretado como uma conduta de cooperação exigida sobre a esfera de controle do ofertante, e não sobre as variáveis que escapam a sua possibilidade de garantir.