• Nenhum resultado encontrado

Legislação brasileira atual: fundamentos do PLC 27/2018

3.4 DIREITO COMPARADO E LEGISLAÇÃO BRASILEIRA ATUAL

3.4.1 Legislação brasileira atual: fundamentos do PLC 27/2018

Em termos de legislação brasileira, os autores Rangel e Silva (2017) entendem que a Constituição de 1988 (BRASIL, 1988), “ao inserir disposições inteiras sobre o meio ambiente, conseguiu demonstrar uma nova percepção sobre o real papel da fauna na sociedade,” e dessa constatação, em conjunto com todos os códigos e legislações ambientais atuais, construíram-se os fundamentos do atual Projeto de lei Complementar 27/2018, PLC 27/2018 (BRASIL, 2018). No Congresso Nacional, há vários projetos de lei com o objetivo de conferir um novo status jurídico, no plano infraconstitucional, aos animais. Ataíde Júnior (2018) destaca o Projeto de Lei da Câmara 6.799/2013 (BRASIL, 2013), de autoria do deputado Ricardo Izar, “que estabelece que os animais domésticos e silvestres possuem natureza jurídica sui generis, sendo sujeitos de direitos despersonificados, dos quais podem gozar e obter a tutela jurisdicional em caso de violação, sendo vedado o seu tratamento como coisa”. Além disso, segundo Ataíde Júnior (2018), esse projeto também “inclui parágrafo único no art. 82 do Código Civil brasileiro, para regrar que o regime jurídico de bens não se aplica a animais domésticos e silvestres”.

Atualmente, “o projeto já foi aprovado na Câmara dos Deputados e encaminhado ao Senado Federal, em 19/4/2018, recebendo o número PLC 27/2018, sob relatoria do Senador Hélio José” (ATAÍDE JÚNIOR, 2018, p. 65). Já foi remetido, inclusive, o Ofício SF nº 951, de 18/11/19 à Senhora Primeira-Secretária da Câmara dos Deputados comunicando que o Senado

Federal aprovou, em revisão e com emenda, o Projeto de Lei da Câmara nº 27, de 2018

(fls. 36 a 37) (BRASIL, 2018, grifo nosso).

Em março do ano atual, o projeto passou por um pedido de coautoria pelo Deputado Weliton Prado, do Projeto de Lei nº 6054/2019 (numeração antiga PL 6799/2013), que acrescenta parágrafo único ao art. 82 do Código Civil para dispor sobre a natureza jurídica dos animais domésticos e silvestres, e dá outras providências, com a concordância do Deputado Ricardo Izar, autor da proposição (BRASIL, 2019).

No entanto, de acordo com os autores, “o artigo 225 da Constituição Federal (1988) estende-se além da positivação do direito-dever ao meio ambiente ecologicamente equilibrado meramente”, ou seja, obriga o Estado a fazer avanços no cumprimento da legislação ambiental” (RANGEL; SILVA, 2017). Ou seja, o Estado precisa aplicar corretamente as sanções para aqueles que cometem crimes ambientais e fiscalizar os órgãos detentores do poder de polícia para que cumpram com suas obrigações, daí denotando mais um dos fundamentos do PLC/2018, já que foi inserido na lei 9.605/98 (BRASIL, 1998).

Outro fundamento vem do contexto histórico, já que o Decreto 24.645/1934 (BRASIL, 1934) que trazia a Lei de proteção aos animais ao art. 32 da Lei 9.605/1998 (BRASIL, 1998) demonstra que “Estados e Municípios brasileiros são carentes ainda de adequada sistematização científica e integração com o sistema geral de proteção animal”. O Decreto 24.645/1934, na sua vigência original, “constituiu-se no verdadeiro estatuto jurídico geral dos animais”, esclarece Ataíde Júnior (2018), afirmando em seu artigo de abertura que “havia estabelecido que todos os animais existentes no País deveriam ser tutelados pelo Estado. “O Estado brasileiro, naquele momento, chamou para si a responsabilidade pela proteção dos animais”, denotando um novo pilar do PLC/2018.

Doutra forma, Ataíde Júnior (2018) justifica a importância desse já revogado decreto, pois como diploma legal geral do Direito Animal, ao lado do Decreto 24.645/1934, encontra- se o art. 32 da Lei 9.605/1998 (BRASIL, 1998), que tipifica, na atualidade, o crime de maus- tratos contra animais, já sendo considerado uma regra de Direito Animal, pois “estabelece condutas humanas proibidas por violarem a dignidade individual do animal não-humano. Não é um crime contra o meio ambiente, mas um crime contra o animal-indivíduo”.

Dessa forma, a própria lei de crimes ambientais na qual o PLC 27/2018 será inserido torna-se também um dos fundamentos principais.

O art. 32 da Lei 9.605/1998 condensa “a regra constitucional da proibição da crueldade, especificando práticas consideradas cruéis e, portanto, proibidas” (ATAÍDE JÚNIOR, 2018).

É prática cruel toda conduta consistente em abusar, maltratar, ferir ou mutilar animais (art. 32, caput); da mesma forma, é prática cruel toda experimentação dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos (art. 32, §1º); ainda, é prática cruel matar animais com abuso, maus-tratos, ferimento, mutilação ou experimentação dolorosa ou cruel quando existirem recursos alternativos (art. 32, §2º). (BRASIL, 1998).

Nesse contexto, é possível observar a importância dessa lei para que se cumpram as penalidades legais nos casos dos crimes contra animais. Ademais, de acordo com Ataíde Júnior

(2018), esse artigo “estabelece os parâmetros normativos da regra constitucional da proibição da crueldade”, sendo possível usar as normas jurídicas contidas no tipo penal para:

a) a defesa individual ou coletiva dos animais, através de ações individuais (pelo procedimento comum ou por procedimentos especiais)

b) coletivas (pela ação civil pública, disciplinada pela Lei 7.347/1985 (BRASIL, 1985)

c) pelas ações coletivas regradas no Título III da Lei 8.078/1990

d) com caráter inibitório (art. 497, parágrafo único, Código de Processo Civil preventivo ou repressivo).

(ATAÍDE JÚNIOR, 2018).

Nesse sentido, o entendimento da natureza jurídica dos animais não-humanos estabelece uma série de novas utilidades, todas bem fundamentadas, que já poderiam ser utilizadas caso se consiga estabelecer o PLC 27/2018. Segundo Ataíde Júnior (2018), toda ação humana que caracterize prática cruel, segundo o art. 32 da Lei 9.605/1998 (ou, mesmo, segundo o art. 3º do Decreto 24.645/1934), “viola o direito fundamental animal à existência digna e deve ser objeto

de ações cíveis inibitórias, preventivas ou repressivas manejadas pelo Ministério Público, pelos substitutos legais do animal vitimado ou pelas associações de defesa animal”,

embasando com firmeza o projeto de lei (grifo nosso).

Percebe-se o caminho para a nova visão legalista do animal não-humano junto à sociedade brasileira.

Documentos relacionados