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Nesta seção, serão tratados os resultados que demonstram o perfil geral dos recursos apresentados, o que inclui os denunciantes e os denunciados nos processos que foram considerados e se cabia a tipificação do crime de maus-tratos.

Em seguida, são apresentados os dados referentes à espécie animal que sofreu o crime, a localidade onde ocorreram os fatos e se houve condenação por parte do TJSC. Por último, restaram demonstradas as argumentações utilizadas nas decisões em que houve condenação quanto ao crime de maus-tratos. No gráfico 1, apresentam-se inicialmente os recursos que foram discriminados quanto ao tipo de acolhimento perante o tribunal, considerando o total como (n=17).

Gráfico 1 – Tipos de recursos apresentados no TJSC sobre a prática do crime de maus-tratos a animais – 2017-2019

Fonte: Elaboração da autora, 2020.

Para uma melhor compreensão dos conceitos e do funcionamento de cada recurso, Andrade (2017) esclarece em seu artigo os principais aspectos dos recursos, como os tipos existentes, quais deles possuem sustentação oral, quais os pressupostos recursais para que um recurso possa ser acatado pela instância superior, e exemplifica os principais e a legislação aplicada a cada caso.

17,6% 23,5% 35,3% 5,9% 5,9% 11,8%

Recurso conhecido e provido Recurso parcialmente provido Recurso conhecido e desprovido Recurso parcialmente conhecido e desprovido Recurso prejudicado Recurso não conhecido

Assim, observa-se que 35,3% dos recursos foram conhecidos e desprovidos, ou seja, a sentença do juízo a quo foi confirmada, e desses, 83,4% mantiveram a condenação do denunciado pela prática do crime de maus-tratos, enquanto 16,7% das decisões mantiveram a absolvição do denunciado.

Foram verificados 23,5% dos recursos como parcialmente providos, ou seja, somente parte das decisões das sentenças do juízo a quo foram mantidas, obtendo-se em 100% destes a condenação do denunciado.

Houve 17,6% dos recursos que foram conhecidos e providos, ou seja, as decisões do juízo a quo sofreram modificação pelo juízo ad quem para a absolvição em 66,67% destes casos e condenação em 33,34%.

Não foram conhecidos 11,8% dos recursos, ou seja, não foram cumpridas algumas regras de admissibilidade para ascender à instância superior.

Foram prejudicados 5,9% dos recursos, ou seja, o recurso perdeu seu objeto, e por esse motivo perde-se o interesse recursal.

Houve 5,9% de recursos parcialmente conhecidos e desprovidos, demonstrando que os recursos cumpriram somente parte dos requisitos de admissibilidade recursal para a instância superior, entretanto mantiveram a decisão do juízo a quo, sendo que neste caso se manteve a decisão anterior.

Em seguida, dando continuidade ao perfil geral dos recursos, a tabela 1 demonstra dados que discutem quem foram os denunciantes e quem foram os denunciados diante dos casos julgados pelo Tribunal em que houve a prática do crime de maus-tratos aos animais.

Tabela 1 – Crime de maus-tratos: denunciante e denunciado

Denunciante Denunciado Crime de maus tratos FI %

Ministério Público Pessoa Física Sim 13 76,5%

Ministério Público Pessoa Jurídica Não 1 5,9%

Pessoa Física Pessoa Física Não 1 5,9%

Pessoa Jurídica Pessoa Jurídica Não 1 5,9%

Ministério Público Pessoa Física Não 1 5,9%

Total 17 100%

Fonte: Elaboração da autora (2020).

Diante da confirmação do crime pelo Tribunal, ou seja, quando o denunciado foi condenado, em 13 casos (76,5%) o denunciante foi o Ministério Público (MP) e o denunciado foi pessoa física.

Já nos casos com o denunciado absolvido, com prescrição ou que não houve ainda julgamento do crime pelo Tribunal, ocorreu uma distribuição igualitária, com a percentagem de 5,9% em todos: em um caso, o MP foi o denunciante, com pessoa jurídica sendo denunciada; também em um caso, o denunciante foi pessoa física e foi denunciada pessoa física; em outro caso, o denunciante foi pessoa jurídica, e o denunciado, pessoa jurídica; e novamente em mais um caso, o denunciante foi o MP e teve como denunciado pessoa física.

O que se pode visualizar com esses dados é a força que o Ministério Público possui como fiscal da lei, visto que, nos casos em que atuou ajuizando a ação penal contra quem cometeu o crime, as decisões dos magistrados seguiram a denúncia na maioria das vezes. A respeito das atribuições do Ministério Público, Donizetti (2016, p. 03) destaca que

O Ministério Público jamais atua como mandatário ou procurador da parte. Intervém no processo apenas na qualidade de parte ou de fiscal da lei. Mesmo nas hipóteses em que a lei prevê a defesa de terceiros (art. 748, I e II [7], CPC/2015), a atuação é no sentido de tutelar a ordem jurídica ou interesses sociais e individuais indisponíveis. O Ministério Público, órgão componente do Estado, em razão de sua incumbência de defender a ordem jurídica, é parte material em ação direta de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais, em face da Constituição Estadual (art. 125, § 2o, CF/88, e Lei no 8.625/93, art. 29, I). (DONIZETTI, 2016).

O quadro 1 destaca as espécies de animais não-humanos que sofreram crime de maus- tratos, a localidade onde ocorreu o crime e o acórdão proferido pela turma ou julgador. As argumentações das decisões nas localidades onde houve condenação estão descritas no texto, após a tabela.

Quadro 1 – Decisões do TJSC em relação a crimes de maus-tratos contra animais de acordo com a localidade e espécie

(continua)

Animal Cidade Acórdão

CANINOS GASPAR CONDENAÇÃO

SUÍNOS SÃO JOSE DO CERRITO CONDENAÇÃO

CANINOS PRESIDENTE GETÚLIO NÃO JULGADO

EQUINO LAJES NÃO JULGADO

(conclusão)

CANINOS RIO NEGRINHO ABSOLVIÇÃO

CANINOS CHAPECÓ CONDENAÇÃO

VÁRIOS ANIMAIS JOINVILLE CONDENAÇÃO

CANINOS GUARUVA CONDENAÇÃO

CANINOS TURVO CONDENAÇÃO

AVES JARAGUÁ DO SUL CONDENAÇÃO

GATOS CAÇADOR PRESCRIÇÃO

CANINOS IBIRAMA CONDENAÇÃO

VÁRIOS ANIMAIS SÃO BENTO DO SUL CONDENAÇÃO

BOVINOS PORTO UNIÃO CONDENAÇÃO

AVES LAGES CONDENAÇÃO

BOVINOS JOINVILLE ABSOLVIÇÃO

Fonte: Elaboração da autora, 2020.

Nas decisões em que houve condenação, em 11 casos observa-se que a legislação aplicada confere importância à lei de crimes ambientais, lei 9605/98 (BRASIL, 1998), que, em consonância com o Código Penal (BRASIL, 1940), a Constituição Federal (BRASIL, 1988) e outras leis ambientais, visam demonstrar um entendimento jurisprudencial já aplicado nas comarcas que compõem o TJSC.

Observou-se também a preocupação, em pelo menos um dos julgados, em debater a senciência animal, reforçando o papel fundamental do Estado como gestor dos órgãos que fiscalizam as práticas de crueldade aos animais, nesse trabalho já enfatizado por Ataíde Júnior (2018).

Pode-se constatar que em dois processos com denúncia pronunciada pelo MP quanto à prática, em tese, dos crimes, não houve ainda julgamento do juízo a quo, apesar do acionamento do juízo ad quem na requisição de habeas corpus.

Em três julgados, houve absolvição dos denunciados, quando o crime não foi comprovado por diferentes variáveis, a maioria por imaterialidade de provas.

Somente em um dos julgados houve prescrição, embora houvesse prova material na denúncia evidenciando o crime de maus-tratos.

A seguir, estão descritas as argumentações que fundamentaram as decisões nos casos em que a condenação do denunciado foi confirmada pelo TJSC. Na localidade de Gaspar/SC, o denunciado foi condenado com a seguinte argumentação que fundamentou a decisão: “Os animais, considerados seres sencientes, ou seja, que sentem dor e angústia (Lei Estadual nº 17.485/2018), merecem especial atenção do Estado, sendo vedadas qualquer prática que os submetam à crueldade (CF, art. 225, § 1º, VII)” (SANTA CATARINA, 2019).

Na cidade de São José do Cerrito/SC, a argumentação que fundamentou a decisão em que ocorreu abate de espécie silvestre: Foi citado o art. 32 caput, da Lei 9.605/98, com incidência na causa de aumento de pena (morte do animal) prevista no § 2º do mesmo artigo, na forma do art. 2º da referida lei.

A tipicidade consistiu na ausência de licença da autoridade ambiental competente para o abate do espécime da fauna silvestre (javali). Nesse caso, a denúncia versa sobre o crime de maus-tratos porquanto o delito de caça somente ocorre quando em detrimento da fauna silvestre nativa ou em rota migratória. (SANTA CATARINA, 2019).

Em Chapecó/SC, o denunciado foi condenado com a seguinte argumentação baseada nos artigos. 32 da lei 9605 e 136 CP, descrevendo que a ré, após adotar um cão, viajou e deixou o animal acorrentado fora da residência, sem abrigo, água e comida.

O crime de maus-tratos previsto no Código Penal admite a modalidade omissiva, quando a pessoa sobre a qual o réu exerce guarda ou vigilância é privada de alimentos ou de cuidados indispensáveis (art. 136). Não há como negar a mesma definição ao crime de maus-tratos previsto na Lei ambiental, que busca preservar a integridade física dos animais, ainda que não humanos. (SANTA CATARINA, 2019).

Já em Joinville/SC, a seguinte argumentação baseou a condenação utilizando os artigos 29, § 1º, III, 32, Caput, 32, § 2º e 69, Caput, da Lei 9.605/98 e o artigo 71, Caput, do DECRETO- LEI No 2.848/40:

A denunciada fez funcionar estabelecimento potencialmente poluidor, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes, e/ou contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes, além de praticar atos de abuso e/ou maus tratos contra animais domésticos e/ou domesticados, levando à morte alguns deles, e de manter em cativeiro e/ou em depósito espécimes da fauna silvestre, sem a devida permissão, licença e/ou autorização da autoridade competente, e, ainda, obstou e/ou dificultou a ação fiscalizadora do Poder Público no trato das questões Ambientais. (SANTA CATARINA, 2019).

Em Guaruva/SC, a argumentação que fundamentou a decisão foi a de que houve disparo de arma de fogo contra cachorro, resultando na morte do animal: “Mantida a condenação do apelante pelos crimes previstos no art. 15 e no art. 16, parágrafo único, IV, ambos da Lei 10.826/03, em concurso material (art. 69 do Código Penal), bem como do crime ambiental (art. 32, §2º, da Lei n. 9.605/98)” (SANTA CATARINA, 2019).

Na localidade de Turvo/SC, houve condenação utilizando o art. 32, caput, da lei n. 9.605/1998: “Provas colhidas durante a instrução que dão conta de que o apelado praticou maus-tratos consistentes em ferir e privar o animal doméstico de cuidados básicos”(SANTA CATARINA, 2019).

Em Jaraguá Do Sul/SC, utilizou-se a fundamentação do artigo 32 da lei n. 9.605/98: “Maus-tratos a aves silvestres”(SANTA CATARINA, 2019).

Do mesmo modo, em Ibirama/SC, a argumentação apresentada foi também baseada no artigo 32 da Lei n. 9.605/98: “O crime de maus-tratos foi cabalmente comprovado, que o apelante mantinha os cachorros em situações degradantes, acorrentados em locais impróprios e insalubres e notavelmente mal alimentados [...]” (SANTA CATARINA, 2019).

Na cidade de São Bento Do Sul /SC, o denunciado foi condenado baseado nos fundamentos do art. 32, caput; art. 29, caput e § 1º, inciso III, da Lei 9.605/98: “[...] Desse modo, o denunciado, de forma livre e consciente da ilicitude das suas condutas, caçou, apanhou e manteve em cativeiro espécimes da fauna silvestre, praticou maus-tratos em animais domésticos e domesticados” (SANTA CATARINA, 2019).

Em Porto União /SC, foram utilizados os seguintes fundamentos: Art. 180-A e 29 do CP e art. 32, 2º, da Lei 9.605/98, que condenaram o denunciado:

O mesmo ocorre com relação aos crimes de maus tratos, pois comprovado pela prova testemunhal e documental que os animais sofreram stress devido ao mau acondicionamento, demasiada restrição hídrica, lacerações nas orelhas e marcas de sangue pelo corpo, havendo a morte de um deles e o estado crítico de outros dois, tudo em decorrência do transporte clandestino dos animais, a fim de que não fosse identificados pela fiscalização Articulados todos os réus para o furto e o transporte dos animais, que sofreram durante o transporte, todos devem responder pelos maus tratos na medida de suas culpabilidades, de acordo com o disposto no art. 29, do Código Penal. (SANTA CATARINA, 2019).

Na sequência, visando facilitar a visualização das regiões onde ocorreram os crimes contra os animais, fez-se um mapa:

Desenho 1 – Mapa do estado de Santa Catarina identificando os tipos de espécies animais e as localidades onde ocorreram os crimes de maus-tratos.

Fonte: Elaboração da autora, 2020.

Nesse mapa, é possível visualizar que tipos de animais sofreram maus-tratos e a localização precisa das cidades. Percebe-se que a espécie canina é o sujeito passivo mais presente, seguido de bovinos, suínos e aves.

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