• Nenhum resultado encontrado

4 A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL

4.1 A legislação brasileira sobre EAD

O reconhecimento oficial para a educação superior a distância no Brasil surge com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei Federal n° 9.394, de 1996. Ela estabelece no Artigo 80 a validade e o incentivo do Poder Público à EAD, em todos os níveis e modalidade de ensino.

Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada.

§ 1º A educação a distância, organizada com abertura e regime especiais, será oferecida por instituições especificamente credenciadas pela União.

§ 2º A União regulamentará os requisitos para a realização de exames e registro de diploma relativos a cursos de educação a distância.

§ 3º As normas para produção, controle e avaliação de programas de educação a distância e a autorização para sua implementação, caberão aos respectivos sistemas de ensino, podendo haver cooperação e integração entre os diferentes sistemas. (BRASIL, 2006d).

Não foi, contudo, o primeiro registro da EAD na legislação federal de educação. Em 1961, na primeira Lei de Diretrizes e Bases para a Educação no Brasil, Lei Federal 4.024/61, a educação a distância estava contemplada no parágrafo primeiro do Artigo 25, mas, como adequada apenas e tão somente para a oferta de cursos de caráter supletivo por “rádio, televisão, correspondência e outros meios de comunicação que permitam alcançar o maior número de alunos”. Verificava-se nesta redação não apenas o caráter de ensino supletivo, mas, sobretudo a ênfase no uso das mídias da comunicação de massa com o fito de se estabelecer difusores de amplo alcance. A observação de se vincular a EAD com ensino complementar e de massa surge novamente na Lei Federal 5.692 de 1971, estabelecendo que esta modalidade de educação a distância preparatória para exames supletivos era de caráter livre, não formal, desobrigada de freqüência ou comprovação, bastando que os alunos participação de exames supletivos oficiais, com provas presenciais. Ou seja, os produtos ofertados eram tão somente de auto-aprendizagem para que os participantes pudessem se preparar para a etapa de exames oficiais.

O fato de a inserção do tema da educação a distância na esfera universitária brasileira datar de apenas quatro décadas, desde 1961 e até a conclusão deste trabalho, em 2006, e de se verificar a ausência de estudos sistemáticos para se conhecer e analisar em profundidade as múltiplas faces do tema no país (ALVES, 2001), propicia a que abordagens valorativas que se apresentem publicadas tenham caráter ensaístico, evidenciando a oportunidade de se produzir estudos para que se tornem conhecidas e reveladas as representações sociais da educação a distância no Brasil.

O artigo 80 da LDB, em relação à EAD no ensino superior, foi regulamentado pela primeira vez em 1998, quando da edição do Decreto Presidencial 2.494/1998 (A íntegra do Decreto 2.494/98 está no ANEXO B). Este instrumento estabelecia os critérios para a validação dos cursos a distância em todos os níveis e modalidades, excluindo-se o nível da pós-graduação stricto sensu. Em paralelo aos Decretos, o Ministério da Educação trabalhou na instância da Secretaria de Educação a Distância (SEED) um corolário de requisitos indicativos para a qualidade da educação a distância. Editado inicialmente em 1998, estes

requisitos, que não têm força de Lei, e que servem para orientar instituições quando da criação de projetos, foram sucessivamente alterados por grupos de especialistas reunidos por iniciativa da SEED, chegando aos seguintes tópicos na configuração de 20062:

Referenciais de Qualidade de EAD de Cursos de Graduação a Distância

O princípio-mestre é o de que não se trata apenas de tecnologia ou de informação: o fundamento da graduação é a educação da pessoa para a vida e o mundo do trabalho.

São dez os itens básicos que devem merecer a atenção das instituições que preparam seus programas de graduação a distância:

1. Integração com políticas, diretrizes e padrões de qualidade definidos para o ensino superior como um todo e para o curso específico;

2. Desenho do projeto: a identidade da educação a distância; 3. Equipe profissional multidisciplinar;

4. Comunicação/interatividade entre professor e aluno; 5. Qualidade dos recursos educacionais;

6. Infra-estrutura de apoio;

7. Avaliação de qualidade contínua e abrangente; 8. Convênios e parcerias;

9. Edital e informações sobre o curso de graduação a distância; 10. Custos de implementação e manutenção da graduação a distância. (BRASIL, 2006c).

No mesmo ano de 1998 o MEC edita a Portaria 301/98, que regulamenta os procedimentos necessários para o credenciamento de instituições interessadas em ofertar cursos a distância. Este instrumento é substituído em 2004 pela Portaria 4.361, com a atualização dos procedimentos e exigências necessários para se alcançar o credenciamento institucional para a oferta de EAD. Os Decretos publicados em 1998 são revogados em 2005 com a publicação do Decreto 5.622, que reestrutura a conceituação da educação a distância, regulamenta critérios para a atuação nacional e internacional das instituições educacionais brasileiras por EAD (a íntegra do Decreto 5.622 está no ANEXO E). Em relação aos cursos de pós-graduação, em 2001 o Conselho Nacional de Educação publicou a Resolução 01/2001, estabelecendo normas para a validação deste nível de cursos superiores pela modalidade da EAD. O Decreto 5.622 conta também com um capítulo específico sobre a oferta de cursos de pós-graduação por EAD.

2 A íntegra do texto dos referenciais de qualidade de EAD está disponível no site do MEC, no endereço

Em relação ao uso no ensino superior presencial de recursos tecnológicos e de estratégias metodológicas próprias à educação a distância, o MEC estabeleceu uma primeira normatização no ano de 2001, com a publicação da Portaria 2.253, em 18 de outubro daquele ano. À época estava em marcha nas Instituições de Ensino Superior (IES) projetos que incorporavam progressivamente soluções de comunicação de intercomunicação entre professores e alunos do ensino presencial pela internet, e da sistematização e publicação de conteúdos e de atividades de aprendizagem de disciplinas do ensino presencial, propiciando assim a redução da quantidade de encontros em sala de aula necessários para o cumprimento do plano de ensino das ementas destas disciplinas.

A regulamentação criada pelo MEC com a Portaria 2.253 ao mesmo tempo em que reconhecia este processo de virtualização de uma parte do ensino presencial, aplicava mecanismos de regulação sobre o mesmo. Aplicou um limitador de que somente até 20% da carga didática de cursos de graduação ser convertidos autonomamente por universidades para a forma de aprendizagem a distância, e, também, de que esta flexibilidade pudesse ser aplicada somente a cursos já reconhecidos e (a íntegra da Portaria 2.253 está no ANEXO C). Para as instituições que não gozassem das prerrogativas da autonomia universitária o uso das disciplinas a distância estava vinculado à obtenção de anuência prévia por parte do MEC.

Esta portaria foi revogada em 2004, quando da edição da Portaria MEC 4.059, que promove a regulamentação da mesma matéria, com a diferenciação de flexibilizar a implementação das disciplinas a distância. O limitador de até 20% da carga didática permaneceu inalterado, mas a decisão das instituições de colocar em oferta tais disciplinas deixou de estar condicionada a autorização prévia por parte do MEC, bastando para tanto que a IES oficializasse esta forma de oferta no projeto pedagógico do curso.

Outra inovação da Portaria 4.059, de acordo com Martins (2005), foi a de ter tornado explícitos os critérios para o exercício da tutoria em disciplinas a distância, ao exigir docentes qualificados em nível compatível ao previsto no projeto pedagógico do curso, com carga horária específica para os momentos presenciais e os momentos a distância. Enquanto o instrumento anterior tratava tão somente da auto-aprendizagem, a nova portaria incluía como agente permanente no processo os professores tutores para realizar a mediação pedagógica junto aos alunos.