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2.3 Juventudes e suas relações com o Ensino Médio

2.3.1. A legislação de Ensino Médio

Atualmente, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB nº 9394/96, define o Ensino Médio como parte integrante da educação básica, configurado como sua etapa conclusiva, assim também como a possibilidade de integração com a profissionalização. Os objetivos do Ensino Médio são: preparar os jovens para a

continuação dos estudos, a preparação básica para o trabalho, o exercício da cidadania, conforme prevê o Artigo 35 da LDB

I – a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos;

II- a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;

III- o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico;

IV- a compreensão dos fundamentos científicos-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina. (BRASIL, 1996, Art. 35)

Abramovay e Castro (2003), analisando a LDB, especificamente o Artigo 35, afirmam que o Ministério da Educação, em seu projeto de Ensino Médio, propõe uma reforma curricular que visa à formação geral do educando, atribuindo grande importância ao conhecimento escolar e estimulando o desenvolvimento de habilidades como as de: pesquisar, raciocinar, argumentar, criar e aprender, através de um processo de ensino e aprendizagem que seja contextualizado e não compartimentalizado e baseado somente no acúmulo de informações e memorizações. Para as autoras, a atual LDB, apresenta uma concepção de formação para o trabalho diferenciada, promovendo assim uma nova forma de convivência entra a educação básica e a educação profissional.

No Artigo 35 da LDB, no entender de Abramovay e Castro (2003), está explícito que a preparação para o trabalho deve ser base de formação tanto para os que já estão incluídos no mercado de trabalho, como também para aqueles que ainda irão se inserir, não se restringindo à formação técnica específica para uma função ou postos de trabalhos específicos.

O Artigo 36 determina as modalidades em que a educação profissional técnica de nível médio pode ser oferecida de maneira articulada com o Ensino Médio:

I- Integrada, oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino fundamental, sendo o curso planejado de modo a conduzir o aluno à habilitação profissional técnica de nível médio, na mesma instituição de ensino, contando com matrícula única para cada aluno;

II- Concomitante, oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino fundamental ou esteja cursando o ensino médio, na qual a complementariedade entre a educação profissional técnica de nível médio e o ensino médio pressupõe a existência de matrículas distintas para cada curso (...)

III- Subsequente, oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino médio; (BRASIL, 1996, Art. 36)

A mesma Lei em seu Artigo 39 preceitua que a educação profissional e tecnológica está prevista nas seguintes formas: “formação inicial e continuada de

trabalhadores”; “educação profissional técnica de nível médio”; “educação profissional tecnológica de graduação e pós-graduação”.

A expressão “Educação Profissional” abrange variados processos educativos. Para Christophe (2005), termos como: educação profissional, ensino técnico, ensino profissionalizante, formação profissional e qualificação profissional, são utilizados indistintamente na literatura e na prática. Referem-se tanto ao ensino ministrado pelas instituições públicas e as escolas regulares, quanto aos outros processos de capacitação.

Para a autora, esta indistinção de terminologias, que contribui para gerar algumas dúvidas, se origina na própria legislação vigente, uma vez que o ensino profissional está passando por reformas que iniciaram em meados da década de 1990, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB e alguns instrumentos que a complementaram, tais como decretos, portarias, pareceres, normas, entre outros instrumentos. Christophe (2005) salienta que os capítulos recentes desta reforma foram a promulgação dos Decretos 5.154 de 23 de julho de 2004, e os Decretos 5.224 e 5.225, em 1º de outubro de 2004, pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Salienta-se também a Lei nº 11.741/2008, “que redimensionou, institucionalizou e integrou as ações da educação profissional técnica de nível médio, da educação de jovens e adultos e da educação profissional e tecnológica”.

Isto, incorporando parte do Decreto nº 5.154/2004, que entre outras medidas resgatou o Ensino Médio Integrado com a educação profissional técnica. Assim também a Lei nº 12.061/2009 alterou a LDB, assegurando a todos os interessados o acesso ao Ensino Médio público com a “universalização do ensino médio gratuito”. Sendo incumbência dos estados “assegurar o ensino fundamental e oferecer, com prioridade, o ensino médio a todos que o demandarem” (AUR e CASTRO, 2012 p.7). Os autores acima citados afirmam que a Constituição Federal, através da Emenda Constitucional nº 59/2009, prevê a obrigatoriedade escolar dos 4 aos 17 anos, o que “obriga” a frequência ao Ensino Médio daqueles que tenham concluído o Ensino Fundamental e são menores de 17 anos. Este dispositivo, no entanto, só alcançará aqueles que não estiverem com algum atraso no percurso escolar. Existem muitos desafios que precisam ser enfrentados pelas políticas públicas educacionais, entre elas, reduzir as taxas de evasão escolar, de repetência e expandir o ingresso no Ensino Médio, assim também como reduzir o abandono e a reprovação nesta etapa de ensino.

O Conselho Nacional de Educação (CNE) elaborou várias normas no que diz respeito à educação básica, dentre elas, as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica, (Resolução CNE/CEB nº 04/2010, e o Parecer CNE/CEB nº 07/2010), neles são enfatizados

a garantia de padrão de qualidade, com pleno acesso, inclusão e permanência dos sujeitos das aprendizagens na escola e seu sucesso, com redução de evasão, e da distorção de idade/ano/série, resulta na qualidade social da educação. (AUR E CASTRO, 2012, p. 8).

As Diretrizes Curriculares Nacionais, na seção que trata sobre o Ensino Médio, o Art. 26, estabelecem que este ensino deve ter uma base unitária na qual podem se assentar possibilidades diversas como, “preparação para o trabalho ou, facultativamente, para profissões técnicas; na ciência e na tecnologia, como a iniciação científica e tecnológica; na cultura, como ampliação da formação cultural”. As referidas Diretrizes afirmam ainda, que a definição e a gestão do currículo inscrevem-se em uma lógica que se dirige aos jovens, considerando suas singularidades, que se situam em um tempo determinado, assim como

sistemas educativos devem prever currículos flexíveis, com diferentes alternativas, para que os jovens tenham a oportunidade de escolher o

percurso formativo que atenda seus interesses, necessidades e aspirações, para que se assegure a permanência dos jovens na escola, com proveito, até a conclusão da Educação Básica. (AUR E CASTRO, 2012, P. 8).

Aur e Castro (2012, p.8) destacam a importância de dois Pareceres no tocante ao Ensino Médio. O primeiro é o Parecer CNE/CP nº 11/2009, que considera de alta relevância a proposta do MEC de “Experiência curricular inovadora do ensino médio: ensino médio inovador”. Esta proposta “despertou interesse geral, com ampla repercussão, demonstrando que se esperam novos encaminhamentos para o ensino médio”.

O segundo Parecer nº05/2011, da Câmara de Educação Básica (CEB) e Conselho Nacional de Educação, aprova as novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, que reforça a necessidade de currículos diversos que atendam os interesses dos estudantes, adolescentes, jovens ou adultos. O qual determina que

a organização curricular do ensino médio deve oferecer tempos e espaços próprios para estudos e atividades que permitam itinerários formativos opcionais diversificados, a fim de melhor responder à heterogeneidade e à pluralidade de condições, múltiplos interesses e aspirações dos estudantes, com suas especificidades etárias, sociais e culturais, bem como sua fase de desenvolvimento. (AUR E CASTRO 2012, P.9).

Em Documento intitulado “Reestruturação e Expansão do Ensino Médio no Brasil” (2008), o Grupo de Trabalho Interministerial instituído pela Portaria nº 1189 de 05 de dezembro de 2007 e a Portaria nº 386 de 25 de março de 2008, analisa que o antigo decreto nº 2208/97 reforçava uma visão dual que atualmente vem sendo superada na formulação e condução de políticas públicas para a educação básica e a educação profissional e tecnológica.

Desta forma, no referido documento afirma-se que o atual Decreto nº 5154/04 é um marco importante na medida em que revogou a obrigatoriedade de separação do Ensino Médio com a educação profissional técnica de nível médio, delegando as suas formas de articulação (integrada, concomitante e subsequente). Entretanto, analisa-se que, embora a LDB de 1996 avançasse no entendimento do Ensino Médio como etapa da educação básica, permitiu uma interpretação que levasse a regulamentar através do decreto 2.208/97 a obrigatoriedade da separação do Ensino Médio e a educação profissional. Isto na prática

(...) significou o fortalecimento do dualismo e a consolidação de uma educação média com duas vertentes: uma relativa ao ensino médio ‘acadêmico’ destituído da realidade do trabalho e, outra, em ensino técnico, que mesmo legalmente separado, mantinha a articulação com o ensino médio (BRASIL, 2008, p. 6)

O documento avalia que após a revogação do Decreto 2.208/97 pelo Decreto 5.154/2004, “a sociedade brasileira ainda não foi capaz de dotar o ensino médio de uma identidade que supere a dualidade histórica que tem prevalecido nesta etapa”. Assim como não se superou ainda o elevado quadro de desigualdade educacional e social no país. (BRASIL, 2008, p.6).

Analisando o Plano Nacional de Educação – PNE, decênio 2000/2010, encontra-se entre os objetivos e prioridades do mesmo, metas gerais para a educação brasileira como: “elevação global do nível de escolaridade da população”; “a melhoria da qualidade do ensino em todos os níveis”, “a redução das desigualdades sociais e regionais no tocante ao acesso e à permanência, com sucesso na educação pública”. (BRASIL, 2000, p7)

Entretanto, o mesmo documento afirma que os recursos são escassos para o atendimento destas demandas, elegendo-se assim as prioridades de acordo com o “dever constitucional e as necessidades sociais”, que seriam “garantia de ensino fundamental obrigatório de oito anos a todas as crianças de 7 a 14 anos”; garantia do ensino fundamental a todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria ou que não o concluíram”; “ampliação do atendimento nos demais níveis de ensino – a educação infantil, o ensino médio e a educação superior”. (BRASIL, 2000, p.8).

No tocante ao foco desta pesquisa, cabe observar o item referente ao Ensino Médio, no qual é prevista:

A gradual extensão do acesso ao ensino médio para todos os jovens que completam o nível anterior, como também para os jovens e adultos que não cursaram os níveis de ensino nas idades próprias (...) faz parte dessa prioridade a garantia de oportunidade de educação profissional complementar à educação básica, que conduza ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva, integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia. (BRASIL, 2000, p. 8 )

Na parte destinada ao Ensino Médio, o item “Diretrizes” faz referência ao aumento de estudantes que conseguem concluir a escolaridade obrigatória, na vigência deste a obrigatoriedade era dos 7 aos 14 anos. Um maior número de

concluintes do Ensino Fundamental gera um aumento no número de alunos que chegam ao Ensino Médio. Apesar da ampliação das matrículas, persiste, nesta etapa de escolarização, uma dualidade. Uma escola destinada para uma “elite,” que está no Ensino Médio, passando de uma etapa intermediária entre a Educação Fundamental e a Educação Superior; e outra para aqueles que, não tendo acesso ao ensino superior, necessitam que o Ensino Médio (a etapa final dos seus estudos) ofereça a formação necessária para o ingresso no mercado de trabalho.

Está presente no documento a importância de preparar jovens e adultos para “os desafios da modernidade”, desta forma sendo relevante trabalhar a aquisição de competências relacionadas ao exercício da cidadania e da inserção produtiva, assim como o domínio de aptidões básicas de linguagens e comunicação, além de outros valores e capacidades, necessários à formação integral dos indivíduos.

Reportando-nos ao Plano Nacional de Educação para o decênio 2011/ 2020, em suas primeiras linhas, nos deparamos com a constatação de que a educação brasileira passou por uma grande transformação durante a vigência do último PNE nos anos de 2002 a 2010. E como evidências desta transformação são citadas a consolidação da universalização dos primeiros anos do Ensino Fundamental e principalmente no interesse de nossa pesquisa, a criação da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica e desta maneira a oferta de Ensino Médio para milhares de jovens.

No Art. 2º do Projeto de Lei nº 8035 de 2010 que aprova o Plano Nacional de Educação para o decênio 2011/2020, prevê: “erradicação do analfabetismo; “a universalização do atendimento escolar”; “superação das desigualdades educacionais”; “melhoria da qualidade do ensino”; formação para o trabalho”; “promoção da sustentabilidade socioambiental”; “promoção humanística; científica e tecnológica do país”; entre outras. (BRASIL, 2011p. 19).

Em suas Metas e Estratégias, o PNE – 2011/2020, especificamente na Meta 3, apresenta o “atendimento escolar para toda a população de quinze a dezessete anos e elevar, até 2020, a taxa líquida de matrículas do ensino médio para oitenta e cinco por cento, nesta faixa etária”. Para atingir esse resultado, são elencadas algumas estratégias como: “institucionalizar o programa nacional de diversificação curricular do ensino médio”; “ manter e ampliar programas e ações de correção e fluxo do ensino fundamental”; “utilizar exame nacional do ensino médio como critério de acesso à educação superior”; “ fomentar a expansão das matrículas de ensino

médio integrado à educação profissional”; “ fomentar a expansão da oferta de matrículas gratuitas de educação profissional técnica de nível médio por parte de entidades privadas”; “estimular a expansão do estágio para estudantes da educação profissional técnica de nível médio e do ensino médio regular”; entre outras estratégias. (BRASIL, 2011p. 26).

Na vigência do PNE anterior 2000/2010 o ensino obrigatório restringia-se ao Ensino Fundamental na faixa etária dos 7 aos 14 anos, no atual PNE a faixa amplia- se também para os 15 aos 17 anos. Desta forma, podemos constatar que no PNE – 2011/2020 existe maior interesse em manter e ampliar a oferta da educação de nível médio, tanto na manutenção quanto na ampliação das vagas, uma vez que se afirma entre as metas o “atendimento escolar para toda a população de quinze a dezessete anos através da elevação até 2020 da taxa líquida de matrículas do Ensino Médio para oitenta e cinco por cento, nesta faixa etária”.

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