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ANÁLISE JURÍDICA

3.1. LEGISLAÇÃO INCIDENTE E APLICÁVEL

Para a implantação do PROJETO DE CONTENÇÃO/REDUÇÃO DO PROCESSO DE EROSÃO

MARINHA NA FALÉSIA DO CABO BRANCO,PRAÇA DE IEMANJÁ E PRAIA DO SEIXAS, se faz necessário um exame da legislação pertinente e aplicável ao processo de licenciamento, assim como às medidas de controle e proteção necessárias ao bom andamento do empreendimento, e ao gerenciamento costeiro. Desta feita, procura-se, assim, compor um referencial básico acerca da legislação aplicável ao Projeto, contribuindo assim, para uma melhor compreensão dos instrumentos de planejamento, essencial à sua construção e operação.

As principais normas regulamentadoras referentes à implantação do Projeto supracitado, sob o aspecto legal ambiental serão analisadas apresentadas no âmbito federal, estadual e municipal, com a finalidade de subsidiar o órgão ambiental competente para o licenciamento ambiental, e o próprio empreendedor em seus processos de tomada de decisões referentes ao aperfeiçoamento do Projeto, visando consolidar a sua instalação e operação, tendo como premissa o caráter transversal previsto na Política Nacional de Meio Ambiente, através da Lei n 6.938, de 1981 e pela Constituição Federal de 1988, que trouxeram os instrumentos necessários para a proteção ambiental.

No que se refere à legislação incidente ao Projeto em pauta, a exemplo de leis, decretos, resoluções e outras normas, tanto as referentes ao meio ambiente como em particular as que envolvem direta e indiretamente projetos de construções e engordamento em praias, serão citados e discriminados. A Legislação Municipal, incluindo a Lei Orgânica do Município de João Pessoa, Plano Diretor, Código de Meio Ambiente, bem como o Código de Posturas Municipal também deverá ser observada na presente análise legal.

3.1.1 Competência em Matéria Ambiental

A Constituição Federal de 1988 estabeleceu regras de repartição de competências legislativa e executiva à União, Estados, Distrito Federal e Municípios. As questões relativas à política ambiental inserem-se no grupo de normas sobre as quais incide a competência

suplementar para estados e municípios (estes últimos sob a égide do interesse local, conforme artigo 30, Inciso I), cabendo a União às regras gerais.

O art. 24, incisos VI e VII da referida Constituição Federal concede expressamente aos estados a legislar concorrentemente com a União sobre florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico; cabendo aos municípios legislar supletivamente.

O art. 30, I e II dispõe que cabe ao município legislar em assunto de interesse local e supletivamente à legislação federal / estadual no que couber. Isto quer dizer que os estados e municípios têm plena competência para legislar em matéria ambiental, desde que não se contrariem preceitos estabelecidos pelas leis federais, ou seja, desde que as particularidades não tragam disfarçada desobediência às regras gerais. Desse modo, governos estaduais e prefeituras municipais podem tornar as normas federais mais restritivas, mas nunca menos restritivas do que aquelas válidas em todo território nacional.

Por outro lado, cumpre consignar que, muito embora a competência legislativa seja concorrente, a competência executiva para “proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas”, bem como, para “preservar as florestas, a fauna e a flora”, é comum, conforme determinado pelo artigo 23 da Constituição Federal, entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, cabendo a qualquer destes entes a responsabilidade de promover ações aptas a tais fins.

No Capítulo do Meio Ambiente da Constituição Federal, o inciso VI do Art. 225 expressa que "todos têm direito ao ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações". Desse modo, atribui ao Poder Público a responsabilidade da aplicação de medidas no cumprimento do preceito protecionista assegurando-lhe as prerrogativas: Criação de espaços territoriais que devem ficar a salvo de qualquer utilização ou supressão, a não ser que a lei expressamente o autorize;

exigir, na forma da lei, precedentemente à instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo do impacto ambiental ao qual se dará publicidade; e, impor sanções penais e administrativas aos que desenvolvem atividades consideradas lesivas ao meio ambiente, sejam pessoas físicas ou jurídicas, sem prejuízo da obrigação de recuperação dos danos causados.

Recentemente foi aprovado no âmbito do Senado, o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 01, de 2010 que fixa normas nos termos do inciso III, VI e VII do caput e parágrafo único do art. 23 da Constituição Federal, para a cooperação entre os entes União, Estados, Distrito Federal e Municípios, nas ações administrativas decorrentes do exercício de competência comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis e proteção ambiental, alterando a Lei n 6938, de 31 de agosto de 1981, redefinindo assim, as competências para o licenciamento ambiental no país pelas esferas da União, dos Estados e Municípios.

3.1.2 A política nacional de meio ambiente e o licenciamento ambiental

A defesa do meio ambiente pelo Poder Público, enquanto agente fiscalizador e licenciador é um dever constitucional. Este dever ao Poder Público, enquanto empreendedor, e aos particulares, na qualidade de concessionários que venham a executar obras ou assumir a prestação de serviços públicos essenciais.

A Constituição Federal, ao impor como condicionante do licenciamento de atividades potencialmente degradadoras do ambiente a exigência do Estudo Prévio de Impacto Ambiental (art. 225, § 1º, IV da CF), conferiu uma condição de suma importância às normas vigentes sobre a matéria desde o advento da Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981 que instituiu a PNMA - Política Nacional de Meio Ambiente e da Resolução nº 001/86, reguladora dos mecanismos de licenciamento ambiental, e em particular da realização e apresentação do EIA/RIMA, parcialmente alterada e complementada pela Resolução nº 237/97 do CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente.

Instituído pela Lei no 6.938/81, o SISNAMA - Sistema Nacional de Meio Ambiente é constituído por órgãos e entidades de todas as esferas públicas, e tem a seguinte estrutura:

Art. 6º Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, constituirão o Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, assim estruturado:

I - órgão superior: o Conselho de Governo, com a função de assessorar o Presidente da República na formulação da política nacional e nas diretrizes governamentais para o meio ambiente e os recursos ambientais;

II - órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), com a finalidade de assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo,

diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida;

III - órgão central: a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República, com a finalidade de planejar, coordenar, supervisionar e controlar, como órgão federal, a política nacional e as diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente;

IV - órgão executor: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, com a finalidade de executar e fazer executar, como órgão federal, a política e diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente;

V - Órgãos Seccionais: os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução de programas, projetos e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a degradação ambiental;

VI - Órgãos Locais: os órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo controle e fiscalização dessas atividades, nas suas respectivas jurisdições;

Ao CONAMA, cabe o estabelecimento de normas e critérios para o licenciamento, bem como, o estabelecimento de padrões de controle do ambiente, conforme o art.8º: a de determinar, quando julgar necessário a realização de estudos das alternativas e das possíveis consequências ambientais de projetos públicos ou privados” (Inciso II), e a de “estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e a manutenção da qualidade do meio ambiente, com vistas ao uso racional dos recursos ambientais, principalmente os hídricos”

(Inciso VII).

No Estado da Paraíba, o Conselho de Proteção Ambiental – COPAM é competente para a “conservação e proteção dos componentes ecológicos e o controle da qualidade do meio ambiente (art. 230 da Constituição Estadual). Já no âmbito do município de João Pessoa há o Conselho de Meio Ambiente – COMAM, colegiado responsável pelo assessoramento nas questões referentes à preservação, conservação e melhoria do meio ambiente natural, artificial e laboral em todo território do Município, integrante da Estrutura Administrativa da SEMAM- Secretaria do Meio Ambiente Municipal (Lei Complementar 029/2002 – Código do Meio Ambiente).

3.1.3 Licenciamento ambiental do empreendimento

O licenciamento ambiental é um procedimento jurídico administrativo caracterizado como um dos instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente. Foi introduzido em nosso ordenamento jurídico, inicialmente, pela Lei nº 6.803, de 02/07/80 e, posteriormente, convalidado pela Lei nº 6.938/81 que dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente, conceito esse, que integra igualmente as leis ambientais estadual e municipal, aqui estudadas e que se encontram, expressamente desenvolvida posteriormente.

No tocante ao licenciamento ambiental para qualquer intervenção ou construção no ambiente de praia, a Política Nacional de Meio Ambiente elenca quais os instrumentos em seu art. 9º, incisos III e IV que são “a avaliação de impacto ambiental e o licenciamento e a revisão de atividades potencialmente poluidoras, este por sua vez explicitado na Resolução CONAMA Nº 001/86, e reiterado pela Resolução CONAMA Nº 237/97

A expedição da licença representa a formalização de um compromisso firmado entre o empreendedor e o Poder Público. De um lado, o responsável pelo empreendimento se compromete a implantar e operar a sua atividade segundo as condicionantes constantes da licença; de outro, o órgão licenciador afiança que, durante o prazo de vigência da licença, desde que obedecidas às condições nela expressas, nenhuma outra exigência de controle ambiental será imposta ao licenciado.

O Estudo de Impacto Ambiental é imprescindível para o licenciamento, e tem seus critérios básicos e diretrizes normatizados pela Resolução CONAMA Nº 001/86. Seu principal objetivo é avaliar os impactos positivos e negativos causados pela exploração de atividades tidas como potencialmente causadoras de significativa degradação do meio ambiente e apontar medidas mitigadoras que deverão ser incorporadas ao empreendimento, conforme previsto no artigo 225, parágrafo 1º, Inciso IV da Constituição Federal.

As etapas do licenciamento seguem os dispositivos do artigo 19 do Decreto Nº 99.274 de 06 de junho de 1990, que regulamentou as Leis Federais nº 6.902/83 e nº 6.938/81, e são indicadas a seguir:

“I - Licença Prévia (LP), na fase preliminar do planejamento da atividade, contendo requisitos básicos a serem atendidos nas fases de locação, instalação e operação, observados os planos municipais, estaduais ou federais de uso do solo; (com validade máxima de 5 anos, conforme Resolução CONAMA 237/97);

II - Licença de Instalação (LI), autorizando o início da implantação, de acordo com as especificações constantes do Projeto Executivo aprovado (com validade máxima de 6 anos, conforme resolução CONAMA nº 237/97); e

III - Licença de Operação (LO), autorizando, após as verificações necessárias, o início da atividade licenciada e o funcionamento de seus equipamentos de controle da poluição, de acordo com o previsto nas licenças prévia e de instalação”,(com prazo máximo de validade de 4 a 10 anos, conforme Resolução CONAMA 237/97).

Apesar de ser competência do órgão federal do meio ambiente – IBAMA emitir a licença ambiental para o Projeto de Contenção/Redução de Erosão Marinha na Falésia do Cabo Branco, Praça de Iemanjá e Praia do Seixas, conforme 10 e § 4º da Lei Federal 6.938/81 combinado com o artigo 4º inciso I da Resolução CONAMA 237/97, os órgãos do Estado (SUDEMA) e Município (SEMAM), que integram o Sistema Nacional do Meio Ambiente, também podem estar envolvidos no licenciamento compartilhado.