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Lei Estadual de Goiás n° 8.780, de 23 de janeiro de 1980

3. CAPÍTULO III – TRAJETÓRIA HISTÓRICA DOS CONSELHOS DE

4.2. O S ISTEMA DE E NSINO DO T OCANTINS

4.2.2. As Leis infraconstitucionais e o ensino no Tocantins

4.2.2.1. Lei Estadual de Goiás n° 8.780, de 23 de janeiro de 1980

Por força do já citado Decreto Legislativo n° 001, de 1° de janeiro de 1989, o Estado do Tocantins ratificou, como regras básicas para o Sistema Estadual de Ensino, as contidas na Lei n° 8.780, de 23 de janeiro de 1.980, decretada pela Assembléia Legislativa de Goiás. O Sistema de Ensino estava em funcionamento e não podia parar enquanto se dava a estruturação do Estado. Segundo o primeiro Secretário de Estado da Educação, hoje Senador Leomar Quintanilha, em entrevista para esta pesquisa, assumir a educação no Estado foi um grande desafio:

Era um desafio muito grande, muito grande! [...] A estrutura física, totalmente deteriorada. Tinha escola que nós não sabíamos como ela estava de pé. Em muitas escolas as crianças sentavam-se no chão. Instalações hidráulicas, sanitárias, elétrica... arrebentadas. Escola sem água. Tinha escola que você encontrava um amontoado de carteiras quebradas que quase alcançava o teto da escola. [...] Material de expediente, nem pensar. Material escolar, material pedagógico também não tinha. Pior do que isso, recurso humano também totalmente desmotivado e na sua grande maioria, desqualificado. Nem habilitados. Nós tínhamos pessoas que não tinham o 1° grau completo em sala de aula. Foi um choque conhecer essa realidade. Não existia o Conselho também. Nós tínhamos que criar todo o sistema.

E ainda:

...à medida que nós íamos tomando conhecimento da realidade, era algo assim assustador! A demanda reprimida era quase igual a nossa capacidade de atendimento; ou seja, a quantidade de vagas que nós tínhamos para as crianças em idade escolar era quase igual à quantidade de crianças em idade escolar que estavam fora da sala de aula. (...) Muita gente apostou que nós não conseguiríamos fazer o sistema funcionar em março, mas Deus estava do nosso lado e as pessoas muito empolgadas, muito entusiasmadas [...], todo mundo querendo ajudar, então nós fizemos o sistema funcionar. (Leomar Quintanilha, ex-Secretário de Estado da Educação, Cultura e Desporto)

Com um ano letivo às portas, o maior contingente de servidores das secretarias, um desligamento abrupto do Sistema de Ensino de Estado de Goiás e ainda uma demanda de vagas que superava em o dobro as existentes... Foi assim, neste contexto, que a educação escolar deu seus primeiros passos no Estado do Tocantins. Continuando seu depoimento, o então Secretário de Educação, comenta que:

O Estado foi instalado no dia 1° de janeiro; então eu recebi do Governador do Estado, um convite honroso, de ser o Secretário da Educação. Eu vi que seria um desafio muito grande, até pela importância da educação no contexto da formação da sociedade. E até o quadro de servidores que tinha no estado à época, remanescente de Goiás, mais de 60 % era na área de educação. O contingente maior dos funcionários do estado era na área da educação. Daí o que ocorreu? Com a iminência da criação do Estado do Tocantins, o Estado de Goiás simplesmente abandonou essa região, simplesmente abandonou essa região... Então, quando foi criado o Estado,[...] faltou boa vontade por parte da área da educação do Estado (de Goiás), eu fui com a subsecretária à Secretaria de Educação do Estado de Goiás, que não havia realizado a modulação na área do Tocantins. Então nós não tínhamos essas informações, e eles se negaram a nos fornecer, inclusive a modulação anterior. Então nós não tínhamos informações nenhuma sobre o contingente, o maior contingente de servidores do Estado, e nós da Secretaria da Educação não tínhamos informações nenhuma. Aliás, nós não tínhamos nada. Nós não tínhamos nada. O que eu recebi como primeiro Secretário pra fazer funcionar o sistema de educação do Estado foi um organograma; numa folha de papel. O Governador me entregou o organograma e falou “está aqui sua Secretaria. Assuma!” E eu fui procurar como é que iria funcionar... (Leomar Quintanilha).

Se a literatura ainda é muito escassa quando se buscam referências à história do Tocantins, muito mais o é quando trata de questão da educação escolar no novo Estado. Segundo Pinho (2004, p. 58), a região era “marcada por graves questões sociais, principalmente no que se refere aos indicadores educacionais”. Um importante documento, fonte para algumas análises deste trabalho, é o Primeiro Censo Educacional, realizado pela Secretaria de Educação e Cultura, no ano de 1990.

Dois pontos chamam a atenção logo na apresentação do referido documento: primeiro, que a Secretaria, na pessoa da Secretária, Professora Wadya Carvalho de Oliveira, reconhecia que os dados apresentados eram imprescindíveis para elaboração de um planejamento, permitindo a aplicação de recursos com possibilidades de maior eficácia. Conhecer o percurso já é meio caminho andado! Segundo, ela, a Secretaria reconhecia também que os dados podiam não ser ainda totalmente reais, mas se aproximavam em muito da realidade.

Segundo informação de Oswaldo Dantas de Sá Junior, Diretor do Departamento de Pesquisa e Informação da Seduc, à época da realização do Censo Educacional, o referido documento foi elaborado da forma mais desbravadora que se possa imaginar, pois, na ocasião, o Estado não possuía equipamentos de informática, nem mesmo simples computadores, e por isso todo serviço foi feito manualmente. O trabalho final de redação do documento foi executado graças à existência de uma única máquina de datilografia naquele Departamento.

Recentemente, por ocasião do dia do servidor público, o governador Marcelo Miranda, relembrou mais uma vez as dificuldades vividas pelos servidores daquela época:

Poucos estados brasileiros devem, na atualidade, tanto a seus servidores públicos, quanto o Tocantins. Aqui, os servidores tiveram que assumir, além de suas tarefas normais, a condição de desbravadores, aliás, de verdadeiros bandeirantes do progresso. O Estado precisava ser implantado. Faltavam as mínimas condições de trabalho. Exigia-se do servidor público esforço sobre- humano. Prédios inadequados, estruturas incipientes, veículos mais para a sucata que para o transporte de funcionários. Em Palmas, os valentes servidores enfrentaram a poeira no verão e a lama no inverno [...] (TOCANTINS, 2005a).

Em 1989, a Seduc, que contava com nove Delegacias Regionais de Ensino41, diagnosticou, após levantar os dados nas Unidades Escolares, que muitas escolas municipais estavam paralisadas; muitas escolas haviam sido recém-criadas; e muitas outras haviam sido extintas por falta de condições mínimas de funcionamento.

Apesar de o número de escolas localizadas na zona rural, em 1989, ser bem maior, que as localizadas na zona urbana, o número de alunos do ensino fundamental atendidos nestas primeiras não chegava a 10% do total atendido na zona urbana. Das 233.530 matrículas 152.286 eram na rede pública estadual, sendo 138.349 na zona urbana e 13.937 na zona rural. Uma das razões para esse descompasso era o “empreguismo”, como relatou, em entrevista, a Secretária de Educação da época, Wadya Carvalho:

Eu lembro ... de um assentamento em Peixe. Chegaram os chefes do movimento dos assentados e ... “nós temos 50 crianças sem escola sem escola! ”. Nossa! Eu fiquei assustada. 50 crianças sem estudar? Não é possível! Mas ao lado da escola (junto com o pedido) já vinha a relação... Porque naquele momento tudo era contrato. O Estado estava empregando, o maior empregador era o Estado. Tinha também esse problema ... nós tivemos que enfrentar também esses problemas políticos. Porque ... ao lado da criação da escola já vinha o nome do diretor, da porteira servente, de tudo, e, tudo da família... Era uma familiocracia. A escola também já funcionava na casa de um que era, que ia ser, alguma coisa da escola.

O Censo de 1990 trata com detalhes apenas dados referentes às escolas da rede pública estadual, que na época eram 415, mas não deixa de registrar que o estado ainda tinha 2.261 escolas municipais, 7 escolas federais42, e ainda 40 escolas da iniciativa privada, totalizando 2.723 escolas.

Segundo o Primeiro Censo Educacional (TOCANTINS, SEDUCb, 1990), as atividades de ensino nas primeiras séries, chamadas pré-escolar e classes de

alfabetização43, estavam, em 1989, concentradas na rede municipal e, se consideradas

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O quadro indicando estas Delegacias Regionais de Educação e Cultura - DREC e seus respectivos municípios integram os anexos deste trabalho.

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A Escola Técnica de Araguatins ofertava ensino médio, as demais escolas federais ofertavam pré-escolar e ensino fundamental nas aldeias indígenas em Miracema, Pedro Afonso e Tocantinópolis..

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todas as esferas administrativas, percebe-se que o maior contingente de matrículas encontrava-se na região do bico do papagaio44.

Segundo registro em ata do CEE-TO (32 ª Reunião), até o ano de 1991, a Capital do Estado só contava com uma escola que oferecia o Segundo Grau (Ensino Médio): o Colégio Estadual de Palmas. Localizado na parte central da cidade ainda em implantação, o colégio funcionava mediante condições extremamente precárias. Apesar destas dificuldades, o Ensino Médio era ofertado em 82,27% dos Municípios do Estado, sendo que além do Ensino Médio regular (curso científico) mais onze cursos profissionalizantes eram ministrados: Assistente de Administração, Auxiliar de Histologia, Básico em Administração, Básico em Saúde, Histologia Clínica, Magistério, Técnico em Agropecuária, Técnico em Contabilidade, Técnico em Eletrônica, Técnico em Enfermagem, Técnico em Secretariado.

O Curso de Magistério destacava-se pela oferta em 46 Municípios e o Técnico em Contabilidade, em 31 Municípios. No entanto, o número de matrículas não era proporcional ao número de municípios que ofereciam os Cursos: 5.644 alunos estavam nos Curso de Técnico de Contabilidade e 4.545 nos Cursos de Magistério. O Ensino Médio era o terceiro mais procurado e encontrado em 22 Municípios do estado, atendendo 3.268 alunos. Os cursos Técnicos em Agropecuária e Enfermagem eram ministrados em 5 e 4 municípios, respectivamente, sendo que, no primeiro curso, as matrículas indicavam 682 alunos e, no segundo 132. Nos demais cursos profissionalizantes as matrículas variavam entre 15 e 233. (TOCANTINS, SEDUC, 1990b)

O ensino fundamental era, muitas vezes, oferecido em escolas em situação irregular, sem o registro no Conselho de Educação. O mesmo acontecia com os cursos de nível médio, no entanto, a necessidade de certificação dos concluintes destes cursos demandava uma urgente regulamentação do CEE-TO. Analisando as ações do CEE-TO em seus dias iniciais, a Conselheira Margarida Lemos observa:

(...) nós começamos a encher os nossos armários de prontuários dos colégios do estado. Então este foi um trabalho especial daquele tempo. [...] começamos a trabalhar regulamentando os colégios que estavam fora da lei [...] Então eram as

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Região jurisdicionada pelas Delegacias Regionais de Ensino de Tocantinópolis e Araguaína. Esta região é assim denominada, em decorrência ao desenho similar ao do bico da ave, formado nos limites geográficos no extremo norte do estado.

regulamentações, dizendo que o Conselho aprovou, que o Conselho reconheceu...

Naquela ocasião, o Estado contava com 10.223 professores, muito desses professores sem habilitação para o exercício da função, pelo que se pode perceber, no quadro abaixo:

QUADRO 2 - Demonstrativo de Docentes/Formação da Educação Básica no Tocantins – 1989 Esfera Administrativa Sem Formação Mínima (Leigos45) Com Formação Mínima (Magistério) Licenciatura, em curso Licenciatura completa Bacharelado Estadual 1.454 3.678 300 382 88 Municipal 3.179 503 14 21 9 Particular 265 265 37 115 34 Total 4.898 4.446 351 518 131

Fonte: Primeiro Censo Educacional (TOCANTINS, SEDUCb, 1990)

Aspectos mais específicos sobre o CEE-TO, neste período, serão abordados no próximo capítulo, haja vista as peculiaridades do órgão, no contexto de criação do Estado.