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3. CAPÍTULO III – TRAJETÓRIA HISTÓRICA DOS CONSELHOS DE

4.2. O S ISTEMA DE E NSINO DO T OCANTINS

4.2.2. As Leis infraconstitucionais e o ensino no Tocantins

4.2.2.2. Lei Estadual n° 653, de 19 de janeiro de 1994

Um ano após sua implantação, o Estado já contava com sua própria Constituição; no entanto, só em 19 de janeiro de 1994, a Assembléia Legislativa do Estado do Tocantins aprovou a Lei n° 653, criando o Sistema Estadual de Educação do Estado. Conforme observado, o Sistema Estadual de Educação do Tocantins já existia, oriundo do Sistema de Goiás. Aqui, o legislativo formalizou as regras, fazendo o necessário corte no cordão umbilical com o Sistema de Ensino do Estado de Goiás.

Segundo o atual Secretário Executivo do CEE-TO, Professor Tibúrcio Gabino, que em 1994 integrava o rol dos Conselheiros, aquele Colegiado protagonizou papel fundamental na elaboração da primeira lei tocantinense de ensino:

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Houve uma Portaria. Aconteceu uma emergência; nosso Secretário ia representar o Estado em conferências nacionais e internacionais e precisava levar o projeto de lei do sistema e nessa emergência, então, representantes e membros do Conselho: professora Margarida, professor Fidêncio, eu, inclusive eu, estive e tenho a honra de ter participado daquela comissão. Mas também me lembro que a professora Isabel Auler Pereira estava na comissão... bem... Lula, (Diretora de Ensino na época) esteve conosco. [...] Ela (a proposta do projeto de lei ) saiu de fato, foi gestada, gerada, aqui dentro do Conselho.

A Portaria aqui mencionada é a de n° 0062/93 – SEDUC, de 05 de abril de 1993, em que o Secretário de Educação, Cultura e Desporto nomeava três representantes do CEE-TO, juntamente com um representante da Seduc, um da Universidade do Tocantins e dois da Universidade Federal de Goiás para elaborarem o Ante-Projeto de Lei do Sistema

Estadual de Ensino do Estado do Tocantins, sendo a Comissão presidida pela Presidente

do CEE-TO.

Consta na primeira Lei do Sistema Estadual de Educação do Tocantins que o Estado adotava a educação como:

Art. 1°

(...) instrumento da sociedade para promoção do exercício da cidadania nos ideais de igualdade, liberdade, solidariedade e felicidade; para qualificação, para o trabalho, origem da riqueza individual e coletiva; para a criação e difusão da cultura, fonte do bem estar (sic) pessoal e social. (TOCANTINS, 1994).

Além disso, o Estado reconhece como integrantes do Sistema Estadual de Ensino46 as Instituições de Ensino Superior públicas (estaduais e municipais) e as instituições de educação básica privadas, e ainda, os Conselhos Estaduais de Educação, o de Cultura e o de Ciências e Tecnologia, bem como a Secretaria de Estado da Educação, Cultura e Desporto. Cabia aos Conselhos, a responsabilidade de definir regras, interpretar leis e fiscalizá-las; à Seduc a execução das ações educacionais de responsabilidade do governo no Estado.

A Lei Estadual n° 653/94, em seu artigo 10, deixava bem explícito ser, dentre outras, de competência da Secretaria de Estado da Educação, Cultura e Desporto a

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Como nas legislações nacionais, a legislação do Tocantins também apresenta divergência nas nomenclaturas. Apesar de a Lei ser batizada como Sistema de Educação, a partir do art. 4°, ora aparece a expressão ensino, ora educação. Adotaremos o uso tal qual no artigo explorado.

erradicação do analfabetismo e a universalização do atendimento escolar. Constata-se, no

entanto um descuido do legislador quando deu pouca atenção ao ensino público, deixando, inclusive, de admití-lo como parte integrante do Sistema de Ensino do Estado, ao omití-lo do texto da referida lei. Uma das razões para este fato pode explicar-se pelo pronunciamento da Professora Margarida Lemos, quando relata a preocupação do CEE- TO, nos seus primeiros anos de funcionamento:

Eu tive que ir duas vezes a Araguaína por causa de uma escola que haviam denunciado. No dia que cheguei lá, quatro dias antes das aulas começarem, não tinha nada! Não tinha uma sala de aula arrumada. Não tinha banheiro pronto, não tinha nada!

Pública?

Não, particular. As escolas públicas nós apertamos mais: “Vocês tem o dever de andar direito”. E a particular já sabe, se vocês não agirem em tempo [...], a escola não funciona. A escola pública, sim, pode até funcionar porque dá o atendimento a população carente e manda a coisa adiante, mas vocês não. São feitos para população mais..., de mais posse, não é? (Professora Margarida Lemos).

Havia uma proliferação necessária, porém desorganizada, das instituições de ensino pelo Estado. Para se ter uma idéia, consta em atas do CEE-TO que, das 21 escolas ativas em Palmas, apenas duas estavam devidamente autorizadas pelo CEE-TO até abril de 1994. E as condições das escolas não garantiam condições mínimas de qualidade do ensino. O Conselheiro Fidêncio Bogo, em um de seus Pareceres, chegou a descrever, parcialmente, o que estava sendo oferecido aos alunos no ano de 1993:

Centenas de estudantes cujas famílias migraram de outras cidades e de outros Estados, deparando-se aqui com escolas apinhadas e desaparelhadas, com classes superlotadas, com deficiência de pessoal docente e técnico- administrativo, com a esmagadora maioria de estudantes trabalhadores, com cursos de turno único, [...] Some – se a isso a precária situação de maioria das escolas em termos de recursos didáticos, em termos de pessoal técnico- administrativo preparado para suas tarefas, além da injustificável diversidade de currículos entre escolas do próprio Estado e ter-se-á um pouco de luz para entender porque se chegou a esta situação [...] (TOCANTINS/SEDUC/CEE- TO, 1993)

Com 74 artigos, a Lei n° 653/94 define os princípios e as funções para os órgãos educacionais; define o currículo da educação básica; estabelece a educação escolar

indígena como prioritária na educação escolar e, institucionaliza a Inspeção Escolar como uma Coordenação da Secretaria de Educação.

O legislador reservou um capítulo exclusivo para apresentar o CEE-TO, sua natureza e competências específicas, como vêem nos dois artigos transcritos a seguir:

Art.11 O Conselho Estadual de Educação é órgão normativo, consultivo e fiscalizador do sistema de Ensino do Estado do Tocantins, competindo-lhe especificamente:

a. emitir parecer sobre assunto de natureza pedagógica e

educacional que lhe for submetido pelo Governador do Estado ou pelo Secretário de Estado da Educação, Cultura e Desporto;

b. interpretar a legislação da educação;

c. estabelecer normas disciplinadoras para a autorização,

funcionamento, reconhecimento e inspeção de estabelecimento de educação infantil, ensino fundamental, médio e médio profissionalizante, integrante do Sistema de Ensino do Estado do Tocantins;

d. autorizar o funcionamento de escolas isoladas de ensino superior e os cursos por elas ministrados, quando pelo município, e fiscalizar seu funcionamento segundas normas que o estabelecer;

e. articular-se com órgãos, entidades federais, estaduais e municipais, visando a eficiência do Sistema de Ensino do Estado do Tocantins;

f. servir como instancia recursal em matéria de ensino e pesquisa. Art. 12 Dependem de homologação do Secretário de Estado da Educação, Cultura e Desporto os pareceres do Conselho Estadual de Educação que fixam normas aplicáveis ao Sistema Estadual de Ensino do Tocantins. (TOCANTINS, 1994)

No que tange especificamente ao CEE-TO, a Lei também prescrevia, como sua competência, regulamentar alternativas de educação profissional, tendo em vista as peculiaridades regionais e as condições disponíveis (art. 39) e implementar providências que viabilizassem e estimulassem o acesso e a permanência do trabalhador, na escola (art.47).

Conforme já mencionado, a criação de uma Coordenação de Inspeção Escolar, no âmbito da Seduc, retirou parte das atribuições CEE-TO, no tocante à fiscalização da oferta do ensino no estado do Tocantins, que lhe eram legalmente afetas desde sua criação.