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Lei Estadual nº 1.360, de 31 de dezembro de 2002

3. CAPÍTULO III – TRAJETÓRIA HISTÓRICA DOS CONSELHOS DE

4.2. O S ISTEMA DE E NSINO DO T OCANTINS

4.2.2. As Leis infraconstitucionais e o ensino no Tocantins

4.2.2.4. Lei Estadual nº 1.360, de 31 de dezembro de 2002

Quatro anos depois, uma nova Lei do Sistema Estadual de Ensino foi instituída. A Lei nº 1.360, de 31 de dezembro de 2002, que dispõe sobre o Sistema Estadual de Ensino

do Estado do Tocantins. A redação de alguns artigos viria a ser alterada e/ou revogados

pela Lei n° 1.455, de 29 de abril de 2004. Segundo a Presidente do Conselho, à época da aprovação dessa lei, a sanção decorreu de uma iniciativa da Secretaria de Educação e Cultura, que nomeou uma comissão para rever o texto, incluindo representantes do CEE- TO:

Então segui a ordem da professora Dorinha de adequar a lei em dois pontos: era pra criar um artigo que inserisse a Escola de Gestão Compartilhada, porque ela estava saindo de um mandato de 2002 e tinha receio que o Programa acabasse. Seria um Programa não da Secretária, mas de Governo. Se mudasse de Secretária o Programa continuaria, pois estava na lei aprovada pelos Deputados. [...] eu escrevi o artigo da gestão compartilhada. E o outro pedido era sobre incluir algo sobre o transporte escolar, como competência dos municípios com apoio do Estado, que não dizia em lugar nenhum. Era problema [...] então eram estes dois pontos pra incluir. (Professora Marilha Maciel, ex-Presidente do CEE-TO)

Dos pontos conflituosos indicados no Quadro 3, dois permanecem no âmbito da nova Lei: 1) a fixação de normas para elaboração e aprovação de regimentos das instituições de ensino de educação básica; e 2) a interpretação, “no âmbito de sua jurisdição”, das disposições legais fixadas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Na prática, até hoje, o CEE-TO continua zelando pelo cumprimento da primeira e, quando consultado, emite parecer interpretando, de forma tímida, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. O CEE-TO aparece em diferentes artigos da Lei, sendo que alguns fazem indicação, ainda que indiretamente, de atribuições que lhe competem. Veja- se o que dispõe a lei:

1. integra o Sistema Estadual de Ensino (art. 2° inciso II)

2. recebe apoio estratégico e logístico da Seduc (art.4° inciso IV);

3. autoriza e reconhece, para funcionamento, instituições de ensino públicas e privadas e ainda avalia-lhes a qualidade (art.4° inciso IX, alínea a);

4. estabelece normas para autorização, reconhecimento e inspeção das instituições de ensino básico, bem como edita normas para renovação periódica desse reconhecimento, e ainda autoriza o funcionamento de instituições de ensino médio (art.4° inciso IX, alínea b e c e art.30 § 1°, respectivamente);

5. baixa normas sobre a oferta do ensino sob regime de dependência e progressão continuada (art. 4° inciso III, alínea d e art.18, § 2°);

6. regulamenta a parte diversificada dos currículos da educação básica e estabelece as diretrizes complementares para formação de profissionais de nível técnico e tecnológico (art. 10 e art.60);

7. edita normas de produção, controle e avaliação de programas de ensino a distância, bem como autoriza o funcionamento de instituições para essa modalidade de ensino (art.12, § 1°);

8. aprova Regimentos Acadêmicos de instituições isoladas de ensino superior, pertencentes ao sistema estadual (art.27 § 2°);

9. define critérios para classificação de alunos (art.30 § 2°);

10. manifesta previamente sobre autorização, avaliação, fiscalização, reconhecimento de cursos e programas e credenciamento de Instituições de Educação Superior - IES integrantes do sistema estadual, bem como sobre criação de universidades (art. 35 e 39);

11. estabelece e realiza avaliações nas IES do sistema (art.38 § 2°);

12. restitui processos indeferidos pela Ordem dos Advogados do Brasil às IES que pleitearam autorização de funcionamento de cursos na área jurídica (art. 42 § 3°);

13. regulamenta cursos e exames de Educação de Jovens e Adultos (Parágrafo único do art. 50);

14. estabelece critérios para caracterização das instituições especializadas em educação especial, sem fim lucrativo (art.66);

15. aprova Regimento escolar das instituições de ensino (art. 67 § 1°) e, 16. elabora normas para expedição de documentos escolares (art. 67 § 4°);

Em menos de uma década, o Sistema de Ensino do Tocantins foi disciplinado por três diferentes Leis. Num prazo inferior a um ano e meio de sua aprovação, a última Lei sofreu alterações substanciais na redação, principalmente na seção referente ao Ensino Superior; tendo artigos revogados e muitos outros alterados por erro de redação. Fato justificado quando se observa que a lei fora aprovada no último dia de um governo e que, embora tenha sido nomeada uma comissão, o tempo era insuficiente para uma elaboração precisa e uma revisão mais acurada.

Aconteceu primeiro, dele (o documento, a minuta do projeto de lei) ser alinhavado nesta ordem, de adequação, no comecinho de dezembro e a lei foi aprovada em 31 de dezembro. Nós tivemos muito pouco tempo. Não tivemos tempo pra fazer esta articulação (Professora Marilha Maciel, ex-Presidente do CEE-TO).

Embora seja possível justificar cada uma das leis sancionadas, há de se considerar o posicionamento do CFE, que sempre se mostrou contrário à aprovação de alterações em períodos tão curtos. A título de exemplo, pode-se citar o Parecer do Conselheiro D. Cândido Padin, que ao indicar o posicionamento do CFE sobre um Projeto de Lei da Câmara dos Deputados, para alteração de um artigo da Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional, em resposta a um pedido do Ministro da Educação e Cultura, mostrou

a necessidade de um tempo maior de execução da Lei, tempo que permitisse a ampla implantação da mesma e que possibilitasse uma avaliação dos resultados de sua aplicação:

Mesmo sem entrar no mérito de cada caso, o CFE. tem-se pronunciado contrariamente a alterações na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Não por julgá-la perfeita e intocável, mas pela conveniência de uma certa duração do período inicial de sua aplicação. Freqüentes mudanças de leis sistematizadoras, e que fixam estruturas básicas, perturbam as condições de implantação da nova ordem institucional e dificultam a formação da nova mentalidade, principalmente quando se trata de lei, como é o caso da L.D.B. inovadora na sua sistemática normativa. É claro que poderiam ser justificáveis as correções de defeitos graves, especialmente quando contrariassem dispositivos fundamentais da própria Lei.[...] Em conclusão, somos de parecer contrário à aprovação de alteração da L.D.B. até que a sua ampla implantação e a experiência resultante da sua aplicação, ofereçam subsídios suficientes para uma revisão, talvez após o seu primeiro decênio de vigência. (BRASIL/MEC/CFE, 1965, p. 52 - 53)

A educação, assim como outras áreas da vida e da sua organização social, recebe as interferências da globalização em prazos muito mais curto que outrora. Assim, o “rigor da lei” só impediria as possibilidades de avanços no processo educacional. Por isso, há de se

ter o cuidado de legislar por instrumentos mais amplos, deixando os detalhes para normas complementares. Aliás, o próprio Senador Darcy Ribeiro em uma de suas defesas públicas do projeto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, indicou que o Substitutivo do Senado assumia a “forma de um diploma legal sucinto, claro e genérico”, dando “espaço tanto por parte das escolas e universidades, como por parte de sistemas estaduais de ensino” (RIBEIRO, 1996, p.11).

5. CAPÍTULO V - O CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DO