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Lei Estadual n° 1.038, de 22 de dezembro de 1998

3. CAPÍTULO III – TRAJETÓRIA HISTÓRICA DOS CONSELHOS DE

4.2. O S ISTEMA DE E NSINO DO T OCANTINS

4.2.2. As Leis infraconstitucionais e o ensino no Tocantins

4.2.2.3. Lei Estadual n° 1.038, de 22 de dezembro de 1998

Quase cinco anos depois da primeira lei do sistema de ensino, em 22 de dezembro de 1998, agora sob a égide da Lei Federal n° 9.394/96, um novo estatuto legal foi sancionado no Estado do Tocantins, a Lei Estadual n° 1.038. Nota-se que esta lei procurava adequar-se às disposições da então nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional, proporcionando ao Estado condições de atualização de suas políticas

educacionais, além de ajustar-se às indicações traçadas pela lei federal para os sistemas estaduais de ensino.

Diferente da Lei Estadual n° 653, essa Lei não contou com a participação do CEE- TO no processo de sua elaboração. Segundo o ex-Presidente do CEE-TO, Pe. Rui Cavalcante, “o Colegiado não teve nenhuma participação. O Colegiado não foi solicitado para opinar”. A informação é confirmada pela Secretária de Estado da Educação, Professora Maria Auxiliadora Seabra47, que à época era Conselheira e presidia a Câmara de Ensino Superior. Questionada se houve participação do Colegiado no processo, ela responde:

Eu acredito que não. (...) Não sei se foi enviada para o Conselho, até porque como eu estava na Câmara de Ensino Superior... Eu acredito que não tenha ido pra lá.

No que se refere à integralização do Sistema, duas indicações diferem da lei anterior: primeiro, a indicação generalizada de “órgãos de educação estadual”, deixando de fazer menção específica a cada um dos órgãos do sistema. Isso permitiria mexer na estrutura do governo, sem maiores complicações. Segundo, a inclusão das “instituições de ensino mantidas pelo Poder Público Estadual”, até então não consideradas na legislação, corrigindo a omissão da lei anterior. A gestão democrática, preceito constitucional para gestão das escolas mantidas pelo poder público desde a CF/88, recebe como diretriz, para funcionamento, a criação de Associações de Apoio pela comunidade local.

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A professora Maria Auxiliadora Seabra é mais conhecida no estado como Professora Dorinha, sendo assim referida por alguns entrevistados.

Houve progressos significativos com a adoção desta nova legislação, no entanto não foram poucos os atropelos criados pelo legislador, quando de sua elaboração. No texto aparecem vários enunciados contraditórios entre um artigo e outro, e ainda, contraditórias em relação à própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e outras legislações do Estado. Por exemplo, considerando o foco deste trabalho, pode-se citar que, das onze competências atribuídas à Seduc, cinco são conflituosas com as atribuições do Conselho Estadual de Educação. O quadro abaixo mostra a justaposição nas atribuições da Secretária e do Conselho no período de vigência da Lei Estadual n° 1.038/98:

Quadro 3: Competências das Secretarias Versus Competências dos Conselho

Competência da Secretaria Competência do Conselho

Compete a Secretaria da Educação e Cultura: (...) autorizar o funcionamento do ensino particular e avaliar-lhe a qualidade; (art.4 °, inciso V, Lei 1.038/98)

Compete ao Conselho Estadual de Educação (...) autorizar o funcionamento do ensino particular e avaliar-lhe a qualidade. (art. 133 da Constituição do Estado)

Fixar critérios e normas para elaboração e aprovação dos regimentos dos estabelecimentos de ensino de educação básica; (art.4 °, inciso VII, Lei 1.038/98)

Fixar normas para: a organização administrativa, didática e disciplinar de cada estabelecimento de ensino, a ser regulada em seu regimento; (art. 40, inciso XII, alínea a, Regimento do CEE-TO de 1996)

Estabelecer normas e condições para autorização de funcionamento reconhecimento e inspeção de estabelecimento de ensino de educação fundamental e media sob a sua jurisdição. (art.4 °, inciso VII, Lei 1.038/98)

Fixar normas para: regulamentar a criação e o funcionamento de estabelecimento de educação básica e superior; (art. 40, inciso XII, alínea e, Regimento do CEE-TO de 1996)

Interpretar, no âmbito de sua jurisdição, as disposições legais que fixem diretrizes e bases da educação; (art.4 °, inciso IX, Lei 1.038/98)

Interpretar, no âmbito de sua jurisdição, as disposições legais que fixam as diretrizes e bases da educação; (art. 40, inciso IX, Regimento do CEE- TO de 1996)

Baixar normas para renovação periódica do reconhecimento concedido a estabelecimento de ensino de educação básica. (art.4 °, inciso XI, Lei 1.038/98)

Fixar normas para: a organização administrativa, didática e disciplinar de cada estabelecimento de ensino, a ser regulada em seu regimento; (art. 40, inciso XII, alínea a, Regimento do CEE-TO de 1996)

Fonte: Constituição Estadual de 1989, Lei 1.038/98 e Regimento do CEE-TO de 1996.

Lamentavelmente, a referida Lei Estadual trouxe também vestígio de outra era, podendo-se citar, como exemplo, o Parágrafo único do artigo 58, que trata da admissão, em sala de aula, do profissional da educação sem formação mínima, em caráter precário, termo e figura abolidos pela Lei Federal n° 9.394/96.

Analisando as estatísticas referentes ao corpo docente em exercício, no ano de 2002, observam-se alguns fatos interessantes, dos quais destaca-se o alto índice de profissionais não habilitados em exercício no magistério concentrava-se nas instituições de ensino da iniciativa privada; 80,8% dos docentes com escolaridade de ensino fundamental. Apenas 28,6% dos docentes habilitados, em cursos superiores de licenciatura, eram professores nessas instituições (PINHO, 2004). Segundo o artigo 133 da Constituição do Estado do Tocantins, o CEE-TO é quem deveria exercer a fiscalização das atividades e do cumprimento de normas educacionais, coibindo irregularidades desta natureza.

Uma importante indicação da Lei n° 1.038/98 está no artigo 71, que determinava ao Poder Executivo o encaminhamento à Assembléia Legislativa, num prazo de sessenta dias, de um Projeto de Lei que adequasse o Conselho Estadual de Educação à nova legislação de Ensino, no Estado. Embora com o prazo já extrapolado, em 31 de março de 1999 o CEE- TO encaminhou ao Secretário de Estado, através do OFÍCIO/SEDUC/CEE-TO N° 075/99, uma minuta de Projeto de Lei, “em contribuição, para os procedimentos de praxe”. Questionado por que a iniciativa não prosperou, o ex-Presidente do CEE-TO afirmou: “Simplesmente porque não foi encaminhado. Os que deveriam encaminhar, ao senhor Governador, não encaminharam. Então parou por ali e, assim ficou” (Pe. Rui Cavalcante).

A entrevista com o Secretário de Estado da Educação, à época, professor Humberto Falcão, nada esclareceu sobre o fato. Ele afirmou não lembrar do caso. Buscaram-se maiores informações sobre a evolução do processo, mas rastreando o Sistema de Protocolo da Seduc, o que foi possível constatar é que o documento terminou seu percurso em uma das gavetas do Gabinete do Secretário.

A edição da Lei 1.038/98 era a oportunidade que o CEE-TO esperava, desde seus primórdios, para rever a estrutura do órgão, já que a Presidente do CEE-TO, Professora Margarida Lemos Gonçalves, alertava, em 18 de fevereiro de 1992, para a “necessidade de, em tempo hábil, repensar a estrutura do Conselho prevista na Constituição do Estado” (ATA DE POSSE DO CEE-TO, 1992. p. 06). Mas como visto, o Colegiado não recebeu retorno do encaminhamento e o CEE-TO permanece sob a égide da Lei Complementar n° 8, de 1995, ou seja, sob os ditames da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1961.