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Letramento digital: uma possibilidade de inclusão social

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3 Por um modelo de letramento

2.3.3 Novos Letramentos: múltiplos, multissemióticos, críticos e protagonistas

2.3.3.1 Letramento digital: uma possibilidade de inclusão social

As transformações advindas de uma sociedade cada dia mais tecnológica repercutiram nas formas de interação, entre elas as da leitura e da escrita, em que os sujeitos passaram a se envolver, conforme já discutido nos estudos dos Novos Letramentos, fazendo uso de variados gêneros textuais criados, modificados ou adaptados para o suporte, como o e-mail, o blog, o chat e as narrativas digitais, dentre tantos outros. A exemplo disso, basta apurar a visão para o que acontece na sala de aula e logo percebemos quão imersos no mundo virtual eles estão. Tal certificação conduziu-me à reflexão sobre o uso dessas formas de comunicação na internet para o ensino de língua materna.

Foi, então, no diálogo com os alunos que busquei orientação para realizar as escolhas apresentadas neste texto. E, para contemplar também as metas apontadas pela Pedagogia dos Novos Letramentos, foi empreendido aqui o trabalho da Língua Portuguesa operando no letramento digital com as múltiplas semioses, tais como imagem, áudio, vídeo – outras linguagens – que possibilitam o estudo da língua num contexto dinâmico e atual, característico da juventude contemporânea.

No entanto, Braga (2007) descreve que a disseminação dos novos gêneros digitais, principalmente os mais informais, como as conversas nas salas de bate-papo, desencadearam nesse meio uma apreensão com a escrita considerada adulterada, por não condizer com a escrita formal, que é valorizada socialmente por todos. Esse modelo de comunicação foi denominado

“internetês”. Pereira/Moura (2005 apud SOUSA, 2007, p. 200) ressaltam que a linguagem utilizada nesse espaço objetiva o diálogo, e por isso “se reveste de características linguístico- discursivo-processuais específicas, a fim de possibilitar os efeitos de sentido dessa nova interação”. Logo, os adolescentes têm ciência dessas variedades distintas de linguagem, que se usa na escola e na internet, e tal preconceito poderia ser evitado a partir de uma consciência linguística que respeitasse as variedades.

Alguns fatores revelam as contribuições da mediação tecnológica nas práticas comunicativas. Dentre eles, destaca-se a relação do gênero textual e suporte, pois um se molda ao outro, o que implica dizer que os textos que circulam no meio digital “exploram a linguagem eletrônica em todas as suas possibilidades com fotos, vídeos e outros recursos” (SOUSA, 2007, p. 201), assim, tornam-se mais atrativos aos usuários e proporcionam experiências de leitura mais prazerosas e menos complexas por não serem tão marcadas pelos valores privilegiados das instituições dominantes, possibilitando assim a inclusão dos grupos menos letrados.

Outro aspecto característico dessa modalidade que merece atenção é a ampliação da dialogicidade, que se distingue da escola por ser estendida na internet, considerando-se que a possibilidade de escrever para interlocutores que irão interagir é bem mais atrativa e estimulante do que escrever para um professor que assume o papel simplesmente de avaliador na interação verbal.

Assim, o trabalho com as novas tecnologias é, acima de tudo, uma oportunidade de propor “situações de ensino significativas, que mantenham o caráter comunicativo da linguagem” (VIEIRA, 2005, p. 201 apud SOUSA, 2007, p. 202), visto que na internet se escreve para um interlocutor real e, portanto, se escreve muito mais e de forma ativa no processo de comunicação verbal.

Por conseguinte, mediante a compreensão da relevância de se considerar os letramentos digitais na educação, algumas iniciativas governamentais também vêm atuando para possibilitar a inclusão das novas tecnologias, como o PROINFO (Programa Nacional de Informática na Educação), criado com o objetivo de proporcionar ferramentas de apoio ao processo de ensino- aprendizagem, trazendo para a escola pública novas tecnologias de informação e comunicação.

No entanto, à semelhança do que aconteceu com os programas de inclusão na escola que garantiram o acesso, mas não a qualidade do ensino, as propostas de integração das tecnologias com as práticas docentes ainda deixam muitas lacunas no processo de formação de professores para o uso desses recursos. Para repensar as práticas pedagógicas e planejar transformações visando uma aprendizagem voltada para um contexto real, faz-se necessário entender a tecnologia não somente como ferramenta facilitadora na ministração de aulas, mas

também como uma ponte de ligação entre as relações interculturais, por possibilitar novas formas de comunicação que envolvem outras linguagens além da escrita.

A participação de professores capacitados nesse processo é imprescindível, para que atuem como orientadores dos alunos no universo das mídias digitais repleto de tanto conteúdo e tanta informação, auxiliando-os em suas escolhas e no julgamento das mesmas para que, como ressalta Gomes (2011, p. 14), não sejam “meros consumidores de informação”, com práticas ingênuas de usuários da web, mas para que possam refletir sobre o que leem, passando a adotar, assim, uma atitude de sujeito crítico e consciente. Nesse sentido, retomo ainda as palavras do autor quando este adverte que “não é o simples acesso às tais ferramentas que pode trazer algum benefício ao aluno, ao cidadão, mas sim o uso que se fizer delas” (Ibid., p. 14). Então, compete a escola sugerir usos realmente sociais da tecnologia contemporânea que confiram aos alunos o papel de protagonistas na triagem dos caminhos que pretendem percorrer e nas suas produções na web, praticando ativamente sua cidadania. Reiterando o que diz o estudioso, Braga alega que:

A tecnologia, assim como qualquer produto social, não é por si só positiva ou negativa. Seu resultado prático vai depender grandemente do tipo de uso que dela fazemos. Nessa direção, os recursos oferecidos pela tecnologia de comunicação digital podem tanto mudar a sociedade, ampliando a possibilidade de acesso dos grupos excluídos, como aumentar ainda mais a distância e a exclusão existente. A constatação de que esses resultados podem seguir direções completamente opostas reforçam a necessidade de incluirmos de uma forma crítica o letramento digital em nossas práticas educativas (BRAGA, 2007, p. 189).

Na incorporação da teoria estudada e da prática em sala de aula, nos tornamos cientes de que a inserção das novas tecnologias não oferece a resposta para os problemas educacionais, mas compreendemos que essas mudanças precisam ser acompanhadas para, de acordo com Sousa (2007), promover a cidadania dos alunos, ampliando suas competências discursivas a partir das práticas discursivas digitais. Da mesma forma, urge a necessidade de formações para que os professores possam trabalhar a leitura e a escrita com os gêneros digitais, voltadas ao caráter comunicativo da linguagem, para então proporcionar a inclusão digital, na tentativa de alcançar o propósito mais nobre da escola: a inclusão social.

Foi considerando tais necessidades e o impacto causado pelas mídias digitais na sociedade que reconheci as contribuições de trabalhar o letramento digital com foco no gênero narrativas digitais, porque este possibilita o uso das multimodalidades na educação, explorando seu potencial de forma significativa.

2.3.3.2 Narrativas digitais: conceito, estrutura e contribuição na construção do