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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.2 O contexto da pesquisa

A instituição de ensino participante deste projeto de intervenção está situada na zona rural do município de Arapiraca-AL, no povoado Baixa da Onça, cujo acesso é facilitado devido a uma empresa de transporte coletivo da cidade vizinha, que passa pelo povoado em direção ao centro da cidade. As ruas não têm sistemas de saneamento básico e tampouco são asfaltadas. A maioria do público da escola é proveniente de sítios adjacentes, mas alguns são mais distantes e não são contemplados pelo transporte público, o que dificulta ainda mais o acesso e a permanência dos estudantes nas aulas. Acredito que, associado aos problemas socioeconômicos e à desmotivação com o sistema educacional, o problema de transporte seja mais uma razão que contribui para o aumento do índice de evasão e do fracasso escolar.

A renda de um relevante número das famílias locais é garantida pelas atividades agrícolas, pelo programa federal “Bolsa Família” e por serviços informais. São, portanto, em sua grande maioria, pessoas de baixo poder aquisitivo e vivem na periferia rural. A comunidade conta com um posto de saúde, um posto de atendimento dos Correios inaugurado recentemente e apenas uma escola de Ensino Fundamental I e II, bastante disputada na comunidade. Na falta de vagas, os jovens têm que se deslocar para uma escola da zona urbana.

Outra questão que chama a atenção é a crescente onda de violência10 e assaltos na região, que, há alguns anos, era caracterizada como pacata. Esses últimos acontecimentos têm se tornado notícia na cidade, influenciado na mudança de atitudes e também na própria cultura, fato exemplificado pelo cancelamento, nos anos de 2014 e 2015, das duas festas comemorativas realizadas no povoado, a festa da padroeira e a festa junina, sendo esta última bastante apreciada por todos, marca muito forte das suas raízes culturais. Segundo alguns relatos dos habitantes, as festas eram bem familiares, com a participação dos moradores, apresentações de danças típicas e da tão esperada quadrilha, realizada na rua principal do povoado, em frente à escola, onde as pessoas se reuniam para dançar, beber, saborear as comidas típicas da época, vender guloseimas nas barracas montadas especialmente nessas datas, soltar fogos ao redor das fogueiras, conversar e contar causos. Atualmente, as festas juninas são comemoradas apenas na escola, com a participação da comunidade (na figura dos pais), que auxilia se encarregando dos

10Algumas notícias referentes a essa onda de violência que vem aumentando na comunidade podem ser vistas em

alguns sites, como nos exemplos: “Radialista arapiraquense é baleado durante tentativa de assalto na Baixa da Onça”, disponível no endereço: <http://minutoarapiraca.cadaminuto.com.br/noticia/12039/2013/10/10/radialista- arapiraquense-e-baleado-durante-tentativa-de-assalto-na-baixa-da-onca>. Acesso em 12 mar. 2016; “Adolescente

é executado no povoado Baixa da Onça”, disponível em:

<http://diarioarapiraca.com.br/editoria/policia/adolescente-e-executado-no-povoado-baixa-da-onca-em- arapiraca/3/12622>. Acesso em 12 mar. 2016.

ensaios e das confecções de roupas típicas, comparecendo também no dia do festejo para prestigiar os filhos nas apresentações.

Como a escola está localizada no interior, distante do olhar da maior parte da população, o descaso parece ser ainda maior: há escassez de recursos, a infraestrutura é precária, falta material pedagógico, sem mencionar a má qualidade da merenda. Todos esses problemas somados a atuação de alguns profissionais descompromissados são fatores que agravam ainda mais a realidade já tão vulnerável das crianças e adolescentes que a frequentam e dependem dela para que consigam se inserir em outros contextos sociais.

A escola foi fundada em 1970, com apenas uma sala de aula. Atualmente, é considerada uma instituição de pequeno porte, que funciona em dois turnos e oferece as seguintes etapas: Fundamental I (1º ao 5º ano) no turno vespertino e Fundamental II (6º ao 9º ano) no turno matutino. Na sua entrada há um muro alto, seguido de uma pequena área verde, um hall, uma secretaria (que também funciona como sala da direção e coordenação) e, mais à frente, há três corredores, com um total de oito salas de aula, que não comportam a demanda de alunos e estão, na maioria das vezes, superlotadas. Há, ainda, um banheiro para os professores, um pátio coberto e outro descoberto, onde os alunos costumam lanchar. Ao lado do pátio coberto encontra-se a cozinha e os banheiros dos estudantes. Se comparada a outras realidades com as quais já me deparei, considero o ambiente organizado e em boas condições de higiene, apesar de haver falta de água em alguns momentos, o que acaba dificultando o andamento desse trabalho de limpeza. Hoje, o estabelecimento tem quatrocentos e noventa e seis alunos, com média de trinta e dois a quarenta e oito por turma.

Figura 2: Apresentação da quadrilha. Fonte: Autora, 2016. Figura 1: Festa de São João comemorada na escola.

Outras dificuldades enfrentadas são decorrentes da falta de estrutura, visto que não há reforma há mais de dez anos. As paredes estão sem pintura, as instalações elétricas são precárias e o telhado encontra-se danificado. O prédio não possui uma quadra poliesportiva para as aulas de Educação Física, o que obriga os alunos a praticarem suas atividades em um terreno de barro cheio de pedras, além da ausência de um laboratório de informática com internet para aulas que envolvam outras linguagens. A sala de leitura é muito pequena, o que impossibilita seu uso para tal fim, funcionando apenas como um depósito para os livros. A falta de um auditório também dificulta o andamento das aulas, pois, ao fazerem uso de alguns recursos tecnológicos, os professores perdem muito tempo na procura, organização e montagem do equipamento. Não há um espaço disponível para o descanso dos docentes, então, na hora do intervalo, ficamos numa sala improvisada que funciona como almoxarifado da escola. Tais fatos podem ser mais observados nas imagens:

Quanto às práticas pedagógicas, pude perceber, a partir de conversas com os colegas professores, que muitos desejam ingressar em cursos de aperfeiçoamento profissional em busca de novos conhecimentos teóricos, visto que já se encontram há algum tempo afastados do meio acadêmico, mas acabam postergando essa busca devido à extensa carga horária (de 40 ou até mesmo 60 horas) em sala de aula. A carência de novos conhecimentos teóricos que nos auxiliem no desenvolvimento de nossas práticas pedagógicas contribui com a visível impassibilidade demonstrada por nossos alunos durante as aulas.

Baseando-me nesse contexto, entendo que, para alcançar efetivamente um ensino de mais qualidade e capaz de proporcionar ao aprendiz as condições necessárias para sua formação, ainda há um longo caminho a ser percorrido, visto que a falta de estrutura do prédio, de material pedagógico adequado e suficiente e de formação continuada de alguns profissionais, além de salas superlotadas e a desmotivação do educando com o sistema educacional, não têm propiciado um ambiente adequado à aprendizagem do aluno. Esses problemas, vinculados a práticas pedagógicas muitas vezes ultrapassadas e vazias de significado para o público a que se destinam, acredito serem as grandes causas do desempenho considerado insatisfatório pelos colegas professores da nossa escola, com base nos resultados de avaliações internas e externas, como o PEQEMA (Programa de Eficiência e Qualidade Educacional do Município de Arapiraca) e a Prova Brasil.