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3 ANÁLISE DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO DA PRIMEIRA

3.4 Levantamento Dimensional

3.4.3 Levantamento Hidrossanitário

O levantamento das instalações hidrossanitárias é mais um elemento que pode contribuir para o entendimento das condições gerais da edificação e os fatores que podem causar processo corrosivo nas armaduras. Grande parte das tubulações de água e esgoto em edificações da primeira metade do século XX eram de ferro fundido, ferro galvanizado, chumbo e manilhas cerâmicas. Essas tubulações, com o tempo, sofrem processo de deterioração das paredes, ocorrendo vazamentos. Estes, no caso de esgotos, podem entrar em contato com a superfície da estrutura de concreto armado e, com isso, iniciar processo de deterioração do concreto que pode chegar às armaduras, desencadeando processo corrosivo.

Tendo em vista que a maioria dessas tubulações está embutida e/ou em contato com a estrutura de concreto armado, a possibilidade da ocorrência de vazamentos e da imediata entrada dos fluídos em contato com a superfície da estrutura confere papel importante ao levantamento das instalações hidrossanitárias. A partir desse levantamento, pode-se entender a forma de distribuição das tubulações ao longo da edificação, bem como mapear os locais onde possa existir maior potencial de contato entre os efluentes de um possível vazamento e a superfície das peças estruturais. Neste segmento, serão apresentados os locais onde existe maior probabilidade da ocorrência de contaminação da estrutura com os efluentes.

3.4.3.1 Lajes Rebaixadas

Nas edificações da primeira metade do século XX, era prática usual a utilização de lajes rebaixadas em banheiros, cozinhas e áreas de serviço – diferentemente do que acontece nos dias de hoje, quando as lajes da estrutura possuem um único nível e, nos locais onde se concentram as tubulações hidrossanitárias, é executado rebaixamento com forro de gesso, PVC ou madeira. Naquela época, fazia-se a instalação das tubulações por meio do rebaixamento da laje de concreto na área onde essas canalizações localizavam-se, com o objetivo de permanecerem embutidas na laje de concreto. Hoje, quando há um vazamento na tubulação, quase imediatamente se tem o conhecimento através do forro subjacente à canalização, o que, nas lajes rebaixadas, não acontece. Nestes casos por ocasião de vazamento das tubulações, os efluentes começam a acumular-se dentro da própria estrutura de concreto armado, fazendo com que os efluentes fiquem em contato durante um largo período com a estrutura, até que seja possível a visualização de manchas de unidade.

Devido ao contato prolongado entre os efluentes e a estrutura, pode iniciar-se um processo de deterioração da superfície do concreto, devido ao ataque dos ácidos aos componentes do concreto. Com o passar do tempo, a deterioração evolui e pode começar a atacar as armaduras, instalando-se um processo corrosivo. Devido à sua atuação silenciosa, na maioria das vezes, depara-se com o problema quando o processo se encontra em estágio avançado. Assim, é de grande importância a análise e detecção desse tipo de ocorrência na estrutura. Um levantamento meticuloso dos locais onde estão localizadas as lajes rebaixadas juntamente com o posicionamento das canalizações, principalmente de esgoto cloacal, pode fornecer subsídios para uma possível identificação do problema.

3.4.3.2 Ramais de Descida Junto a Pilares

Outra prática comum em estruturas de concreto armado da primeira metade do século XX e que, em certos casos, persiste até hoje é a locação dos ramais de descida do esgoto junto a pilares da estrutura. Atualmente, não há grandes problemas devido à utilização de tubos de PVC para a condução dos efluentes, o que reduz a ocorrência de vazamentos, erros de instalação ou acidentes.

Existem duas formas de contato entre a tubulação e o pilar. No primeiro caso, a tubulação era simplesmente encostada em uma das faces do pilar e, posteriormente, executava-se um enchimento ao redor, geralmente, em alvenaria de tijolos. No segundo caso, não tão comum, a tubulação era embutida dentro do pilar durante a concretagem; dessa forma, a canalização fica dentro da estrutura. Em ambos os casos, a detecção de um vazamento é bastante demorada, acarretando, invariavelmente, demora na identificação e no tratamento do problema. Com isso, inicia-se um processo de deterioração do concreto que pode chegar à armadura.

3.4.3.3 Ramais de Descida de Esgoto Pluvial Junto a Impermeabilizações de Terraços e Coberturas

Foi mencionado que era característica dos estilos Art Deco, Protomodernista e Modernista a utilização de lajes como cobertura das edificações. Essas peças estruturais tinham, geralmente, pequena espessura e reduzido cobrimento. Além disso, as lajes eram impermeabilizadas com materiais que não conferiam proteção adequada à entrada d’água. Sua durabilidade é bastante reduzida, o que, juntamente com uma manutenção precária, pode acarretar vazamentos.

Completando este quadro, temos, ainda, as questões relacionadas com as tubulações de descida das águas pluviais. Tendo em vista a grande possibilidade de vazamentos na interface entre laje, impermeabilização e tubulação, era frequente o acúmulo de água entre esses elementos, o que propiciava o contato das águas pluviais com a tubulação e a estrutura da laje por longos períodos. Esse contato propiciava não só a corrosão da tubulação, como também o ingresso da umidade na laje. Com o passar do tempo, a corrosão da canalização aumentava com ingresso de umidade para o interior da laje, o que poderia propiciar a entrada de agentes agressivos. Assim, mister se faz o adequado levantamento das tubulações de esgotos pluviais, especialmente nas edificações que possuem lajes terraço no papel de cobertura da edificação.

3.4.3.4 Ramais de Saída Enterrados no Solo Junto as Fundações

Os ramais de descida, ao chegarem ao pavimento térreo ou subsolo, normalmente penetram no solo para continuar o seu traçado de saída da edificação. Naquela época, utilizava-se como canalizações horizontais de saída a própria tubulação vertical de descida que poderia ser em ferro fundido ou chumbo. Em certos casos, havia mudança de material para manilhas cerâmicas. O esgoto é um material muito agressivo que corrói as tubulações com certa facilidade, sendo o sentido da corrosão da canalização de dentro para fora.

Com a chegada da tubulação ao solo, é adicionado novo elemento deteriorante a esta situação, qual seja, o próprio solo. Portanto, o processo de deterioração recebe um novo fator para acelerar o aparecimento de vazamentos. Quando este ocorre, cria-se um novo problema, ou seja, o esgoto proveniente começa a se acumular ao redor da tubulação, acelerando o processo corrosivo da tubulação, até o ponto em que pode haver a deterioração total da tubulação e o solo do térreo ou subsolo começar a transformar-se em uma fossa séptica.

No caso de as fundações da edificação serem diretas (como sapatas isoladas e/ou corridas), tem-se outro ingrediente no problema: a umidade do solo, que é agressiva para as estruturas de concreto. A prescrição dos cobrimentos para fundações são maiores. Torna-se mais agressivo devido ao aumento da concentração de ácidos que atacam a superfície das peças estruturais de fundação, podendo chegar às armaduras.

Outra variante desse tipo de problema é a destinação final dos esgotos. Mesmo nos dias de hoje, em certos locais, não há redes de esgoto que passam em frente às edificações. Esse problema era maior na primeira metade do século XX, o que exigia a utilização de fossas sépticas e sumidouros no próprio terreno da edificação. Outra característica que se mantém até os nossos dias é que, principalmente no centro das cidades, a taxa de ocupação da edificação em relação ao terreno chegava muito próximo aos 100%. Com isso, a localização da fossa séptica e sumidouro ficavam quase invariavelmente sob a projeção do prédio no terreno – em outras palavras, a uma distância pequena das fundações.

Com isso, tem-se a reedição dos problemas levantados neste item. Da mesma forma que as tubulações enterradas no solo estão passíveis de corrosão e, portanto, de vazamento de esgoto para o solo, a fossa séptica e o sumidouro também estão à mercê dessa ocorrência. Portanto, faz-se necessário um levantamento minucioso das condições de estanqueidade do conjunto fossa séptica e sumidouro, com a finalidade de se constatar se há o vazamento de esgoto para o solo.

Portanto, fica evidenciada a importância de um levantamento minucioso das instalações hidrossanitárias no intuito de identificar, com a maior precisão possível, os pontos em que há a possibilidade de ocorrência desse tipo de interação entre as instalações hidrossanitárias e a estrutura de concreto armado.