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CAPÍTULO II – DA IMPORTÂNCIA DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL

2. Licença – Cenário nacional

Na década de setenta, iniciou-se no Brasil uma preocupação com os impactos ambientais ocasionados pelas indústrias, apesar de estar instituído o desenvolvimento econômico a qualquer preço. Assim, os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro editaram leis ambientais e instituíram órgãos para controlar a poluição.

Dando vazão aos anseios profissionais de engenheiros e técnicos conexos de ampliarem sua área de atuação por meio de novas concepções teóricas e administrativas, que significavam uma reconversão de suas atividades, houve a criação de novas instituições de controle ambiental em São Paulo e no Rio de Janeiro: respectivamente, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental - CETESB, em 1974263, e a Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente – FEEMA, em 1975.264

No Estado de São Paulo, a preocupação em evitar a instalação de empreendimentos e atividades que tivessem o potencial em causar ou mesmo causasse efetivamente impactos ambientais iniciou-se com a Lei estadual nº 997/76, que instituiu o controle de poluição.265

263 A Lei estadual nº 13.542, de 8 de maio de 2009, alterou a denominação da CETESB para Companhia

Ambiental do Estado de São Paulo, com as atribuições de: I - proceder ao licenciamento ambiental de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva e potencialmente poluidores, bem como capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental; II -autorizar a supressão de vegetação e intervenções em áreas consideradas de Preservação Permanente e demais áreas ambientalmente protegidas; III - emitir alvarás e licenças relativas ao uso e ocupação do solo em áreas de proteção de mananciais; IV - emitir licenças de localização relativas ao zoneamento industrial metropolitano; V -fiscalizar e impor penalidades; VI - executar o monitoramento ambiental, em especial da qualidade dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos, do ar e do solo; VII - efetuar exames e análises necessários ao exercício das atividades de licenciamento, fiscalização e monitoramento ambiental; VIII - desenvolver estudos e pesquisas de interesse de seu campo de atuação; IX - promover treinamento e aperfeiçoamento de pessoal para as atividades relacionadas com seu campo de atuação; X - prestar serviços técnicos especializados a terceiros no âmbito de seu campo de atuação; XI - explorar direta ou indiretamente os resultados das pesquisas realizadas; XII - promover o intercâmbio de informações e transferência de tecnologia com entidades nacionais e internacionais no âmbito de seu campo de atuação; XIII - expedir normas técnicas específicas e suplementares no âmbito de suas atribuições.

264 ROSA, Patrícia Silveira da. O Licenciamento Ambiental à luz da Teoria dos Sistemas Autopoiéticos. Rio de

Janeiro: Lumen Júris, 2009, pág. 109.

265 O artigo 5º da Lei nº 997/76 estabelece que “A instalação, a construção ou a ampliação, bem como a operação

qualidade ambiental das águas, do ar, do solo, além de regras específicas para o licenciamento, sanções e recursos administrativos.

A Lei estadual nº 997/76 passou a ter relevância legal, em nível nacional, com a edição da Lei federal nº 6.803/80, instituidora de “diretrizes básicas para o zoneamento industrial nas áreas críticas de poluição”, na qual se previu a avaliação de impacto ambiental, que é parte de uma das etapas do procedimento administrativo de licenciamento ambiental e o controle da Administração Pública sobre as indústrias poluidoras, instituindo as zonas de uso estritamente industrial, zonas de uso predominantemente industrial e zonas de uso diversificado (art. 1º, p.1º).

Interessante notar que já naquela época havia uma preocupação com os impactos ambientais ocasionados pela indústria, pois as zonas de uso estritamente industrial destinam- se, preferencialmente, à localização de estabelecimentos industriais cujos resíduos sólidos, líquidos e gasosos, ruídos, vibrações, emanações e radiações possam causar perigo à saúde, ao bem-estar e à segurança das populações, mesmo depois da aplicação de métodos adequados de controle e tratamento de efluentes.266

Em seguida, veio a Lei Federal nº 6.938/81, que incorporou e aperfeiçoou normas estaduais já vigentes e instituiu o Sistema Nacional do Meio Ambiente, integrado pela União, por Estados e Municípios e atribuiu aos Estados uma responsabilidade maior na execução das normas protetoras do meio ambiente.

autorização do órgão estadual de controle da poluição do meio ambiente, mediante licenças de instalação e de funcionamento”.

Explica Patrícia Silveira da Rosa que a Lei nº 6.938/81, ao estabelecer a Política Nacional do Meio Ambiente, instituiu o SISNAMA, como mecanismo administrativo de sua implementação e execução, encarregado do exercício do poder de polícia ambiental, através de “órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental” (artigo 6º).267 Um desses órgãos que merece destaque é o CONAMA, delineado no item 7.3 desse trabalho.

Em seguida, em 1988, a preocupação preventiva da questão ambiental foi erigida para o âmbito constitucional, constante do art. 225, inc. IV (Constituição Federal, promulgada em 15.10.1988), que passou a exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, Estudo de Impacto Ambiental.

A Carta Magna trouxe uma preocupação maior do que as Constituições brasileiras anteriores, no que se refere à proteção do meio ambiente enquanto bem de uso comum do povo essencial à sadia qualidade de vida das presentes e futuras gerações. Nesse sentido, o seu artigo 225 estabelece diretrizes que determinam o dever do Poder Público, juntamente com a coletividade, de defender e preservar o meio ambiente.

Em momento posterior, ao regulamentar a Lei nº 6.938/81, instituidora da Política Nacional do Meio Ambiente, o Decreto Federal nº 99.274/90, diz ser atribuição do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) “...fixar os critérios básicos, segundo os quais serão exigidos estudos de impacto ambiental para fins de licenciamento...”.

266 Art. 2, caput, Lei n. 6.803/80.

O CONAMA, exercendo sua atribuição, primeiro editou a Resolução nº 001/86 que disciplinou inúmeros casos em que o Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatório (EIA/RIMA) passaram a ser exigidos no processo de licenciamento. E, não se pode olvidar que, através da Resolução nº 237, de dezembro de 1997, em complementação à Resolução nº 001/86, o CONAMA, ainda de forma não exaustiva, ampliou o rol de empreendimentos ou atividades dependentes da realização de prévia avaliação de impacto ambiental, além de esmiuçar o procedimento do licenciamento ambiental.

Com esse histórico, observa-se que através da licença ambiental, alcançada com o procedimento de licenciamento ambiental, o órgão ambiental competente estabelecerá as condições, restrições, exigências e medidas de controle ambiental, as quais deverão ser obedecidas pelo interessado nas diversas fases de implantação e funcionamento do empreendimento268. O estabelecimento desses limites dá-se através do exercício do poder de polícia administrativa do Estado, tema que será abordado no item seguinte.