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4. LATITUDE, LONGITUDE: Produção independente, Estado e a Política de

5.2. RELACIONAMENTO COM CANAIS DE TELEVISÃO

5.2.1. Licenciamento e coprodução

Com base em análise de Hardy (2014) sobre alianças nos mercados de mídia, licenciamento e coprodução são as principais estratégias de aquisição de conteúdo independente utilizadas pelos mercados de mídia sem que isso caracterize expansão de propriedade. Os procedimentos adotados e as formas de relacionamento são diferentes nas duas modalidades.

Na TV Paga nacional, a pressão imposta aos canais pela cota de tela introduzida pela Lei 12.485/2011 torna mais visível a abertura às produtoras. A Lei determina que os canais de espaço qualificado exibam conteúdo independente, mas não estabelece os métodos para tal, desde que os percentuais exigidos sejam cumpridos.

Um resultado imediato foi o aumento na demanda por licenciamento de obras independentes já comercializadas em outras janelas, ou seja, produzidas sem qualquer interferência dos canais.

A Lei da TV Paga deu conta de promover uma revolução na produção nacional. Primeiro porque surgiu uma demanda. Ninguém nunca me procurava para licenciar meus filmes, de repente todo mundo começa a me procurar. Começamos a ver dinheiro de licenciamento, que antes era uma experiência aqui outra lá.

Sócia-Diretora de empresa de pequeno porte, São Paulo-SP

Licenciamentos são caracterizados pelo pagamento para exploração comercial (a exibição) da obra. São empregados ainda para fins de exploração comercial de subprodutos decorrentes do conteúdo original, ou seja, licenciamento da marca (WASKO, 1994). A produção infantil é um segmento onde esse tipo de transação tem se expandido.

Quanto às coproduções, os dados referentes a parcerias entre produtoras independentes brasileiras e canais de TV mostram um cenário ambíguo. São médias similares entre experiências já efetivadas (44,76%) e aquelas produtoras que nunca produziram com canal, seja ele de qualquer natureza (45,71%). Outros 20,95% das empresas consultadas estavam com coprodução em andamento quando participaram da pesquisa:

Gráfico 11- Coprodução entre produtoras e canais de TV

Fonte: Elaborado pela autora (ferramenta Survey Monkey)

As empresas com coprodução finalizada se concentram no estado de São Paulo (18). Os demais estados são: BA (02), MG (03), PA (03), PB (01), PE (02), PR (04), RJ (08), RS (04), SC (01) e o Distrito Federal (01).

Já entre as que nunca coproduziram com canal de TV, a maior concentração é em estados fora do eixo, incluindo alguns sem tradição na produção audiovisual. São eles: AC (01), AM (01), BA (04), CE (03), ES (01), GO (01), MG (03), MT (02), TO (01), PA (03), PE (02), PB (01), PR (02), RS (06), SC (01) e DF (04). Nove empresas de São Paulo e três do Rio de Janeiro nunca coproduziram com canal de TV, mais da metade delas com faturamento até R$360 mil por ano, ou seja, são microempresas.

Esses números confirmam que produtoras situadas no eixo são as que mais estabelecem relacionamento com canais de TV. Além disso, algumas produtoras contam com apenas um projeto de coprodução, o que, por si só, não indica o estabelecimento de um relacionamento permanente com os canais. Pelo contrário, muitas empresas trabalham com projetos isolados, sem um ritmo de produção que

lhes permita ter maiores chances de estabelecer um relacionamento com o circuito exibidor (IKEDA, 2015).

Todas as produtoras que compõem o corpus foram contempladas em linhas Prodav do FSA, mas as linhas de desenvolvimento (Prodav 03 a 05) não exigem acordo de pré-licenciamento com canal de televisão por não se destinarem à entrega de um produto audiovisual final (ver capítulo 4). Logo, a incidência no gráfico 11 de produtoras que nunca coproduziram com canal de televisão indica que elas foram contempladas nas chamadas de desenvolvimento.

Nas linhas de produção, após aprovado, o projeto se desenvolve como uma coprodução, cujas regras se baseiam na divisão dos direitos patrimoniais entre produtora e canal de TV. Para os canais, trata-se de uma parceria altamente vantajosa. Os custos de produção para o canal são baixos, já que os projetos selecionados poderão ser desenvolvidos com recursos do FSA. Somado a isso, os riscos serão compartilhados com a produtora. O gráfico 12 a seguir apresenta o número de pré- licenciamentos por tipo de canal, dentre as empresas pesquisadas:

Fonte: Elaborado pela autora (ferramenta Survey Monkey)

Canais comerciais na TV Paga e canais do campo público na TV Aberta juntos são os segmentos com maior concentração de pré-licenciamentos, o que pode ser explicado pelas recentes ações da Política de Fomento. A cota de tela na TV Paga estimula os canais de espaço qualificado a buscar parcerias com produtoras para inscrição de projetos nas linhas de produção do FSA/Prodav. O pré-licenciamento é a formalização da parceria.

O número expressivo de projetos no campo público também é reflexo dos investimentos do FSA. O Fundo conta com linhas específicas para TV Pública, sendo um edital para cada região do país (Prodav 08 a 12). Os perfis dos projetos contemplados nas chamadas Prodav serão explorados no próximo capítulo.

Na TV Aberta comercial, a programação em rede, estrutura e equipes de produção próprias e baixo histórico de abertura à produção independente explicam o baixo número de acordos de pré-licenciamento. Ainda assim, os canais começam a abrir espaço para a produção independente, aproveitando uma oportunidade da Política de Fomento. Produtoras de maior porte e penetração no mercado têm obtido êxito nos acordos na TV Aberta, o que tem a ver com fatores como o menor risco que os canais atribuem a transações com estas empresas (ver capítulo 6).

O alto índice na opção “Outros” (gráfico 12) deve ser relativizado. Embora inclua algumas opções como “TV regional pública” ou “TV aberta local”, a grande maioria é de informações como “ainda não licenciamos”, “estamos em fase de negociação” ou “ainda não concluímos os projetos”.

Por outro lado, VoD aparece dentre as opções, confirmando a centralidade do conteúdo em detrimento do meio de exibição que tem caracterizado as atividades da produção independente contemporânea. Aos poucos, as ações da Política de Fomento

começam a incorporar esse mercado como uma janela viável para a comercialização dos conteúdos independentes desenvolvidos com investimento público.