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2. Marcos teóricos e metodológicos

2.6. Limites da TER e a convergência teórica no neoinstitucionalismo

A TER tem sido objeto de severas críticas. Moe (2006) lembrou que as instituições não são apenas estruturas de cooperação, mas também de poder. O autor apontou a existência de uma ambiguidade da TER em relação ao poder: embora reconheça sua importância, pelo caráter óbvio de sua presença nas instituições políticas, a teoria não explora seu exercício e seus efeitos. O poder é, assim, empurrado para a periferia da análise. Julgamento semelhante foi sustentado por Offe (2006), para quem as instituições e as mudanças institucionais podem ser mais bem explicadas em termos de estrutura de poder, desde seu surgimento às suas mutações, do que pelos objetivos

que elas assumem defender, assim como pelas estratégias e escolhas que adotam. Além disso, “mais do que o resultado de decisões individuais ou de atos fundadores, elas evoluem e surgem como efeito de alguma manifestação coletiva de ‘poder comunicativo’” (OFFE, 2006, p. 13).

As críticas mais fortes são dirigidas às pretensões universalistas da TER. Green & Shapiro (2000) denunciaram o caráter evasivo dos modelos teóricos, assim como sua tendenciosidade na busca de evidências. Para os autores, os dados são conformados a uma teoria excessivamente plástica. Seus teóricos focalizam, sobretudo, o que a teoria parece dar conta de explicar, mostrando-se omissos ou perplexos diante dos dados que não se revelam adequados às suas expectativas. Desse modo, eles se retiram estrategicamente das áreas em que sua teoria funciona mal. Além disso, suas explicações seriam difíceis de comparar com as visões teóricas alternativas.

Boudon (1998), por sua vez, lembrou que muitas vezes as pesquisas fundamentadas na TER apenas descrevem o mesmo processo de modo diferente. Mais significativa é sua recusa de conceber a TER como uma teoria geral da ação, dado que, diferentemente do que postulam seus adeptos, a ação nem sempre é instrumental. Boudon não considerou convincentes as tentativas de converter a ação não instrumental em instrumental. De um lado, é até admissível que, em um nível profundo, a ação instrumental oculte interesses próprios, conforme postulam teorias como a marxista. Contudo, “interesses apenas não são adequados para explicar a convicção” (p.819). Mais insatisfatório ainda para Boudon é o positivismo de Milton Friedmann de tomar o interesse próprio como causa efetiva de qualquer ação, dada a alegada impossibilidade de conhecer os fatores subjetivos que motivariam o comportamento. Boudon lembrou, ainda, que objeções empíricas podem ser levantadas contra a TER. Ela se mostra insatisfatória para explicar uma série de fenômenos, como o comportamento dos eleitores, que decididamente não agem sempre como “maximizers”. A introdução das noções de “frames” e “biases” que afetariam a percepção dos atores apenas servem, segundo o autor, para enfraquecer as ambições universalistas da TER.

Boudon (1998; 2003) admitiu que a TER possa ser “notavelmente válida” em circunstâncias nas quais os atores são levados a aplicar, pela natureza da situação, uma análise de custo-benefício. Todavia, em outras situações, a noção de racionalidade precisa ser definida de outras formas que não impliquem as ideias de intencionalidade, interesse próprio e maximização. O autor fez, assim, a distinção entre racionalidade instrumental, de um lado, e racionalidade cognitiva e axiológica, do outro. No caso da

razão cognitiva, alguém faz algo por acreditar que sua opção é verdadeira ou tem grandes chances de o ser; na razão axiológica, a escolha se baseia na convicção de que a opção é boa, sem que se espere dela alguma consequência desejável. Desse modo, sentenciou o autor:

Racionalidade é uma coisa, expectativa de utilidade é outra. Por que deveríamos admitir esse postulado da racionalidade? Porque os atores sociais agem de acordo com fortes razões. Isso explica porque o próprio comportamento deles é significativo para eles mesmos. Em alguns casos, o contexto exige que essas razões sejam do tipo custo-benefício. Já em outros não. Ainda que se aceite que as noções de custo-benefício sejam interpretadas de forma elástica, quais são os custos e benefícios para mim de que os mineiros sejam mais bem pagos do que os soldados se não tenho qualquer chance de tornar-me um mineiro ou um soldado? (BOUDON, 2003, p. 17).

Boudon (1998) ilustrou seus argumentos com duas passagens de L’Ancien Régime et la Révolution, de Tocqueville. No primeiro exemplo, Tocqueville questiona a razão pela qual, no final do século XVIII, a agricultura francesa permaneceu estagnada, enquanto a inglesa florescia. Sua explicação é encontrada na centralização administrativa francesa. As possibilidades de obter prestígio e influência no serviço ao rei estimularam o absenteísmo dos grandes proprietários franceses. Já os senhores ingleses tenderam a identificar a imagem de proprietários eficientes como estratégia mais adequada para a manutenção de seu poder. No segundo exemplo, Tocqueville questiona porque o culto da Razão tornou-se imensamente popular na França no final do século XVIII, mas não na Inglaterra. Nesse caso, a explicação se sustenta no fato de que a aristocracia inglesa exercia importante função social e econômica, o que manteve o valor da ideia de “Tradição” no país. Em contraste, a aristocracia francesa, atrelada a Versailles, não desempenhava papel social e econômico visível para a população. Aqueles que não eram capazes de obter uma posição junto ao rei tornavam-se ainda mais desprestigiados e seu aferrado apego aos privilégios que lhe restavam aumentava a ilegitimidade de sua posição hierárquica superior aos olhos dos camponeses. Desse modo, quando os philosophes propuseram a substituição da Tradição pela Razão, seu sucesso foi imediato. Nos dois exemplos, as diferenças entre a França e a Inglaterra são apresentadas por Tocqueville como efeitos da razão. Mas, segundo Boudon, enquanto no primeiro caso as decisões dos grandes proprietários são explicadas conforme os

parâmetros afins aos da TER; no segundo, o apoio dos camponeses a uma sociedade fundada na Razão assenta-se em uma racionalidade cognitiva e não instrumental.

Já para Elster (2006), a alternativa para a racionalidade instrumental e o interesse próprio como principal motivação para o comportamento político não é um

indivíduo tomado pelas paixões e alheio às motivações egoístas, mas um agente cuja percepção de seus interesses é, com frequência, distorcida pelas emoções e outras preocupações não racionais. Portanto, não há como prever o comportamento que um indivíduo terá quando ele estiver tomado pela emoção. Assim, Elster mostrou o desinteresse e/ou a reduzida capacidade de cálculo estratégico de importantes atores envolvidos em quatro momentos distintos da história constitucional francesa (1791, 1814, 1848 e 1958).

Elster (2000) também censurou, em alguns estudos baseados na TER, a falta de evidências sobre as crenças e objetivos que motivariam o comportamento dos agentes estudados. Além disso, haveria uma inadequada falta de preocupação com a incerteza, dado que o modelo tende a assumir a premissa de que os atores possuem o conjunto de informações necessárias para a avaliação de seus interesses. Mais forte ainda é sua objeção à prática comum em estudos mais amplos baseados na TER de atribuir preferências a atores coletivos, como se fossem indivíduos33. Desse modo, Elster viu a TER como fortemente limitada para o estudo de situações mais complexas, marcadas pela incerteza e com o envolvimento de muitos atores. A aplicação de modelos dedutivos de escolha racional em fenômenos históricos de ampla escala surge para o autor como manifestação de “excessiva ambição”. Dois caminhos de necessária modéstia foram indicados pelo autor:

Primeiro (...) deve-se evitar o postulado da hiper-racionalidade. Ação coletiva, jogos recorrentes e credibilidade são ideias simples que são e têm sido refinadas para produzir construções rococós (ou barrocas?) que não mantém nenhuma relação com o comportamento observável. Para serem úteis, elas devem ser restringidas pelo que sabemos sobre as limitações da mente humana. Em segundo lugar, uma vez que a análise formal nada tem a dizer sobre a motivação dos agentes, ela, por si só, não pode produzir previsões consistentes. (...) Se os agentes têm motivações imateriais ou mesmo não racionais, eles devem agir de forma muito diferente do comportamento não cooperativo esperado no caso de serem conduzidos por interesses materiais. Se eles de fato são levados a cooperar, então devemos procurar por motivações não materiais ou não racionais. A teoria da escolha racional nos diz o que procurar, não o que iremos encontrar (ELSTER, 2000, p. 695).34

Contra um uso bastante restrito da TER, os racionalistas Kiser & Hechter (1998) defenderam a renúncia a uma metodologia puramente dedutiva. Dessa forma,

33 Katznelson (2003, p. 279), um dos grandes defensores de uma aproximação entre abordagens holísticas e individualistas, ainda vislumbrou um caminho de cautela: “dado que não se pode transformar categorias sociais em atores coletivos ficcionais, é admissível imputar preferências a coletividades, mas apenas com grande cuidado, de forma conscientemente provisória e com o reconhecimento de que, em última análise, todas as preferências são sentidas por pessoas, não por papéis”.

34 As críticas de Elster são particularmente dirigidas à “analytic narrative”, método que busca combinar as narrativas históricas com os pressupostos da TER.

manifestaram-se a favor da pesquisa que combina dedução e indução, particularmente em estudos de história comparada, nos quais a abordagem indutiva apresenta-se como necessária. No acirrado debate travado no simpósio de 1999 entre os defensores do uso da TER na sociologia histórica e seus críticos historicistas, Kiser & Hechter levantaram trincheiras a favor da teoria geral como meio de estabelecer relações causais, mecanismos e modelos abstratos. Seu valor, alegaram, deve ser julgado por sua coerência lógica e, principalmente, pelo quanto a teoria é capaz de explicar observações empíricas relevantes. Contra as críticas de que as explicações são conhecidas de antemão, os autores afirmaram que os modelos bem elaborados conduzem, na verdade, à clareza das questões a serem perguntadas. Já o surgimento de anomalias pode, em última instância, requerer a modificação das explicações.

Embora mantenham a presunção de ver a TER como “o único exemplo de uma teoria geral”, Kiser & Hechter encontram-se entre os adeptos da teoria que admitem a relativização de seus pressupostos básicos. Assim, consideram que apenas a ação intencional e o cálculo de meios e fins fazem parte da hard core da TER, diferentemente do interesse próprio e da maximização da riqueza.35 Ao mesmo tempo, mostraram-se favoráveis ao crescente interesse em motivações não instrumentais, embora tenham admitido que “a maior parte da pesquisa inspirada na escolha racional em sociologia histórica falhou em incorporar motivações não instrumentais” (KISER & HECHTER, 1998, p. 799).

Contudo, permanece em seus argumentos uma tensão mal resolvida a respeito da prevalência de motivações instrumentais na explicação dos fenômenos sociais. Ao mesmo tempo em que alegaram que a questão deve ser resolvida empiricamente, defenderam ser lícito que se tomem como presumidos os objetivos de riqueza, poder e prestígio.36 De todo modo, os autores enfatizaram a necessidade de considerar as evidências sobre as motivações dos agentes. Além disso, ressaltaram a

35 É o que também pensa um autor como McLean (1991, p. 512): “Confesso minha inclinação de acreditar que a maioria das pessoas, na maior parte do tempo, na maioria dos assuntos que importam para elas, são racionais. ‘Racional’ não implica nem é inferido por ‘egoísta’”.

36 Parece-nos pouco clara a distinção que os autores estabelecem entre “motivações para a ação”, em que questões não instrumentais poderiam estar presentes, e “objetivos da ação”, marcados por preocupações instrumentais. Os autores alegam que as dificuldades de obter essas evidências em sociedades mais distantes tornam o pesquisador mais dependente de hipóteses motivacionais em suas explicações, o que exige maior sofisticação ao elaborar modelos com base em suposições sobre objetivos e ação instrumental (KISER & HECHTER, 1998). Essa recomendação, bem alertou Elster (2000), nem sempre tem sido observada. Talvez caiba à sociologia histórica baseada na TER buscar a sensibilidade tão comum aos historiadores, inclusive dos que adotam uma interpretação culturalista, na percepção dos sentimentos e ideias que levam os indivíduos a agir.

relevância de combinar teoria geral com o contexto histórico da ação na explicação dos efeitos de “path dependence” ou “initial conditions”. Nos termos de ambos,

Para entender uma ação precisamos conhecer os objetivos buscados pelas pessoas e a informação disponível para ela, inclusive suas crenças. Por fim, devemos avaliar o contexto em que elas agem, situação que pode limitar ou facilitar sua habilidade para atingir seus objetivos.

Desse modo, Kiser & Hechter discordaram da visão de que a TER deve-se limitar ao nível micro. Para ambos, a ampliação do escopo da TER pode ser feita mediante a elaboração de modelos contextuais derivados de teorias compatíveis.

De fato, conforme acentuou Goldstone (1998, p. 839), boa parte das críticas dirigidas à TER são o resultado da tendência de muitos de seus adeptos de “simplificar grosseiramente a real complexidade das condições iniciais, de modo a fazer cálculos determinísticos de efeitos sociais”. Mas o autor acentuou, ao mesmo tempo, que essa tendência à simplificação, bem com as críticas que lhe são dirigidas, tem origem em uma diferenciação de foco. Para muitos seguidores da TER, não é de especial relevância um aprofundamento da análise das initial conditions que conduzem ao desenvolvimento de eventos históricos únicos. O que buscam é mais explicar um conjunto de problemas. Sua teoria vai buscar a explicação para efeitos sociais resultantes de um espectro mais amplo de initial conditions e de possibilidades. Daí a ideia de uma “convergência ou solução de equilíbrio”. Nesse sentido, seu estudo pode enfatizar mais a lógica do que uma análise detida das especificidades e sutilezas dos eventos históricos. Assim, Goldstone não vê a existência de uma teoria melhor do que a outra, pois para ele a “boa análise histórica se distingue não pelo método, mas pela escolha daquele mais adequado para sua meta explicativa” (p. 841).37

Desde o fim da década de 1990, tem ocorrido uma busca de integração entre a perspectiva histórica e as teorias baseadas na escolha racional. Essa tendência foi bem sinalizada por Hay & Wincott (1998, p. 951) como um esforço para conferir posição central no relacionamento entre estrutura e ação, em busca de uma superação das interpretações deterministas e intencionalistas dos fenômenos sociais. Os autores viram o IH como uma rota para o “impasse inercial” desse conflito. Mas a aproximação da TER deveria rejeitar tanto a forma voluntarista quanto aquelas que assumem um caráter

37 Para Katznelson & Weingast (2005), assim como para Goldstone (1998), mas diferentemente do que pensam Kiser & Hechter (1998), a principal diferença entre as duas abordagens reside nas perguntas que cada uma faz. Enquanto os teóricos ligados à TER se preocupam com a análise de eventos específicos, no IH o foco é direcionado para processos mais amplos. No entanto, Katznelson & Weingast (2005) saudaram o início de uma preocupação dos acadêmicos ligados à TER com o segundo enfoque.

funcionalista de cálculo estratégico. O IH admite que os atores adotam estratégias em busca de objetivos frequentemente complexos e nem sempre bem definidos. Porém, eles agem em meio a lutas políticas e fatores contingenciais, que conduzem a resultados intencionais e não esperados. O contexto institucional favorece certos atores e determinadas estratégias sobre outras. Exatamente a partir dessa dinâmica da interação entre ação estratégica e contexto em que ela se desenvolve é que surge a possibilidade de mudança.

Por certo, ainda permanecem diferenças entre as duas abordagens. Mas as fronteiras têm sido transpostas, com ganhos recíprocos. Em texto do final dos anos 1990, Thelen (1999) falou em “convergência parcial” das duas abordagens. Contudo, ela não negou a existência, na ocasião, de diferenças nessa tendência aproximativa:

O que vemos é uma convergência parcial das questões em tela, como, por exemplo, institucionalistas históricos têm sido levados a uma apreciação mais profunda dos fundamentos micro e dos problemas de ação coletiva, e os teóricos da escolha racional têm buscado tratar de preferências, normas e crenças como temas mais centrais (também mais complicados). Contudo (...) as diferenças permanecem – como os teóricos das duas tradições abordam essas questões, em como eles criam as hipóteses que sustentam seu trabalho e no nível em que eles buscam construir formulações teóricas, por exemplo. (THELEN, 1999, p. 380)

Uma diferença que Thelen (1999) então identificava como problemática diz respeito ao foco no equilíbrio institucional da TER, em oposição ao processo histórico. A escolha racional oferecia valiosas ferramentas para o estudo de instituições mais estáveis. No entanto, ela tendia a perder a capacidade explicativa ao não conferir o devido valor ao dinamismo do processo histórico. Nesse sentido, algumas lacunas, caras ao IH, tendiam a surgir em análises baseadas na TER. Era o caso da ênfase no processo, muitas vezes conflituoso, que leva ao surgimento das instituições. Também foram postos nessa relação a sensibilidade à percepção das diferentes temporalidades presentes em um contexto institucional. Mais significativo ainda era a referida atenção do IH ao processo de mudança, a respeito do qual Thelen, como exposto anteriormente, já vinha dedicando especial atenção. Conforme argumentou a autora, conceber a mudança como o colapso de um equilíbrio e sua substituição por outro não captura a política como um processo dinâmico, que produz resultados não intencionais (THELEN, 1999, p. 383-84). Todavia, Thelen (1999) destacou cinco questões divergentes comumente apontadas entre a TER e o IH. A primeira consiste na oposição entre o enfoque excessivamente teórico da TER e um suposto desinteresse teórico do IH, que daria ênfase excessiva ao trabalho empírico. É bem verdade que o IH tende a ser menos rígido

com as teorizações, dado seu interesse em aprofundar o estudo do contexto histórico. Já na escolha racional, a ênfase na elaboração de generalizações costuma levar a certa simplificação da pesquisa empírica. Além disso, na construção de hipóteses, o IH tende a ser indutivo, enquanto na TER ela tem natureza dedutiva. Contudo, conforme enfatizou Thelen, esse dualismo é impróprio e tem sido muitas vezes exagerado, pois ambas as abordagens se preocupam com a elaboração de hipóteses que são confrontadas com os fenômenos empíricos, de modo a explicá-los e a aperfeiçoar a teoria, sempre que necessário. Em suma, “a construção de hipóteses não é a análise” e “a utilidade da teoria, afinal de contas, não pode ser avaliada de forma separada do material empírico que ela procura explicar” (p. 374).

Igualmente pareceu a Thelen (1999) falsa a dicotomia entre abordagem micro e macro, atribuídas, respectivamente, às pesquisas da TER e às do IH. Afinal, de um lado, a TER trabalha com atores coletivos, havendo apenas a questão sobre a procedência de atribuir motivos e estratégias às agregações em foco. Do outro, a autora lembra a existência de abordagens de natureza micro-institucional por pesquisadores ligados ao IH. Da mesma forma, a suposta rigidez na distinção entre uma visão funcional das instituições, atribuída à TER, e a visão histórica do IH é desqualificada por Thelen com base na já então crescente quantidade de pesquisas baseadas na primeira que buscava uma visão mais histórica das instituições (p. 379).

Outra diferença marcante das duas abordagens residiria na formação de preferências. Enquanto na TER ela é exógena às instituições, dado o fundamento na suposição da racionalidade, no IH elas são endógenas ao contexto institucional. Essa distinção, contudo, vem sendo amenizada pela crescente abertura da TER à análise contextual, às normas e à cultura institucionais, assim como à flexibilização de alguns de seus pressupostos. Em análise mais recente, Katznelson & Weingast (2005) também destacaram a diferença original das duas vertentes a respeito das preferências, bem como indicaram as mudanças que vêm levando a uma aproximação entre ambas. Na TER, a ênfase na interação estratégica e a suposta impossibilidade de determinar empiricamente os desejos de cada ator individual levaram à imputação de preferências, em detrimento da demonstração. Já no IH, a formação de preferências tinha algo de indeterminado. Elas eram identificadas a partir da inserção dos indivíduos na estrutura social. Dessa forma, tendiam a não se preocupar devidamente com situações mais específicas presentes em determinada instituição. Acadêmicos de ambas as correntes, no entanto, passaram a sofisticar suas análises ao perceber que as preferências podem

decorrer da própria interação institucional dos atores e de diferentes instituições, processo que frequentemente assume um caráter complexo. Assim, as duas correntes