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Diagrama 1: Esquema do Modelo Organon

2.3. Linguagem Geral vs Linguagem especializada

“O texto é visto como um todo de sentido e de comunicação, constituído pelo conteúdo expresso e também pelo quadro geral das escolhas ou convenções do seu “modo de dizer” estabelecidos pelas comunidades discursivas e interpretantes envolvidas” (PERNA et al., 2010:155).

Tendo em conta que o presente relatório recai sobre os vários domínios e subdomínios da linguagem de especialidade, é percetível que seria relevante estabelecer neste subcapítulo algumas diferenças entre a linguagem geral e a linguagem especializada.

Registe-se que Coancă (s/d) refere-se, por um lado, à linguagem geral como a que designa a língua como um todo, ou seja, a que congrega as línguas gerais e as línguas espacializadas. Por outro lado, a noção de linguagem comum designa as línguas que não são cunhadas durante a troca não especializada do dia-a-dia. Logo, por linguagem comum entende-se todo o tipo de linguagem que é corrente na linguagem dos seres humanos e que não sofre nenhuma adaptação ou uso enquanto termo da linguagem especializada.

Conforme Hoffmann (2004:81), a linguagem especializada pode ser definida como o “conjunto de todos os recursos linguísticos que são utilizados num âmbito comunicativo, delimitado por uma especialidade, para garantir a compreensão entre as pessoas que nela trabalham”. Assim, a língua de especialidade distingue-se da linguagem geral por se tratar de uma área de especialidade, com uma terminologia e discurso mais específicos. Assim sendo, a linguagem especializada baseia-se num conjunto de características, como recurso a terminologia, uma vez que este engloba vocabulário especializado e terminologia específica de uma determinada área ou como o uso de determinadas categorias gramaticais, estruturas textuais e construções sintáticas (Hoffmann, 2004:81).

Para além dos autores já referidos, também Faber (2012) aborda este tópico das especificidades da linguagem de especialidade, caracterizando-as pela frequente repetição de expressões e termos, pelo paralelismo estrutural no que diz respeito às construções sintáticas, bem como pelo elevado número de termos de uma determinada língua de especialidade.

30 Dito isto, a linguagem geral caracteriza-se pela cunhagem de novos termos na língua de chegada, de modo a acompanhar os progressos tanto científicos como tecnológicos, enquanto a linguagem especializada se caracteriza por um grande número de estrangeirismos de modo a facilitar a tarefa de comunicação e partilha de conhecimentos científicos entre os diversos especialistas.

2.3.1. Conceito de termo e terminologia

Tendo em conta que este relatório incide nos problemas de tradução de termos em textos científicos e técnicos, torna-se relevante fazer uma breve abordagem dos conceitos termo e terminologia.

O termo ou signo terminológico pode ser definido de duas maneiras, isto é, pode ser simples, quando inclui apenas uma palavra, ou complexo, quando inclui uma ou mais palavras (PERNA et al., 2010; PINTO, 2013). Segundo Pinto (2013), o signo terminológico é considerado como uma unidade linguística composta não só pela própria denominação, ou seja, pelo nome que lhe é atribuído, mas também pelo conceito, isto é, a ideia que é representada pelo termo. É também considerado como uma unidade linguística, na medida em que representa um conceito num determinado contexto de um domínio específico de uma área de conhecimento. Deste modo, um mesmo termo pode assumir diferentes significados dependendo do contexto em que se insere, por exemplo, o termo “rato” pode referir-se a um pequeno mamífero, na linguagem geral, ou pode referir-se a um cursor informático, no contexto de linguagem especializada.

Em conformidade com Faber (2012), estas unidades terminológicas fazem referência a entidades que se centram numa determinada área científica ou técnica. No entanto, torna-se relevante referir que alguns termos não pertencem apenas a uma determinada área ou domínio de conhecimento, pelo que o seu significado, quando inserido num determinado domínio, resulta de um acordo entre os vários especialistas de uma mesma área científica.

O conceito de terminologia está deste modo interligado com o conceito termo, uma vez que à terminologia dizem respeito os termos que pertencem a um determinado conhecimento especializado. A terminologia é encarada como uma disciplina da

31 linguística que cria denominações que ainda não existem, a partir de conceitos que emergem das diferentes áreas do conhecimento e do saber.

O termo “terminologia”, conforme descrito por Perna et al. (2010) é constituído por duas aceções diferentes. A primeira diz respeito ao vocabulário próprio de uma determinada ciência, arte ou técnica, a segunda refere-se ao conjunto de métodos que podem ser aplicados na descrição e gestão de apresentação dos termos numa determinada língua de especialidade. É ainda referido que o termo “terminologia” está também relacionado com a “integração de componentes de textualidade e da discursividade no aparato teórico-metodológico” da própria terminologia, em que o principal objetivo dessa integração diz respeito ao termo científico-técnico.

A terminologia pode ser ainda definida como uma ferramenta para a formulação lexical nas diferentes áreas, podendo ser interlinguística (entre duas ou mais línguas) ou intralínguistica (apenas uma língua) (PINHO, 2011). A criação de ferramentas terminológicas tem sido desenvolvida ao longo dos tempos, de modo a facilitar o trabalho dos tradutores aquando da tradução, e existem algumas bases de dados específicas como o IATE (base terminológica europeia), ou seja, os termos são compilados em bases de dados ou bases terminológicas que se dedicam a uma determinada área do saber. No entanto, as empresas de tradução ou até mesmo os tradutores em regime freelance possuem os seus próprios glossários terminológicos.

Este é o presente caso, enquanto estagiária na área da tradução foi desenvolvido ao longo das traduções vários glossários terminológicos, que serão apresentados no Anexo 1 do presente relatório.