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Diagrama 1: Esquema do Modelo Organon

2.5. Particularidades de tradução

2.5.3. Público-alvo

Numa época em que a informação assume um destaque muito importante para a sociedade, a literacia revela-se um fator conducente à não exclusão, de forma a ultrapassar a falta de capacidade para compreender, analisar, refletir e interpretar os constantes fluxos de informação que são recebidas.

A leitura enquanto atividade cognitiva permite a descoberta de outros mundos e, ao mesmo tempo, um maior desenvolvimento social assim como também permite alargar os conhecimentos enquanto ferramenta de comunicação (CARVALHO & SOUSA, 2011). Deste modo, uma boa competência de literacia permite uma aprendizagem continua num mundo que está em constante ebulição científica e tecnológica.

Do mesmo modo que existem diferentes tipos de literacia, existem diferentes tipos de público-alvo, sendo que este é considerado como o elemento-chave no processo de tradução, a par do fator temporal que respeita a inscrição temporal do texto, bem como a altura em que é realizada a tradução. Tendo em vista a adequação de um texto traduzido a todos estes fatores, este deve ser analisado à luz de critérios pertinentes, de acordo com

43 o texto pretendido e, consequentemente, ajustado aos padrões do público-alvo a que se destina (REISS 2000:114 apud PINHO, 2011).

Tal como se tem vindo a referir, a tradução é uma prática linguisticamente incontornável no mundo atual. Contudo, não deve ser encarada como distinta de outros atos de comunicação, tendo apenas que ser tida em consideração a competência linguística indispensável ao seu exercício (GUTT, 1989). Além disso, o tradutor, enquanto comunicador que se dirige a um determinado público-alvo deve cumprir uma função informativa, ou seja, deve capacitar-se do seu papel de intermediário de conhecimento científico, técnico e cultural (GUTT, 1989).

O tradutor enquanto elemento fundamental no processo de tradução deve, portanto, “promover a localização do texto” (PINHO, 2011:129), isto é, deve adaptar o texto de chegada não só ao nível de literacia dos seus leitores, mas também às convenções linguísticas em que esse texto vai ser introduzido, de modo a que seja claramente entendido pelo público-alvo em causa. Assim, quando se procede à tradução dos textos que foram facultados, enquanto leitor e tradutor, deve-se analisar e perceber qual o tipo de texto que se está a trabalhar, para que, deste modo, o texto de chegada possa ser entendido e, por sua vez, corresponda às características do público-alvo. Estas características podem ser muito variadas, no entanto, as mais relevantes são a faixa etária, a educação ou literacia e o ambiente sociocultural em que o público-alvo se insere.

Deste modo, quando se realiza a tradução de textos destinados a profissionais da área, tais como formadores ou professores, e também aos educadores, tais como progenitores ou auxiliares, o tradutor deve tentar manter-se fiel ao texto original, uma vez que este tipo de textos incorpora um variado leque de terminologia científica e técnica. Para além disso, os textos neste domínio são estruturados por frases complexas que englobam a especificação dos conceitos e gráficos e tabelas, a fim de facilitar a leitura dos dados recolhidos neste tipo de trabalhos. Exemplo deste tipo de texto, que se destinam, neste caso, a profissionais, são os documentos traduzidos, a saber: P9 – Manual of Best Practices for Combating and Preventing Bullying at Educational Centres (Tradução: P9 – Manual das Melhores Práticas para Combater e Prevenir o Bullying nos Centros Educacionais.) e Stop Bullying Now – Bullying among Children and Youth with Disabilities and Special Needs (Tradução: Acabem com o Bullying já! – Bullying entre Crianças e Jovens com Deficiência e Necessidades Especiais.).

44 Nos casos em que a tradução se destina a um público infantil, o tradutor deve optar por palavras ou frases que sejam mais acessíveis à compreensão desse mesmo público, sendo que, frequentemente, os próprios textos de partida, que são destinados a um público mais jovem, são compostos por frases simples e imagens que ilustram essas mesmas frases, tornando-se assim de mais fácil leitura. Exemplo deste tipo de texto, que se destinam a um público infantil, é o documento traduzido, a saber: Bullying – You CAN DO something about it! You are NOT alone! (Tradução: Bullying – Tu PODES FAZER algo sobre isto! NÃO estás sozinho!).

Para concluir, o processo de tradução passa pela interpretação da mensagem de um texto de partida num texto de chegada, passível de compreensão pelo público-alvo desse mesmo texto de chegada (PINHO, 2011:72).

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3. CONTEXTUALIZAÇÃO DA TEMÁTICA – BULLYING

No decorrer do estágio curricular, no Mestrado em Tradução, no Clube Intercultural Europeu, o material fornecido para tradução era relativo, principalmente, à temática sobre o bullying. Assim sendo, neste ponto será feito um breve apontamento sobre esta realidade assim como deste termo, mas também sobre as diferentes utilizações e traduções que podem ser efetuadas, tendo em conta o contexto de uso, uma vez que podem existir problemas inerentes no ato de tradução.

Atualmente, e apesar de ser objeto de estudo para as mais variadas investigações, o

bullying sempre existiu e a comunidade escolar tem mostrado mais suscetibilidade a estas

situações, tanto dentro como fora da escola. Os professores, os pais, os alunos, os auxiliares educativos ou da escola e os psicólogos são alguns dos agentes que contactam, direta ou indiretamente, e tentam prevenir estes atos de violência física e/ou psicológica. O termo bullying foi abordado pela primeira vez pelo Doutor Dan Olweus, professor e psicólogo, que enveredou pelo envolvido no trabalho de pesquisa e investigação na área do bullying, sendo, deste modo, considerado como o pioneiro nesta área. Assim, desenvolveu uma definição comum sobre bullying:

“A person is bullied when he or she is exposed, repeatedly and over time, to negative actions on the part of one or more other persons, and he or she has difficulty defending himself or herself.

Expressed in more everyday language one might say: Bullying is when someone repeatedly and on purpose says or does mean or hurtful things to another person who has a hard time defending himself or herself.”5

Esta definição foi posteriormente usada e redefinida, tendo em conta o contexto em que é aplicada (como é o caso do ambiente escolar), por especialistas na área e, por sua vez, utilizada na teoria dos documentos traduzidos, tal como se pode observar no Manual

of Best practices for combating and preventing bullying at educational centres

(documento traduzido ao longo do estágio curricular), a definição de bullying retoma a definição de Olweus e é redefinida como:

46 “um estudante (que) está a ser agredido ou intimidado quando é exposto,

repetida e extensivamente, às ações negativas pela parte de um ou mais estudantes. Este comportamento pode ser realizado fisicamente (por exemplo, bater, pontapear, empurrar, asfixiar), verbalmente (por exemplo, chamar nomes, ameaçar, insultar, provocar maliciosamente, espalhar boatos desagradáveis), ou de outras formas, como fazer má cara ou gestos obscenos, ou exclusão intencional do grupo.”6

Do mesmo modo, poderão ser apresentadas outras definições, tal como a que foi traduzida num outro documento, a saber: Stop Bullying Now – Bullying among Children

and Youth with Disabilities and Special Needs, assim, o bullying pode ser definido como:

“um comportamento agressivo, que é intencional e que envolve desnível de poder ou de força. O bullying pode assumir muitas formas de agressão de tipo físico, tais como bater, pontapear ou empurrar (bullying físico), de tipo verbal, tais como provocar ou insultar (bullying verbal), de tipo gestual, a saber, intimidação através de gestos ou mesmo de tipo comportamental, a saber, exclusão social (bullying não verbal ou bullying emocional), e também de tipo digital sob a forma de envio de mensagens insultuosas por mensagens de texto ou e-mail (cyberbullying).”7

Dadas estas definições, quando se toma o signo linguístico bullying, é-se imediatamente transportado para diversos domínios. Por um lado, para a área da psicologia comportamental, que está relacionada com o comportamento humano, por outro lado, para as áreas que estão ligadas à educação e à psicologia educacional. Deste modo, e, tendo em conta a realidade, sobretudo educacional e escolar, que é o que interessa a este relatório, este termo está diretamente relacionado com a situação de dominador-dominado (agressor-vítima).

O problema de violência escolar denominado como bullying, na literatura é considerado como um termo anglo-saxónico, sendo que, tendo em conta a escassez de estudos existentes em Portugal (GOUVEIA, 2011) revela-se como um problema de

6 Tradução minha. 7 Idem.

47 tradução para a língua portuguesa (TEIXEIRA & OSÓRIO, 2009). Etimologicamente, o termo bullying provém do nome inglês “bully”, que é definido como “pessoa que usa força ou poder para coagir ou intimidar outros menos fortes” (GRANDE DICIONÁRIO HOUAISS DA LÍNGUA PORTUGUESA, 2015:725). O termo bullying, apesar de ter um significado na língua portuguesa não possui uma tradução literal (LISBOA, et al., 2009).

Segundo Teixeira e Osório (2009), em 2009, o termo bullying ainda não fazia parte dos dicionários de língua portuguesa, embora fosse usado na comunicação “na sociedade do século XXI, sendo atualizada, na sua forma original, pelos falantes, não obstante serem desconhecidas propostas de tradução para a mesma”. Assim, as palavras estrangeiras entram no acervo lexical de outras línguas, em grande parte, pela disseminação linguística e cultural, fundamentalmente através dos média. Deste modo, o conhecimento significativo de alguns signos linguísticos, como o termo em questão, provém do uso linguístico recorrente. Assim, bullying é definido como: “coação reiterada, intimidação ou opressão moral ou física levadas a efeito com ameaças ou violência” (GRANDE DICIONÁRIO HOUAISS DA LÍNGUA PORTUGUESA, 2015:725).

Tal como já foi referido, o termo bully não tem uma tradução literal para o português europeu. Em conformidade com o Dicionário de Inglês-Português (1998), este termo é equivalente a valentão (substantivo) ou ameaçar (verbo), e o termo bullying pode ser definido como intimidação. No entanto, quando se tenta definir este termo surge a ideia de que se está a limitar apenas a uma das várias formas de manifestação, isto é, está a limitar-se a complexidade comportamental que este fenómeno de violência abarca (LISBOA, et al., 2009).

Assim, apesar dos equivalentes semânticos portugueses de bullying, o termo anglo- saxónico é sem dúvida o mais usado. O termo bullying entrou na língua portuguesa por empréstimo, sem sofrer alterações de qualquer tipo. Contudo, este termo pode, atualmente, ser encontrado, dependendo dos contextos, traduzido por tirania, intimidação ou opressão, entre outros, mas é recorrentemente usado na sua forma original, bullying, nos meios de comunicação, meios comerciais, políticos e educacionais.

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4. PROBLEMAS DE TRADUÇÃO

No presente ponto, serão abordadas as questões de tradução que foram surgindo ao longo das traduções dos textos que foram referidos anteriormente. Será feito, portanto, um enquadramento teórico que permitirá a análise das questões lexicais, a saber: os falsos amigos; a polissemia e homonímia; os empréstimos e estrangeirismos / neologismos; as metáforas conceptuais; e as siglas / acrónimos e denominações.

Quando se está perante um texto traduzido, este não pode ser interpretado como um texto que foi traduzido, mas sim como um original da língua em que está a ser lido. Deste modo, há elementos que não podem soar estranhos, uma vez que o texto deve ser lido de forma fluida.

Assim, o tradutor tem que pensar nas melhores adaptações e soluções para os problemas e questões de tradução com que se depara, tendo em conta que o significado das palavras ou expressões idiomáticas se articulam com outras palavras e expressões no texto, de forma coesa e coerente.