• Nenhum resultado encontrado

Diagrama 1: Esquema do Modelo Organon

2.2.3. Sequências textuais

A teoria das sequências textuais encontra-se mais ou menos próxima da teoria das superstruturas, uma vez que existe um nível de estruturação, entre a frase e o texto, que é denominado como sequência.

Retomando o autor do ponto anterior, Jean-Michel Adam, define uma sequência como uma rede relacional hierárquica – partes que estão ligadas entre si – e uma entidade autónoma com organização interna – onde o texto é organizado em diferentes partes numa relação de dependência/independência (cf. PEREIRA, 2015:4). Inicialmente, Adam (1987) apud Pereira, (2015), estruturou as sequências textuais, da seguinte forma:

22  injuntiva-instrucional;  descritiva;  argumentativa;  explicativa-expositiva;  diagonal-conversacional;  poética-autotélica.

Bassols e Torrent (1996) afirmam que Adam, já em 1987, tinha recorrido ao argumento de que a linguística textual tinha que abandonar qualquer ideia de tipologia textual uma vez que, tal como o discurso, o texto é uma estrutura extremamente complexa, pelo que se deveria enveredar por uma unidade menos complexa, a saber, a sequência textual. Por este motivo, em 1992, este mesmo autor, Adam, inovou o conceito de sequências textuais, dividindo-as em cinco tipos: narrativa, explicativa, argumentativa, descritiva e dialogal. Destes cinco tipos de sequências apenas as quatro primeiras se revelam importantes para este trabalho, uma vez que dizem respeito à produção escrita, enquanto a última, dialogal, diz respeito fundamentalmente à produção oral.

Tal como referido, o texto, independentemente de ser muito ou pouco extenso, é composto de sequências que podem ter as mais variadas extensões, e cuja delimitação assenta nos critérios de uma determinada unidade temática (correspondendo a uma concentração da ideia, do propósito e da tipologia). Em seguida será realizada uma breve descrição para cada uma das sequências textuais que foram divididas por Adam.

Sequência explicativa (expositiva)

Tal como o próprio nome indica, esta sequência assenta na explicação, e segundo Bassols & Torrent (1996) é definida como uma atividade que transmite a informação através de uma base expositiva ou informativa que tem uma finalidade demonstrativa. Em conformidade com as mesmas autoras, o tipo de linguagem usada na sequência explicativa é neutra e objetiva, permitindo, deste modo, uma melhor compreensão dos assuntos que se pretendem transmitir.

Das sequências explicativas fazem parte os seguintes textos (BASSOLS & TORRENT, 1996):

23  didáticos/educativos e científicos, nomeadamente, livros, manuais e revistas especializadas, comunicações de congressos, demonstrações e documentos pedagógicos, livros de apoio ao ensino, entre outros;

 jornalísticos e publicitários.

Quanto à sua estrutura gramatical, as sequências explicativas caracterizam-se segundo Bassols & Torrent (1996), Rocha (2013) e Dias (2015) pelo emprego de:

 tempos verbais no presente, de modo a obter um efeito intemporal e a relacionar o enunciado ao momento de enunciação;

 adjetivos e advérbios, uma vez que existe a necessidade de precisar determinadas características do que está a ser explicado;

 terminologia específica relacionada com os domínios de conhecimento que estão a ser abordados no texto uma vez que estes textos têm como objetivo a precisão e a clareza textual;

 da primeira pessoa do singular de forma a atingir a objetividade que se pretende;  determinados conectores.

Tendo em conta que os textos explicativos são principalmente didáticos/educativos, nestas situações evita-se o uso da primeira pessoa do singular, uma vez que estes textos promovem a objetividade, sendo o estilo geralmente neutro com uma formalidade média ou alta.

As sequências explicativas são, portanto, utilizadas como meio de transmissão clara e objetiva da informação. Logo, fazem parte de qualquer texto que tenha como objetivo essa transmissão de ideias (BASSOLS & TORRENT, 1996).

Bassols & Torrent (1996) incluem ainda neste grupo as sequências instrutivas ou instrucionais incluídas na divisão das sequências textuais defendida por autores como Adam.

As sequências expositivas podem ainda enquadrar sequências narrativas ou outras (DICIONÁRIO PRÁTICO PARA O ESTUDO DO PORTUGUÊS, 2003).

24

Sequência argumentativa

Este tipo de sequência incide numa operação discursiva que tem por objetivo influenciar um determinado público, mediante expressão de opinião. A sequência argumentativa faz uso de variadas operações para demonstrar ou contestar uma tese, segundo Bassols & Torrent (1996) essas operações são o uso de:

 silogismos: ideia que assenta no “a é bom”, “b é a”, “então b é bom” (Rocha, 2013);

 argumentos variados: argumentos por associação (argumento causal em que se relaciona o facto com o efeito e o efeito com a sua causa), argumentos que relacionam os meios e os fins, argumentos pragmáticos (onde o êxito é objetivo da validade) e argumentos pessoais (que associam o valor de um determinado facto com o valor do próprio autor, tal como o argumento de autoridade);

 exemplos: para refutar o que foi dito e determinar uma conclusão, através de premissas (dados).

Do mesmo modo, e ainda segundo as mesmas autoras, a sequência argumentativa também se caracteriza pelo uso específico de:

 palavras axiológicas;  conectores argumentativos;

 operações argumentativas fundamentais;  recursos retóricos como as oposições;

 tempos verbais no presente do modo indicativo e, normalmente, de casualidade e de consequência.

Quanto à coesão e coerência textual, segundo Bassols & Torrent (1996), as sequências argumentativas podem ser dimensionadas em:

 parágrafos: quando se inicia o parágrafo com uma enumeração;

 aspas: para citar palavras ou expressões que reforcem a argumentação do autor;  interrogação retórica: de modo a atrair o interesse do leitor;

 nexos de consequência ou casualidade: como os advérbios e as conjunções;  recursos retóricos: com referência a marcas culturais e do passado;

25  metáforas;  perífrases;  repetições;  citações;  provérbios;  alienação do emissor.

Ao incluir todas estas operações, características e marcas de coesão e coerência, a sequência argumentativa pretende, através do discurso, mudar a opinião ou o modo de pensar e proceder dos leitores, criando assim novas perspetivas e condutas de modo a convencer o leitor da veracidade de uma afirmação (BASSOLS & TORRENT, 1996).

As sequências argumentativas podem ainda enquadrar as outras sequências textuais (DICIONÁRIO PRÁTICO PARA O ESTUDO DO PORTUGUÊS, 2003).

Sequência descritiva

A sequência descritiva, ao invés das outras sequências, não é composta por uma ordem de macroposições (DICIONÁRIO PRÁTICO PARA O ESTUDO DO PORTUGUÊS, 2003). No entanto, e da mesma forma que a sequência argumentativa, esta visa a transmissão de informação que também assenta no ato de descrever, o tipo descritivo representa objetos, pessoas, situações ou sentimentos através da linguagem, referindo as circunstâncias, qualidade e partes distintas (BASSOLS & TORRENT, 1996). Em conformidade com as mesmas autoras, pode adequar-se à finalidade da descrição e do destinatário a quem se dirige, evidenciando uma forma:

 concisa: quando é abrangente e seleciona apenas um número mínimo de elementos que são suficientes e relevantes para a caracterização da descrição;  detalhada: quando é muito específica e faz uma enumeração exaustiva das partes

ou qualidades do que está a ser descrito;

 objetiva: quando aquilo que se pretende plasmar, de forma fiel, as características físicas do objeto que está a ser descrito (sendo que esta descrição é impessoal);

26  impressionista: quando o principal objetivo é provocar e despertar emoções, muitas vezes, relegando para segundo plano as características físicas dos objetos. Logo, regista-se uma proliferação de adjetivos que fortalecem a descrição.

Quanto à sua estrutura gramatical, as sequências descritivas caracterizam-se segundo Bassols & Torrent (1996) pelo emprego de tempos verbais no presente e imperfeito no modo indicativo, com exceção para a descrição de algumas ações.

As sequências descritivas aparecem muitas vezes nos textos narrativos (narração de ações) e argumentativos (descrição de ações), com o objetivo de serem utilizadas como suporte ou ilustração desses textos. Existe ainda um tipo específico de sequência descritiva que é distinto dos outros tipos, ou seja, a descrição de ações, recorrendo a verbos de ação, usados para ordenar de forma cronológica as ações que são objeto de descrição (BASSOLS & TORRENT, 1996; ROCHA, 2013). Apesar de existir este tipo específico, não se deve confundir esta sequência com a sequência narrativa, uma vez que tanto a descrição das ações como a descrição das pessoas e objetos são norteadas pelo mesmo propósito.

As sequências descritivas, tal como as argumentativas, podem enquadrar-se em qualquer sequência textual (DICIONÁRIO PRÁTICO PARA O ESTUDO DO PORTUGUÊS, 2003).

Sequência narrativa

Este tipo de sequência tem originado mais estudos, sendo que, segundo Bassols & Torrent (1996), assenta em três vetores:

 existência de um ator: um ator que permanece estável ao longo de toda a sequência narrativa e que favorece a unidade de ação ao participar ativamente nas ações que estão a ser descritas, ou seja, é um ser antropomórfico que sofre evolução e se transforma durante o desenrolar dos acontecimentos;

 teia complexa de acontecimentos narrados: uma sequência de acontecimentos que são orientados para um desenlace ou final, onde pode surgir um facto inesperado que pode alterar o decurso normal dos acontecimentos. Esta teia complexa é o que

27 distingue a sequência narrativa de uma mera sequência descritiva que relata apenas as ações;

 avaliação dos acontecimentos: este elemento atua como uma chave, implícita ou não, da especificidade da narração.

Após a identificação destes três elementos que fazem parte da sequência narrativa, podem, do mesmo modo, ser identificados três fases importantes ou “macroposições” (BASSOLS & TORRENT, 1996; DICIONÁRIO PRÁTICO PARA O ESTUDO DO PORTUGUÊS, 2003) que fazem parte do esquema dos acontecimentos:

 situação inicial: parte que configura a problematização e a consequente alteração dos acontecimentos;

 desenvolvimento: parte que promove a transformação do texto enquanto processo;  situação final: parte onde figura a resolução do problema que foi identificado

durante o desenvolvimento.

A sequência narrativa prototípica caracteriza-se pelo sujeito da narração (o ator que está envolvido), pelo emprego dos tempos verbais de ação do passado (as ações que são efetuadas pelo ator), e pelo emprego de conetores de discurso, organizadores textuais espácio-temporais e complementos circunstanciais de tempo e lugar (tempo e local onde se desenrola a ação do ator). O tempo verbal mais utilizado é o passado, principalmente no modo indicativo e no imperfeito, mas este pode dar lugar ao presente histórico que imprime atualidade e vigor aos acontecimentos narrados (DICIONÁRIO PRÁTICO PARA O ESTUDO DO PORTUGUÊS, 2003; ROCHA, 2013; DIAS, 2015).

A sequência narrativa pode enquadrar uma sequência descritiva ou outra (DICIONÁRIO PRÁTICO PARA O ESTUDO DO PORTUGUÊS, 2003).

Sequência dialogal/conversacional

A sequência dialogal (conversacional), tal como o nome indica, é uma sequência que se baseia no diálogo, sendo, deste modo, a forma mais básica de comunicação do ser humano. Assim, esta sequência pode ser considerada como a mais comum, uma vez que, contém os vários géneros orais, tais como a conversa informal, o debate, a entrevista,

28 entre outros, por outro lado, quando assume a forma de escrita, inclui todas as outras formas de expressão escrita.

Em conformidade com o Dicionário Prático para o Estudo do Português (2003), esta sequência desenrola-se de acordo com o seguinte esquema:

 sequência inicial: troca de saudações, trocas rituais como o tema da saúde, o tempo atmosférico, entre outras;

 sequência de interação: onde se desenrola o diálogo ou troca discursiva, podendo incluir um variado e indeterminado número de sequências;

 sequência final: troca de saudações ou votos, projetos de um novo encontro, entre outras.

Quando a sequência dialogal passa da forma oral para a forma escrita, o autor deve ter em atenção e saber utilizar alguns recursos de construção textual, a saber:

 pontuação;  reticências;

 pontos de interrogação e exclamação: que exprimem o tom em que o diálogo foi proferido;

 travessão: que marca a mudança de quando cada interlocutor está a falar e, em alguns casos, separa o narrador da personagem.

Esta sequência, caracteriza-se ainda pelo facto de ser um diálogo/conversa espontânea que tem, tal como vimos, uma estrutura com duas perspetivas: a de carater sequencial e a de carater hierárquico (LÓPEZ, s/d).

Cada sequência pode estar encaixada noutra sequência mais importante como por exemplo, um diálogo numa narração, ao passo que uma descrição pode estar encaixada numa argumentação, entre outros (DICIONÁRIO PRÁTICO PARA O ESTUDO DO PORTUGUÊS, 2003). Em suma, há uma sequência que é dominante no texto, sendo que é esta que define o tipo de texto que nos é apresentado.

29