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3 JUSTIFICATIVA HISTÓRICA – EQUIDADE, JUSTIÇA, PAGAMENTO INDEVIDO E

5.4 Repercussão econômica do tributo entre consumidores e/ou fatores de produção

5.5.2 Longo e curto prazo

O prazo necessário para que o tributo que incidiu sobre o contribuinte legal seja repercutido ao contribuinte econômico pode variar de acordo com etapas da cadeia de produção ou circulação. Assim, tanto no curto prazo quanto no longo prazo o efeito financeiro do tributo pode depender de diversos fatores.

No curto prazo39, o contribuinte não pode vender mais que os produtos já em estoque ou no mercado. Mesmo sendo esse raciocínio próximo ao adotado pelos julgamentos citados nos capítulos anteriores, não cabem os fundamentos daqueles julgados, uma vez que admitiram a translação sem redução do lucro, que implica dizer que admitiram a variação do mercado40.

Stiglitz (1999, p. 508) esclarece que:

Também deve ser feita uma distinção entre a incidência do imposto, a longo prazo e no curto prazo. Muitas coisas são fixas no curto prazo que, a longo prazo pode variar. Enquanto o capital atualmente a ser utilizado em uma indústria (como o aço) não pode ser facilmente deslocada para uso em outra, no longo prazo, novos investimentos podem ser deslocados para outras indústrias. Assim, um imposto sobre o rendimento do capital na indústria do aço pode ter efeitos muito diferentes no longo prazo do que no curto prazo. Se a poupança é tributada, o efeito de curto prazo pode ser mínima. Mas, a longo prazo, o imposto pode desencorajar a poupança, o que pode reduzir o estoque de capital. A redução do estoque de capital

      

39

Cf. Schoueri. Também denominado market period shifting (2013, p. 59).

40 De acordo com Schoueri (1986, p. 403), “Cosciani apresenta também a hipótese de translação a curto prazo, quando a capacidade produtiva total da indústria não se altera. No entanto, o termo ‘indústria’ é aplicado, na economia, para o conjunto de empresas que fabricam bem análogos. Tais empresas podem, individualmente, ter sua capacidade produtiva diversa daquele índice geral da indústria. Ora, não é a indústria como um todo que comparece aos tribunais, nos julgados que inspiram a jurisprudência, mas empresas individualmente, não podendo, portanto, os julgadores imputar a uma empresa aquela translação ocorra na indústria”.

irá reduzir a demanda por (e produtividade de) trabalho, e este, por sua vez levará a uma redução dos salários. Como resultado, a incidência de longo prazo de um imposto sobre a poupança (ou capital) pode ser sobre os trabalhadores, mesmo que a incidência de curto prazo não é. [...]

A distinção entre a curto prazo e efeitos de longo prazo é importante, porque os governos e os políticos são muitas vezes míopes. Eles observam o efeito imediato de um imposto, sem perceber que as consequências podem não ser aquelas que tinham a intenção41.

O fator tempo é mais importante do que se imagina. Como a tributação induz comportamentos dos contribuintes de determinado tributo, a resposta do mercado em relação a este no curto prazo, quando este não possui tempo suficiente de repercuti-lo no preço dos produtos ou nos fatores de produção, fatalmente menor será a translação do tributo pelo fator tempo.

Se a incidência se dá no longo prazo, maiores as possibilidades de o custo tributário ser alocado como custo de transação ou de produção, dada a maior previsibilidade do contribuinte do pagamento do tributo e a consequente possibilidade de transferi-lo.

Lembra Schoueri (1986, p. 402) que

Longo prazo, de acordo com a teoria econômica, é o tempo suficientemente amplo para possibilitar que varie o número de empresas que atuam no mesmo mercado, ou que mudem as instalações físicas de cada empresa. Deste modo, torna-se possível que varie o preço das mercadorias, e esta variação pode se confundir com a queda gerada pela variação tributária, ficando impossível ao analista estimar qual a parcela da variação do preço devida à translação do ônus do tributo.

Conforme o autor, a tributação no curto espaço de tempo age de inopino na lógica econômica do agente, subtraindo deste transferir seu custo na totalidade ou de uma forma diferente se tivesse mais tempo para alocar o custo em seus fatores de produção ou transação.

Didaticamente Contador (1976, p. 62) esclarece os efeitos em curto e longo prazo no caso do Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas:

      

41 “A distinction must also be made between the incidence of the tax in the long run and in the short run. Many things are fixed in the short run that in the long run can vary. While capital presently being used in one industry (like steel) cannot easily be shifted for use into another, in the long run new investment can be shifted to other industries. Thus a tax on the return to capital in the steel industry may have markedly different effects in the long run than in the short run. If savings are taxed, the short-run effect may be minimal. But in the long run, the tax may discourage savings, and this may reduce the capital stock. The reduction in the capital stock will reduce the demand for (and productivity of) labor, and this in turn will lead to a lowering of wages. As a result, the long-run incidence of a tax on savings (or capital) may be on workers, even if the short-run incidence is not. [...]

The distinction between short-run and long-run effects is important, because governments and politicians are often shortsighted. They observe the immediate effect of a tax without realizing that the full consequences may not be those that they intended” (STIGLITZ, 1999, p. 508).

As implicações podem ser classificadas em efeitos de curto e de longo prazo. Na discussão dos efeitos, imaginemos que a transferência é perfeita, isto é, as empresas transferem completamente o imposto de renda devido. Os efeitos a curto prazo são basicamente quatro:

a) Alocação dos investimentos entre empresas e atividades; b) Eficiência anti-inflacionária do imposto de renda; c) Eficiência na alocação de recursos;

d) Competitividade no mercado externo.

A primeira implicação importante é a de que, se os impostos não reduzem o lucro e a taxa de retorno líquida internalizada pela empresa, também não afetam negativamente as suas decisões de investir. Assim, a ‘longo prazo’ (que, na verdade, sabemos que não necessita ser tão longo), um aumento nos impostos sobre lucros resultaria numa mera transferência do ônus fiscal para o consumidor e/ou outros fatores, sem modificar sensivelmente a taxa líquida de retorno do empresário.

Como visto, no curto prazo a translação implicará onerar os bens já no mercado ou em estoque, mesmo que venha a alterar a composição dos lucros dos vendedores. Já no longo prazo, as variações de repercussão aumentam, sendo de difícil mensuração onde de fato o custo do tributo foi alocado.