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Gosto da metáfora da pesquisa como uma viagem, planejada detalhadamente antes de ser iniciada, escolhendo cada paragem, os tempos em cada lugar, os locais a serem visitados e os meios para se fazer cada um dos percursos pensados. Sei que nem as pesquisas nem as viagens saem exatamente como planejado – os roteiros mudam na vivência, a partir do momento em que a aventura já começou. Ao término não há mais a viagem sonhada, nem a viagem vivida, mas a narrativa de como foi.

Por onde andou uma antropóloga que buscou saber como um tipo penal específico foi trabalhado pelos atores e atrizes que compõem o processo penal? Onde fica, neste caso, o ―lá‖, da atitude antropológica de ―estar lá‖? Como chegar ―lá‖? É disso que trata este capítulo: narrar como essa viagem foi feita, de modo a explicar os seus percursos e os lugares, delimitando o ―campo‖ percorrido e a maneira como se fez o trajeto.

Como no ―esboço de mapa‖ narrado por Tim Ingold (2007), busco remontar aqui as linhas, os desenhos e os respingos do que, ao final das contas, foi a viagem. Se antes pensava ter em mãos um ―mapa cartográfico‖ com trajetos claros e destinos certos, logo percebi que a experiência se construia principalmente ―ao longo‖ do percurso, em um processo intuitivo, no qual achados levavam a pistas e a novos achados. Se trilhar é conhecer e construir o caminho enquanto se trilha (INGOLD, 2007, pp. 85, 89), e a somatória desses caminhos permite traçar a movimentação feita (INGOLD, 2007, p. 94), buscarei aqui esboçar este desenho. Para usar a metáfora de Ingold ―levarei a minha linha para passear‖ (INGOLD, 2007, p. 87), retomando os percursos que compõem seus emaranhados.

Dito de outra forma, a proposta aqui é justamente explicar o material empírico usado nesta tese, como cheguei a este material, as razões de sua escolha e como foi trabalhado. Trata-se, portanto, de um capítulo ―mapa‖, importante para explicar a viagem realizada.

A presente pesquisa etnográfica feita no campo jurídico e judicial foi realizada a partir da conjugação de métodos e técnicas investigativas, de modo a responder às questões que a guiaram. A proposta central do trabalho – investigar de que maneira o tipo penal infanticídio foi trabalhado nos autos processuais por atores e atrizes que acusam, defendem, analisam e julgam mulheres processadas pela morte de seus recém-nascidos – exigiu, para a sua resposta, o olhar para os lugares nos quais se dão as exposições desses usos. Para tanto, privilegiei dois lugares distintos: documentos judiciais (autos processuais e acórdãos) e julgamentos pelo Tribunal do Júri. Complementando-os, realizei entrevistas com pessoas envolvidas, de alguma forma, em processos judiciais referentes a casos que tratavam diretamente ou tangenciavam o

debate sobre infanticídio, bem como analisei a produção de conhecimento sobre este tipo penal advinda do direito penal e da medicina legal.

Para recompor a viagem, antes mesmo de abrir o mapa, abro o ―álbum‖ com algumas ―fotografias‖, para que aquelas e aqueles que acompanharão esta narrativa possam se familiarizar com as paisagens (sempre áridas) visitadas. Assim, começo apresentando os sete Casos43 cujos processos criminais tive acesso na íntegra, sendo apenas um deles inconclusos até o momento44. São todos Casos nos quais houve a acusação de uma mulher pela morte ou tentativa de matar seu/sua ―próprio/a filho/a‖ – para usar a expressão legal – nos quais de maneira mais ou menos presente se cogitou a possibilidade de se tratar de infanticídio. Em sua maioria são casos cujas narrativas extrapolam aquelas contidas nos autos processuais, uma vez que, para além destes, tive acesso a outras fontes como entrevistas com profissionais e partes que deles participaram e/ou participei de seus julgamentos pelo Tribunal do Júri. A narrativa destes Casos me guiará àquelas dos percursos que levaram aos lugares e arredores que compuseram a viagem.

Assim, feita a exposição dos Casos, passarei a narrar o passo a passo de como a pesquisa foi realizada, apresentando técnicas de coleta/produção de dados, bem como as fontes trabalhadas. Tal narrativa permitirá a compreensão do roteiro percorrido, das escolhas pelas fontes e da maneira como o material foi sistematizado e organizado. Por fim, apresento algumas reflexões teóricas sobre a pesquisa, de modo a situar as principais referências teóricas que me levaram às opções metodológicas feitas.

43 O que chamo de Casos aqui são histórias compostas por narrativas múltiplas presentes nos autos processuais

integrais, mas também, por vezes fora deles, uma vez que realizei em 5 dos 7 Casos entrevistas formais e informais e/ou etnografei sessões do Júri referente a eles. Desse modo, diferencio aqui esses sete Casos com os quais trabalhei de forma aprofundada, sempre os citando com a seguinte grafia: Casos, palavra sempre acompanhada do número referente ao Caso mencionado, ou das iniciais da ré de cada um. Já para os acórdãos uso a palavra caso, no singular.

44

A opção por narrá-los logo no início do trabalho foi inspirada na maneira como Oberman e Meyer estruturaram sua obra When Mothers Kill: Interviwes from prison (2008, pp. 9-22). As autoras entrevistaram, em 2001, 40 mulheres presas pela morte de seus filhos, que então cumpriam pena no Ohio Reformatory for Woman (OWR), única prisão feminina do estado. Em 2006, entrevistaram novamente oito dessas quarenta mulheres, com o objetivo de aprofundar alguns temas que surgiram na primeira rodada de entrevistas. No livro, apresentam essas oito histórias logo no primeiro capítulo, pois, como explicam na introdução, o uso frequente, ao longo da obra, das histórias contadas por essas oito mulheres pedia resumos, no formato de breves ―narrativas‖, no começo do trabalho. Ainda que as demais trinta e duas entrevistas façam parte do material usado ao longo da obra, optaram por narrar de maneira detida apenas oito. Por achar que a escolha das autoras foi acertada, facilitando a compreensão, no restante do trabalho, do uso das histórias, bem como funcionaram como um ―sumário‖ ao qual se pode recorrer de algum caso específico, optei por fazer o mesmo aqui.

2.1 CASOS

Caso 1 – L.S.

―Precisamos de uma especialista em infanticídio‖, disse-me ao telefone um Defensor Público de São Paulo com quem eu já estava em contato em busca de processos criminais que tratavam de casos envolvendo o artigo 123 do Código Penal (CP). Era agosto de 2014, e eu estava iniciando a pesquisa de doutorado, portanto, havia explorado pouquíssimo o tema. O motivo de seu contato era que, em breve, haveria um Júri envolvendo infanticídio, cuja ré era assistida da Defensoria Pública, e a defensora responsável gostaria de discutir comigo as teses que usaria na defesa que faria perante o Tribunal do Júri. Encaminhei a ela meu projeto de pesquisa e conversamos longamente ao telefone.

No dia da sessão, em uma tarde de agosto de 2014, cheguei mais cedo ao Fórum e pude acompanhar a defensora e algumas estagiárias nos arremates da defesa, bem como participar do acolhimento à ré, momento no qual, de maneira extremamente cuidadosa, a defensora explicou à assistida como iria defendê-la. Acompanhada de dois de seus cinco filhos, L.S. me disse que estava ―(...) com medo, mas também confiante‖ de que daria certo.

L.S. estava sendo acusada por homicídio duplamente qualificado pela morte de recém- nascida a quem dera à luz seis anos antes. Na semana anterior ao julgamento, a defensora se reuniu com o promotor e pediu para que ele não acusasse a ré por homicídio qualificado, mas que a acompanhasse no pedido de absolvição, ou, caso não concordasse, ao menos defendesse se tratar de infanticídio. Isso porque, a seu ver, era ―(...) inadmissível que aquela mulher fosse condenada por homicídio, tanto tempo depois do ocorrido‖, com indícios claros de que ela estava vulnerável e confusa na circunstância do parto. Meses depois do Júri, em entrevista concedida a mim, este promotor se mostrou bastante sensibilizado com a história, e disse que a defesa do infanticídio lhe pareceu a mais apropriada para apresentar aos jurados.

Como narrado nos autos, na noite de nove de julho de 2008, L.S. deu à luz no banheiro de sua casa, e desmaiou logo em seguida. Ao acordar, percebeu que a recém-nascida não chorava nem se movia. Acreditando estar morta, colocou-na dentro de uma pequena sacola, deixando-a em um canto da lavanderia de sua casa. Quando a entrevistei, em outubro de 2015, L.S. mencionou este momento, dizendo que: ―(...) a criança estava morta, eu coloquei numa sacolinha para os meus filhos não ver. Primeiro eu embrulhei numa toalha, escutei a criança chorar, mas aí eu desmaiei. Depois quando eu acordei, não sei quanto tempo depois, a criança estava morta, e coloquei na sacolinha‖.

Na tarde do dia 10 de julho de 2008, L.S. estava sangrando muito. Seu filho mais velho, com então 17 anos, chamou o resgate, que a encaminhou ao hospital, aonde chegou quase em estado de ―choque hemorrágico‖45, segundo laudo médico constante nos autos. Durante a realização de cirurgia de curetagem, a médica encontrou a placenta e, pelo seu peso, constatou tratar-se de gravidez a termo. Neste momento, questionou a paciente que narrou a história e informou onde estava a recém-nascida. A equipe médica chamou a polícia por suspeitar que havia ocorrido ―um infanticídio‖. Foram testemunhas no inquérito policial e nos autos a médica e a enfermeira que atenderam L.S. e realizaram o procedimento cirurgico. Além destas, o ex-marido e o filho mais velho também foram ouvidos. Em todos os momentos nos quais foi ouvida, na polícia e em juízo, ela reforçou que não sabia que estava grávida. Havia recentemente se separado do marido, com quem viveu por dezessete anos, e estar grávida era algo que sequer achou possível. Disse-me o mesmo quando a entrevistei.

O caso recebeu inúmeras interpretações e classificações legais desde que entrou no Sistema de Justiça Criminal. Foi considerado aborto, ―crime culposo contra a vida‖, homicídio triplamente qualificado, homicídio duplamente qualificado e infanticídio.

A sessão de julgamento de L.S. ocorreu em 14 de agosto de 2014. Tanto a defesa quanto a promotoria alegaram se tratar de um infanticídio, aposta feita para garantir a não condenação por homicídio. Pude acompanhar a sessão sentada ao lado da defesa, que me apresentou como pesquisadora especialista em infanticídio, o que rendeu não só eu poder assistir à sessão em um local privilegiado, bastante próxima à ré, olhando de frente para os jurados, acompanhando ―do palco‖ o desenrolar da cena; mas também a possibilidade de, no intervalo e ao final da sessão, poder conversar informalmente com o promotor, o juiz e alguns jurados e juradas, bem como de me aproximar da ré.

A promotoria e a defesa trataram de temas como estado puerperal, dolo, maternidade, saúde reprodutiva e função da pena. Também foi bastante ressaltado por ambas as partes que a ré vivia, naquele momento, uma vida estável, trabalhando como auxiliar de cozinha, criando bem os seus cinco filhos e tendo retomado os estudos nos últimos anos. Todos os argumentos reforçavam o quanto o ocorrido fora um fato isolado na vida de uma mulher dedicada aos filhos e ao trabalho. L.S. chorou copiosamente durante as quase quatro horas de sessão.

Na platéia, além de um público comum às audiências de Júri – formado por estudantes de direito e curiosos/as – estavam as estagiárias da Defensoria Pública que

45 Também conhecido como choque hipovolêmico. Ocorre quando há perda de grande quantidade de sangue –

trabalharam na defesa; um filho e uma filha de L.S., que acompanharam os debates com olhares atentos; e uma companheira do Núcleo de Antropologia do Direito (Nadir)46, que me ajudou nas anotações e reflexões sobre a sessão.

Sentada ao lado da defensora eu anotei todas as falas em meu caderno de campo. Além de garantir o registro literal das arguições e do depoimento da ré em plenário, busquei anotar as impressões, sensações e reflexões que tive, bem como detalhes que observei e considerei relevantes de registrar, como a posição encolhida de L.S. na cadeira, seu choro constante, o olhar atento dos/das jurados/as às falas da acusação e da defesa, o cuidado na escolha das palavras que distanciavam os fatos das tintas pesadas que delineavam o homicídio qualificado e traçavam uma narrativa que se ajustava ao tipo penal infanticídio.

O resultado foi o acordado entre defesa e acusação: os/as jurados/as concordaram com os argumentos apresentados e a ré foi condenada por infanticídio, com pena de dois anos de detenção, transformada pelo juiz em suspensão condicional da pena, tendo a ré de ir ao fórum uma vez a cada três meses assinar o termo de suspensão ao longo de dois anos. Ao final da sessão, ao proferir a sentença, o juiz fez um comentário problematizando a repressão penal ao aborto no Brasil.

Em outubro de 2015 realizei uma entrevista de quase duas horas com L.S., a qual, muito emocionada, narrou episódios de sua história, falou de suas origens, relações familiares, casamento, violências, separação, dores e alegrias. Tratou longamente da relação com os filhos. Relembrou e refletiu sobre o ocorrido, bem como narrou sua experiência de ser ré perante o Sistema de Justiça Criminal, os medos e as angústias, a confiança na defesa e suas sensações durante a sessão de julgamento pelo Tribunal do Júri. Também refletiu sobre a pena e o ato de ir a cada três meses ao fórum para assinar sua suspensão. Em diversos momentos da entrevista, choramos juntas. A carga emocional e a intensidade de sua fala me comoveram muito.

Trata-se de caso que considero paradigmático para esta pesquisa, por ter sido aquele que pude compor por meio de diferentes narrativas, reflexões e pontos-de-vista diversos, por ter tido acesso aos autos, participado da sessão de Júri junto à defensoria, entrevistado formalmente o promotor do caso e a ré e, informalmente, a defensora que a defendeu em plenário e alguns jurados e juradas. Dentre outras questões, este caso me permitiu acessar como a morte de um/a recém-nascido/a, causada por aquela que a ele/ela deu à luz, pode ser

interpretada de formas tão diferentes por quem compõe o processo penal, inclusive por aqueles e aquelas que compõem a mesma instituição e têm em mãos as mesmas peças processuais e dados47. Também me possibilitou refletir, especialmente a partir da entrevista que fiz com L.S., sobre o processo de construção e reconhecimento social da maternidade, que, no texto do tipo penal infanticídio é algo automático, bastando à mulher dar à luz ao/à recém-nascido/a para que seja considerada uma relação de mãe e filho/a. Para L.S. e tantas outras rés a cujos depoimentos tive acesso, não houve, em momento algum, a construção, por elas, de uma relação de maternidade48.

É este o caso que uso para abrir os demais capítulos, como linha narrativa principal a conduzir as leitoras e leitores pelo trabalho.

Caso 2 – E.S.

Tive notícia deste caso no dia em que fui ao Júri do Caso 1. Conversando com alguns defensores sobre o meu doutorado, em confraternização após a sessão, um deles mencionou que um colega, então de férias, estava defendendo uma ré que havia cometido infanticídio. Alguns dias depois recebi uma mensagem desse defensor com a data da sessão e o contato do defensor responsável pelo Júri, com quem falei brevemente, avisando que estaria presente em plenário.

Ao final da sessão pude conversar rapidamente com o defensor, que me permitiu ficar com a cópia dos autos pertencente à Defensoria Pública.

Trata-se de caso envolvendo a morte de recém-nascida de aproximadamente dois meses e meio, por traumatismo craniano encefálico. Consta dos autos que a mãe, de então 29 anos de idade, arremessou49 ou deixou cair50 a vítima de uma altura de três degraus, na guia da rua em frente à sua casa. Ao longo dos autos variam as razões alegadas para a ação da ré, as quais vão desde o depoimento da acusada no Inquérito Policial de que o fez―(...) porque estava muito nervosa, já que seu filho de três anos estava gritando muito‖, à constatação, em laudo médico-legal, de insanidade mental, passando pelo depoimento da ré, em juízo, de que ―(...) estava muito depressiva porque o meu marido me judiava muito e me rejeitava, pensava

47 Tal variação na interpretação do Caso e tipificação será trabalhada de maneira detalhada ao longo da tese. 48 Este tema será trabalhado no capítulo 3.

49 Verbo presente desde o inquérito policial, inclusive no depoimento da ré. 50

Expressão que aparece pela primeira vez na fase de instrução, quando o promotor perguntou à testemunha de acusação se a ré havia arremessado ou deixado cair a criança, e aparecerá outras vezes ao longo dos autos, inclusive no depoimento da ré.

que a filha não era dele. Fiquei nervosa com ele e por isso que fiz isso‖, ―(...) deixei cair a minha filha no chão", pois "(...) estava correndo dele" "porque ele ia me agredir".

O Caso foi denunciado pelo promotor de justiça como sendo homicídio qualificado por motivo fútil, justificado pois "a indiciada arremessou a vítima no chão porque seu outro filho gritava muito". Embasado no laudo da perícia médico-legal, datado de outubro de 2012, o defensor público pediu a alteração jurídica do crime para infanticídio, uma vez que o perito afirmou que era possível detectar ―(...) resquícios de estado puerperal, associado à patologia de base apurada no presente exame [transtorno esquizotípico]‖. No entanto, a juíza entendeu que esta era uma decisão que deveria ser levada ao conselho de sentença51 em sessão do Júri.

O fato ocorreu em 20 de julho de 2011 e foi julgado em dois de setembro de 2014, quando ocorreu o Júri. Tanto no interrogatório policial quanto no depoimento em juízo a acusada falou muito pouco, sendo sua ―voz‖ quase inaudível ao longo dos autos. Entre a prisão em flagrante, no dia dos fatos, até 25 de abril de 2014, a ré permaneceu presa provisoriamente, na maioria do tempo na penitenciária feminina de Tremembé. Da abertura do inquérito policial à decisão do Júri se passaram mais de três anos. Durante todo esse período não se soube mais notícias do parceiro da ré – pai de seu filho e da recém-nascida morta. Apenas consta nos autos seu depoimento na noite dos fatos, bem como o registro de uma conversa sua com assistente social, no dia seguinte. Desde então o parceiro da ré não foi encontrado, apesar das inúmeras tentativas do judiciário de localizá-lo para testemunhar. Pelo que consta no processo, supõe-se que voltou para a sua cidade natal no Maranhão, levando consigo o filho mais velho do casal.

No plenário, ocorrido em dois de setembro de 2014, acusação e defesa advogaram a tese comum de que a ré era inimputável52 e que, portanto, deveria cumprir medida de segurança de tratamento ambulatorial. Escorados na segunda avaliação médico legal da ré, feita por um perito em fevereiro de 2014, ambos foram unânimes em ressaltar a patologia como fator que impediu sua auto-determinação e a consciência do ilícito. A ré foi absolvida por inimputabilidade53 , sendo a ela designada medida de segurança de tratamento ambulatorial.

Tive uma breve conversa com a E.S., sua mãe e seu padrasto no intervalo da sessão. Trocamos telefones e combinamos de agendar uma data para entrevistá-las. Ao final, com a

51

Ver glossário.

52 Ver glossário. 53 Ver glossário.

sentença lida e a tranquilidade de que sua filha não voltaria para a prisão, a mãe, que estava na platéia, deu-me um abraço aliviado e partiu com o companheiro e a filha pelo corredor do Fórum. Infelizmente, ao tentar contato algum tempo depois, não consegui encontrá-las (os números não atendiam).

Este caso se diferencia dos demais, por ter sido o único que não ocorreu imediatamente após o parto, mas mais de dois meses depois, na presença do parceiro da ré. Assim, apesar de ser um caso que destoa do padrão daqueles tratados juridicamente como infanticídio, que ocorrem imediatamente após o parto, houve laudo psiquiátrico que atestou haver ―requícios de estado puerperal‖ o que permitiu a argumentação de se poderia ou não se