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No Brasil, sem dúvida, a violência doméstica não é algo novo em nossa história. Muito ao contrário, ela remonta aos tempos coloniais, quando se permitia “ao marido “corrigir” o mau procedimento da mulher com castigos físicos” (SILVA, 1992, p. 307). Aliás, até recentemente, a violência contra a mulher por parte do seu marido era naturalizada e, assim, tornada “invisível”; era considerada “sevícia” apenas quando os maus tratos colocavam em risco a vida das mulheres. Por se apresentar, predominantemente, no âmbito doméstico, era considerada como pertencente à esfera doméstica e, por isso, deveria estar longe da interferência do poder público.

Foi em meio a um cenário de mobilizações sociais contra a ditadura militar e em direção a uma sociedade democrática, como a luta pela Anistia no início da década de 1980, que os movimentos de mulheres e feministas, no Brasil, também atuantes, demandavam democracia e cidadania, elegendo como tema prioritário a denúncia da violência contra as mulheres. Segundo Simone Diniz (2006), o reconhecimento de que a violência contra a mulher é injusta e inadmissível foi “o grande acerto” do movimento. Para essa autora: “[...] um

grande acerto é ter colocado a violência contra a mulher na agenda: das políticas públicas, da legislação, da produção acadêmica, do desenvolvimento de serviços específicos para a atenção a essa violência, da mídia, dos direitos humanos, da saúde, etc.” (DINIZ, 2006, p.16).

Quanto a esse tipo de violência, especificamente, por se apresentar, predominantemente, no âmbito doméstico, era considerado como pertencente a essa esfera e, por isso, deveria estar longe da interferência do poder público. Foi só a partir de fins dos anos 1970, através de reivindicações das mulheres e da denúncia por parte dos movimentos feministas, que a violência contra a mulher passou a ser vista como um problema social no Brasil.

Instigadas por uma série de assassinatos de mulheres por seus companheiros, a exemplo de Doca Street, assassino de Ângela Diniz, as feministas se mobilizaram para denunciar a impunidade desses maridos e companheiros assassinos de mulheres, que ganhavam liberdade com o argumento da “legítima defesa da honra”. Com essas reivindicações, as feministas desejavam uma mudança estrutural, com o objetivo de evidenciar o pano de fundo desse fenômeno que é a legitimação social da situação construída de superioridade dos homens sobre as mulheres, para assim, poder transformar essa realidade desigual. Nas palavras de Aquino: “A transformação radical desse quadro era o objetivo a ser atingido” (2006, p.164).

A luta feminista ganha impulso, a partir de 1975, com a I Conferência Mundial sobre a Mulher, realizada no México, “[...] mas o fato da Organização das Nações Unidas – ONU decretar este ano como “Ano Internacional da Mulher”, torna-se o marco inicial para instituir a “Década da mulher” (1975-1985)” (GOMES et al., 2010, p.14). Nesse cenário, diante de uma maior politização da violência doméstica e familiar, são instalados os Conselhos Estaduais da Condição Feminina e o Conselho Nacional de Direitos da Mulher (GOMES et al, 2010). Ao mesmo tempo, são criadas instituições para apoiar as mulheres vítimas da violência, tais como os “SOS Mulher”36

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Ver, por exemplo, o artigo de Maria José Taube (2002) sobre o SOS/Ação Mulher de Campinas, São Paulo.

Além disso, “Em 1980, representantes desses e outros grupos feministas, reunidas no Encontro Anual da Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC), definiram o dia 10 de outubro como Dia Nacional de Luta contra a Violência contra a Mulher” (GROSSI, 1994, p. 474), com o intuito de levar a público a problemática da violência contra a mulher, mediante campanhas de denúncia e esclarecimento. Sempre questionando as representações sociais que permeiam esse fenômeno, os movimentos feministas e de mulheres apresentaram várias iniciativas e ações públicas no sentido de sensibilizar as pessoas para essa questão.

Nesse contexto de redemocratização brasileira, os movimentos de mulheres e feministas faziam reivindicações em torno de políticas públicas que dessem respostas institucionais ao problema da violência contra as mulheres. Assim, as instâncias estatais acabaram reconhecendo o fenômeno da violência como uma preocupação pública, apresentando-se como destaque inicial das conquistas desses movimentos, a implantação da primeira Delegacia Especializada do mundo em atender mulheres em situação de violência. Primeiro funcionando na capital paulista, em 1985, estas delegacias se estenderam para todo o país37.

Ainda no que se refere à força política alcançada por esses movimentos, vale destacar a sua interlocução com o Estado, através de um diálogo com os Poderes Legislativo e Executivo. A esse respeito, explica Barsted (2006, p.68): “Como resultado desse processo político, a cidadania formal das mulheres foi, finalmente, completada com a Constituição Federal de 1988 que, além de criar novos direitos, aboliu as inúmeras discriminações contra as mulheres38[...]. Sobre as mudanças no texto constitucional que favoreceram as mulheres, foi proclamada: “[...] A igualdade entre os sexos no inciso 1 do artigo 5º, ao mesmo tempo em que insere no § 8º a garantia de assistência do Estado a todos os membros do grupo familiar, através da criação de mecanismos

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Conforme exposto por Amaral et al (2001), o passo importante em direção à criação de uma Delegacia que se preocupasse com a realidade de mulheres vítimas de agressões foi a formação do primeiro Conselho Estadual sobre a Condição Feminina em São Paulo, e, em seguida, o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Nessa ocasião, o movimento feminista empenhou-se em reivindicar a criação da referida Delegacia.

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capazes de inibir a violência na esfera de suas relações” (GOMES et al., 2010, p.14).

Em 1987, no período que antecedeu a Assembleia Nacional Constituinte, o movimento feminista juntamente com o movimento organizado de mulheres e o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher realizou uma campanha nacional, intitulada “Constituinte pra valer, tem que ter palavra de mulher”, que tinha como objetivo articular as demandas das mulheres. A esse respeito, explica Ana Alice Costa (2007, p. 63):

[...] Foram realizados eventos em todo o país e posteriormente as propostas regionais foram sistematizadas em um encontro nacional com a participação de duas mil mulheres. Estas demandas foram apresentadas à sociedade civil e aos constituintes através da Carta

das Mulheres à Assembléia Constituinte. [...] Por intermédio de uma

ação direta de convencimento dos parlamentares, que ficou identificada na imprensa como o lobby do batom, o movimento feminista conseguiu aprovar em torno de 80% de suas demandas, se constituindo no setor organizado da sociedade civil que mais vitórias conquistou.

Essas lutas feministas e dos movimentos de mulheres estiveram ligadas também ao contexto internacional de aprovação e reconhecimento dos direitos humanos das mulheres. O Brasil participou da Convenção para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (CEDAW), em 1979, e da Convenção para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra as Mulheres, conhecida como Convenção de Belém do Pará, em 1994 - ambas ratificadas pelo Estado brasileiro, em 1994. Sem ter recebido tratamento específico na CEDAW, o tema da violência doméstica e sexual tornou-se foco de discussão na Declaração sobre a Eliminação da Violência contra as Mulheres, em 1993, que subsidiou, com seus princípios e orientações, a elaboração, pela Organização dos Estados Americanos – OEA, da Convenção de Belém do Pará – “único instrumento internacional voltada para tratar a violência de gênero” (BARSTED, 2006, p.70).

O Brasil também participou e foi signatário das Conferências da ONU, como a de Direitos Humanos, em Viena (1993); a de População e Desenvolvimento, em Cairo (1994); e a IV Conferência Mundial da Mulher, realizada em Pequim

(1995); e em outros instrumentos jurídicos internacionais39. Segundo relatou Barsted (2006, p.72):

Reconhecendo a persistência da violência contra as mulheres e meninas, as Conferências Internacionais da década de 1990 [...] transmitiram, em suas declarações e planos de ação, a preocupação com a segurança das mulheres e a necessidade de os Estados- Partes da ONU inserirem em suas agendas nacionais a equidade de gênero e de raça/etnia, bem como políticas voltadas para a problemática da violência contra as mulheres e meninas.

Em 1995, a Lei 9099/95, que tinha como objetivo principal “[...] ampliar o acesso da população à justiça mediante a aplicação de princípios como a celeridade, a economia processual, a informalização da justiça e a aplicação de penas alternativas às penas de restrição da liberdade” (PASINATO, 2002, p.15), criou os Juizados Especiais Criminais (JECRIM). A esses juizados cabe processar e julgar crimes denominados como “crimes de menor potencial ofensivo”, com pena máxima de até 1 ano de detenção.

Embora essa nova legislação não fosse específica para a violência contra a mulher, acabou abrangendo a grande maioria das ocorrências realizadas nas delegacias da mulher. Aos agressores era aplicada uma multa, geralmente pagamento de cestas básicas, sendo desconsideradas as particularidades das relações de gênero existentes nos conflitos.

Essa nova legislação, ao tratar a violência contra a mulher como crime de menor potencial ofensivo, provocou discussões e debates realizados pelos movimentos de mulheres acerca “[...] Dos anseios das mulheres diante da queixa e das respostas judiciais que vêm sendo oferecidas” (PASINATO, 2002, p.16). A esse respeito, explicou Pasinato (2002, p.16): “Destacam-se neste debate a trivialização da violência contra a mulher e sua categorização como crime de menor potencial ofensivo; as penas aplicadas e o papel das vítimas na condução das queixas e do processo”.

Em meio a esses debates, acrescenta Pasinato (2002, p.16): “É fala corrente no movimento de mulheres que, ‘Se antes da lei 9099/95 o tratamento judicial dos casos de violência contra a mulher era ruim, depois da lei ficou pior’”.

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Desse modo, o movimento acreditava que essa lei, além de não contribuir para o efetivo combate da violência, estava contribuindo para aumentar a impunidade e a discriminação contra as mulheres na sociedade.

Diante dos resultados não satisfatórios trazidos por essa lei, em relação ao efetivo combate desse tipo de violência, a partir de 2002, calcado na Convenção de Belém do Pará, um Consórcio de ONGs40 iniciou a elaboração de uma proposta de projeto de lei específica para o enfrentamento da violência doméstica contra a mulher. Sobre o processo de andamento dessa proposta de projeto de lei, conta Barsted (2006, p.78):

Em novembro de 2003, a primeira versão de um Anteprojeto de Lei com esse objetivo foi apresentada à Bancada Feminina no Congresso Nacional e à SPM. Em abril de 2004, o Executivo instituiu um Grupo de Trabalho Interministerial para “elaborar proposta de medida

legislativa e outros instrumentos para coibir a violência doméstica contra a mulher”, de acordo com o Decreto nº 5.030, de 31 de março

de 2004, e, em novembro desse ano, o projeto foi encaminhado ao Congresso Nacional mantendo, no entanto, a competência da Lei nº 9.099/95.

Ainda no que se refere aos encaminhamentos dados a esse Anteprojeto de Lei, continua Barsted (2006, p.78):

Na comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados, o PL nº 4.559/04 teve como relatora a deputada Jandira Feghali que apresentou um Substitutivo ao PL nº 4.559/04 para retirá- lo do âmbito da Lei n 9.099/05, a partir do diálogo com o consórcio de

ONGs feministas, com a colaboração de conceituados

processualistas, com o apoio da SPM e, especialmente, com os subsídios das audiências públicas realizadas para debater esse PL nas Assembléias Legislativas do Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Norte (em conjunto com Paraíba e Ceará) e Espírito Santo, quando ouviu as contribuições de distintos segmentos dos movimentos de mulheres e de mulheres vítimas de violência doméstica e familiar.

Em março e em agosto de 2006, o Projeto de Lei foi aprovado, respectivamente, pelo Plenário da Câmara dos Deputados e pelo Plenário do Senado Federal. Em 7 de agosto de 2006, foi sancionada a Lei 11.340/06,

40 Segundo Barsted (2006, p. 78), “Esse Consórcio foi formado pelas seguintes ONGs: CEPIA, CFEMEA, AGENDE, ADVOCACI, CLADEM / IPÊ e THEMIS, além de Rosane Reis Lavigne, defensora pública do Estado do Rio de Janeiro; Leilah Borges da Costa, advogada, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros; Ela Wiecko de Castilho, procuradora federal; e Letícia Massula, advogada. Na tramitação do Projeto de Lei, outras ONGs, pesquisadoras, operadores do direito e militantes do movimento de mulheres contribuíram para a aprovação desse PL”.

conhecida por Lei Maria da Penha41, entrando em vigor no dia 22 de setembro também nesse ano.

Atualmente, essa lei constitui-se como um marco fundamental no enfrentamento à violência contra a mulher no Brasil, cuja Política Nacional42 é orientada pelo Plano Nacional de Políticas para as Mulheres - PNPM 2013- 201543, resultante da 3ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres (3ª CNPM), que ocorreu em dezembro de 2011. Para a elaboração desse Plano:

Além de articular as resoluções da 3ª Conferência, atualizando o II PNPM e seguindo as disposições contidas no PPA 2013-2015, levou- se em consideração o Planejamento Estratégico Interno que propõe e sistematiza os principais objetivos e metas a serem perseguidos pela SPM para o ano de 2013 (PNPM 2013-2015, 2013, p.11).

Os objetivos gerais e específicos, metas, linhas de ação e ações voltadas para o enfrentamento de todas as formas de violência contra as mulheres encontram-se concentrados no capítulo 4 deste documento, através de plano de ações44. Destaca-se que, antes desse Plano, estava em vigor o II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres – PNPM, que se baseava na II Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, realizada em agosto de 2007, que se fundamentou, por sua vez, na aprovação dos princípios e diretrizes indicadas no I Plano, resultado da I Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, realizada em 200445.

Dentro da Política de Enfrentamento vigora o Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra a Mulher, uma iniciativa do governo federal, sob a coordenação da Secretaria de Políticas para as Mulheres –

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Para saber sobre o histórico desta lei, ver em: http://www.observe.ufba.br/lei_mariadapenha.

42 Para se informar sobre essa Política, ver documento: Secretaria especial de Políticas para Mulheres – SPM nacional. Coleção Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres. Brasília. 2011.

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Disponível em: <http://spm.gov.br/pnpm/publicacoes/pnpm-2013-2015-em-22ago13.pdf>. 44

Dentro do plano de ações, figuram as respectivas linhas: 4.1. Ampliação e fortalecimento da rede de serviços especializados de atendimento às mulheres em situação de violência; 4.2. Promoção da implementação da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 – Lei Maria da Penha; 4.3. Fortalecimento da segurança cidadã e acesso à justiça às mulheres em situação de violência; 4.4. Enfrentamento à exploração sexual e ao tráfico de mulheres; 4.5. Promoção da autonomia das mulheres em situação de violência e a ampliação de seus direitos.

45 Para maiores informações sobre esses Planos, ver site da Secretaria de Políticas para as Mulheres – SPMulheres / PR: <www.spmulheres.gov.br>.

SPMulheres46. Esse Pacto47, que tem como objetivo geral enfrentar todas as formas de violência contra as mulheres, a partir de uma visão integral deste fenômeno, pretende promover, no período de 2008 a 2011, “[...] um conjunto de políticas públicas, executadas de forma articulada por ministérios e secretarias especiais [...]” (GOMES et al., 2010, p.17).

Segundo dados da SPM nacional, em notícia “Reunião em Brasília fará uma avaliação do Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra a Mulher”, publicada em seu site48, no dia 8 de julho de 2011, desde o lançamento do Pacto em 2007, 27 Estados já haviam assinado os Acordos de Cooperação Federativa, com um aumento bastante expressivo no número de serviços especializados da Rede de Atendimento à Mulher. Sobre a quantidade desses equipamentos, explicitou:

Atualmente, existem 932 serviços em funcionamento: 466 Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher; 190 Centros de Referência, 72 Casas-abrigo; 57 Defensorias Especializadas; 21 Promotorias Especializadas; 12 Serviços de Responsabilização e Educação do Agressor; 93 Juizados Especializados de Violência Doméstica e Familiar e Varas adaptadas; e 21 Promotorias/Núcleos de Gênero no Ministério Público (SPM, 2011, p.1).

Ainda de acordo com publicação dessa mesma Secretaria, “Coleção Política Nacional de enfrentamento à violência contra as mulheres”, do ano de 2011, em parte relativa ao “Pacto Nacional pelo enfrentamento à violência contra as mulheres”, após quatro anos de implementação desse Pacto, “Foi necessária uma releitura desta proposta e uma avaliação com olhar nas 27 Unidades da Federação pactuadas” (SPM, 2011, p.11). Dessa maneira, diante da importância e relevância desta proposta no país, compreendeu-se a necessidade de sua manutenção, ampliação e fortalecimento49.

46 Criada no ano de 2003, a Secretaria Especial de Política para Mulheres – SPMulheres está vinculada à Presidência da República e possui status de ministério. Tem por competência assessorar o/a presidente da República na formulação, coordenação e articulação de políticas para as mulheres.

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Um dos objetivos específicos do Pacto é reduzir os índices de violência contra as mulheres, o que faz com que um de seus eixos estruturantes seja o Fortalecimento da Rede de Atendimento e Implementação da Lei Maria da Penha. O Pacto, na íntegra, também se encontra no site da SPMulheres / PR.

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Disponível em:< http://www.spm.gov.br/noticias/ultimas_noticias/2011/07/reuniao-em-brasilia-fara-uma- avaliacao-do-pacto-nacional-pelo-enfrentamento-a-violencia-contra-a-mulher>.

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Nesse momento, apresentou como novos eixos estruturantes: 1) Garantia da aplicabilidade da Lei Maria da Penha; 2) Ampliação e fortalecimento da rede de serviços para mulheres em situação de violência; 3) Garantia da segurança cidadã e acesso à Justiça; 4) Garantia dos direitos sexuais e

Com o objetivo de efetivar a Política Nacional, a SPM (2011), na citada publicação, em parte relativa à “Rede de Enfrentamento”, apresenta o conceito de rede de enfrentamento à violência contra as mulheres, que diz respeito: “À atuação articulada entre as instituições/serviços governamentais, não governamentais e a comunidade, visando ao desenvolvimento de estratégias efetivas de prevenção e de políticas [...] às mulheres em situação de violência” (SPM, 2011, p.13). Para sua concretização, essa rede é composta por:

[...] Agentes governamentais e não-governamentais formuladores, fiscalizadores e executores de políticas voltadas para as mulheres (organismos de políticas para as mulheres, ONGs feministas, movimento de mulheres, conselhos de controle social; núcleos de enfrentamento ao tráfico de mulheres, etc.); serviços/programas voltados para a responsabilização dos agressores; universidades; órgãos federais, estaduais e municipais responsáveis pela garantia de direitos (habitação, educação, trabalho, seguridade social, cultura) e serviços especializados e não-especializados de atendimento às mulheres em situação de violência (que compõem a rede de

atendimento às mulheres em situação de violência) (SPM, 2011,

p.13-14).

Quanto à rede de atendimento à mulher em situação de violência, como parte da rede de enfrentamento,

Faz referência ao conjunto de ações e serviços de diferentes setores [...], que visam à ampliação e à melhoria da qualidade do atendimento, à identificação e ao encaminhamento adequados das mulheres em situação de violência e à integralidade e à humanização do atendimento (SPM, 2011, p.14).

Sobre a composição dessa rede, no âmbito do Governo, está dividida em quatro principais setores/áreas (saúde, justiça, segurança pública e assistência social). Além disso, é composta por duas principais categorias de serviços, que são os não-especializados e os especializados de atenção à mulher50 (SPM, 2011). Apresentam-se entre os primeiros,

Que, em geral, constituem a porta de entrada da mulher na rede (a saber, hospitais gerais, serviços de atenção básica, programa saúde da família, delegacias comuns, polícia militar, polícia federal, Centros de Referência de Assistência Social/CRAS, Ministério Público, Defensorias Públicas, posto avançado de atendimento à migrante) (SPM, 2011, p.29).

reprodutivos, enfrentamento à exploração sexual e ao tráfico de mulheres; 5) Garantia da autonomia das mulheres em situação de violência e ampliação de seus direitos (SPM, 2011).

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Para saber sobre os serviços prestados por esses equipamentos, entre outras características sobre seus funcionamentos, ver documento da SPM (2011) na íntegra.

Quanto aos serviços especializados para o atendimento dessas mulheres, são eles:

Centros de Atendimento à Mulher em situação de violência (Centros de Referência de Atendimento à Mulher, Núcleos de Atendimento à Mulher em situação de violência, Centros Integrados da Mulher), Casas Abrigo, Casas de Acolhimento Provisório (Casas de Passagem), Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAM), Núcleos Especializados de atendimento às mulheres nas delegacias comuns; Núcleos da Mulher nas Defensorias Públicas, Promotorias Especializadas, Juizados Especiais de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180, Ouvidoria da Mulher, Serviços de saúde voltados para o atendimento aos casos de violência sexual e doméstica, Serviços de Atendimento em Fronteiras Secas (Núcleos da Mulher na Casa do Migrante) (SPM, 2011, p.29-30).

Cada um desses serviços, com as suas respectivas atribuições, deve responder às necessidades específicas apresentadas pela mulher que o procura, sendo imprescindível, através da realização de encaminhamentos de suas usuárias, que estejam articulados entre si, de modo que à agredida seja oferecido um tratamento integral de enfrentamento do seu problema. Nesse