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Para nós, há uma ordem de fenômenos a que nos permitiremos chamar de fenômenos psico-sociais. Para se estudar com utilidade esta ordem importa dividi-la em famílias; importa substituir um método cronológico e parte de uma síntese provisória e empírica por um método analítico que, pela análise, tende a chegar a uma síntese científica. A história é uma recolha de experiências, não se trata apenas de publicar esta colheita, isso é trabalho de editor e não de cientista, trata-se sobretudo de a interpretar. (BLOCH, 1998, p. 15).5

Bloch, nessa citação, quer mostrar que há um elemento básico na investigação histórica: a interpretação analítica. Ou seja, as fontes, os testemunhos não falam por eles mesmos, não basta publicá-los, pois isso não é História, isso não é ciência. Não basta haver fontes. Assim, não basta uma soma de testemunhos e aí está a História. É preciso a crítica, fato que de certo modo deve ser elementar em qualquer método em História. Bloch chama de crítica do testemunho, a arte de discernir nos relatos o falso, o verdadeiro e o plausível. Não basta somente ter acesso as fontes, é preciso fazer um trabalho analítico sobre elas.

A primeira obrigação do historiador é citar suas fontes. Mas isso ainda não é História e todo um método aplicado. Nisso, aliás, diz Bloch que nada tem de ciência, mas sim de preguiça. Faz-se necessário, no método histórico, o esforço para compreender, pois nem toda fonte é confiável. A disciplina é constante, por isso

Bloch (1998, p. 23) lança a sua admiração e respeito ao esforço, o cansaço, e a incerteza quanto aos resultados. E alerta (2001, p. 89): “Que a palavra da testemunha não deve ser obrigatoriamente digna de crédito, os mais ingênuos dos policiais sabem bem”.

A erudição valoriza as fontes, mas de modo geral não as problematiza. O historiador sempre terá de problematizar, terá de fazer a crítica das fontes. Não é apenas costurar e harmonizar as fontes, que muitas vezes são antagônicas sobre um mesmo acontecimento. A História não repousa no acontecimento, no fato, mas na problematização das fontes sobre o acontecimento. E mais, quando a harmonia entre as fontes está muito óbvia, aí deve repousar certa suspeita. Enfatiza Marc Bloch (1998, p. 24-25):

Só há uma maneira de dizer: << é meio dia >>. Mas há muitas outras maneiras diferentes de contar a batalha de Waterloo. Se duas descrições da batalha de Waterloo se repetirem palavra por palavra ou até se assemelharem muito, concluímos que uma delas foi a fonte da outra. Como distinguir a cópia do original? Os plagiários são traídos pela sua inépcia. Quando não compreendem os seus modelos, os seus contra-sensos denunciam-nos. Quando procuram disfarçar o que é de outrem, perde-os a inaptidão dos seus estratagemas.

Bloch (1998, p. 25) também alerta que no método em História, na análise das fontes, “a crítica histórica não tem que se dar a raciocínios aritméticos”. Ele cita um exemplo e um axioma latino para demonstrar:

Dez pessoas garantem-me que no Pólo Norte o mar se estende livre de gelos e o almirante Peary que os gelos desse mar são eternos. Acredito em Peary que os gelos desse mar são eternos. Acredito em Peary e continuaria a acreditar se os seus opositores fossem cem o mil, pois foi ele o único homem a ter visto o Pólo. Um velho axioma latino diz: << Non numerantur,

sed ponderantur >>. Os testemunhos pesam-se, não se contam. (BLOCH,

1998, p. 25).

Em suma, o historiador, a partir de seu método de análise das fontes, nunca se entrega totalmente às fontes, mesmo às que parecem mais confiáveis. Não é apenas uma escala de valores, pois mesmo um testemunho incompleto ou falso pode ter muito a dizer em relação a determinado fenômeno, por vezes até mais do que o testemunho mais completo e verdadeiro. O historiador não diz só qual testemunha está certa ou errada, mas decompõe todas. Primeiro, porque existe o risco de falsificação de testemunho, como vários exemplos comprovam,

testemunhos não apenas escritos, mas materiais. Bloch (2001, p. 89) exemplifica tal realidade com o estudo da Idade Média, período de grande falsificação de documentos. Segundo, porque é uma raridade encontrar testemunhos exatos, isso se eles existem. E terceiro, porque diante da formação de um testemunho, antes há uma memória e uma atenção com falhas. Bloch diz que nossa memória é um instrumento frágil e imperfeito, e isso ecoa e se revela em todas as fontes (2001, p. 26).

Um pressuposto muito importante na análise problematizadora de um testemunho é procurar determinar quais os fatos que geraram a atenção da testemunha, e o contrário também é importante, que é buscar quais os fatos lhe escaparam. Bloch (2001, p. 103) chega inclusive a visualizar uma disciplina necessária nesse trabalho: a psicologia do testemunho. Embora, como afirma o autor, seja uma arte de sensibilidade nesse caso específico, há também uma “arte racional, que repousa na prática metódica de algumas grandes operações do espírito” (BLOCH, 2001, p. 109).

Outro pressuposto básico é a comparação das testemunhas. Na comparação de testemunhas, é possível discernir certos elementos de veracidade histórica. Escreve o autor (BLOCH, 2001, p. 109):

Foi aproximando os diplomas merovíngios seja entre si, seja de outros textos, de época ou de natureza diferente, que Mabillon fundou a diplomática; foi da confrontação dos relatos evangélicos que nasceu a exegese. Na base de quase toda crítica inscreve-se um trabalho de comparação.

Bloch alerta, no entanto, que o resultado dessas comparações nada tem de automático. Por isso, o princípio da contradição exige o mais universal dos postulados lógicos, que nada mais é do que a proibição de que um acontecimento possa ser e ao mesmo tempo não ser. O critério da comparação sempre deve rejeitar a atitude de se encontrar um meio termo, tão comum entre alguns eruditos. É pela discrepância de testemunhas antagônicas, que nem sempre tem a ver com o escrito, mas com o próprio material da fonte, que é possível julgar a fonte mais confiável e o porquê das existências de fontes fraudulentas. Em suma, não se trata apenas da natureza escrita de um documento, mas da sua própria materialidade.

Segundo Bloch, já se falou muito mal da crítica histórica. Um dos argumentos é a acusação de que crítica histórica destrói a poesia do passado. Além

disso, alega-se inclusive desrespeito à memória dos homens do passado. Contudo, se tais argumentos são levantados, deve ser pelo fato, argumenta Bloch, da difícil e exigente tarefa científica de se analisar as fontes. Mas, ironizando, Bloch diz que até a ficção, até uma poesia de época pode ser uma fonte. Com muita consciência, ele coloca que, para o historiador:

A beleza das lendas e a sua verdade própria está em traduzirem fielmente os sentimentos e as crenças do passado. Conhecendo-as como lendas saboreamo-las melhor. E depois – vou dizer tudo o que penso – se é certo que a crítica soube por vezes dissipar certas miragens que eram sedutoras, afinal, que importa? O espírito crítico é o asseio da inteligência. O principal dever é a higiene. (2001, p. 29).

Conclui-se, a partir dessa visão blochiana, que o método crítico é um dos pilares básicos e de caráter central no trabalho do historiador. Desse modo, o historiador não é aquele que conhece fatos do passado e os reproduz mecanicamente. Justamente, é aquele que problematiza o passado a partir do que as fontes contam desse passado e o reproduz criticamente, amparado pelo método científico e seus referenciais, que pode ser por conhecimento adquirido de métodos historiográficos ou mesmo, e de fato essa seria de suma importância, pela postura científica de alguém que sabe fazer uso e citar na menor das hipóteses um método científico quando simplesmente está expondo um conteúdo historiográfico.

Ao apresentar um esboço de uma história do método crítico no capítulo III em Apologia da história, Marc Bloch defende que o método crítico de fato é filho do humanismo do século XVII. E mais, não se trata de um produto do pensamento cartesiano, embora traga similaridades:

[Assim como a “ciência” cartesiana,] ela procede a essa implacável inversão de todos as bases antigas apenas a fim de conseguir com isso novas certezas (ou grandes probabilidades), agora devidamente comprovadas, [Em outros termos,] a idéia que a inspira supõe uma reviravolta quase total das concepções antigas da dúvida. (...). É uma idéia cujo surgimento se situa em um momento muito preciso da história do pensamento. (2001, p. 92).

Foi desse momento, que se fixaram as regras essenciais do método crítico. Em outras palavras, Bloch está afirmando que o método crítico não nasceu de uma idéia cientificamente premeditada. Entretanto, aqui Bloch tranquilamente afirma que esse método crítico não é filho da ciência positivista, e tão pouco produto

de caráter científico, ou seja, não nasceu de uma inauguração científica. Embora sua prática tenha sido por muito tempo realizada por um punhado de eruditos, exegetas bíblicos e curiosos, a grande problemática desse trabalho, que os ditos historiadores por vários momentos relutavam em usar, é o desperdício de um esforço intelectual que se processa por si mesmo. De um modo geral, os historiadores não queriam misturar a preparação (o lidar com as fontes) com a realização, ou seja, editar, apresentar a História. Um cisma demasiadamente complicado na visão de Bloch.

Apenas no século XIX apareceu um esforço contra esse cisma intelectual entre os historiadores. “Sobre tudo a escola alemã, Renan, Fustel de Coulanges restituíram à erudição sua condição intelectual. O historiador foi levado à mesa de trabalho” (2001, p. 93). Ou seja, foi um processo no contínuo do pensamento e da produção de conhecimento. Ou seja, uma espécie de interdisciplinaridade histórica, processual e não produzida conscientemente.

No entanto, isso ainda não caracteriza o esforço intelectual de um historiador. Como diz Bloch (2001, p. 94), “fora dos jogos de fantasia, uma afirmação não tem o direito de ser produzida senão sob a condição de poder ser verificada”. Ou seja, além de o historiador ter que saber fazer a análise das fontes, ele as faz falar, não pela apresentação pura e simples (datando, e mostrando as origens), mas pela compreensão. Isso, no que concerne o método crítico é o que diferencia um historiador de um erudito. Escreve Marc Bloch:

O historiador não é, é cada vez menos, esse juiz rabugento cuja imagem desabonadora, se não tomarmos cuidado, é facilmente imposta por certos manuais introdutórios. Não se tornou, certamente crédulo. Sabe que suas testemunhas podem se enganar ou mentir. Mas antes de tudo, preocupa-

se em fazê-las falar, para compreendê-las. É uma das marcas mais belas do método crítico ter sido capaz, sem nada modificar seus primeiros princípios, de continuar a guiar a pesquisa nessa ampliação.

(2001, p. 96).

A crítica dentre tudo, das falsas e verdadeiras testemunhas, sejam elas oficiais ou não, não apenas busca o que é verdadeiro ou falso, mas sobretudo a atitude humana, ou melhor, o próprio homem: “Eis portanto a crítica a buscar; por trás da impostura, o impostor; ou seja, conforme a própria divisa da história, o homem” (BLOCH, 2001, p. 98). Nesse ínterim, Bloch (2001, p. 100) faz uma acusação muito interessante ao falar dos românticos e da Idade Média, dizendo que

os períodos mais ligados à tradição foram aqueles ligados por uma necessidade de revanche em prol da criação, juntamente com a força de venerar o passado, foram em muitos momentos levados a inventá-lo.

Paul Veyne, nesse caso específico, em sua obra Como se escreve

História e Foucault revoluciona a História, coloca que História não é uma ciência,

não tem método e não explica. Assim, para Veyne, a História é narrativa com personagens reais, e mesmo analisada pelas fontes não pode alcançar o “realmente acontecido”. Paul Veyne entende que a História é subjetiva, pois se tudo é história, a

“História termina sendo o que foi escolhido pelo historiador” (VEYNE, 1998, p. 198).

Mas se de fato a História é mera escolha e recorte, o método crítico perde valor. No entanto, como muito bem escreve Ciro Flamarion, que não abre mão de afirmar a cientificidade da História, “desde o materialismo histórico e Annales, a História deixou de estar voltada para fatos singulares e passou a abranger estruturas globais sujeitas a regularidades, como a vida econômica e as estruturas sociais e culturais” (FLAMARION apud SILVA; SILVA, 2006, p. 182). Ciro Flamarion afirma que:

(...) a oposição entre disciplinas de observação direta e a História, cuja observação seria unicamente indireta, é das mais duvidosas. A Física, por exemplo, inclui em suas teorias muitos elementos cuja observação direta não é possível, e o mesmo ocorre com muitas outras ciências. E nem sempre a observação direta é vedada ao historiador – por mais que, de fato, tenha limites às vezes estritos. Ao trabalhar com vestígios materiais de diversos tipos – monumentos, moedas, restos descobertos em escavações, etc – temos, justamente, casos de observação direta. (FLAMARION, 1981, p. 50).

Já o argumento do também historiador de tradição marxista, e sempre digno de nota, elucida bem mais o que Flamarion argumenta em contraposição aos que defendem a não cientificidade da História. Para Edward Palmer Thompson, segundo coloca Regina Célia Linhares:

(...), a história real existe independente de qualquer esforço cognitivo do sujeito, e que quaisquer categorias ou conceitos empregados pelo

materialismo histórico só podem ser compreendidos como categorias históricas, isto é, conceitos próprios para investigação de um processo, de uma realidade que não é passível de representação conceitual estática, mas que deve ser interrogada na sua irregularidade e

contradição. (THOMPSON apud HOSTINS, 2004. p. 39).

Convém, em relação isso, colocar algo que muito importa no pensamento de Bloch em uníssono com o pensamento de Thompson. Marc Bloch deposita muita

importância e cuidado em relação à crítica das testemunhas, mas entende que a crítica das testemunhas não é uma ferramenta metódica infalível. Escreve o autor que:

(...) não basta reconhecer evasivamente a possibilidade de encontros fortuitos. Reduzida a essa simples constatação, a crítica oscilaria eternamente entre o pró e o contra. Para que a dúvida se torne instrumento de conhecimento, é preciso que, em cada caso particular, o grau de verossimilhança da combinação possa ser sopesado com alguma exatidão. Aqui, a pesquisa histórica, como tantas outras disciplinas do espírito, cruza seu caminho com a via régia da teoria das probabilidades. (BLOCH, 2001, p. 116-117).

Faz-se necessário grifar essa nota, tamanha importância desse pensamento. De fato, existe uma história efetiva, independente de uma ciência histórica, mas é uma determinada ciência histórica que observa e analisa para compreender e depois ensinar. Ou seja, a história efetiva não se apresenta para o ensino e conhecimento nua e cruamente, a não ser que seja observada, questionada, analisada, ponderada, decomposta etc. Isso não se faz por mero subjetivismo, pois se assim for de fato a História não é ciência. Como diz Thompson, é preciso categorias de análise histórica, conceitos de investigação de um

processo, sobretudo processos onde se identificam contradições, ou seja, método científico. Disso Marc Bloch, mais do que ninguém, não abre mão.

Mas aqui também surge uma problemática que merece uma atenção especial: o próprio Bloch (2001, p. 117) elucida que ponderar sobre a probabilidade é “estimar as chances que tem de se produzir”. Só que num sentido totalizante, olhando para o passado, isso é muito complicado e estranho. O futuro é sim aleatório, “o passado é um dado que não deixa mais lugar para o possível” (BLOCH, 2001, p. 117). Um exemplo muito esclarecedor, por sinal:

Antes do lance de dados, a probabilidade para qualquer das faces era de um sobre seis; lançados os dados, o problema desaparece. Pode ser que hesitemos mais tarde, se nesse dia desse o três ou então o cinco. A incerteza está, portanto em nós, em nossa memória ou na de nossas testemunhas. Não nas coisas. (BLOCH, 2001, p. 117).

A problemática em relação às probabilidades, e aqui isso fica um pouco mais esclarecido, não está no que aconteceu no passado, mas na lembrança, na memória das testemunhas. Ou seja, existe probabilidade porque as testemunhas e o

método de análise são humanos, é do espírito, e por melhor que seja sempre será falível de erro ou erros. Mas é justamente por isso que é uma ciência a progredir, pois reconhece os erros do espírito científico como erros do espírito humano, ambos produtores de memória. Contudo, erros que podem ser retificados.

Claro que, num recorte temporal, um historiador poderia recorrer a um tempo anterior a determinado fato do passado e lançar perguntas de probabilidade, mas ainda assim trata-se de imagem recuada de algo já acontecido. Para Bloch, tais ponderações não são científicas. Trata-se apenas de jogos metafísicos, momentos de diversão, simples artifícios de linguagem destinados a trazer à luz, na marcha da humanidade, a parte de contingência e de imprevisibilidade. Tal prática nada tem a ver com crítica do testemunho. Não se trata de atitude científica.

Outro risco, e que muitas vezes vem acompanhado com um ar de erudição, é a rejeição ao acaso. Em algumas ramificações da lingüística, parece que um único objetivo é ver as semelhanças e parentescos entre os escritos. Obviamente, ela possui essa prerrogativa devido às próprias particularidades dos fenômenos da linguagem, ou seja, existem casos lingüísticos em que as semelhanças são mero acaso. Alguns lingüistas, muitas vezes fanáticos pela crítica dos estilos, como diz Bloch, esquecem-se que certos estilos fazem parte de um todo e um momento comum, que traz semelhanças entre escritos de um mesmo período, mas que necessariamente não tem nenhum parentesco de originalidade. A busca pela genealogia de manuscritos também levanta erros muitas vezes caríssimos. E mais, o estilo de um determinado autor pode mudar, pois nunca existiu nenhuma regra universal dizendo que um determinado autor só utilizava ou mesmo utiliza um determinado modelo.

Por isso, a maioria dos problemas da crítica histórica consiste de fato em problemas de probabilidade. A técnica mais sutil muitas vezes deverá declarar-se incapaz de resolvê-los, não porque as testemunhas sejam apenas em alguns casos dotadas de uma enorme complexidade, mas porque muitas vezes essas testemunhas permanecem “rebeldes a qualquer tradução matemática”. E isso, ou seja, aceitar a inocência de uma coincidência seria um absurdo para os eruditos, segundo Bloch. Entretanto, se as fontes forem consideradas em uníssono por uma semelhança apenas de fachada, pode ser o início de um passo em falso na atitude de um historiador (2001, p. 120-121). Um exemplo clássico:

É célebre o exemplo da palavra bad, que, em inglês como em persa, quer dizer “mau”, sem que o termo em inglês e o termo persa tenham absolutamente uma origem comum. Quem, sobre essa correspondência única, pretendesse fundamentar uma filiação pecaria contra a lei tutelar de toda crítica das coincidências: apenas os números têm vez. (2001, p. 120). Mas fica a questão: e a certeza científica? Citando Mabillon, Bloch (2001, p. 122) afirma que a crítica dos documentos não é capaz de atingir a certeza

metafísica. Assim, Bloch (2001, p. 122) coloca que, limitando “sua parcela de

garantia a dosar o provável e o improvável, a crítica histórica não se distingue da maioria das ciências do real senão por um escalonamento sem dúvida mais nuançado nos degraus”. Por isso a certeza pode ocorrer, mas ainda sempre correrá o risco de ser superada. Em suma, as fontes são base, desde que analisadas criticamente, e não apenas ordenadas por leis imutáveis e puramente matemáticas.

Na conclusão do capítulo três, Bloch (2001, p. 124) lança concepções de extrema importância, até para legitimar a importância do assunto em relação a propostas de cursos que visam à formação de historiadores capazes de ensinar:

Em nossa época, mais do que nunca exposta às toxinas da mentira o do falso rumor, que escândalo o método crítico não figurar nem no menor cantinho dos programas de ensino! Pois ele deixou de ser apenas o humilde auxiliar de alguns trabalhos de oficina. Doravante vê abrirem-se diante de si horizontes bem mais vastos: e a história tem o direito de contar entre suas glórias mais seguras ter assim, ao elaborar sua técnica, aberto aos homens um novo caminho rumo à verdade e, por conseguinte, àquilo que é justo. De fato, aqui Bloch levanta e percebe uma grande problemática: a invisibilidade da crítica das fontes nos programas de ensino. Aqui, sem fazer