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O curso de História da UNESC nasce em 1995, num processo de transformação do antigo curso de Estudos Sociais para o curso de História. Esse curso de Estudos Sociais tem a sua primeira turma a partir do primeiro vestibular em 1974. Segundo os elaboradores do PPP que fazem uma periodização, aquele curso de Estudos Sociais possuiu dois momentos distintos. De 1974 a 1980 o curso funcionou normalmente, com o detalhe de que em 1978 o vestibular para ingresso ao curso foi suspenso por falta de interessados (UNESC, 2002, p. 13). O curso de Estudos Sociais habilitava profissionais para ensino no 1º grau e OSPB e Moral e Cívica para o 2º grau (UNESC, 2002, p. 13).6

O segundo período foi com o reinicio do curso no ano de 1987, indo até 1991. Esse período foi marcado por uma nova grade curricular e pela obrigatoriedade do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Além disso, segundo o PPP, essa segunda fase também foi marcada pela participação dos alunos em

6 Nesse parágrafo do PPP citado, o mesmo afirma que essa formação para atuação profissional estava em conformidade com a legislação criada no contexto dos Governos Militares.

movimentos estudantis e de professores na instituição, pela ênfase numa visão crítica de História e Geografia e pelas semanas acadêmicas e viagens de estudo.

Em 1992 novamente o curso de Estudos Sociais é suspenso. O motivo era a possibilidade de transformar o curso de Estudos Sócias da então FUCRI (Fundação Educacional de Criciúma), em processo de instalação da futura UNESC, em dois cursos: História e Geografia. Em 1995 o curso de História é implantado.

Conservando os traços originários do projeto do curso de Estudos Sociais, esse novo curso de História, além de conservar as disciplinas baseadas nas matérias de História, Geografia e Pedagogia, deixou de exigir as monografias (TCCs) no final do curso. Em outras palavras, esse novo curso era apenas de Licenciatura. Para os organizadores do PPP, essa caracterização da ausência da elaboração de um TCC por parte dos acadêmicos reforçou a “dissociação entre ensino e pesquisa e, conseqüentemente, desestimulando a prática da pesquisa no curso” (UNESC, 2002, p. 13). Apenas em 1997 é que será aberta uma nova discussão para redefinir o projeto do curso e elaborar um Projeto Político- Pedagógico. O curso de Licenciatura e Bacharelado em História da UNESC foi implantado no primeiro semestre de 2001.

O Projeto-Político-Pedagógico do curso de História da UNESC apresenta que há uma distância efetiva entre os projetos dos cursos de graduação e o conhecimento sobre as propostas desses mesmos projetos entre os alunos e também professores. Afirmando isso na introdução, o PPP de História (UNESC, 2002, p. 4) expressa:

Levando em consideração que os cursos de graduação são a base desta universidade, parece-nos que não será possível cumprir os objetivos traçados sem algumas mudanças. Na prática, a maioria dos professores/as e alunos/as não conhecem o projeto político pedagógico dos seus cursos e, conseqüentemente, não sabem se os objetivos estão sendo alcançados. O curso é visto, pensado e operacionalizado exclusivamente pela grade curricular, ou seja, de uma forma fragmentada. Não há mecanismos de avaliação permanente com o propósito de verificar se o curso está alcançando os seus objetivos.

Num primeiro momento, a leitura do texto introdutório do PPP revela que há uma espécie de contradição quanto à expectativa do recém-chegado acadêmico à universidade e dos acadêmicos que já estão cursando. Ou seja, antes de o futuro acadêmico ser matriculado no curso, ele tem uma expectativa de universidade que faz ensino, pesquisa e extensão. Entretanto, ao fazer o curso, desconhece o PPP do

próprio curso. Parece uma contradição que na realidade tem relação com o conhecimento que cada acadêmico ou mesmo um professor tem sobre a importância de um PPP e sobre o que é uma universidade. O que acontece, como o documento pontua, é que acadêmicos e alguns professores conhecem algumas graduações pela apresentação e operacionalização das grades curriculares e pelas propagandas midiáticas sobre mercado de trabalho, financiadas pela própria instituição.

O PPP (UNESC, 2002, p. 4) expõe que a função básica de um projeto político pedagógico é projetar ações visando à superação de dificuldades e obstáculos do presente, no intuito de se atingir metas a médio e longo prazos, a partir de aspectos que justificam uma relevância social. Tais processos tanto na elaboração, avaliação, e reconstrução devem ser permanentes, ressalta o documento. Nesse momento, parece que a idéia de progresso constante em processos de pensamento se faz presente e encontra intersecções com o pensamento blochiano no que concerne a racionalidade na História.

No entanto, quando o PPP menciona que há ausência de mecanismos de avaliação permanente com o propósito de verificar se o curso está alcançando os seus objetivos, a crítica não se dirige apenas à instituição UNESC, mas ao próprio curso, sobretudo no seu lidar com a própria concepção de cientificidade histórica, afinal, como diz Bloch, os historiadores precisam dar provas da sua consciência profissional, obviamente nesse caso ligados aos objetivos do curso tanto no ensino, na pesquisa e na produção do conhecimento, como também na formação do profissional de História. É perceptível, nesse caso, que há uma preocupação de cunho ético por parte do PPP em esclarecer para a sociedade qual a função do curso. Na concepção de Bloch, muito mais do que ética, a função de “esclarecimento à sociedade” é um desdobramento prático do método científico em História.

O PPP (UNESC, 2002, p. 4) afirma que o fundamental num projeto- político-pedagógico “é o seu processo de construção, avaliação e reconstrução permanente”. Na continuação, expõe que um PPP não pode ser confundido apenas como um conjunto de atividades relacionadas ao ensino, não pode ser apenas um pré-requisito de legalidade de um curso e não pode ser discutido inicialmente pela grade curricular antes dos objetivos tratados, colocados como base para o PPP. Os objetivos, segundo o PPP, seriam as definições do “perfil, com as competências e

habilidades do profissional que se quer formar”. A pergunta a ser feita nesse caso, pensando na cientificidade da História, é: qual a base referencial, ideológica e de método para a formação dos objetivos?

A crítica que o PPP faz é direcionada a uma estrutura de graduação ligada a uma concepção de ensino dissociada da pesquisa e da extensão e que favorece em demasia a transmissão do conhecimento, a prática da cópia, a cultura da nota, etc. Por sinal, essa crítica é muito relevante. Nessa perspectiva, os elaboradores deste PPP visualizaram a necessidade de repensar o PPP do curso de História da UNESC. O que convém a partir de agora é perceber, nesse exercício de novas propostas por parte desses organizadores, não as concepções pedagógicas explícitas, mas referenciais de cientificidade em História nas suas manifestações pedagógicas sejam eles quais forem e, no caso específico, sendo o objetivo central desta pesquisa perceber suas principais manifestações de cientificidade, que segundo o referencial blochiano é o que mais deve se exigir num programa de graduação de História: que método científico é proposto e manifesto?