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Capítulo IV. Aspetos Metodológicos

4.1. Métodos, técnicas e constrangimentos

4.1.2. Método de recolha dos dados

Para a recolha indireta de dados, foram utilizados os censos (INE) e outras informações estatísticas relevantes (MISAU, USAID, PNUD, WHO/OMS, UNICEF, UNESCO, entre outros), que me proporcionaram uma aproximação quantitativa ao universo da população a residir na área em estudo. Também foram consultadas outras fontes secundárias disponíveis para a exploração de reflexões autobiográficas plasmadas em livro, revistas, jornais, relatórios, seminários, conferências, colóquios, atas, fotografias, panfletos de campanhas publicitárias, vídeos e outros suportes.

Neste contexto, foi deveras importante analisar as ações institucionais desencadeadas no âmbito dos planos de desenvolvimento e promoção da saúde materno-infantil, com o enquadramento institucional do Programa Nacional de Planeamento Familiar, mas também a literatura cinzenta relevante e as monografias disponíveis.

A abordagem inicial aos entrevistados foi estabelecida a partir do uso das redes sociais (de familiares e amigos) do investigador. Ao contactar com alguns sujeitos previamente identificados como elementos do grupo que se pretendia estudar, estes sujeitos puseram o investigador em contacto com outros membros desse grupo e assim sucessivamente, segundo o método conhecido como “bola de neve”. A interação com os informantes foi feita através de convívios formais e informais (alguns detes não agendados) uma vez que nestas conversas dizemos muito sobre nós mesmos, o que nos permitiram ir ampliando o diálogo que se revelaram ser de grande valia na recolha das informações. O conjunto dos entrevistados (36) representa o limiar que considerámos indispensável para o aprofundamento das preocupações da temática em apreço, devido à saturação das respostas encontradas.

A escolha das interlocutoras (mulher-mãe) obedeceu a cinco critérios de inclusão, a saber: 1) ter entre 15-49 anos de idades; 2) residir dentro da área geográfica em estudo; 3) para

148 além de outros idiomas, ser também falante do português112; 4) ter passado pela experiência da maternidade num período de tempo não superior a 5 anos ou estar grávida (durante o período em que decorreu a pesquisa); 5) aceitar conviver com o pesquisador durante o trabalho de campo.

Para o caso dos informantes do sexo masculino, a sua participação e inclusão na pesquisa estava condicionada ao prévio envolvimento da sua parceira. A abordagem aos demais informantes (profissionais da área de saúde, curandeiro e vendedor de medicamentos) só foi possível pela complacência de alguns intervenientes que, sensibilizados com as nossas preocupações e apelos, se prontificaram a ajudar e, desse modo, contribuíram para o desenrolar e progresso da pesquisa113.

No início da investigação foi aplicado um questionário exploratório114, com perguntas semiabertas e fechadas, de modo a descrever essa população em termos de caraterísticas psico- sociodemográficas, buscando sempre dados que retratam sobre cuidados pré-natais e parto. Definimos o acompanhamento pré-natal como sendo o número de visitas pré-natais que a mulher grávida efetuou na unidade sanitária, o número de meses da gravidez, quando a mulher fez a primeira visita, e o número de doses da vacina antitetânica que a mulher recebeu. Por sua vez,

assistência ao parto está definido segundo o tipo de profissional de saúde que assistiu ao parto e

o local onde este ocorreu.115 Acreditamos que estes dois serviços de saúde (pré-natal, assistência ao parto) destinados às mulheres em idade reprodutiva, em especial, às que atualmente participam do processo reprodutivo, são mecanismos importantes para identificar subgrupos de mulheres que estão em risco devido ao fraco ou não uso desses e outros serviços de saúde, importantes para a planificação da ampliação da cobertura de serviços de saúde.

Para o itinerário de entrevistas mais aprofundadas foi usado o esquema de perguntas semiestruturadas e abertas116 sem postergar as abordagens às trajetórias de vida, seguindo um

112 Havendo situações onde este critério teve que ser reconsiderado devido ao fraco domínio da

língua portuguesa por parte de alguns entrevistados.

113 Guiões de entrevistas dos provedores de cuidados de saúde convencional e tradicional, ver anexo

H

114 Cf. anexo C.

115 Fonte: IDS Moçambique 2011.

116 As histórias de vida tornaram-se das técnicas de recolha de dados mais caros aos antropólogos.

149 roteiro com principais tópicos adotados a partir das temáticas em discussão117. De acordo com Frias (2006:45):

Esta técnica de entrevista, ao permitir ao entrevistado um discurso livre e autónomo acerca do tema em análise, devolve-nos um conjunto de informações de onde ressaltam não apenas as experiências e as emoções desses mesmos entrevistados - que Ghiglione e Mtalon (1993) distinguem em conhecimentos de teor cognitivo e de teor afectivo, mas onde também se podem reconhecer os momentos dessa experiência mais e menos valorizados pela própria personagem da história.

A observação e a participação no campo não seguiram um roteiro previamente definido pelo pesquisador, ela foi-se adequando às situações de acordo com a exigência e circunstâncias apresentadas, de maneira que os participantes do estudo foram sendo acompanhados em diferentes espaços da esfera pública e privada, nomeadamente, na casa dos próprios entrevistados, nas casas dos vizinhos, em locais de lazer (parques, restaurantes, bares, festas), no local de trabalho (mercado), em dois dos Centros de Saúde (Polana Cimento - Tipo A118 e Campwane - Tipo I119), onde algumas entrevistadas fazem as suas consultas pré-natal, pós-parto, recebem tratamento e, em algumas situações, realizam partos.

A observação participante realizada nos dois Centro de Saúde foi o ponto alto da investigação pelo fato de ter sido possível assistir ao parto-biomédico (institucional) o que contribuiu tangivelmente e materialmente na perceção das lógicas subjacentes àquele universo.

Antes de se iniciarem as entrevistas gravadas, todos os participantes foram informados para qual fim se destinava o estudo em curso por via de atribuição de uma folha contendo todas

Kahn 1968). Permitem que o entrevistado encaminhe o discurso segundo o seu próprio raciocínio, e que o organize segundo o seu quadro de referências, sem a interferência do entrevistador (Frias, 2006:45).

117 Roteiros das entrevistas ver anexos C e D.

118 O CS Urbano Tipo A destinasse a servir populações da Zona urbana de influência direta (de 1 a

4km de raio), compreendidas entre 40 00 e 100 000 habitantes. Localiza-se nas Cidades ou em Bairros destas, sempre que a densidade populacional o justificar.

119 O CS Rural Tipo I destina-se s servir populações, da sua zona de influência direta,

compreendidas entre 16 000 e 35 000 habitantes. Localiza-se em sedes de distritos com pouca população e em sedes de Postos Administrativos ou de Localidade ou em qualquer outro lugar onde a população o justifique.

150 as informações sobre as modalidades de estudo120, a cada um foi facultado um termo de consentimento informado121, que, depois de lido e devidamente assinado, foi-nos devolvido.

Em média, as entrevistas duravam entre 40 e 60 minutos. A faixa etária dos trinta e seis (36) entrevistados vai dos 19 aos 63 anos de idade, foram escolhidos informantes de ambos sexos (24 mulheres e 12 homens). A recolha das informações não se limitou apenas aos eventos e ocasiões onde eram aplicadas as entrevistas, mas também, esta foi possível de se medrar em diferentes contextos e situações diversas, onde as conversas eram dirigidas de forma intencional com vista a explorar alguns aspetos das dimensões cognitivas de representações simbólicas intrinsecamente relacionadas com a gravidez e o parto. E todas as palavras pronunciadas durante o trabalho de parto, ou entrevistas com atores diversos, foram gravadas, traduzidas e escritas por extenso.

Método Etnográfico Ténicas

Recolha de dados combinada

Análise e tratamento das entrevistas Seleção de informantes

Critério inclusão Rigor

Pesquisa documental Pesquisa de dados estatísticos

Observação participante Pesquisa exploratória

Questionário

Entrevistas Semiestruturadas e Abertas Percursos biográficos

Conversas informais Diário de campo Registos fotográficos

Grelhas de análise

Mapeamento de sistemas de saúde de apoio às grávidas no terreno

(compreende ) 5 Prerogativas Anonimato Consentimento informado 120 Vide anexo F. 121 Vide anexo G.

151 Quadro 4.1. Técnicas usadas para a recolha de dados da pesquisa

Participantes - Total 36 KaMpfumo KaTembe

Mulheres-Mães / informantes –chave Homens-Pais Profissinais SNS Médico ginecologista/obstetra; Enfermeira SMI Parteira convencional Profissinais Tradicionais Parteira tradicional Curandeira Vendedor de medicamentos 10 urbana 10 rural = 20 5 urbana 5 rural = 10 3 3

Quadro 4.2. Caracterização dos participantes na pesquisa

Depois de feita a apresentação e descrição dos dados, segue-se a interpretação e discussão com base na análise do discurso122. Os dados são apresentados em formato textual consubstanciado por quadros, tabelas e gráficos, que ilustram os perfis dos entrevistados, dos agentes e provedores de cuidados de saúde convencional e tradicional, os percursos e experiências das mulheres durante o período em que estão grávidas, durante o parto e pós-parto.

4.1.3. Constrangimentos

Ao longo da pesquisa, deparei-me com dificuldades de ordem financeira devido ao atraso (durante cinco meses) do pagamento do subsídio referente à bolsa de estudos, o que conduziu a mudança dos locais (Chockwè – zona Sul e Ribaúe – zona Norte) previamente escolhidos para a realização do trabalho de investigação. Na impossibilidade de me deslocar para outros territórios do país, a solução partiu por direcionar o local de realização do trabalho de